Chamam-lhe “superjuiz”. E a razão é simples: neste País, não há grande processo de criminalidade económica e financeira que não lhe passe pelas mãos.
Nos últimos anos, os chamados crimes de “colarinho branco” que maior notoriedade pública registaram contam com as intervenções do juiz Carlos Alexandre.
É este o homem que, esta manhã, se responsabilizou por interrogar o antigo presidente do BES, no âmbito do processo conhecido por Monte Branco. As suspeitas sobre Ricardo Salgado dirão respeito, sobretudo, tal como avançou o Negócios, às transferências de 14 milhões de euros que o antigo banqueiro recebeu do construtor José Guilherme.
Como magistrado judicial responsável pelo Tribunal Central de Investigação Criminal, Carlos Alexandre trabalha a par e passo com o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e o seu nome ficará associado a casos de grande impacto público, como o já referido Monte Branco, mas também as operações Furacão, Portucale, Face Oculta, BPN ou Remédio Santo.
ADMIRADO E ODIADO
No mundo da advocacia, há quem o admire, mas também quem o odeie. Se alguns dos actores da Justiça que lidam ou já lidaram com Carlos Alexandre lhe chamam “Mourinho da Justiça”, por causa da sua obstinação, há porém quem prefira, de forma pejorativa, designá-lo como o “Garzón português”, acusando-o de gostar de protagonismo.
O juiz espanhol Baltazar Garzón, conhecido mundialmente pelo arrojo em desafiar os mais poderosos, teve também a seu cargo a responsabilidade de conduzir processos relacionados com crimes de “colarinho branco”. Foi o caso da investigação das suspeitas de lavagem de dinheiro que penderam, na última década, sobre o grupo financeiro espanhol BBVA.
Afinal, no caso de Carlos Alexandre, foram as suas intervenções nos casos mais mediáticos de criminalidade económica e financeira as causas directas do seu protagonismo público. Ele que se iniciou no mundo do Direito e da Justiça depois de completar a licenciatura na Faculdade de Direito de Lisboa, onde se cruzou, por exemplo, com os socialistas António Costa e Eduardo Cabrita.
Passou depois pela Polícia Judiciária Militar, mas optou por seguir a carreira da magistratura judicial, tendo desempenhado funções, nomeadamente, nas varas mistas de Sintra. Chegou ao Tribunal Central de Investigação Criminal, o conhecido “Ticão”, em 2004. Era então titular a juíza Fátima Mata-Mouros. Dois anos depois passou a responsável máximo daquele tribunal.
CATÓLICO, SPORTINGUISTA, NATURAL DE MAÇÃO
Sportinguista assumido, Carlos Alexandre é também um católico devoto que gosta de regressar às origens. Participa sempre nas comemorações da Páscoa, em Mação, a localidade da Beira Baixa onde nasceu há 52 anos. Filho de um carteiro e de uma operária fabril, estudou na Telescola e nas férias chegou a ajudar o pai nas obras.
Pese embora o acusem de procurar protagonismo, a verdade é que foram raras as vezes em que se expôs na comunicação social. Indirectamente, através de um amigo e conterrâneo, o antigo assessor do Partido Socialista António Colaço, foi possível ver, há dois anos, no blogue Ânimo, Carlos Alexandre na celebração pascal de Mação. Mais do que o lado do devoto, ganharam força as afirmações do magistrado judicial, então transcritas no “Diário de Notícias”.
“No contexto de uma diligência que se procurava tomar contacto com documentação, foi-nos dito por uma pessoa com importância na praça que estava ali a mando de alguém para acompanhar aquele acto, porque quando o dinheiro falava, a verdade calava. Comigo a verdade falará sempre mais alto”, sentenciou o juiz.
O juiz Carlos Alexandre foi o 48º Mais Poderoso do ‘ranking’ do Negócios em 2013. Leia aqui o que se escreveu sobre e conheça a sua rede de amigos e inimigos.
24/07/2014
João Maltez