“Foi um vício que ganhei”, assume Augusto, que recebeu, na Universidade de Aveiro, o seu terceiro diploma, relativo ao curso que concluiu em setembro do ano passado.
Quando terminou o Ensino Secundário, Augusto começou logo a trabalhar na Portucel. Mas, pouco depois, como trabalhador estudante, inscreveu-se no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro. Demorou muitos anos a concluir essa primeira licenciatura. Tantos que lhes perdeu a conta. Mas terminou, em 1998.
“Faltava-me uma cadeira e prometi ao meu santo protetor, ao S. Gonçalinho, que lhe dava determinado montante por cada valor que tivesse acima de 10. Acabei com 18. Ele cumpriu e eu também. Quando fui pagar a promessa, o senhor que recebeu o dinheiro disse que nunca tinha visto ninguém dar tanta esmola ao santo”, recorda Augusto, emocionado.
Quando se viu livre dos estudos, o rececionista da Portucel não se sentiu aliviado. Faltava-lhe qualquer coisa. Pelo meio, fez apenas um interregno, para construir, com a ajuda de um vizinho, a casa onde hoje vive com a mulher e com os dois filhos, de 19 e de 14 anos.
Depois, voltou o “bichinho” dos estudos. “Meti-me no segundo curso porque dei por mim a precisar de ocupar o tempo livre que tinha entre os turnos na fábrica. E fui para Economia em parte porque apostei, por brincadeira, com uma amiga, que acabava aquele curso primeiro do que ela. E assim foi. Terminei-o em 2011”, garante Augusto Marques.
Administração Pública veio logo de seguida e, em três anos, Augusto, o eterno estudante, conseguiu arrecadar o seu terceiro “canudo”.
Sem estudar desde setembro, já se inscreveu num instituto de Inglês. E apesar de dizer que sente que já não tem “a mesma capacidade física nem mental” e que conhece as suas “limitações”, ainda equaciona inscrever-se em cadeiras isoladas do curso de Psicologia.
“Cheguei a ser criticado por amigos, apesar de sempre ter tido todo o apoio da família. Ocupava as minhas férias a estudar, às vezes 12 horas por dia. Mas estudar é o meu escape. É devoção”, confidencia.
SALOMÉ FILIPE/JN/TPT/4/8/2015