Se havia dúvidas, terminaram esta noite: o Partido Republicano está refém de Donald Trump e das suas opiniões sem filtro. Foi com ele que começou e terminou o debate, foi sobre ele que os americanos maispesquisaram durante a emissão.
A Fox, estação conservadora por excelência no panorama noticioso americano, recebeu os candidatos mais bem colocados nas sondagens para uma discussão entre todos que foi ritmada, mas com pouca profundidade. O formato de debate a dez não é brilhante, mas junta todos num mesmo palco e resulta bem para efeitos de espetáculo.
As perguntas são despachadas individualmente, poucas vezes é possível responder diretamente, não há tempo para hesitações nem improviso e os candidatos tentam dizer o que ensaiaram sem se enganar.
Não é possível ter um debate político nem sequer uma discussão aberta, são apenas mini-discursos feitos para aqueles que já são fãs de cada candidato. Daí as palmas que se ouviam da enorme plateia dividida entre os apoiantes.
Foi com Trump que o debate começou. Quando foi perguntado aos dez candidatos se algum admite concorrer de forma independente, só uma mão se levantou: Donald John Trump. Sem problemas, disse que quer o apoio republicano mas que se não o tiver, quer concorrer de forma independente.
Ao longo da noite disse que ele, “tal como a América”, não tem “tempo para ser politicamente correto” e por isso não se arrepende dos variados insultos a mulheres. Que também não se arrepende de ter entrado em bancarrota quatro vezes, até porque soube “explorar as leis” da nação a seu favor. E que tem todos os opositores na mão porque lhes deu dinheiro no passado – incluindo Hillary, que só foi ao seu casamento “obrigada”, visto que tinha aceitado dinheiro das empresas Trump.
A primeira ronda de perguntas foi sobre as opções políticas recentes de cada candidato. A segunda ronda de perguntas foi sobre a imigração ilegal, que é basicamente um tema Trump; depois passou-se à política externa e à discussão sobre o papel do Estado Islâmico. E aqui a impreparação de alguns candidatos começou a ser clara, com recusas em responder a questões frontais e a usar táticas de diversão, como insultar Hillary Clinton, para evitar clareza.
Ainda assim, houve novidades: Um candidato quer construir um muro para estancar a imigração dos mexicanos (Trump), outro quer impedir também os túneis debaixo da fronteira (Rubio), outro queixa-se do “Cartel de Washington” (Cruz).
Há candidatos que se sentem capazes de destruir o Estado islâmico em 90 dias (Cruz). Outro quer repor o direito a torturar prisioneiros (Carson). E há outro ainda que quer fazer uma nova parceria privilegiada com a Arábia Saudita (Walker).
Nas questões económicas houve pouca clareza e apelos vagos ao regresso do crescimento económico. Um candidato garantiu 19 milhões de empregos através de investimento em projetos energéticos estratégicos (Bush), outro garantiu uma reforma de imposto “sem falhas” em que todos pagam dez por cento dos rendimentos (Carson).
Nos assuntos sociais, a unanimidade foi mais fácil de encontrar. São todos pró-vida e contra o casamento homossexual, chegando à Casa Branca querem alterar o primeiro mas não o segundo – sempre de acordo com a lei divina que dizem receber das escrituras. E prometem usar a Constituição para limitar problemas raciais. As audiências na internet reagiram assim ao debate, de acordo com a Google.
Mike Huckabee fechou em grande, resumindo o que se passou: “Este debate parece ter sido sobre uma pessoa que está muito bem colocada nas sondagens, que não faz ideia sobre como governar, que tem uma vida cheia de escândalos e que não sabe liderar. Estou obviamente a falar de Hillary Clinton”.
Esta frase poderia propositadamente ter fechado com outro nome e por isso foi recebida com palmas e risos na audiência. Mas é esse nome, Donald Trump, quem lidera as sondagens e as atenções na corrida republicana e é contra ele que os outros candidatos têm de lutar. Os mais moderados pareceram ser Rubio e Bush, mas isso não é garantia de eleição num partido republicano mais conservador graças às duas derrotas nas últimas corridas à Casa Branca.
Ainda faltam 15 meses e muito vai decerto acontecer na luta política ao lugar de topo da política americana, até porque quem ganhar nos republicanos terá de combater o candidato democrata – onde por enquanto quem parece liderar tranquilamente é Hillary Clinton.
Obs/TPT/7/8/2015