Secretário de Estado das Comunidades diz que “há risco de degradação da vida dos portugueses no Reino Unido”

Os consulados de Londres e Manchester estimam que haja mais de 500 mil portugueses a viver no Reino Unido, mas apenas 234 mil estão inscritos na Segurança Social britânica. Aos mais de 100 pedidos de informação que chegaram nos últimos dias a estes dois consulados sobre o que pode acontecer à comunidade portuguesa caso o Reino Unido saia da UE no próximo dia 23 de junho, a resposta tem sido que se está no campo das hipóteses: haverá um período de negociação caso a saída se verifique, mas recomenda-se aos portugueses que peçam o cartão de residente permanente caso vivam há mais de cinco anos no país.

 

 

José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades, disse que estes conselhos estão a ser dados à comunidade portuguesa “de forma cautelosa”, mas com consciência que uma possível saída terá “impacto grave” no projeto europeu e um “impacto negativo muito grave” nos portugueses que escolheram o país como destino de vida e de trabalho. O secretário de Estado reconhece que muitos portugueses não estão inscritos nem nos serviços consulares nem nos serviços do Estado britânico e que, assim, não há número certo de quantos portugueses vivem no Reino Unido, estimando-se que haja quase 500 mil portugueses.

 

 

O secretário de Estado está particularmente preocupado com os portugueses que vivem no Reino Unido e não cumprem as condições mínimas requeridas aos imigrantes fora da União Europeia quando pedem um visto de trabalho. É uma situação em que podem encontrar-se os imigrantes de países da UE caso o Brexit vença o referendo. Estes mínimos são ganhar anualmente 20.800 libras (cerca de 26 mil euros) e ter formação superior. Dos portugueses registados na segurança social britânica, cerca de um terço não cumpre estes mínimos. “Trata-se de uma parte significativa da comunidade portuguesa que tem baixas qualificações e há um risco efetivo de degradação dos portugueses no Reino Unido, caso o país saia da União Europeia”, afirmou José Luís Carneiro. Aos portugueses que já vivem há mais de cinco anos no Reino Unido, os consulados estão a pedir “por precaução” que requisitem o seu cartão de residência permanente.

 

 

“Se houver decisão de saída do país, é importante que tenham estatuto de residente do país que lhes conferirá um conjunto de direitos que de outra forma, caso o Reino Unido saia, podem não ter acesso“, avisou o secretário de Estado, acrescentando que os consulados estão a “desenvolver uma campanha de sensibilização para que todos estejam conscientes das suas responsabilidades”.

 

 

O referendo não levou, para já, a qualquer reforço diplomático no Reino Unido por parte de Portugal, mas está nos planos do Ministério dos Negócios Estrangeiros um reforço dos serviços consulares em Londres. José Luís Carneiro esteve em Londres e Manchester no início do ano e deparou-se com queixas por parte da comunidade portuguesa quanto a atrasos na emissão dos documentos e um atendimento que não responde à procura da comunidade, afirmando agora que haverá “mais meios humanos” para estes consulados.

 

 

Este reforço segue a estratégia do Governo que pretende aumentar o número de funcionários nos principais consulados nos próximos tempos. Uma evolução para a comunidade portuguesa em Paris vai acontecer já este sábado com a abertura do primeiro Ponto do Cidadãoque visa prestar mais de 50 serviços aos emigrantes da região. A inauguração vai contar com a presença do primeiro-ministro e do secretário de Estado das Comunidades.

 

FMI considera firmemente que há riscos negativos associados a uma saída do Reino Unido da União Europeia

 

 

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, insistiu esta sexta-feira em Viena que a economia do Reino Unido beneficiou por pertencer à União Europeia (UE), numa alusão ao referendo britânico de 23 de junho.

 

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“A pertença à União Europeia não só fez do Reino Unido uma economia mais rica, como também o tornou num país mais diversificado, mais excitante e mais criativo”, indicou Lagarde durante uma conferência organizada pelo Ministério das Finanças da Áustria.

 

 

A responsável francesa recordou que, mesmo havendo pessoas em apuros neste cenário, “para a maioria dos cidadãos a UE foi uma grande história de êxito”.

