No dia seguinte, tudo na mesma. Os gregos voltaram a dar a vitória a Alexis Tsipras, que vai agora formar novo governo com o antigo parceiro de coligação, os Gregos Independentes (ANEL). Com maioria absoluta no Parlamento, a coligação terá agora de acelerar para cumprir o acordo com a troika de modo a aceder aos fundos do terceiro resgate ao país. Tsipras livra-se dos dissidentes mais radicais do Syriza, que não conseguiram entrar no Parlamento.
“O caminho está à nossa frente para mais luta e trabalho”, escreveu ontem Tsipras no Twitter, assim que confirmou a vitória. Mais tarde, em Atenas, perante os apoiantes, agradeceu aos gregos: “Esta vitória é do povo”. Tsipras alertou, porém, que “a recuperação não acontecerá por magia” e que haverá “trabalho árduo” pela frente, confirmando que vai continuar a trabalhar com os Gregos Independentes. No palco, onde discursava perante milhares de pessoas, abraçou Panos Kommenos, o líder do ANEL, com quem reuniu logo ao início da noite, após os primeiros resultados.
Segundo os resultados disponíveis à hora de fecho desta edição, o Syriza conseguiu 35,5% dos votos, o que lhe permitirá obter 145 assentos no Parlamento, a curta distância dos 151 necessários para uma maioria absoluta, que será obtida através da aliança com o ANEL, que deve conseguir 3,7% e eleger 10 deputados.
O executivo renasce empenhado no cumprimento dos compromissos de reformas para com a União Europeia, para garantir a concessão do resgate de 86 mil milhões de euros ao país.
“Agora é necessário rapidamente um governo sólido, para conseguir fazer o que é necessário”, apelou ontem à noite o presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz.
Entre os derrotados da noite encontra-se o partido conservador Nova Democracia (ND), liderado por Evangelos Meimarakis, o qual era visto nas sondagens como estando em empate técnico com o Syriza, mas que acabou por se ficar com apenas 28% e 75 deputados.
“Saúdo a vitória de Tsipras, mas o ND não foi destruído, aumentou a sua votação e é um pilar de estabilidade”, afirmou Meimarakis no seu discurso de concessão.
Os grandes derrotados foram os dissidentes de esquerda radical do Syriza, que em Agosto se haviam separado do partido para fundar a sua própria formação política, a Unidade Popular, que acabou por se ficar pelos 2,8%, não conseguindo por isso eleger um único deputado, apesar de contarem com o apoio do célebre ex-ministro das Finanças Yannis Varoufakis.
“Perdemos uma batalha, mas não a guerra”, disse ontem em tom de desafio um dos líderes deste partido, Panayotis Lafazanis. Esta cisão dos elementos radicais do Syriza resultou da aceitação por Tsipras de todas as exigências de reformas dos credores, apesar de em Julho um referendo ter rejeitado com mais de 60% dos votos a aceitação das medidas de austeridade. Isto levou a um clima de desilusão entre o eleitorado grego, que acabou por resultar numa abstenção de 45,4%, contra os 36,4% verificados nas eleições de Janeiro, que levaram o Syriza ao poder pela primeira vez. Em consequência, o novo Syriza que Tsipras agora lidera está muito mais voltado para o centro do que no início do ano, estando livre dos dissidentes da esquerda radical.
A Aurora Dourada, o partido da extrema-direita, manteve-se como a terceira formação política mais votada, subindo de 6,3% e 17 deputados para 7,3% e 19 parlamentares, ajudado pelas preocupações em torno do grande influxo de migrantes vindos do Médio Oriente para o país.
A nova coligação de Tsipras tem agora um calendário apertado para trabalhar, já que tem menos de uma semana para aprovar um novo orçamento que contenha um terceiro pacote de reformas exigido pela Europa, e necessita negociar até ao final de Outubro um alívio da dívida grega, após a avaliação por parte das instituições do progresso das reformas na sociedade grega. Esta redução da dívida, que atinge os 185% do PIB do país, é vista como certa pelos mercados, uma vez que as grandes potências europeias, nomeadamente a França e a Alemanha, têm mostrado o seu apoio a Tsipras, que deixou de ser o ‘rebelde’ da Europa contra a austeridade, para passar a ser um dos campeões da aprovação na Grécia das reformas vistas como necessárias pelos partidários da austeridade.
“Estou certa de que veremos passar as reformas necessárias para relançar a economia grega”, disse na semana passada a chanceler alemã Angela Merkel, enquanto o presidente francês François Hollande disse que a vitória de Tsipras “é uma importante vitória para a Grécia, que vai agora viver um período de estabilidade, com uma maioria sólida”.
Varoufakis é o derrotado da noite
A Unidade Popular, partido formado por 25 dissidentes do Syriza, que se recusaram a votar o terceiro resgate à Grécia não conseguiu eleger nenhum deputado, de acordo com os primeiro dados oficiais. O polémico ex-ministro das Finanças do Syriza apoiou publicamente e apelou ao voto nesta força política.
Com mais de um terço dos votos contados, a Unidade Popular recolhe 2,81% dos votos abaixo dos 3% necessários para eleger qualquer deputados. Neste momento o Syriza já garantiu 145 lugares no parlamento grego, um número que a juntar aos 10 deputados que os Gregos Independentes também já asseguraram é suficiente para formar maioria absoluta.
Varoufakis foi ministro das Finanças do Governo de Tsipras e dirigiu as negociações com os credores até ao referendo de 5 de Julho sobre a proposta de acordo apresentada pelas instituições (UE e FMI). No dia seguinte à categórica vitória do “Não”, Varoufakis apresentou a demissão com o argumento de permitir ao Governo a garantia de um acordo com os credores. Enquanto exerceu a pasta das Finanças, Varoufakis disse que nunca assinaria um acordo com os credores que incluísse medidas de recessão.
Recado para fora
Tsipras disse que neste domingo, dia de uma nova vitória do Syriza, se sente “vingado” dos que puseram em causa a sua estratégia: “O povo grego deu-nos um mandato claro para continuarmos a lutar dentro e fora do país, e para nos livrarmos de todas as coisas que nos mantém presos ao passado” recente.
Aos 41 anos, Alexis Tsipras simboliza a esperança e a vontade de lutar do povo grego. No seu discurso de vitória na Praça Klafthmonos, no centro de Atenas, lembrou aos opositores nacionais e estrangeiros que têm “um mandato claro do povo grego” para lutar pelos seus direitos.
O Presidente francês considerou hoje a vitória do partido de esquerda Syriza, nas legislativas antecipadas gregas, “um êxito importante para o Syriza e para [Alexis] Tsipras” e “uma mensagem importante para a esquerda europeia”.
“A Grécia vai conhecer um período de estabilidade com uma maioria sólida”, disse François Hollande em conferência de imprensa, em Tânger (Marrocos).
Hollande acrescentou que se deslocará a Atenas “sem dúvida nas próximas semanas”.
Económico/TPT/21/9/2015