Esta terça-feira, o milionário foi eleito pelos delegados na Convenção Nacional do partido, que decorre em Cleveland. Foi a confirmação que já quase todo o mundo esperava.
À hora de publicação desta notícia, Trump já reunira 1655 votos (precisa apenas de 1237 para assegurar a nomeação). Apesar de se ter afastado da corrida e ter suspendido a campanha eleitoral, Ted Cruz conseguiu recolher cerca de 500 votos.
Depois de o primeiro dia ter sido marcado pelo discurso da mulher de Trump, a Convenção do Partido Republicano vai dar hoje o palco a filhos do magnata. Mas também falam alguns dos seus críticos.
E é assim que chegamos ao fim de mais um dia na Convenção do Partido Republicano. O dia foi marcado pelos discursos de Donald Trump Jr., o filho mais velho de Donald Trump, e pelo reforçar das críticas a Hillary Clinton. Outro facto a retirar é que mesmo as personalidades críticas de Trump que hoje falaram — Paul Ryan e Mitch McConnell — escolheram atacar a candidata do Partido Republicano em vez de se desfazerem em elogios a Trump. Enquanto isso, o tema de hoje era o trabalho e a economia — mas, sobre isso, pouco se ouviu. O Partido Republicano parece estar mesmo focado em atacar Hillary Clinton a cada oportunidade que surge.
Tudo isto no dia em que, claro, Donald Trump foi finalmente confirmado de forma oficial como o candidato republicano às presidenciais de novembro, depois de ter sido feito uma contagem de delegados.
Hoje, será o terceiro e penúltimo dia da Convenção do Partido Republicano. Começará mais tarde do que o costume: às 00h20 de Lisboa. É tarde, bem sabemos, mas a expetativa é grande. Afinal de contas, vão falar dois dos grandes derrotados destas primárias: Ted Cruz e Marco Rubio. Cruz estará presente na convenção e Rubio fará uma comunicação num vídeo previamente gravado. Além deles, vai falar Newt Gingrich, uma cara antiga da faceta mais populista do Partido Republicano e um dos nomes que chegou a figurar na shortlist para vice-Presidente de Trump. E o verdadeiro vice-Presidente de Trump, Mike Pence, vai também falar, naquele que será um dos discursos mais aguardados da noite. Pelo meio, Eric Trump, outro filho do candidato republicano, terá o palco ao seu dispor.
Sajid Tarar: “Consigo cheirar o sucesso no ar!”
E agora para algo completamente diferente: um muçulmano que apoia Trump. Mais propriamente, Sajid Tarar, presidente do grupo “Muslims for Trump”. Isto é, Muçulmanos por Trump. Assim que subiu ao palco, disse: “Consigo cheirar o sucesso no ar!”.
Numa curta intervenção que acabou por ser a última da noite, quando a Quicken Loans Arena já esvaziava a um ritmo rápido, Sajid Tarar começou por apelar aos presentes para rezar em conjunto. “Vamos rezar por uma América forte e por uma América segura e vamos pedir a Deus para nos ajudar a lutar contra o terrorismo em todo o mundo”, disse. Depois, seguiram-se algumas frases avulsas num discurso algo atabalhoado, como da vez em que se referiu ao profeta Maomé, causando estranheza nalguns dos presentes. “O profeta Maomé, que esteja em paz, disse uma vez que se tivermos um pedaço de carne má no corpo… Se o pedaço de carne for bom, o resto do corpo está bom. Se não estiver, então o corpo inteiro está estragado. A partir daqui, podemos inferir o papel de um líder enquanto representante de um povo.”
Por fim, Sajid Tarar saiu do palco, dizendo “vamos rezar para ter o nosso país de volta”.
E, agora, quase a fechar, um pequeno flashback para os dias em que praticamente todos os comícios de Donald Trump eram interrompidos por manifestantes anti-Trump. O mesmo acaba de acontecer, com uma mulher a erguer um lençol onde se lê “Não ao racismo, não ao ódio”. Prontamente, alguns militantes republicanos que estavam perto dessa manifestante instaram-na a parar o seu protesto. Alguns chegaram a empurrá-la; outros, ergueram uma bandeira dos EUA à sua frente.
Donald Trump Jr.: “Para o meu pai, o impossível é apenas o princípio”
E aqui está aquele que ficará certamente como um dos discursos desta Convenção do Partido Republicano. Donald Trump Jr. falou durante cerca de 15 minutos naquele que foi até agora o melhor discurso de um membro da família Trump, aproveitando a ocasião para evocar episódios pessoais relacionados com o seu pai ao mesmo tempo que defendia as ideias e propostas que ele apresenta enquanto candidato.
