Medicinas alternativas: o que são e para que servem

Cada vez mais pessoas recorrem à medicina chinesa como forma de tratamento ou de prevenção. Falámos com quatro especialistas diferentes para nos explicarem quatro terapias.

 

 

Antes de apresentarmos as quatro terapias, é importante esclarecer alguns conceitos. A medicina chinesa não vê as doenças da mesma forma que os ocidentais veem. Para os orientais, as doenças são desequilíbrios energéticos provocados por elementos que tanto podem ser algo que nos rodeia, como o frio ou o calor, como sentimentos ou estados emocionais.

 

 
A medicina chinesa assenta na teoria de que a saúde é conseguida através de um equilíbrio entre o Yin e o Yang, duas forças opostas e inseparáveis. O Yin representa o frio e os aspetos passivos da pessoa, o Yang representa o fogo, a excitação e os seus aspetos ativos. Outro dos pilares da medicina chinesa está no facto de ser holística — ou seja, vê o corpo como um todo e não em partes separadas –, além de acreditar que a força da energia vital de uma pessoa é capaz de regular a sua saúde espiritual, emocional, mental e física.

 

 
Recorrer a medicinas alternativas não implica mudar o seu estilo de vida, já que esse não é um pré-requisito para que elas funcionem. Todas as terapias se complementam e podem ser usadas em simultâneo, para além de não excluírem a medicina dita convencional.

 

 

 

1. ACUPUNTURA

 

 
A acupuntura é a terapia mais conhecida de todas e também a mais aceite. “Em alguns casos há mesmo médicos que aconselham a que se faça acupuntura, pois o seu sucesso pode ser muito grande”, diz Pedro Choy ao Observador, acrescentando que esta terapia “pode agir sobre todo e qualquer um dos desequilíbrios energéticos do nosso corpo, o que é o mesmo que dizer que é útil no combate a qualquer tipo de doença”. É usada, por exemplo, em casos de alergias, tratamento de cancro e de dor, ou para combater a infertilidade.

 

 
Como é sabido, a acupuntura serve-se de agulhas. Estas agulhas são colocadas em pontos definidos do corpo, chamados de “pontos de acupuntura”, que se distribuem sobre linhas denominadas de “meridianos chineses” e “canais”. Não existe um número máximo ou mínimo de agulhas que um paciente possa ter durante uma sessão de tratamento. Segundo Pedro Choy, que pratica esta terapia nas suas clínicas, “cada caso é um caso mas o ideal é agir o mais diretamente sobre a origem da patologia possível, pelo que o tratamento perfeito terá uma média de sete a 15 agulhas”. O que não invalida que tenha mais ou menos, tudo vai depender de “quantas fontes energéticas estão afetadas e se estão afetadas por excesso de energia ou por falta dela”.

 

 

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Agulha de acupuntura.

 

 
Apesar de ser feita com agulhas, esta terapia não inflige dor. A dor nunca deve existir, o que pode sentir é um ligeiro desconforto decorrente da passagem da agulha pela pele. “Depois disso pode-se sentir um aquecimento do local, ou um formigueiro, até um pequeno choque elétrico, que são as sensações relacionadas com a movimentação da energia.”

 

 
Uma reação adversa à terapia não está descartada, podendo ocorrer uma alergia cutânea às agulhas. No entanto, é algo extremamente raro, visto que as agulhas são feitas de materiais que contam com esse tipo de situação. Pedro Choy remata dizendo que “desde que o protocolo de colocação de agulhas esteja feito de modo correto para a pessoa a ser tratada, não há razão nenhuma para que surjam reações adversas”.

 

 

2. VENTOSAS

 
As ventosas ou ventosoterapia são um processo de sucção da pele, através de calor ou pressão de ar. Essa sucção é feita através de uns objetos de vácuo de vidro com uma forma redonda, semelhantes aos copos de iogurte grego, que podem ter tamanhos e formatos diferentes, dependendo da zona do corpo a tratar. No Centro de Terapias Chinesas este processo é feito com objetos com ímanes e um pico. Os ímanes têm por objetivo estimular a circulação de energia Yin e Yang, e o pico simula um tratamento de acupuntura. Embora nem sempre sejam os dois utilizados em simultâneo.

 

 
Wenqian Chen afirma ao Observador que as ventosas destinam-se a “qualquer tipo de doença”. Sendo especialmente utilizadas em casos de dor, visam combater a estagnação sanguínea. Para a médica do Centro de Terapias Chinesas, “dor é não fluir”, ou seja, a partir do momento em que o sangue fica estagnado num local, os efeitos surgem sob a forma de tensão e rigidez, causando a dor. Um caso específico de uma doença em que a dor é o principal queixume dos pacientes é a fibromialgia.

 

 
De entre outras doenças que as ventosas ajudam, estão as pulmonares, paralisias, tensões musculares crónicas ou do sistema nervoso.

 

 

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As marcas das ventosas podem levar alguns dias até desaparecerem.

 

 

Ao contrário da acupuntura, as ventosas não agem diretamente num ponto, mas numa área do meridiano de acupuntura. Em alguns casos, a ventosoterapia pode causar um alívio dos sintomas mais rápidos do que uma sessão de acupuntura.

 

 
O copo, utilizado na terapia, fica colocado no paciente entre cinco a 20 minutos, podendo ser movido com a ajuda de óleos para que abranja uma área maior. “É raro um tratamento com ventosas ter mais tempo porque há pessoas mais frágeis e um tratamento mais prolongado iria fazê-las sentirem-se muito cansadas”, diz Wenqian Chen.

 

 

As ventosas não magoam, deixam uma marca em forma de círculo e deixam também uma sensação de calor, visto que o sangue é puxado à superfície.

