“Sempre disse que não abandonaria o meu país e não o abandono. Se não me deixam lutar por ele à frente do governo, lutarei no Parlamento pelo qual tenho muito respeito”. Está feita a declaração de guerra de Passos Coelho a António Costa.
O líder do PSD está para ficar e deixou claro que assumirá o papel que lhe cabe na oposição, nos últimos minutos que teve como primeiro-ministro, na declaração que encerrou o debate do programa de governo.
Passos não deixa passar em branco a forma como o PS quer chegar ao poder e promete não dar vida fácil a Costa, caso este chegue ao poder.
Depois da forma como o líder do PS dirigiu as movimentações para deitar abaixo o Governo, Passos deixa uma ameaça que radicaliza a vida política em Portugal.
Passos avisa Costa: “Não nos venham depois pedir responsabilidades”
“Não tem legitimidade para mais tarde vir reclamar responsabilidade, sentido de Estado e europeísmo”, alertou Passos Coelho, deixando claro que está quebrado o bloco central e que as posições se extremaram muito.
Passos não se cansou de repetir a falta de legitimidade do governo que o PS propõe, como não se cansou de lembrar que a coligação que lidera ganhou as eleições nas urnas.
De resto, Passos vaticina um futuro curto e turbulento a um “governo minoritário apoiado por três minorias radicais que sempre combateram o PS”. E prevê que seja difícil aprovar “Orçamentos do Estado, Programas de Estabilidade, reformas estruturais e o cumprimento de regras europeias e tratados orçamentais”.
“O que vimos até hoje não é uma maioria positiva”, atacou Passos, que vê “audácia” na interpretação dos resultados eleitorais feita pela esquerda e que rompe com que o foi “normal nos últimos 40 anos”.
Para Passos, “falta identidade, falta cimento” à solução de governo encontrada à esquerda.
Está encontrado o discurso da oposição, numa intervenção que acabou com uma longa ovação de pé a Passos Coelho. Por agora, PSD e CDS cerram fileiras em torno de um discurso que esperam poder usar em breve em eleições antecipadas, nas quais acreditam poder regressar ao poder.
Montenegro põe Costa contra Costa
Luís Montenegro fez uma coleção de “pérolas de incoerência política ” de António Costa. O líder da bancada do PSD fez um discurso para desmontar uma das frases ditas momentos antes pelo secretário geral socialista. Se Costa tinha dito que “palavra dada é palavra honrada” para defender a sua posição, Montenegro usou a expressão como uma espécie de refrão para intercalar as declarações em que o líder do PS entra em contradição consigo próprio.
Montenegro começou por recuperar a forma como Costa comentou o resultado “poucochinho” do PS nas europeias de maio de 2014 para, então, entrar na corrida à liderança socialista.
Avançou depois para março de 2015 para recordar as palavras de António Costa quando afirmou que “quando o PS apela a uma maioria, não o faz com a mesquinha vontade de ter mais deputados do que os outros; fá-lo porque quer que o governo seja formado pela vontade dos portugueses e não por jogos políticos”.
“Que pérola de incoerência política”, exclamou o social-democrata, que citou depois Costa em Abril de 2015, quando o líder do PS defendia que que o governo não devia estar dependente de “jogos políticos nem da vontade do Presidente da República “, mas sim da “vontade do povo”.
De há dois meses são as declarações de Costa sobre PCP e BE, quando caracterizava os agora parceiros de acordo como “partidos de protesto” que “querem estar nas manifestações, mas não no Governo a resolver os problemas das pessoas”.
Luis Montenegro não poupou na ironia para se referir “à mais costista das palavras”, o vocábulo “poucochinho”.
“Para que haja estabilidade, é necessário que não ganhemos por poucochinho. Quem ganha por poucochinho só pode fazer poucochinho “, dizia António Costa, em Odivelas, a 19 de setembro.
Agora, Montenegro usa essas mesmas palavras para o acusar de entrar em contradição.
“Então, se é assim, quem perde por muito pode fazer o quê? Arranjinhos à la carte? É isso que pode fazer?”, questionou para atacar o que entende ser apenas fruto da ambição pessoal de Costa e não um projeto político coerente.
“O PS vai derrubar o governo que ganhou porque quer ser o governo que perdeu”, concluiu, arrebatando um longo aplauso de pé das bancadas do PSD e CDS.
O tom dos discursos não deixa margem para dúvidas de que a discussão política irá subir e muito de tom nos próximos tempos.
Margarida Davim/Sol/10/11/2015