União Europeia continua dividida sobre o acolhimento de migrantes

Na primeira visita a um albergue de migrantes em dez anos, a chanceler alemã entrou no edifício de Heidenau ao som de assobios e gritos de “traidora”. Fora do cordão de segurança, dezenas de pessoas protestavam junto ao centro de refugiados da cidade de 16 mil habitantes, a poucos quilómetros de Dresden, que desde o passado fim-de-semana é conhecida pelos focos de tensão com a polícia pelo acolhimento de cerca de 600 migrantes.

 

Ao fim de 90 minutos de visita a palavra de ordem da chanceler, perante o mais recente episódio de xenofobia na Alemanha, foi “tolerância zero” a quem “não respeita a dignidade dos outros”. Berlim espera este ano 800 mil pedidos de asilo e, em antecipação, o governo vai enviar 500 milhões de euros para os Estados alemães apoiarem os refugiados.

 

A solidariedade de Merkel, que assume o acolhimento de todos os sírios, é um exercício arriscado para a política conservadora que tem consciência da maioria de alemães com muitas reservas face à entrada recorde de migrantes.

 

A divisão na sociedade alemã é semelhante ao que está a acontecer na União Europeia, onde os Estados-membros não se entendem sobre a resposta a dar ao maior fluxo migratório que o continente enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni, rejeitou proposta franco-alemã de que Itália crie “este ano” centros de registo de migrantes. O país, nota Gentiloni, já fez “muito mais” do que o seu dever, ao “salvar dezenas de milhares de pessoas e ao acolher os refugiados”.

 

Já o presidente checo Milos Zeman foi muito mais duro, ao defender um exército europeu como “protecção das fronteiras comuns”. Já o ministro das Finanças checo, Andrej Babis, juntou a sua voz às dos que pedem a suspensão do acordo de Schengen, e disse que “a questão é de saber se os exércitos da Macedónia e da Bulgária não necessitam da ajuda da NATO”.

 

A resposta checa teve de imediato resposta do chanceler austríaco Werner Faymann, que censurou não só a República Checa como também a Polónia e os Estados bálticos, por terem recusado as quotas de acolhimento de refugiados propostas por Bruxelas.

 

“Como é que podemos querer que os países periféricos protejam as fronteiras externas se estes pensarem que as centenas de milhares de migrantes vão ficar ali, enquanto os outros países continuam a esperar e a discutir calmamente?”, lamentou Feymann.

 

Para tentar conseguir uma posição comum, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, publicou ontem um artigo em vários media onde apela à unidade, argumentando que a Europa só superará a crise “se trabalhar em conjunto”. E, promete, que em Setembro Bruxelas irá publicar uma lista de “países seguros”, ou seja, dos quais não será possível os cidadãos pedirem asilo – como acontece com os países balcânicos.

 

Em Castelo de Vide, durante a Universidade de Verão do PSD, o antecessor no cargo, Durão Barroso, baixou no entanto as expectativas ao afirmar que os governos europeus “são incapazes” de estar a dar “uma resposta à imigração”, não sendo a crise actual da responsabilidade da União Europeia.

 

 

Pedro Duarte/Económico/4/10/2015

 

 

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