A Frente Nacional francesa não ganhou as eleições mas teve um número recorde de votos

Nem Marine Le Pen nem Marion Maréchal-Le Pen conseguiram ser eleitas para a presidência das regiões onde concorriam pela Frente Nacional na segunda volta das eleições regionais em França. A “barreira republicana” erguida pelos socialistas funcionou, e o aumento de cerca de nove pontos na afluência às urnas foi suficiente para conter a extrema-direita.

 

 

“A história recordará que foi aqui que travámos a progressão da Frente Nacional (FN)”, afirmou um emocionado Xavier Bertrand, do partido de centro-direita Os Republicanos, eleito com 57,5% dos votos, contra 42,5% de Marine Le Pen na região Norte-Pas-de-Calais-Picardia, graças à desistência do candidato do Partido Socialista.

 

 

No Sudeste, na região Provence-Alpes-Côte d’Azur, Christian Estrosi, também do partido de Nicholas Sarkozy, beneficiou da desistência da esquerda para ganhar a Marion Maréchal-Le Pen: terá 54,5% dos votos, face a 45,5% da mais jovem Le Pen. Florian Philippot, estratega da Frente Nacional, ficou-se pelos 36,6% na região de Alsácia-Champagne-Ardenne-Lorena, contra 47,6% de Philippe Richert, candidato do centro-direita.

 

 

“Um sucesso sem alegria”

 

 

A estratégia socialista resultou, embora tenha implicado o sacrifício dos seus candidatos e da presença do partido nos órgãos regionais durante este mandato. Por isso o tom geral não foi de regozijo. “Para o PS, estes resultados constituem um sucesso sem alegria, porque a abstenção ainda foi demasiado forte, e a extrema-direita decididamente demasiado alta”, afirmou o primeiro-secretário do PS, Jean-Christophe Cambadélis.

 

 

“Esta noite, não há espaço para alívio ou triunfalismo”, sublinhou o primeiro-ministro socialista Manuel Valls. “O perigo que representa a extrema-direita não desapareceu, muito pelo contrário”, afirmou, numa declaração ao país, em que saudou a capacidade dos eleitores em “responder ao apelo muito claro lançado pela esquerda de fazer barreira contra a extrema-direita”.

 

 

Pelo menos nos discursos, os responsáveis políticos da esquerda e da direita sublinharam o facto de a abstenção continuar alta – 59% dos eleitores foram votar, quando há uma semana, na primeira volta, apenas 50% o fizeram, mas ainda assim 41% recusaram-se a ir às urnas – e da necessidade de ouvir realmente os eleitores e ir ao encontro das suas necessidades. “Aos que não foram votar e já não acreditam”, disse o primeiro-ministro socialista, “devemos provar-lhes que a política não vai voltar a ser como era”.

 

 

Marine Le Pen, no discurso em que reconheceu a derrota, preferiu denunciar “o sistema” e “as campanhas de calúnias e de difamação decididas nos palácios dourados da República”. A verdadeira clivagem, afirmou, já não é entre esquerda e direita, mas “entre os patriotas e os adeptos da globalização”.

 

 

O aumento da afluência às urnas terá sido decisivo para esta reviravolta nos resultados: 59% dos eleitores foram votar, quando há uma semana, na primeira volta, apenas 50% o fizeram. Mas também a FN progrediu: na primeira volta, quando chegou em primeiro lugar em seis regiões (ver mapa em baixo), teve seis milhões de votos. Desta vez, com mais de 90% dos votos contados, ultrapassou 6,5 milhões e em percentagem está praticamente empatada com o PS, em torno dos 28,5%.

 

 

O valor mais alto de sempre da FN, atingido por Marine Le Pen na primeira volta das presidenciais de 2012, tinha sido de 6,4 milhões de votos. “O tecto de vidro não existe para a FN”, comentou a líder do partido anti-imigração e anti-União Europeia.

