À margem da Assembleia Geral das Nações Unidas que decorreu de 24 a 29 de Setembro em New York, a Primeira Dama de Cabo Verde, Drª Ligia Fonseca, foi distinguida com o prémio “Outstanding Leadership Award”, da African Horizon”, no encerramento do Fórum Leadership 2015, pelo seu contributo para a valorização da mulher africana.
Lígia Fonseca participou também na reunião das Primeiras Damas africanas, que teve como lema OAFLA: “Basear-se nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, Para Investir na Agenda de Desenvolvimento Pós-2015″.
Durante as intervenções, as participantes deram a conhecer a relidade dos seus países nas áreas da educação e saúde, bem como sobre as políticas traçadas para a melhoria do funcionamento dos mesmos, visando cumprir os obejectivos do milénio.
A Primeira Dama caboverdiana, teve ainda a responsabilidade de presidir à Cerimónia de Abertura do Fórum no qual falou sobre o tema “Quebrar Amarras, Questionando Certezas”.
A Primeira Dama tem defendido, entre outras áreas, a necessidade de se criar uma nova abordagem educativa para o desenvolvimento da pequena infância, defendendo uma mudança de estratégia pela modificação de todos os sistemas educativos africanos, já que, “se a África é o “Continente da Esperança” temos de começar a servir-nos dos bons exemplos da mundialização, pois temos meios de fixar uma visão e estratégias para os atingir”.
Outras das grandes preocupações de Lígia Fonseca neste encontro são a necessidade de se evitar a “fuga de cérebros” da África e criar urgentemente programas e incentivos para manter quadros ligados à saúde, que reforcem a luta contra a sida no Continente africano.
Primeira Dama de Cabo Verde proferiu uma palestra na Universidade de Princeton, em New Jersey
Durante a sua estadia nos Estados Unidos, a Primeira Dama de Cabo Verde deu ainda uma palestra na Universidade de Princeton, em New Jersey, dirigida aos alunos de português e espanhol desta universidade, subordinada ao tema “Construir o Futuro, Apostando nas Pessoas”. Esta conferência propiciou também um vivo e interessante debate, com os estudantes, muito interessados em saberem informações sobre África e Cabo Verde.
Após a palestra, Ligia Fonseca teve também um encontro com a equipa de coordenação do Departamento de Português e Espanhol e efectuou uma visita guiada às instalações desta Universidade que é considerada uma das mais prestigiadas universidades dos EUA.
Após o encontro, os responsáveis do Departamento manifestaram-se interessados no estabelecimento de parcerias com universidades caboverdianas.
Lígia Fonseca encontrou-se com membros da comunidade cabo-verdiana em Nova Iorque
Vários representantes da comunidade caboverdiana residente na Costa Leste norte americana, deslocaram-se a New York para dar as boas vindas à Primeira Dama de Cabo Verde, que esteve de passagem pelos Estados Unidos para participar em várias iniciativas no âmbito da Assembleia Geral das Nações Unidas que decorreu em finais de Setembro deste ano.
Com o objectivo de auscultar a comunidade caboverdiana sobre os grandes desafios que se colocam a Cabo Verde, Lígia Fonseca participou num jantar de confraternização em New York com vários lideres comunitários, que registaram com satisfação a sua passagem por terras norte americanas.
Para os naturais de Cabo Verde que estiveram presentes,este encontro foi também uma oportunidade para dialogarem com a Primeira Dama sobre a actual situação no país, e saberem que projectos existem do Governo, para a emigração cabo-verdiana.
Neste sentido, Lígia Fonseca convidou os empresários caverdianos que residem nos Estados Unidos a investir em Cabo Verde sem receios e a “contribuir para o desenvolvimento” daquele país, referindo que as autoridades de Cabo Verde estão atentas às inúmeras oportunidades já existêntes, e que visam, o seu contínuo desenvolvimento.
Neste encontro, Lígia Fonseca falou ainda sobre os grandes desafios que se colocam à mulher africana e referiu a sua satisfação, por estar entre os seus conterrâneos, que residem na Costa Leste norte americana.
No final deste encontro de New York a Primeira Dama de Cabo Verde, fez questão de incentivar os seus conterrâneos a não se esquecerem da sua terra, nem daqueles que ficaram, e agradeceu a hospitalidade e o calor cultural das suas gentes, que embora longe da pátria, “trazem o nosso país no coração”.
Durante este encontro, Lígia Fonseca disse ter ficado muito honrada com o convite que a Horizon África fez a Cabo Verde para acolher o Fórum África-USA Women Leaders 2016, e explicou que, “agora, vamos analisar se o nosso país tem condições para acolher um fórum deste nível”.
O The Portugal Times soube que os promotores da iniciativa justificaram a escolha de Cabo Verde, baseando-se no contributo que Lígia Fonseca tem dado na “valorização do potencial da mulher africana” e no “exemplo que constitui o seu exercício profissional enquanto jurista, e também como Primeira Dama.”
Lígia Fonseca quer estabelecer novas parcerias com agências e fundações filantrópicas dos EUA
Durante o encontro que a Primeira Dama teve com a comunidade caboverdiana da Costa Leste norte americana, o The Portugal Times conversou com a vencedora do “Outstanding Leadership Award” 2015, e registou alguns dos pontos mais importantes da sua missão neste Fórum, enquanto Primeira Dama Africana.
