Medo não é sinónimo de respeito

No 1º de Maio, uma velhota russa segurava um cartaz dado pelos organizadores onde se lia: “Estados Unidos não nos roubes a reforma!”. Pois bem, as reformas vão para tanques, aviões e armamento militar

 

 

O Kremlin tenciona transformar as celebrações do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial numa autêntica exposição de novos armamentos na Praça Vermelha, trazendo à memória as monumentais paradas do Exército Vermelho Soviético. Como é sabido, essas demonstrações de força não impediram a desintegração da União Soviética, pelo contrário, os gastos militares foram um dos principais factores da sua ruína.

 

 

O Ministério da Defesa da Rússia decidiu exibir, no próximo dia 9 de Maio, os novos tanques “Armata”, as peças de artilharia “Koalitzia-SV”, o complexo de defesa anti-aérea “Kurganetz-25”, etc., etc.

 

 

Segundo os militares russos, na parada que se irá realizar na Praça Vermelha participarão 16,5 mil soldados, 194 unidades blindadas, 143 helicópteros e aviões.

 

 

Não deverão ser muitos os que acreditam que Vladimir Putin, com toda esta exibição de músculos, pretenda realizar uma sincera homenagem àqueles que, durante a Segunda Guerra Mundial, salvaram o mundo do nazismo hitleriano, mais parecendo uma forma de repetir a velha política soviética de assustar todo o mundo com paradas militares.

 

 

Os dirigentes russos continuam a confundir “medo” com “respeito”, confusão compartilhada, infelizmente, por grande parte da população russa envenenada pela propaganda oficial. Ao fazer demonstrações militares não só na Praça Vermelha, mas também no território de alguns países vizinhos, o Kremlin quer incutir medo. Ora, isto é muito mais fácil do que fazer com que o mundo respeite a Rússia pelo seu grau de desenvolvimento económico, político e social.

 

 
A Rússia pode continuar a fabricar armas de destruição em massa cada vez mais sofisticadas, mas nas lojas continuamos a não encontrar computadores, telemóveis, televisores, electrodomésticos ou outros equipamentos “made in Russia”. E isto não se refere apenas a lojas no estrangeiro, mas na própria russa. São cada vez mais raros os cientistas russos nas listas dos prémios Nobel da Economia, Medicina, etc.

 

 
Se o Kremlin quisesse merecer o respeito das pessoas ter-se-ia preocupado mais com os veteranos da Segunda Guerra Mundial, muitos dos quais morreram e continuam a morrer de fome e no esquecimento na Rússia. Mas isso não faz aumentar “vertiginosamente” a popularidade do Presidente Putin.

 

 

Também não dá popularidade rápida os casos de pacientes russos com doenças oncológicas que se suicidam por não receberem assistência na fase terminal da doença. Porque é mais fácil fabricar mísseis, submarinos, etc. do que investir na descoberta e fabrico de medicamentos na Rússia.

 

 
A União Soviética já mostrou que este tipo de política conduz o país e a sociedade a um beco sem saída, mas a história volta a repetir-se, sem que os líderes consigam retirar o seu país do círculo vicioso em que se encontra.

 

 
Na manifestação de 1 de Maio em Moscovo, convocada pelos sindicatos oficiais que não defenderam os trabalhadores na era comunista, nem os defendem agora, uma velhota russa segurava um cartaz, entregue pelos organizadores, onde estava escrito: “Estados Unidos não nos roubes a reforma!”. Pois bem, as reformas vão para tanques, aviões e armamentos militares, por isso é escusado estar a culpar Obama pelos erros cometidos pelos seus próprios dirigentes.

 

 

 
José Milhazes

 
08/05/2015

 

 

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