À grande e à socialista – Autópsia de uma governação que deixou Portugal de rastos

Temos hoje a certeza: a humilhante bancarrota nacional podia ter sido evitada se os nossos governantes não tivessem esbanjado o que tínhamos e o que não tínhamos. O destaque negativo vai para José Sócrates, que durante seis anos rapou o fundo ao erário público. A Fundação Francisco Manuel dos Santos lançou há dias, no seu site, dados demolidores sobre as contas públicas dos últimos anos. Com as eleições a poucos meses de distância, é bom estudarmos os erros do passado para não os repetirmos no futuro…

 

 
Custou-nos muito suor e lágrimas, mas parece termos conseguido: ao contrário do que se receava há apenas dois anos, não chegámos a ter eleições antecipadas e o programa da troika foi concluído com sucesso. Mas ainda hoje a esquerda (e sobretudo a sua franja extremista) insiste numa “narrativa” segundo a qual a bancarrota resultou de uma vasta “conspiração” contra Portugal – e não, como na realidade aconteceu, de uma criminosa política despesista que deixou Portugal de rastos.

 

 
Os números não enganam. E se a crise internacional precipitou a crise, a verdade é que ela acabaria, em qualquer dos casos, por bater-nos à porta com violência. Causas mais visíveis: mau uso dos dinheiros públicos, excesso de peso do funcionalismo de Estado e total despreocupação em relação às receitas. Custa, por isso, a acreditar nos arautos da anti-austeridade que agora voltam a vender ilusões, prometendo mundos e fundos que todos sabemos estarem esgotados.

 

 
“TACHOS” PÚBLICOS

 

 
Em 1995, quando o Partido Socialista regressou ao poder após dez anos de interregno, o Estado gastava mensalmente 665 euros por cada funcionário público. Quando Guterres abandonou o “pântano”, em 2002, esse custo já tinha subido para 1.156 euros. No auge do esbanjamento de Sócrates, em 2008, cada funcionário público custava-nos 1.317 euros.

 

 
Este é um número que pode parecer injusto para muitos dos trabalhadores do Estado, que recebem míseros ordenados. Mas a média não reflecte apenas o que cada um deles levava para casa ao fim do mês: foi progressivamente “engordada” pela quantidade de gestores públicos e consultores que cada vez mais agravaram a despesa do Estado, paga por todos nós.

 

 
Mesmo com as campainhas de alarme a soarem com estridência, os “amigos” foram entrando: em 2011 havia 726 mil funcionários públicos – um contraste chocante com os cerca de 200 mil que, em 1968, bastavam para manter a funcionar um Portugal continental, insular e ultramarino e para gerir um enorme esforço de contra-insurgência.

 

 
Em 1979, Portugal estava reduzido a 10 por cento do seu território, mas o número de funcionários duplicou, o que ajuda a explicar o facto de a III República ter logo começado com uma bancarrota. Só durante os primeiros três anos do governo de Guterres entraram na carreira pública mais 100 mil funcionários, e grande parte desse aumento registou-se nas autarquias. Não admira que ele achasse que isto estava um “pântano”.

 

 
Há hoje mais funcionários públicos do que houve soldados no Ultramar. Um verdadeiro exército da burocracia.

 

 
O actual governo, bem ou mal, conseguiu finalmente travar um ciclo vicioso que durava há 40 anos: o número de funcionários do Estado recuou finalmente para níveis de 1996, e a despesa per capita desceu de 1.317 euros no seu auge, para apenas 883 euros em 2013.

 

 
SÓCRATES, REI DO DEFICIT, REI DA DÍVIDA

 

 

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Para pagar esta “festa socialista”, os dois consulados do PS que, em conjunto, governaram Portugal por 14 dos últimos 20 anos, foram simplesmente aumentando a dívida. Cobrar mais impostos, de forma a pagar as suas políticas, era uma medida impopular, visto que os socialistas queriam ser reeleitos. Logo, a lógica “gasta agora que outro pagará depois” dominou as duas décadas anteriores a 2011. Os ordenados dos funcionários públicos aumentaram exponencialmente e foram inventados subsídios para tudo e mais alguma coisa, incluindo o polémico “rendimento mínimo”, de que muitos abusaram. As sementes da bancarrota já estavam a ser lançadas à terra.

 

 
António Guterres, ainda assim, conseguiu ficar menos mal no retrato, pois beneficiou de uma fase de grande crescimento económico que suavizou o peso das enormes dívidas que contraiu, nomeadamente nas PPPs. Mas elas voltaram para nos atormentar anos mais tarde, quando o crescimento económico estagnou.

 

 

 
Nessa altura, já ele estava bem longe de Portugal, preocupando-se com os refugiados de países remotos. Sócrates seguiu os passos do seu antecessor, mas sem o benefício de uma economia forte para sustentar os seus projectos megalómanos, como o TGV e o novo aeroporto (nunca concretizados, mas que custaram na mesma uma fortuna ao erário público) e os computadores Magalhães. Os subsídios para tudo e mais alguma coisa continuaram, e ainda se inventou o esquema das “novas oportunidades”, para Portugal ficar bem nas estatísticas internacionais mesmo sem uma melhoria sustentável do sistema de ensino.

