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Tecnologia portuguesa no novo veículo da Agência Espacial Europeia

23/03/2015

 

 
O grupo português ISQ participou nos ensaios de qualificação do escudo de proteção térmica do veículo espacial IXV. O objetivo da missão é testar tecnologias para os sistemas de reentrada na Terra.

 

 

Estiveram envolvidos 30 engenheiros portugueses e um investimento de dois milhões de euros.

 

 
A Agência Espacial Europeia lança nesta quarta-feira o veículo experimental IXV (Intermediate eXperimental Vehicle), construído com a participação do grupo português ISQ. O objetivo da missão é testar tecnologias para os sistemas de reentrada automatizada na atmosfera terrestre de futuros projetos espaciais.

 

 
De acordo com o comunicado de imprensa divulgado pelo grupo, o ISQ participou nos ensaios de qualificação do escudo térmico que permitirá a proteção do veículo na absorção excessiva de calor proveniente da reentrada na Terra. Estiveram envolvidos no projeto cerca de 30 engenheiros portugueses que dedicaram 15 mil horas de trabalho num investimento de dois milhões de euros. A última fase de ensaios decorreu no laboratório do grupo em Castelo Branco.

 

 

Tecnologia portuguesa no novo veículo da Agência Espacial Europeia1

 
A empresa portuguesa ISQ participou nos ensaios de qualificação do escudo térmico do veículo espacial IXV.

 

 
Segundo Paulo Chaves, responsável pelo mercado aeroespacial no ISQ, a participação do grupo português neste projeto permite ganhar mais competências, experiência e credibilidade noutros setores. “O investimento feito não se esgota neste projeto; vai permitir a dinamização da nossa atividade e o desenvolvimento de novas áreas de negócio. Ganhámos um conjunto de competências e de credibilidade neste mercado que vão reforçar as nossas vantagens competitivas e abrir a porta a projetos internacionais mais ambiciosos nas mais diversas áreas”, afirma.

 

 
O lançamento do IVX realiza-se no Centro Espacial Europeu em Kourou, na Guiana Francesa. Um foguete VEGA será o responsável por levar a nave a uma altitude superior a 400 quilómetros a uma velocidade de 7,5 quilómetros por segundo. O IXV realizará uma trajetória equatorial e, com o apoio dos seus propulsores, fará a reentrada na atmosfera a uma altitude de aproximadamente 120 quilómetros.

 

 
Após a reentrada, quatro paraquedas ajudarão a amortecer a amaragem no Oceano Pacífico, próximo à Colômbia. Em seguida, o veículo será recolhido por um navio que o trará de volta à Europa para uma nova bateria de testes, nos quais o grupo português irá participar.

 
O jornal International Business Times preparou um vídeo a explicar como será a viagem espacial do veículo IXV.

 

 
FOTO: P PIRON

 
AUTOR: Milton Cappelletti

 

 

 

Coréon Dú, o filho artista do presidente de Angola

16/03/2015

 
Os pais queriam que fosse médico, engenheiro ou economista – mas José Paulino dos Santos decidiu ser Coréon Dú, artista.

 

 

Coréon Dú entra na sala com um fato azul e rosa, de calções, meias de motivos geométricos pretos e brancos e umas grandes botas de cabedal. Todos estão vestidos em tons escuros na apresentação da coleção de sapatos do modelo luso-guineense Armando Cabral, durante a semana da moda de Nova Iorque, e o músico angolano, de 30 anos, destaca-se. Move-se de forma discreta, mas sorri quando cumprimenta o modelo e estilista, um sorriso de criança, que não terá mudado muito desde que tinha oito anos, todos o chamavam José Paulino e o pai, Presidente de Angola, concordou que fosse viver para casa dos avós, em Lisboa, longe da guerra civil que assolava o país.