 

 

Ainda que tenha reconhecido que são os britânicos que devem decidir, Lagarde afirmou que o FMI considera firmemente que há riscos negativos associados a uma saída do Reino Unido da UE.

 

 

Lagarde disse que o aumento do volume de negócios associado a membros da UE não teria ocorrido, assegurando que com mais comércio vem mais investimento. Um processo que permitiu à indústria britânica integrar-se na cadeia de fornecimento da Europa em setores como o aeroespacial ou o automobilístico.

 

 

Lagarde reconheceu que a chegada de emigrantes e refugiados influencia o referendo britânico sobre a permanência na UE, indicando que o país beneficiou com a chegada de trabalhadores de todo o mundo.

 

 

A diretora do FMI afirmou que sempre admirou o Reino Unido pela sua abertura a outras nacionalidades e culturas e reconheceu que é difícil acreditar “que essas atitudes tenham mudado num período de tempo tão curto”.

 

 

Contudo, Lagarde reconheceu que hoje em dia demasiados europeus estão preocupados com a sua identidade cultural e empregos e muitos estão a creditar que “as coisas seriam melhores se a Europa regressasse às fronteiras fechadas e ao nacionalismo económico”.

 

 

Em relação ao tema da emigração, a ex-ministra das Finanças de França afirmou que os dados e análises objetivos mostram que os refugiados podem acrescentar valor às economias dos países de acolhimento.

 

 

Lagarde também se mostrou convicta de que a UE tem capacidade para superar esta “crise humanitária” se estiver determinada a consegui-lo.

 

 

Bill Gates alerta que Reino Unido ficará “menos atraente” para empresas

 

 

O milionário norte-americano Bill Gates advertiu que o Reino Unido será um lugar “significativamente menos atraente para fazer negócios e investir” se sair da União Europeia (UE), numa carta publicada esta sexta-feira no jornal The Times.

 

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Gates, fundador da Microsoft e filantropo que, no passado, investiu mais de mil milhões de dólares em diferentes projetos no Reino Unido, sublinhou a importância para qualquer empresa de estar num país com acesso ao mercado único europeu e influência na tomada de decisões em Bruxelas.

 

 

“Os investimentos no Reino Unido fazem sentido pelos ativos que tem, como as excelentes universidades com um grande legado em ciência e inovação, empresas líderes na área da saúde como a GlaxoSmithKline e acesso ao mercado único”, escreveu.

 

 

“Embora seja uma questão que cabe ao povo britânico decidir, é claro para mim que se o Reino Unido decide ficar fora da Europa será um lugar significativamente menos atraente para fazer negócios e investir”, acrescentou.

 

 

Gates refere concretamente que um ‘Brexit’ tornaria mais difícil recrutar os melhores talentos do continente e “mais difícil angariar o financiamento necessário para bens públicos como novos medicamentos e soluções acessíveis de energias limpas”, para o que são necessários “o nível de cooperação, partilha de conhecimento e apoio financeiro que a força combinada da UE permite”.

 

 

Gates sublinhou também no texto a capacidade negocial do Reino Unido na UE e a sua influência em “debates decisivos”.

 

 

“A Europa é mais forte com o Reino Unido dentro e o Reino Unido é mais forte, mais próspero e mais influente como membro da União Europeia”, concluiu.

 

 

A intervenção de Gates com vista ao referendo de quinta-feira sobre a permanência do Reino Unido na UE coincidiu com a publicação pela consultora Charterhouse Research de uma sondagem segundo a qual 62% das grandes empresas (com uma faturação anual superior a 25 milhões de libras, ou 32 milhões de euros) acreditam que o ‘Brexit’ prejudicaria a economia.

 

 

Uma saída da UE preocupa menos os empreendedores e as pequenas empresas, segundo o mesmo estudo, que concluiu que apenas 34% das empresas com uma faturação anual inferior a 100 mil libras anuais (127 mil euros) considera que o ‘Brexit’ seria contraproducente.

 

 

TPT com: AFP//Shawn Thew//EPA// Florian Wieser//EPA//Tiago Petinga//Lusa//Catarina Falcão//Observador// 20 de Junho de 2016

 

 

 

 

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