 

 

Os Republicanos tiveram cerca de 40,5% dos votos e ganharam sete regiões, onde vivem 42 milhões de pessoas e a união das listas de esquerda (liderada pelo Partido Socialista) cinco das 13 regiões metropolitanas francesas, onde vivem 20 milhões de pessoas. Nicolas Sarkozy, nas suas declarações, manteve-se discreto. Mas espera-se que os barões do partido passem ao ataque rapidamente, desfazendo a sua estratégia eleitoral de se aproximar dos temas da FN e não retirar os seus candidatos, mesmo que os da extrema-direita estivessem em vantagem.

 

 

Os Republicanos tiveram uma vitória especialmente saborosa, na região de Île-de-France, que inclui Paris e que há 17 anos era dirigida pelo PS: numa disputa cerrada, o candidato da esquerda, o socialista Claude Bartolone, presidente da Assembleia Nacional, foi batido por Valérie Pécresse, por poucos milhares de votos: 43,2% para Bartolone e 42,9% para Pécresse.

 

 

“Estes resultados são muito duros para a esquerda”, reconheceu Emmanuelle Cosse, secretária-geral da Europa Ecologia-Os Verdes, que se apresentou em listas conjuntas com o PS na maioria das regiões na segunda volta. “Já é tempo de o conjunto da esquerda se interrogar após quatro eleições fracassadas”, sublinhou.

 

 

 

Le Pen diz ter desmascarado “mentira do sistema político francês”

 

 

A presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, grande derrotada da segunda volta das eleições locais em França, este domingo, garantiu que o seu resultado eleitoral “desmascarou a mentira em que assenta o sistema político francês”.

 

 

Sem reconhecer explicitamente a derrota de todos os seus candidatos, incluindo ela mesma, quando as projeções apontam a derrota da Frente Nacional em todas as regiões do país, Le Pen dirigiu-se aos seus apoiantes com uma mensagem de triunfo, porque o seu partido, disse, triplicou o número de vereadores em relação a 2010.

 

 

Ministro a prazo

 

 

O PS de François Hollande e Manuel Valls conseguiu um resultado desastroso em relação a 2010, altura em que a esquerda conseguiu 54,1% dos votos a nível nacional. Mas acima das suas expectativas olhando para os resultados da primeira volta e tendo em conta que, ontem, os socialistas estavam fora da corrida em três regiões e, mesmo assim, com a ajuda dos seus aliados, saiu vencedor em cinco.

 

 

Mas não destoando dos outros discursos da noite, o primeiro-ministro francês aproveitou o seu discurso para sublinhar que “o perigo da extrema-direita não foi eliminado”. “Nesta noite, nenhum alívio, nenhum triunfalismo, nenhuma mensagem de vitória. O perigo da extrema-direita não foi eliminado. Não esqueci os resultados da primeira volta e de eleições passadas”, afirmou. Manuel Valls declarou também que a união da esquerda permitiu ao seu PS ganhar várias regiões e saudou os eleitores que “responderam ao chamamento muito claro e valente, o da esquerda, para travar a extrema-direita”.

 

 

Uma das cinco regiões conquistadas pelos socialistas e seus aliados poderá ter como consequência a remodelação do governo de Manuel Valls. Tudo porque a Bretanha foi ganha pelo ministro da Defesa, Jean-Yves le Drian, com 51% dos votos. Questionado sobre se, com esta vitória, irá continuar a ocupar a pasta da Defesa, Drian garantiu que a sua prioridade é a Bretanha, mas… “Disse que, se fosse candidato, seria para assumir esta presidência. No entanto, estamos a viver um estado de emergência, e o presidente da República deseja que eu continue a exercer essas funções pelo tempo necessário. E é ele que decidirá por quanto tempo continuarei ministro”, esclareceu o socialista.

 

 

PASCAL ROSSIGNOL/REUTERS/Clara Barata/PUB /13/12/2015

 

 

 

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