 

 
Dois dias depois, o filho de José Eduardo dos Santos e da sua segunda mulher, Maria Luísa Perdigão Abrantes, está no restaurante do The Greenwich, o elegante hotel de Robert DeNiro em Manhattan. Explica que está nos Estados Unidos para a promoção do seu último álbum, Binário, com voz baixa e os olhos fixos na mesa à sua frente, uma postura que contrasta com as calças de padrão étnico, a T-shirt colorida e a camisa de ganga, que ele mesmo tingiu. Durante esta semana, foi a desfiles de moda, deu entrevistas e organizou uma apresentação visual do seu álbum. Numa sala adaptada para o efeito, vários artistas convidados mostraram uma série de esculturas, instalações e pinturas inspiradas na sua música – havia, por exemplo, uma árvore multimédia onde vários ecrãs mostravam imagens do artista distorcidas até este ser quase irreconhecível. “O meu meio de expressão preferido é a música”, explica o angolano, mostrando imagens do evento no seu portátil, “mas sou um artista.”

 

 

Samacaca, a primeira inspiração.

 

 

Apesar de hoje ser dono da Semba Comunicação, que produziu a telenovela Windeck, o documentário I Love Kuduro (em exibição nos cinemas portugueses) e todos os anos celebra contratos multimilionários com o Estado angolano, José Paulino soube sempre que não pertencia ao mundo da política e dos negócios. Com cinco anos destruiu os lençóis e cortinados de casa inspirado pelos estilistas da novela brasileira Ti Ti Ti. “Lembro-me da minha avó e da minha mãe terem ficado chateadíssimas. Mas eu só queria fazer roupa para os meus brinquedos, ser como aqueles dois designers.” Terá sido uma das primeiras vezes que José Paulino deu lugar a Coréon Dú.

 

 
Pouco tempo depois, pediu a um tio que lhe fizesse um corte de cabelo inspirado em Bobby Brown. “Foi considerado extravagante”, garante. “Chamaram os meus pais à escola e disseram que estava a ser uma má influência.” José Eduardo dos Santos e Maria Luísa Abrantes “não viram qualquer problema, até acharam querido, mas a sociedade angolana era muito conservadora e tinha certas normas. Queriam impor o cabelo curto, normal, para não destoar entre os outros.” José Paulino começou a ser vítima de bullying quando se mudou para Lisboa. “Era um momento particularmente xenófobo da história de Portugal, com uma certa resistência a tudo o que era estrangeiro e, sobretudo, das antigas colónias”, lembra. “Senti isso na pele, de forma severa, por parte de pessoas de todas as idades, desde os meus colegas da escola a pessoas na rua.”

 

 

Aos onze anos, mudou-se para os EUA com a mãe e os irmãos. Os problemas continuaram. Na escola, em Washington, os colegas gozavam com o seu sotaque britânico, o nome português, os hábitos diferentes ou o estrabismo. Quando se esqueceu de empurrar uma cadeira, a professora obrigou-o a ficar em pé durante toda a aula, dizendo: “Tenho a certeza de que estás habituado a ter empregadas em casa, mas aqui não sou a tua empregada.”

 

 

Entre os 12 e os 13 anos, viveu a fantasia de ser um escritor atormentado. “Não podes fazer algo mais alegre, mais leve?”, perguntava-lhe a professora de literatura, sobre os textos depressivos. “Não”, respondia-lhe, “é assim que me sinto.” Foi nessa altura que começou a vestir-se de forma diferente. Vestia-se de negro, “meio gótico, meio punk”, mas apenas longe dos olhares da mãe: “Quando saía de casa, lá punha o aparato todo.” Começou a pedir que lhe chamassem Coréon Dú.

 

 

Apesar de visitar Luanda todos os anos, só no final da guerra civil é que pôde conhecer o país. “Fui ao Sul, a Lubango, à floresta do Mayombe, a Cabinda… achava tudo fantástico.” Quando descobriu a Samacaca, um tecido tradicional, sentiu-se inspirado para fazer roupas. “Umas brincadeiras”, recorda, primeiro para si, depois para os primos, finalmente para os amigos. Foi desafiado para desenhar uma coleção e, no final do desfile, convidaram-no para a apresentar na Angola Fashion Week. Ainda era adolescente e já estava na maior mostra de moda angolana.

