O Presidente da Argentina, o futebolista Lionel Messi e o cineasta espanhol Pedro Almodóvar figuram na lista comprometedora de personalidades divulgada hoje na sequência de uma fuga de informação envolvendo a empresa de advogados panamiana Mossack Fonseca.
A lista, que inclui 72 chefes ou ex-chefes de Estado, foi divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que agrega mais de cem meios de comunicação.
A série de nomes – já conhecida como “Os documentos de Panamá” – inclui o rei da Arábia Saudita, elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin, o presidente da UEFA, Michel Platini, a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón e o pai de David Cameron.
A Mossack Fonseca, especialista na gestão de capitais e patrimónios, negou à agência espanhola Efe qualquer vinculação a delitos que possam ter cometido centenas de milhares de clientes, de acordo com informações tornadas hoje públicas.
Ramón Fonseca Mora, sócio da empresa, disse que a companhia tem 40 anos de atividade legal e que criou 240 mil estruturas jurídicas, sem ter sido acusada ou condenada por qualquer crime.
Segundo a imprensa, a empresa comunicou aos seus clientes que foi alvo de um ataque informático e que os seus dados poderão ter sido afetados.
O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação precisa, na sua página na internet, que mais de 240 mil entidades “offshore” aparecem, em 11,5 milhões de documentos, ligadas a mais de 200 países e territórios.
Pessoas ligadas ao Presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, terão desviado mais de dois mil milhões de dólares (mais de 1.750 milhões de euros) com a ajuda de bancos e sociedades fictícias, relata a imprensa.
Dos documentos revelados constam informações sobre 214 488 offshores relacionadas com pessoas em mais de 200 países. São documentos de uma das empresas mais secretas do mundo que revelam como a Mossack Fonseca tem ajudado os seus clientes na lavagem de dinheiro, em contornar sanções e na evasão fiscal, segundo afirma o The Guardian.
Há ficheiros sobre empresas offshore “controladas pelos primeiros-ministros da Islândia e do Paquistão, o rei da Arábia Saudita e os filhos do presidente do Azerbeijão”, segundo revela o Expresso que faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação e do jornal alemão “Suddeutsche Zeitung” que revelam hoje parte da extensa documentação.
Da lista até agora revelada consta o nome de um português: Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira. O empresário deteve 14 empresas com sede nas Ilhas Virgens Britânicas – nas áreas dos minérios, gás natural e exploração de petróleo. A venda dos direitos de exploração de um campo de petróleo, no Benim, à Petrobas acabou por envolver o empresário no caso Lava-Jato. Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira detinha – em nome da empresa Lusitania Petroleum- várias licenças de exploração petrolífera em África.
Empresas fictícias criadas por grandes bancos são referidas 15 600. UBS e HSBC são dois dos 500 bancos identificados na investigação.
Há menção, por exemplo, a offshores ligadas a familiares do presidente chinês, ao presidente ucraniano Petro Poroshenko, a pessoas próximas do presidente russo, ao primeiro-ministro da Islândia, a 29 multimilionários da lista da Forbes, ao presidente da Argentina, ao ator Jackie Chan e a Lionel Messi.
O caso russo, que envolve os mais próximos de Putin, é assim explicado pelo The Guardian. O jornal inglês avança que os documentos mostram como aplicações financeiras de membros do círculo fechado do Presidente russo Vladimir Putin os tornaram “fabulosamente ricos”.
O Presidente russo não aparece em nenhum dos registos, mas os dados revelam um padrão: os seus amigos, Yuri Kovalchuk e Sergei Roldugin ganharam milhões em negócios, que aparentemente não poderiam ter sido efetuados sem o seu patrocínio.
Os ficheiros com informações de 1977 até finais do ano passado, contêm dados nunca revelados de casos, como por exemplo, o escândalo de subornos na FIFA.
Os “Panama Papers” – assim se chama a investigação – é uma das maiores fugas de informação de sempre. Ultrapassa o famoso WikiLeaks de Edward Snowden.
A lista completa das empresas e nome envolvidos será divulgada em maio.
AEP/DN/Reuters/ 3 de Março de 2016