Trump Jr. falou de como para o seu pai o conceito de “impossível” é algo estranho. “Eu sei que quando as pessoas lhe dizem que algo não pode ser feito, ele garante que isso mesmo vai ser feito”, disse. Exemplo? Aquilo a que assistimos agora: a Convenção do Partido Republicano que coroa Donald Trump como candidato às eleições presidenciais de 8 de novembro. “Já vi, vezes sem conta, aquele olhar dele quando alguém lhe diz que algo não pode ser feito. Eu vi esse olhar há cerca de um ano, quando lhe disseram que era impossível ele ter sucesso na política. Hmm… Mas teve-o. Para o meu pai, o impossível é apenas o princípio.”
Durante a sua intervenção, Trump Jr. reforçou uma das ideias em que a campanha do seu pai se tem apoiado: a de que é verdadeiramente próxima do “comum americano”. Tanto que referiu como o seu pai, enquanto empresário no ramo da construção, “não se escondia atrás de uma secretária num escritório, ele passou a sua carreira ao lado de americanos comuns, dava-se com os homens das obras (…), ouvindo o que eles têm para dizer, muitas vezes mais do que os tipos de Harvard ou Warton que se escondiam em escritórios longe do trabalho a sério”.
Sobre a educação que recebeu do pai, e no seio da sua empresa, Trump Jr. falou de como o seu pai meteu os filhos a aprender com os funcionários da empresa em vez de estudarem em universidade de elite. “Nós não aprendemos com gente que têm um MBA, aprendemos com gente que tem doutoramentos em senso comum”, disse, para depois acrescentar: “É por isso que somos os únicos filhos de um multi-milionário que estão tão confortáveis numa escavadora como nos seus próprios carros”.
Depois, seguiu-se a parte mais política do discurso. Nesta, Trump Jr. nunca falou do Partido Democrata, mas sim do “outro partido”. “Eles não dizem que foram as políticas deles que causaram os problemas do país”, acusou. “Foi o outro partido que nos deu o pior sistema de imigração no mundo, que promove a imobilidade e que beneficia imigrantes ilegais em detrimento de quem segue as regras.”
“O outro partido é um partido de riscos”, disse.
Sobre Hillary Clinton, disse que ela “seria a primeira Presidente a não conseguir passar um simples background check“.
Por fim, falou a favor de uma reforma do sistema de saúde; defendeu que os americanos devem ser postos “em primeiro lugar” e falou pela adoção de leis “que farão o nosso país grandioso de novo”. E de um Presidente “que não permitirá que uma cultura do politicamente correto ponha em perigo a segurança das nossas crianças e daqueles que mais amamos” e que “não se verga a interesses e que financiou a sua própria campanha só para prová-lo”.
E terminou: “Esse presidente só pode ser o meu mentor, o meu melhor amigo, o meu pai. E quando o elegermos, vamos ter isso. Vamos tornar a América grande de novo. Maior do que alguma vez foi!”. E, assim, Donald Trump Jr. abandonou o palco.
A TENTATIVA DE REBELIÃO
Para tentar travar a candidatura do magnata populista, um grupo de estados tentou forçar uma votação estado-a-estado sobre as regras da convenção, uma tentativa de rebelião que parece ter apanhado a campanha de Trump de surpresa mas que, apesar disso, foi travada.
A tentativa de golpe contra o candidato com mais delegados angariados durante as primárias (que está sozinho na disputa pela nomeação republicana desde maio) demonstra, acima de tudo, que o senador Ted Cruz não está disposto a desistir das suas aspirações presidenciais. Se não nestas, nas eleições de 2020, nota a CNN, sobretudo pelo facto de terem sido os representantes daquele estado, pelo qual o evangélico é senador, a mobilizar outros para a barricada anti-Trump.
Perante a recusa dos organizadores do evento e dos membros da campanha de Trump em atenderem às exigências do grupo de delegados, a Convenção ficou dominada por uma barafunda e zaragatas quase inéditas num encontro partidário de preparação das eleições.
Tiros disparados perto da convenção do Partido Republicano
Tiros foram disparados perto do local da convenção do Partido Republicano e também de uma carrinha que transportava polícias. Não há feridos e o chefe da polícia local desvaloriza a ocorrência.
Aproximadamente cinco horas antes de o segundo dia da convenção do Partido Republicano ter início, foram ouvidos tiros nas imediações daquele evento, em Cleveland, no Ohio. Os tiros terão sido disparados perto de um veículo que transportava agentes da polícia. De acordo com a Reuters, que cita fontes da polícia, não há registo de quaisquer feridos.
Segundo a Reuters, esta não foi a primeira vez que foram ouvidos disparos em Cleveland desde que começou a ser montada a convenção do Partido Republicano, que começou na segunda-feira e terminará na quinta-feira, dia 21.
Perante esta ocorrência, o chefe da polícia de Cleveland, Calvin Williams, preferiu desvalorizá-la. “Numa área urbana densa [como Cleveland] recebem-se alertas de coisas como esta esta”, referiu aos jornalistas no local.
TPT com: MARK KAUZLARICH/ REUTERS// João de Almeida Dias//Observador//Chip Somodevilla// Spencer Platt//Reuters//20 de Julho de 2016