 

 

‘Artistas na família, não’

 

 

Com 16 anos, disse aos pais: “Quero ser artista.” E prosseguiu: “Vou estudar teatro musical, porque é isso que quero ser: um performer, fazer filmes, entrar em musicais da Broadway.” Dos pais, diz que recebeu “um ‘não’ redondíssimo.” Disseram-lhe: “Filho, podes ser médico, engenheiro, advogado, gestor, tudo isso. Agora, artistas, na família, não nos interessa.” Apesar dessa resposta, o angolano recorda que José Eduardo dos Santos foi compositor de uma banda nos anos 50 e 60 e escreveu letras para vários músicos. Diz também que vários dos seus seis irmãos – como Isabel, que a revista Forbes considera a primeira bilionária africana, ou José Filomeno (Zenu), que preside o Fundo Soberano de Angola e é apontado como o sucessor do pai – também têm apetências artísticas. “Quase todos cantamos ou tocamos algum instrumento. Eles receberam a mesma versão da conversa, mas eu fui aquele que disse: ‘Ótimo, então vou fazer o meu curso, e depois…'” Depois seria o fim de José Paulino dos Santos.

 

 

Durante o curso de gestão na Universidade de Loyola (Nova Orleães), ficou tão deprimido que começou a frequentar outra licenciatura, em ciências da comunicação, com foco em publicidade, porque “tinha uma componente criativa muito forte.” No final, mudou-se para a Europa e tirou um mestrado em Dança-Teatro na escola de dança Laban, em Londres.

 

 
Regressou a Luanda, onde ainda vive, com 22 anos, e criou a Semba Comunicação, juntamente com a irmã Welwitschea José dos Santos (Tchizé). Desde o primeiro ano que a empresa ficou responsável pela promoção de Angola no exterior, através de campanhas institucionais milionárias e do desenvolvimento do canal internacional da Televisão Pública de Angola (TPA). As campanhas, que passaram na CNN Internacional, foram encomendadas pela Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP), cuja presidente é a mãe de Coréon e ex-mulher do Presidente de Angola. Segundo o site Maka Angola, do jornalista Rafael Marques de Morais, o Orçamento do Estado angolano do ano passado atribuiu à Semba quase 60 milhões de dólares para campanhas através do Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (CRECIMA) e outros 50 milhões para gestão de dois canais da TPA. No total, perto de 110 milhões de dólares (cerca de €87 milhões).

 

 
Em 2010, Coréon Dú era também acionista (10%) da Di Oro, empresa detida em 90% pela irmã Tchizé e o marido, quando José Eduardo dos Santos autorizou o prorrogação dos termos de uma concessão de diamantes, Projecto Muanga, a uma associação de quatro empresas, entre as quais as Di Oro. Já em 2005, dos Santos tinha prorrogado a exploração de outro negócio de diamantes, o Projecto Cabuia, a um consórcio do qual a empresa dos filhos fazia parte.

 

 

“Pago as minhas contas”, diz José Paulino, recusando acusações de favorecimento: “A oportunidade que tive foi o investimento dos meus pais na minha educação, numa época em que não era fácil.” O empresário garante que o arranque explosivo da Semba se deve a contactos feitos desde os 16 anos a produzir eventos. “Algumas pessoas olham para o percurso da Semba [e esquecem-se] que abriu com uma base de clientes. Se tinha um cliente para quem, aos 19 anos, tinha feito a festa de Natal, quando ele viu aquela estrutura começou a contratar-me para desafios mais sérios…” Coréon diz mesmo que ser filho do Presidente angolano tem, sobretudo, desvantagens: “Infelizmente, para mim cria mais impedimentos do que abre portas, sobretudo por estar no ramo criativo. Acham que não tenho integridade artística ou que sou um socialite aborrecido em busca de algo.”

 

 

Celebrar a diferença

 

 

A Semba também já chegou a Portugal. Não só através do documentário I Love Kuduro, do realizador Mário Patrocínio, e da novela Windeck, que passou na RTP, mas também da compra das revistas Lux, Lux Woman e Revista de Vinhos, no ano passado, pela luso-angolana Masemba, de que é sócia.

 

 
Coréon foi o responsável pela história da Windeck, que foi nomeada para um Emmy Internacional, e diz que tentou refletir na novela “a realidade urbana luandense.” Foi por isso que introduziu “a personagem principal, sem escrúpulos, que não olha a consequências para chegar ao topo económico e social, e temas que foram relativamente polémicos, como ter um casal homossexual, duas lésbicas, um personagem gay…”.