 

 

É de salientar que os desequilíbrios energéticos ocorrem sempre que não estamos em harmonia. Wenqian Chen diz que só a “tranquilidade mantém a energia”. “Se estiver triste, gasta energia do pulmão (devido ao esforço feito enquanto chora), se estiver irritado, gasta a energia do fígado, daí a expressão ‘maus fígados’, se estiver assustado ou com medo, gasta a energia dos rins, se estiver preocupado gasta a energia do baço e se estiver alegre gasta a energia do coração.” Ao que parece, um estado demasiado prolongado de alegria também não é benéfico para a saúde, já que não pressupõe o tão almejado equilíbrio.

 

 

 

Onde fazer: Centro de Terapias Chinesas (Av. António Augusto Aguiar, 56, 1º, Lisboa)
Preço: 39€.

 

 

3. REFLEXOLOGIA

 

 
A reflexologia é uma “terapia que se baseia no princípio da existência de reflexos nos pés, nas mãos e na face que correspondem a órgãos, glândulas e membros do corpo”. Cada pé tem 7.200 extremidades nervosas, que devem ser estimuladas. No entanto, é importante referir que, embora estas sejam as partes mais utilizadas na reflexologia, “o corpo todo reflete o corpo todo”, ou seja, não é só na sola dos pés ou nas palmas das mãos que os nossos órgãos estão refletidos, mas também nas pernas ou nos braços, por exemplo.

 

 
Eduardo Luís, presidente da Ordem Mundial de Reflexologia, diz que esta terapia “produz um efeito calmante sobre o sistema nervoso e é uma fonte de distração”. Se já experimentou reflexologia e sentiu dor, saiba que isso não é sinal de que alguma coisa esteja mal, é apenas o resultado do estímulo exercido no pé.

 

 
Mas nem todos os estímulos são iguais. O dedo grande do pé, por exemplo, é fulcral no que à reflexologia diz respeito. O conselho de Eduardo Luís, caso sinta dores de cabeça, de costas ou na coluna cervical, é experimentar massajar esse dedo com movimentos ascendentes. Se o fizer durante algum tempo, vai poder verificar o resultado.

 

 

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Apesar de estar em mandarim, dá para perceber que órgão está refletido em cada zona do pé.

 

 
A reflexologia melhora a circulação sanguínea, a comunicação nervosa e alivia a dor. Apesar de ser uma terapia essencialmente preventiva, destina-se a doenças como a sinusite, a ciática, a hipertensão, o nervosismo/stress, as enxaquecas ou as dores menstruais. Têm sido feitos estudos para apurar os seus benefícios nas doenças autoimunes.

 

 
A sorrir, Eduardo Luís disse ao Observador que “há quem diga que a reflexologia funciona como um efeito placebo”, não se mostrando convencido dessa teoria. O terapeuta afirma que “no corpo há energia suficiente para a pessoa se curar da doença que tem” mas que “não basta trabalhar num pé, numa mão ou na cara, é preciso que a pessoa acredite que vai ficar boa”.

 

 

Onde fazer: Clínicas Viver (Rua Braamcamp, 40 B, Lisboa); Centro de Reflexologia da Madeira (Centro Comercial Alferes Veiga Pestana, 1, loja 25, Funchal)
Preço: 50€.

 

 

4. APITERAPIA

 

 
A apiterapia é, de todas, a terapia menos conhecida. Consiste na utilização de todos os produtos que existem numa colmeia. Os tratamentos podem ser feitos com mel, própolis, pólen, cera, geleia real, larvas dos três tipos de abelhas que existem (zangão, rainha e obreiras) e até picadas de abelha.

 

 
No caso das picadas, é feito previamente um teste de alergias e o tratamento só avança caso o resultado dê negativo. António Couto diz que a “apiterapia é uma medicina muito potente, que dá resposta à maioria dos problemas”. As abelhas são colocadas nas costas do paciente e espetam o seu ferrão, deixando o seu veneno no nosso organismo.

 

 
Das quatro aqui retratadas, esta é a única terapia que dói. “Não se pode dizer que não há dor, mas é uma dor menor do que quando somos picados acidentalmente, até porque não há o efeito surpresa, a pessoa já sabe ao que vai”, diz ao Observador António Couto.

 

 
O número de abelhas que se coloca no paciente depende muito da zona do corpo e do problema que cada um tenha. No início todos começam com uma dose muito reduzida e vão aumentando gradualmente a quantidade de veneno — leia-se a quantidade de picadas –, sessão a sessão, usando os pontos da acupuntura para as picadas. Esta terapia destina-se, de entre outras, a doenças como alergias (sinusite), cancro, esclerose múltipla ou doenças autoimunes.

 

 

Um dos benefícios do veneno de abelha é o facto de estimular as glândulas suprarrenais a produzir cortisol, o que faz com que as pessoas que tomem cortisona deixem de precisar de tomá-la.

 

 
Mas nem sempre as abelhas são colocadas nas costas dos pacientes. António Couto é o único especialista na Europa que utiliza um método japonês que consiste em utilizar apenas o ferrão da abelha e com isso faz micro-picadas. “O ferrão pode ser utilizado mais do que uma vez (sempre na mesma pessoa), trata uma área maior, as quantidades de veneno libertadas são menores, a dor é menor, os resultados são mais eficientes e não é tão assustador.”

 

 

António Couto sublinha ainda que a apiterapia “não é nenhum milagre” e que, acima de tudo, “as pessoas não podem pensar que resolvem um problema que têm há 30 ou 40 anos, de um dia para outro. É preciso paciência.”

 

 

 

Fotografia cedida pela Dra. Wenqian Chen

 
Carolina Santos

 
Observador

 

 

29/04/2015

 

 

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