A administração Obama anunciou esta quinta-feira as sanções contra a Rússia, a propósito da alegada ingerência de Moscovo nas eleições presidenciais de 2016: 35 agentes dos serviços de inteligência russos vão ser expulsos do país, avança o New York Times. Agora, têm 72 horas para abandonar os EUA. Foi ainda ordenado o encerramento de duas instalações russas sediadas no país. Donald Trump já reagiu, anunciando que se vai reunir com os serviços secretos norte-americanos na próxima semana.
As sanções, que surgem depois de a correspondência eletrónica de membros da candidatura de Hillary Clinton ter sido violada, aplicam-se ainda a cinco entidades e a seis indivíduos, incluindo vários oficiais da GRU, a organização de serviços secretos das forças armadas russas.
Num comunicado citado pelo jornal The Guardian, Barack Obama disse que os norte-americanos “devem ficar alarmados com as ações da Rússia”, prometendo não ficar por aqui.
Emiti uma ordem executiva que dá autoridade adicional para responder a determinado tipo de atividades cibernéticas que procurem interferir ou minar os nossos processos e instituições eleitorais”, afirmou o ainda presidente.
Obama emitiu sanções contra a GRU e o FSB, sucessor do KGB, dois serviços de inteligência russos, quatro indivíduos do GRU e três empresas que providenciaram material para a operação de cariz cibernético desempenhada pelos operacionais da GRU. “Além disso, o Secretário de Estado do Tesouro norte-americano está a indiciar dois indivíduos russos por terem usado meios cibernéticos para o desvio de fundos e informação pessoal”, acrescentou Obama.
Os serviços secretos norte-americanos acreditam que a Rússia possa estar por trás dos ataques cibernéticos ao Comité Nacional Democrático, à campanha presidencial de Hillary Clinton e a outras organizações políticas, pelo que Obama salientou que estas ações não compreendem a resposta total dos EUA face à intervenção “agressiva” da Rússia.
Vamos continuar a tomar uma variedade de ações num tempo e lugar à nossa escolha, algumas das quais não serão divulgadas”, concluiu.
Nos próximos dias é esperada a entrega de um relatório no Congresso sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas, que culminaram com a vitória do candidato republicano Donald Trump.
Trump reúne-se com serviços secretos
Donald Trump, que terá de decidir se mantém ou levanta as sanções já no próximo mês, foi informado da decisão no dia anterior ao anúncio público. “Acho que devíamos continuar com as nossas vidas. Acho que os computadores complicaram muito as nossas vidas. A Era do computador fez com que ninguém saiba exatamente o que está a acontecer. Temos velocidade, temos muitas outras coisas, mas não tenho a certeza que temos a segurança de que precisamos”, afirmou o republicano.
Entretanto, esta quinta-feira, Trump já se pronunciou-se sobre a expulsão dos 35 agentes dos serviços de inteligência russos. “É altura de o nosso país seguir em frente para coisas maiores e mais importantes. Ainda assim, pelo interesse do nosso país e do seu grande povo, vou encontrar-me com os responsáveis da comunidade de inteligência na próxima semana, para ser informado sobre os detalhes desta situação”, afirmou Donald Trump em comunicado.
A reação russa à decisão “hostil” e “infeliz” de Obama
Entretanto, e pouco depois de serem conhecidas as sanções norte-americanas, a Rússia reagiu através do ministério dos Negócios Estrangeiros, garantindo o seu porta-voz, Maria Zakharova, que o país irá responder a qualquer “decisão hostil” dos Estados Unidos — não adiantando quando nem em que moldes.
O mesmo afirmou o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitri Peskov, adiantando ao jornalistas que “não há alternativa às medidas recíprocas”. Mas também alertou: Putin “não tem pressa” em tomar uma decisão, qualquer que seja.
Curiosa é a reação da embaixada russa no Reino Unido. Numa curta mensagem deixada na rede social Twitter, lê-se que a decisão de Obama é uma “Cold War deja vu” (o que dispensará traduções), tendo a mensagem a imagem de um pato e a inscrição “infeliz”.
Trump elogia resposta “muito inteligente” de Putin a sanções dos EUA
O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, considerou “muito inteligente” o facto de o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, não ter reagido imediatamente às sanções decididas pela Administração Obama pela alegada interferência informática nas eleições presidenciais.
Putin condenou esta sexta-feira as sanções decididas por Washington, que incluem a expulsão de diplomatas, mas disse que não vai retaliar com a expulsão de norte-americanos. “Grande jogada, adiar. Sempre soube que ele era muito inteligente!”, escreveu Trump no Twitter, em reacção.
Trump, que no dia 20 de Janeiro é empossado como presidente dos Estados Unidos, também reagiu (ainda ontem noite) às sanções contra a Rússia anunciadas pelo ainda presidente Barack Obama, decretadas em resposta à alegada interferência russa nas presidenciais norte-americanas de 8 de Novembro.
Esta posição, sublinha a Bloomberg, poderá revelar uma possível mudança de atitude de Trump em relação às suas primeiras reacções, quando repeliu a possibilidade de qualquer envolvimento dos russos.
No seu comunicado, Trump disse que “está na altura de cuidarmos das nossas vidas e de centrar as atenções em coisas maiores e melhores”. “No entanto”, prosseguiu, “no interesse do nosso país e do seu grande povo, reunir-me-ei com os líderes da comunidade dos serviços de inteligência, na próxima semana, para ser actualizado sobre os factos em torno desta situação”.
Recorde-se que Obama anunciou ontem, 29 de Dezembro, a aplicação de um conjunto de sanções à Rússia, que passa pela expulsão de território norte-americano de 35 diplomatas e operacionais dos serviços de inteligência russos e pelo encerramento de dois complexos (Nova Iorque e Maryland) de dois serviços de informação russos, o GRU e o FSB.
Tratou-se de uma decisão sem precedentes que, em comunicado, a Casa Branca justificou com “as actividades significativas” de pirataria informática que considera “inaceitáveis e que não serão toleradas”.
Nas últimas semanas da campanha eleitoral para as presidenciais de 8 de Novembro, que Trump viria a vencer, o Wikileaks foi publicando a conta-gotas – à cadência de cerca de uma notícia diária – informações comprometedoras não apenas para o Partido Democrata mas também, e em especial, para Hillary Clinton e os russos são tidos como responsáveis por essa situação, desencadeada pelo acesso aos emails da candidata democrata.
TPT com: APA//Reuters//Observador//TNP//MICHAEL REYNOLDS/EPA// 30 de Dezembro de 2016