 

 

O músico diz que “apesar de Angola ser um país conservador, onde existe muito preconceito, as pessoas conseguem entender-se e respeitam o espaço umas das outras, ao contrário de sítios em África onde, infelizmente, se perseguem pessoas por terem uma determinada religião, grupo étnico ou orientação sexual.” Criado em escolas particulares, com aulas todo o ano, diz que não consegue ficar parado – e os negócios lucrativos dão-lhe tranquilidade para se dedicar à carreira musical. No primeiro álbum, Coréon Experiment, cantou um dueto com Luciana Abreu. Editou depois um álbum com misturas desses temas e, já em 2014, lançou o segundo disco de originais, Binário.

 

 

Tanto canta kuduro como pop, semba, kizomba ou música de dança. “Não me limito a um género musical, porque a minha música tem mais a ver com o sentimento que quero transmitir”, explica. “Reduzir-me a um género seria trair-me como artista.”

 

 

Diz que os episódios de bullying e o preconceito por ser filho do Presidente o inspiram. “Tento transformar estas memórias em algo que dê força e autoestima, para permitir que cada um celebre a sua forma de ser e a sua criatividade.” É por isso que se revê no kuduro, que entende ser “o único género angolano, não só musical mas cultural, que celebra a diferença.”

 

 
No início, os pais não iam aos seus espetáculos. “Diziam que não gostavam”, lembra. Nos últimos anos, no entanto, começaram a aparecer, sem dizer nada. Amigos e colegas diziam-lhe depois que tinham visto o pai ou a mãe na plateia. “No mundo ideal, preferiam que tivesse sido engenheiro ou médico, mas tiveram de render-se às evidências”, explica. “O que os convenceu foi a minha persistência. Quando tinha cinco anos queria ser artista, quando tinha dez, quando tinha 16… E depois de acabar a faculdade continuava a querer ser artista.”

 

 
Em 2011, o Governo angolano contratou a Orquestra Clássica da Madeira, dirigida pelo Maestro Rui Massena, para o concerto do dia da Independência. Foi José Paulino que entrou em palco: nervoso, tímido. Mas quando cantou o tema tradicional Kambuta, de impecável smoking azul, era já Coréon Dú, o artista. Na plateia, os olhos de José Eduardo dos Santos brilhavam.

 

 
Alexandre Soares, em Nova Iorque

 

 
VISÃO 1128

 

 

 

Há uma nova teoria sobre os buracos negros – eles não existem

23/02/2015

 
Física. Uma professora norte-americana publicou uma teoria que, caso seja provada, pode obrigar a reescrever algumas leis da física.

 
Uma cientista norte-americana publicou novos cálculos que, caso se confirmem, podem revolucionar várias teorias da física. A conclusão do estudo de Laura Mersini-Houghton, professora de física na UNC-Chapel Hill — College of Arts and Sciences (EUA) — é perentório: os buracos negros não existem nem podem existir.

 
Os buracos negros formam-se aquando da morte de alguns tipos de estrelas e a sua existência é genericamente aceite pela comunidade científica. Resulta basicamente de duas doutrinas: a teoria geral da relatividade, de Einstein, e a mecânica quântica, fundamentada por Stephen Hawking nos anos 1970 ao defender que os buracos negros têm de emitir radiação — que entretanto recebeu o seu nome. Os cientistas procuraram e encontraram a “radiação Hawking”, assumindo como prova da existência dos buracos negros. Mas eles nunca foram vistos nem tal é possível, uma vez que se tratam (em teoria) de estruturas tão densas e com uma força gravitacional tão elevada que absorvem tudo à sua volta, inclusive a luz.

 
Se por um lado Einstein sugere a existência teórica dos buracos negros, por outro há uma lei fundamental da teoria quântica que determina que nada no universo pode “desaparecer”, o que entra em conflito com a definição de buraco negro — uma estrutura que engole tudo à sua volta. Os cientistas defendem também que as singularidades ali existentes são tão complexas que as leis da física não se aplicam. A professora Laura Mersini-Houghton justifica que, de acordo com os seus cálculos, quando uma estrela colapsa sobre a sua própria gravidade e emite a “radiação de Hawking”, essa energia dissipa a massa do objeto, pelo que a estrela perde densidade, não sendo possível que se transforme num buraco negro.