“Quanto ao Fórum África-USA Women Leaders 2015, esteve em análise a situação das mulheres no continente, nomeadamente nas questões como a igualdade e equidade de género, bem como o seu papel nas sociedades africanas.
Segundo Lígia Fonseca, “quando se fala de desenvolvimento no Continente africano, deve-se ter presente a necessidade empoderar as mulheres, dando mais saúde e educação, elementos centrais para se construir uma África inclusiva e de progresso, já que, “não obstante a mulher africana ter alcançado algumas conquistas”, considera ainda que “é necessário criar mecanismos para lhes proporcionar uma vida social, familiar e profissional mais plena”.
No que respeita aos trabalhos desenvolvidos neste “Fórum África-USA Women Leaders 2015”, Lígia Fonseca disse que “serviu também para saber como é que a doença tem evoluído em África, como é que tem sido tratada (…) a nível do continente africano”, salientando que “Cabo Verde tem tido resultados bastante bons, onde 99 por cento (%) das crianças que nascem de mães seropositivas recebem o tratamento contínuo”.
Lígia Fonseca adiantou, ainda, ser necessário investir na educação, envolvendo rapazes e homens na prevenção da doença, bem assim na formação de profissionais de saúde, já que 70% dos partos realizados em África não são assistidos por pessoas clinicamente capacitadas.
Comentando a atribuição do prémio “Outstanding Leadership Award” 2015, que lhe foi entregue pela African Horizon, pelo seu contributo para a valorização da mulher africana, bem como pela sua prestação enquanto profissional e pela sua ação enquanto primeira-dama, Lígia Fonseca sustentou que o mesmo é de Cabo Verde, devido ao facto do seu trabalho “ser realizado em conjugação com associações e instituições do nosso país”.
Quem é a Primeira Dama de Cabo Verde?
Lígia Arcângela Lubrino Dias nasceu a 24 de Agosto de 1963, na Beira. Filha de Canta Dias e do advogado Máximo Dias, foi nessa cidade do centro de Moçambique que passou a infância. Contudo, ventos políticos obrigavam à mudança. O seu país, tal como muitos outros em África, atravessava naquela altura um período conturbado. Com a chegada da FRELIMO ao poder instituiu-se o regime de partido único, que não admitia divergências. O seu pai era – ainda é – um político activo, que em confronto com o regime de Samora Machel e da FRELIMO se viu obrigado a levar a família para Portugal, onde fundaria o Movimento Nacionalista Moçambicano (Monamo).
Lígia Dias tinha 13 anos. E, como se costuma dizer, saiu de Moçambique, mas o país não saiu dela. O exílio era para a então adolescente um período provisório. Cada dia era vivido a pensar no momento em que regressaria.
“Mas as condições não se proporcionaram”, conta. Os dias tornaram-se meses, os meses, anos. Quando chegou a altura de escolher um curso, optou por seguir Direito e entrou na Faculdade de Direito de Lisboa. Foi aí, que conheceu aquele que seria seu marido, Jorge Carlos Fonseca.
“Estava no final do meu curso e ele era meu professor na faculdade”, recorda. Em 1989 casaram. A vida e os projectos do esposo levaram-na a outras paragens lusófonas. Desta vez Macau. Jorge Carlos Fonseca havia sido convidado para montar e dirigir o curso de Direito em Macau, que estava a ser instalado pela Faculdade de Direito de Lisboa juntamente com a Universidade local.
Desta vez, a estadia foi curta. Pouco tempo após a sua chegada deu-se a abertura política em Cabo Verde e Jorge Carlos Fonseca quis “imediatamente” regressar.
Lígia Dias, agora Lígia Dias Fonseca abraçou esta vontade com expectativa e sem receio. Não conhecia ninguém no arquipélago, mas Cabo Verde significava para si o tão esperado regresso a África.
“Não era o regressar a Moçambique, mas era o regressar a África”, e isso animava-a.
À chegada deparou-se com uma África diferente, uma paisagem que não contemplava as suas reminiscências do que era o continente, mas nem por isso a adaptação foi mais difícil.
Na realidade, foi fácil, por vários motivos. “Desde logo porque foi em Cabo Verde que comecei a minha realização profissional”, destaca. Foi aqui que começou a exercer advocacia por conta própria, com o seu escritório próprio.
Depois, pelo acolhimento afectuoso que recebeu por parte da família do marido. “Acolheram-me como uma filha. Não posso pensar como poderia ser melhor”. E de entre estes familiares destaca a “fantástica” sogra. “Não compreendo como se pode falar mal das sogras, a minha é maravilhosa. Uma mulher muito inteligente, que sabe gerir muito bem as complicações, os humores da família. Por causa dela e dos meus cunhados foi muito fácil viver e instalar-me aqui”, revela.
Foi também aqui que começou a exercer a sua cidadania tendo estado ligada, entre outras coisas, à criação da Associação das Mulheres Juristas, da Ordem dos Advogados e da primeira escola de Direito em Cabo Verde (o Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais).
Entretanto adquiriu a nacionalidade e quando deu por si já era uma verdadeira cabo-verdiana, de papel e coração.
Fotos: Roberto DaCosta/J.L./TPT/
J.M./The Portugal Times/15/10/2015