As varizes são muito mais do que um problema estético, podendo condicionar, além de grande incómodo e prejuízo da qualidade de vida, complicações diversas. Assim, o seu tratamento está indicado e deve ser o mais precoce possível para garantir um melhor e mais definitivo resultado.
Contudo, muitas pessoas adiam este tratamento, por desconhecimento ou por medo. Classicamente, a cirurgia de varizes é ainda olhada com algum receio e conotada com tempos prolongados de internamento, repouso no leito e absentismo laboral.
Na realidade, a cirurgia de varizes é uma cirurgia segura, com poucas complicações e, com os novos métodos disponíveis, pode ser realizada em ambulatório, sendo expectável o retorno à atividade habitual diária em poucos dias.
Quando se considera um algoritmo de tratamento de varizes, o clínico deve ser seletivo e basear as suas decisões nas necessidades do doente em questão.
O objectivo principal na cirurgia de varizes é tratar primeiro a causa das varizes, na maioria dos casos incompetência das veias safenas. É o tratamento destas veias que pode diferir e condicionar diferentes tempos de recuperação, complicações e resultados.
Tradicionalmente estas veias são removidas, implicando uma incisão na região da virilha (ao longo da sua prega) e a sua extracção através de uma pequena incisão abaixo do joelho ou no tornozelo. Como é compreensível este método pode provocar equimose mais ou menos extensa ao longo do trajecto da veia removida.
Contudo, cada vez mais são procurados métodos menos invasivos e que envolvam menos complicações, permitindo uma mais fácil e rápida recuperação.
Ablação endovenosa por radiofrequência.
Este é um procedimento minimamente invasivo para o tratamento de varizes. É um método alternativo ao clássico stripping da veia safena (método de extração desta).
Esta técnica evita a habitual incisão na prega da virilha e as suas potenciais complicações. Além disso, a ausência de dissecção cirúrgica na região da virilha permite manter intacta a drenagem linfática da parede abdominal e dos membros inferiores.
Este método utiliza a energia da radiofrequência para aquecer a parede da veia, através de um cateter que é colocado no seu interior, por visualização ecográfica. O aquecimento provoca encolhimento das fibras de colagénio que fazem parte da parede do vaso. O diâmetro da veia é reduzido e simultaneamente as proteínas do sangue são desnaturadas pelo calor, obliterando o vaso. Nos 10 a 12 meses seguintes a veia acaba por fibrosar completamente, tornando-se indetectável ao exame ecográfico, sem que na realidade tenha sido extraída.
Preparação
A escolha do método anestésico é habitualmente feita entre o médico e o doente. Contudo, a anestesia local apresenta muitas vantagens neste caso. Estando acordado, o doente pode comunicar se sentir alguma dor que possa resultar de aquecimento pelo cateter, através da veia, do nervo cutâneo sensitivo que está na sua proximidade. É também desejável o início rápido da deambulação após a intervenção, que pode ser atrasado com a recuperação de uma anestesia geral.
Técnica
O doente é colocado em posição deitada e é administrada anestesia local para inserção do cateter de radiofrequência na veia. Este é inserido habitualmente abaixo do joelho, no ponto em que a veia se encontra mais próximo da superfície cutânea. Para isso é feita uma pequena “picada” na pele através da qual se punciona a veia para introduzir o cateter, cuja extremidade é colocada, através de controle ecográfico, imediatamente abaixo da zona de confluência da veia safena com a veia femoral, isto é, ao nível da virilha.
Quando o cateter está adequadamente colocado, é aplicado um fluído anestésico em torno da veia. Tal é conseguido através de pequenas picadas na pele, ao longo do trajeto da veia. O objectivo é envolver completamente a veia, a ela restringindo o efeito de aquecimento, evitando assim afectar significativamente as estruturas cutâneas e nervosas adjacentes.
Findo este processo, o doente é colocado com as extremidades inferiores elevadas a cerca de 20º. O aquecimento é controlado por um gerador computorizado e a passagem do cateter pela veia é feita a uma velocidade de cerca de 2 a 4 cm por minuto.
Quando se termina, deve fazer-se um controlo ecográfico para confirmar a obliteração da veia safena e a permeabilidade dos vasos profundos.
Seguimento e cuidados
No fim do procedimento é calçada uma meia de contenção elástica até à raiz da coxa.
O doente é encorajado a deambular precocemente após a intervenção e em alguns casos pode mesmo retomar a sua atividade laboral no próprio dia.
No espaço de cerca de 5 dias deverá ser reavaliado pelo médico e efetuar um ecodoppler para confirmar a ablação venosa e a ausência de extensão do trombo à veia femoral.
Riscos
As complicações são raras e o período de convalescença diminuto.
A complicação mais séria, descrita em cerca de 1% dos procedimentos, é a ocorrência de trombose venosa profunda como resultado da extensão do trombo para a veia femoral. O seu tratamento baseia-se geralmente na administração de fármacos hipocoagulantes, tal como nos casos de trombose venosa profunda por qualquer outra causa.
Queixas de perda de sensibilidade ou sensação de “dormência” no trajeto da veia tratada, traduzem lesão nervosa e são atualmente uma complicação muito rara graças aos novos dispositivos, à instilação de anestesia tumescente em torno da veia e à restrição da aplicação do método ao segmento acima do joelho, onde o trajeto do nervo sensitivo não é tão próximo do da veia.
A ocorrência de queimaduras cutâneas praticamente está extinta com a aplicação de tumescência. Deve contudo ter-se atenção a todos os detalhes nos casos de pernas magras, em que o trajeto da veia é mais superficial, aumentando o risco de queimadura.
Podem ocorrer flebites com este método, tal como com qualquer outro tratamento de varizes em resultado da trombose de sangue residual entre os segmentos obliterados. Algum grau de flebite é inerente ao próprio método terapêutico, uma vez que ocorre uma lesão “controlada” da parede da veia, pelo calor. As queixas habituais são de dor local e rubor na pele suprajacente à veia tratada. Habitualmente a situação regride espontaneamente ao longo de algumas semanas, estando apenas recomendado tratamento sintomático, com analgésico e anti-inflamatório.
Os doentes podem ainda descrever uma sensação curiosa, mais frequentemente durante a segunda ou terceira semana após a cirurgia, que consiste numa sensação de estiramento no trajeto da veia, na face interna da coxa, quando esticam ou flectem a perna tratada. Tal pode representar um processo inflamatório que ocorre à medida que se dá a cicatrização após a lesão infligida pelo calor. Esta sensação habitualmente regride totalmente ao longo de várias semanas.
Conclusão
Trata-se de um método seguro e eficaz, com um período de convalescença curto, permitindo um retorno precoce ao trabalho e às rotinas diárias.
Além da radiofrequência esta ablação/colapso da veia pode ser conseguido com injeção de espuma (uma mistura de ar e de um agente químico produzindo uma consistência que permite um maior contacto com a parede do vaso a tratar) ou com uma cola específica para uso endovenoso. As técnicas a propôr dependem sempre de uma criteriosa avaliação e do doente em causa.
Por: Joana Carvalho, Cirurgiã Vascular/TPT/5/1/2016