 
A descoberta de Laura Mersini-Houghton (vídeo), caso seja provada, pode bem obrigar a reescrever muitas teorias da física — e da ficção científica. Resta saber como é que a comunidade científica vai reagir a esta descoberta.

 

 

Ilustração: Getty Images
Autor: Pedro Esteves

 

 

 

Cientistas descobrem dois planetas com características semelhantes às da Terra

23/02/2015

 

 

Chamam-se Kepler-438b e Kepler-442b, são ligeiramente maiores do que a Terra e podem possuir uma temperatura suficiente para que a maior parte da sua água não congele ou se evapore.

 
Kepler-438b tem um diâmetro 12% maior que a Terra e uma probabilidade de 70% de ser rochoso, segundo os cientistas.

 
Um grupo de cientistas do Centro Harvard-Smithsonian para a Astrofísica nos Estados Unidos anunciou nesta terça-feira a descoberta de oito novos planetas fora do Sistema Solar. Entre os novos planetas, encontram-se o Kepler-438b e o Kepler-442b que, segundo os pesquisadores, são os mais parecidos com a Terra encontrados até ao momento na história do estudo do espaço. O anúncio foi realizado num encontro da American Astronomical Society em Seattle.

 

 

“Não sabemos se algum destes planetas são realmente habitáveis, tudo o que podemos dizer é que são candidatos promissores”, afirmou David Kipping, um dos autores do estudo em conferência de imprensa.

 

 

O Kepler-438b tem um diâmetro 12% maior do que a Terra e uma probabilidade de 70% de ser rochoso, segundo os cientistas. O planeta realiza uma volta em torno da sua estrela em 35 dias e recebe 40% mais de luz que o nosso planeta. O Kepler-438b tem 70% de hipóteses de estar na zona habitável da sua estrela. Já o Kepler-442b é três vezes maior do que a Terra, tem 60% de hipóteses de ser rochoso e realiza a sua translação a cada 112 dias. Os cientistas não sabem se estes planetas têm atmosferas, mas caso estejam revestidos por camadas isolantes de gases, as suas temperaturas médias podem ser de cerca de 60 e 0 graus Celsius, respetivamente.

 

 

Estes três parâmetros são os fatores mais importantes para que os cientistas calculem a hipótese de um planta ser habitável: ser rochoso, que o seu tamanho seja próximo ao da Terra e que tenha uma temperatura suficiente para que a maior parte da sua água não congele ou se evapore.

 

 

Os oito novos planetas foram descobertos pelo telescópio Kepler e localizam-se numa zona conhecida como Goldilocks, zonas habitáveis no universo por reunirem um conjunto de constantes físicas universais dentro de um intervalo pequeno e que favorecem o desenvolvimento de vida. Antes desta descoberta, o exoplaneta mais parecido à Terra era o Kepler 186f, que é 10% maior que o nosso planeta e que recebe três vezes mais luz da sua estrela.

 

 

Os cientistas, no entanto, são conservadores sobre a possibilidade de chegar a Kepler-438b e Kepler-442b. Os dois planetas encontram-se a 470 e 1,000 anos-luz da Terra – um ano-luz equivale aproximadamente a 9.461.000.000.000 quilómetros.

 
Ilustração: David A Aguilar/CfA

 

 
Autor: Milton Cappelletti

 

 

 

Descobertos dois novos planetas no Sistema Solar

23/02/2015

 
Astronomia. Cientistas da Universidade de Cambridge e de Madrid dizem ter descoberto provas da existência de pelo menos dois novos planetas para lá de Plutão.

 

A nova descoberta poderá ajudar a encontrar respostas para as dúvidas que ainda persistem sobre a formação do nosso Sistema Solar.

 

Cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade Complutense de Madrid garantem ter descoberto provas da existência de, pelo menos, dois outros planetas no nosso Sistema Solar. Esta descoberta poderá ajudar a responder a questões que ainda subsistem em relação à sua formação.

 

A equipa de investigadores estudou as órbitas de vários corpos celestes que se encontram para lá de Neptuno. O resultado foi a descoberta de 13 objetos, planetas anões como Plutão e Senda, que fazem a sua órbita em torno do Sol, percorrendo grandes distâncias e descrevendo uma trajetória elíptica. Mas podem ser mais.

