Na última conferência de imprensa de Barack Obama este ano, o presidente dos Estados Unidos revelou que pediu ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que “parasse com isso” de tentar intervir nas eleições norte-americanas ou “haveria sérias consequências”. O aviso, segundo disse Obama, surtiu efeitos porque, desde então, as interferências informáticas de Moscovo pararam. O problema é que o ataque aos servidores do Partido Democrata já tinham acontecido e as suas comunicações internas fornecidas ao site WikiLeaks.
Obama mostrou-se extremamente crítico do regime de Moscovo, e fê-lo em todas as frentes: descreveu a Rússia como “um país mais pequeno e mais fraco” e com uma economia que “não produz nada que ninguém queira comprar, com exceção de petróleo e gás, não inova”. Atacando os Republicanos por se “associarem ao inimigo” apenas porque os russos não gostavam dos democratas, Obama disse que “Ronald Reagan daria voltas no túmulo” se tivesse que testemunhar a atual postura do seu partido.
E voltou à carga contra Moscovo. Questionado sobre se considerava que Putin esteve pessoalmente envolvido na aprovação das manobras de pirataria informática, Obama disse que “nada acontece na Rússia sem Vladimir Putin” e que o hacking tinha “acontecido ao mais alto nível do governo russo”.
A questão do envolvimento russo na guerra da Síria não demorou muito a saltar da enorme plateia de jornalistas que quiseram estar presentes na última conferência do ano. E mais uma vez, Obama não poupou nas críticas: “O sangue está nas mãos da Rússia e do seu aliado, o Irão”; “o mundo está chocado com o que estão a fazer na Síria”; “sem surpresas mas tragicamente a Rússia bloqueou várias vezes, no Conselho de Segurança, o envio de ajuda humanitária”; “opõem-se a uma solução mais representativa”, disse o Presidente referindo-se à proposta dos Estados Unidos para que seja encontrada uma solução que não inclua a continuação de Bashar al-Assad.
No fim do capítulo “Rússia” Obama ainda criticou o legado do país na área dos direitos humanos e da liberdade de imprensa dizendo que Putin pode enfraquecer os Estados Unidos “tal como está a tentar enfraquecer a Europa se começarmos a achar normal prender dissidentes ou limitar a liberdade de imprensa”.
Ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, Obama fez, nesta conferência de imprensa, um balanço não do ano que agora acaba, mas dos oito anos da sua presidência. Segundo os dados que apresentou, a taxa de desemprego desceu de 10 para 4.6%, o valor mais baixo em uma década, mais de 90% da população tem um seguro de saúde, a dependência de combustíveis fósseis dos Estados Unidos reduziu para metade, enquanto a produção de energia renovável duplicou. No plano das relações internacionais, Obama lembrou o avanço das relações com Cuba, disse que o contingente militar americano destacado em cenários de guerra passou de 180 mil para 15 mil homens, que o Irão não poderá fabricar uma arma nuclear e que os acordos de Paris “juntaram mais de 200 nações num objetivo que, se cumprido, pode salvar o planeta para as nossas crianças”.
O FBI também acha que a Rússia tentou intervir nas eleições a favor de Trump
O diretor do FBI, James B. Comey, e o principal conselheiro presidencial na área da segurança, James Clapper, juntaram as suas vozes à da CIA — a Rússia interferiu mesmo nas eleições presidenciais norte-americanas na tentativa de ajudar Donald Trump a chegar a Presidente.
“Esta semana encontrei-me com James Comey e com Jim Clapper, e há um forte consenso entre nós sobre a abrangência, a natureza e a intenção da interferência russa na nossa eleição presidencial”, disse o diretor da CIA John O. Brennan, numa mensagem interna enviada aos trabalhadores da agência, segundo confirmaram ao diário norte-americano Washington Post algumas das pessoas que leram a mensagem.
Os três responsáveis terão dito também que “todos os organismos envolvidos na investigação devem agora completar a revisão minuciosa do caso, tal como nos foi pedido pelo presidente Obama”.
As suspeitas de que Moscovo teria tentado influenciar o resultado das eleições nos Estados Unidos não é de agora mas o último relatório da CIA cimenta as suspeitas. A agência diz ter provas de que piratas informáticos russos tenham quebrado a segurança dos emails democratas publicando comunicações internas que podem ter prejudicado Hillary Clinton.
Hillary Clinton diz que perdeu eleições devido a ataque russo e à polémica dos emails
A ex-candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton assegurou esta sexta-feira que perdeu as eleições presidenciais nos Estados Unidos devido a um ataque informático russo e à reabertura da polémica dos emails pela polícia federal norte-americana (FBI).
Segundo uma gravação divulgada esta sexta-feira pelo “The New York Times”, Hillary Clinton, que perdeu as eleições para o republicano Donald Trump, disse que a sua derrota ficou a dever-se, em parte, a “uma vingança” do Presidente russo, Vladimir Putin, contra si. Nas declarações, a democrata atribuiu o seu fracasso a “fatores sem precedentes”, que, considerou, “não podem ser ignorados”.
Hillary Clinton disse que a carta do diretor do FBI, James Comey, que reabriu a polémica da utilização indevida do seu ‘e-mail’ pessoal para tratar de assuntos internos do Estado enquanto era secretária de Estado, a uma semana das eleições, foi um dos fatores que modificou os votos em Estados-chave, incluindo a Flórida e a Carolina do Norte.
“Creio que isso fez diferença no resultado”, salientou Hillary Clinton na gravação a que o jornal nova-iorquino teve acesso. Outro fator que contribuiu para a sua derrota, segundo a ex-candidata, foi um “complot” sem precedentes dos russos”, algo que, disse, “deveria preocupar todos os norte-americanos”.
Hillary Clinton assegurou que o ataque cibernético não foi só contra a sua campanha, mas “contra o país” e pediu uma investigação de fundo do Congresso, porque o “público necessita de saber o que se passou e para prevenir novos ataques”.
Os Estados Unidos têm fortes indícios de que piratas informáticos russos se infiltraram no correio eletrónico pessoal da campanha de Hillary Clinton e do Partido Republicano com a intenção de expor a estratégia e supostos conflitos de interesses.
TPT com: AFP//Lusa//Ana França//Observador//Michael Reynolds//EPA// 16 de Dezembro de 2016