 

 
À GRANDE E À SOCIALISTA

 

 

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O custo de toda esta “largesse”: 80 mil milhões de euros em empréstimos, pois é esse o valor de todos os deficits acumulados ao longo dos seis anos de governo Sócrates. Só o deficit relativo a 2010 cobre quase toda a dívida contraída durante o governo de Pedro Passos Coelho até agora. O auge do despesismo foi mesmo o ano de 2010, durante o qual Sócrates gastou 93 mil milhões, compensados por apenas 73 mil milhões em receitas. A dívida, como de costume, ficou para o governo que se seguia.

 

 
A bancarrota não pode ser com o “desconhecimento” do caminho para onde se seguia. O discurso de esquerda sobre a situação internacional é desmentido pela nossa autópsia. Logo em 2009, Sócrates viu os rendimentos dos impostos caírem quase 4 mil milhões, ao mesmo tempo que a despesa disparou. Mas nada foi feito a tempo. A despesa pública continuou a aumentar brutalmente. Só já em 2011, após dois anos de gigantescos deficits e com a credibilidade do Estado português na sarjeta, é que Sócrates tentou travar a marcha para o abismo.

 

 

 
Um caso de “muito pouco, muito tarde”: a dívida pública encontrava-se bem acima de 100% do PIB, e a oposição e a Comissão Europeia (sem falar nos credores) já não acreditavam que Sócrates conseguisse inverter o rumo para a catástrofe. A 6 de Abril de 2011, o primeiro-ministro eleito pelo Partido Socialista anunciou, perante as câmaras das televisões e o mundo, que Portugal tinha agora que pedir uma esmola ao FMI e à União Europeia para sobreviver.

 

 
Uma nação milenar, que abriu portas ao mundo, foi humilhada, colocada ao nível de um pedinte a mendigar uma esmola caridosa.

 

 
A autópsia revela que, quando Sócrates chegou ao poder, a dívida pública era de 67 por cento – e que, quando, saiu tinha duplicado para 112 por cento. Um cancro do qual vamos levar décadas a livrar-nos. Tratamento de choque O governo socialista morreu, mas a nação continuou viva, embora já ligada às máquinas. Estancar as feridas abertas pela governação socialista foi a primeira prioridade do governo da coligação. Mas nesta altura já havia uma nova médica de serviço, e a doutora Merkel exigia tratamento de choque, caso contrário ameaçava cortar o oxigénio ao paciente.

 

 
O Estado foi obrigado a procurar receitas de forma apressada. Operação difícil, dado o aumento brutal do desemprego e a diminuição dos rendimentos empresariais e privados sobre os quais recai a taxação. A narrativa de esquerda de que o governo apenas controlou o deficit através do aumento de impostos é falsa, sabe-se hoje com segurança. Entre 2011 e 2012, a despesa do Estado foi cortada de 88 para 81 mil milhões, o mesmo valor de 2008.

 

 
O “enorme” aumento de impostos somente conseguiu recolher 77 mil milhões em 2014, ainda longe do suficiente para compensar os custos do despesismo passado. A escassos meses de eleições gerais, a “narrativa” ilusionista da esquerda volta a prometer mundos e fundos.

 

 
Vários economistas, como João César das Neves, já deixaram o aviso para o povo não cair em ilusões, afirmando mesmo que Portugal está “num momento de charneira para ver se voltamos ao disparate”. Os números não mentem, e a autópsia do governo socialista revela- nos sem margem para dúvidas quem matou as finanças públicas: foi José Sócrates, em São Bento, com o despesismo crónico da “escola socialista”.

 

 
AS CONTAS DO MAU ESTADO

 

 
Na edição de 12 de Outubro de 2010, o Semanário O DIABO já alertava para a catástrofe que se aproximava.

 

 

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Receitas: 67 mil milhões. Despesas: 81 mil milhões. Deficit: 14 mil milhões. Na verdade, o deficit era ainda mais elevado do que o previsto: os muitos esquemas de “contabilidade criativa” de Sócrates ocultavam a realidade. Quando foi descoberto, o enorme buraco contabilístico aumentou o número do deficit para 20 mil milhões.

 

 

 

Já era previsto que o Estado ia começar a pagar com elevados juros os créditos que estavam para trás, neste caso 6,5 por cento de juro, uma prenda envenenada que Sócrates deixou para o seu sucessor. Em relação aos funcionários públicos, O DIABO ressalvava que “produzem quase menos cinquenta por cento do que a média europeia”, mesmo constituindo a maior fatia da despesa nacional. O futuro era negro, mas ainda nem todos acreditavam. As ilusões caíram com a vinda da Troika, poucos meses depois.

 

 

 
06/04/2015

 

Jornal ‘O Diabo’

 

 

 

 

 

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