 

“O número exato é uma incerteza, visto que a informação a que temos acesso é limitada. Os nossos cálculos sugerem que existem pelo menos dois planetas dentro dos limites do nosso sistema solar”, escreveu Carlos de la Fuente Marcos, o responsável pela investigação, em comunicado. Mesmo assumindo as dificuldades técnicas de apurar com exatidão o número de planetas que se encontram para lá de Plutão, os investigadores acreditam que “o número é, provavelmente, superior”.

 

Mas como chegaram os cientistas a esta conclusão? Através da análise da alteração das órbitas dos corpos celestes que se encontram para lá de Neptuno. “O excesso de objetos com parâmetros orbitais inesperados faz-nos acreditar que forças invisíveis estão a alterar a distribuição dos elementos orbitais dos TNO [Trans-Neptunian Object]. Consideramos que a explicação mais provável [para este fenómeno] é a existência de outros planetas para lá de Neptuno e de Plutão”, afirmou Carlos de la Fuente Marcos.

 

Os resultados do estudo foram publicados na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society Letters, uma revista criada em 1827, dedicada à astronomia e à astrofísica.

 

 

Ilustração: AFP/Getty Images

 
Autor: Miguel Santos

 

 

 

 

Assembleia municipal aprova voto de protesto por causa de escalas técnicas de voos

02/03/2015

 

 

A Assembleia Municipal de Vila do Porto aprovou por unanimidade um voto de protesto “pela alteração de posição do Governo Regional dos Açores em relação às escalas técnicas de aeronaves nos Açores”, revelou hoje o PSD local.

 
Segundo o texto aprovado, a Assembleia Municipal de Vila do Porto considera que o plano de revitalização da economia da ilha Terceira, apresentado recentemente pelo executivo açoriano por causa da redução da presença norte-americana na base das Lajes, altera aquilo que sempre foi afirmado pelas autoridades regionais em relação a Santa Maria, ou seja, que esta é a ilha “de referência” para as escalas técnicas no arquipélago.

 
O voto, aprovado por PSD, PS e PCP, lembra que o plano para a Terceira prevê, entre outras coisas, a criação de um “pacote de incentivos de atração de escalas técnicas” para o aeroporto das Lajes ou reduções de 50% para as taxas aeroportuárias na Terceira.

 

 

 

Autarca da Praia da Vitória teme que EUA vedem utilização civil do porto e aeroporto

02/03/2015

 

O autarca da Praia da Vitória considerou esta segunda-feira que o plano dos Estados Unidos da América (EUA) de redução militar na base das Lajes, no que concerne à utilização de infraestruturas, pode “hipotecar” o futuro económico do concelho.

“Se a parte portuguesa aceitar – como aparentemente já o está a fazer nos bastidores – uma solução desta natureza, está a vedar definitivamente o acesso e a potencialidade de rentabilizar as infraestruturas do aeroporto e do porto, no âmbito de ‘clusters’ aéreo e marítimo geradores de emprego e de riqueza em alternativas para utilizações civis”, salientou Roberto Monteiro, numa conferência de imprensa.

 
Segundo o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, o plano inicial dos norte-americanos, que alegadamente não estará a ser contestado pelo Estado português, prevê a redução de utilização de 349 edifícios, 62 quartos para alojamento e 452 unidades de habitação familiar”, no entanto, “a Força Aérea norte-americana mantém “o controlo das principais infraestruturas e serviços existentes”, como o aeroporto, o porto e zonas de abastecimento e armazenamento de combustíveis.

 
“Com o cenário que está previsto verifica-se que toda a linha de acesso direto à pista e ao porto se mantém afeta a infraestruturas puramente militares e maioritariamente utilizadas pelas forças norte-americanas”, frisou.

 
Para o autarca, a concretização deste plano impede a “alteração da classificação do aeroporto”, para que passe a ter uma predominância civil, com utilização militar, como a autarquia tem defendido, e impede que “qualquer tipo de empresa ou de entidade ligada à aeronáutica civil possa usufruir daquelas infraestruturas”.

 
Roberto Monteiro alertou ainda para a possibilidade de a utilização das infraestruturas da base das Lajes estar a ser “acordada e coordenada” entre as estruturas militares de Portugal e dos EUA, num “plano de negociação paralelo”, alegando que este assunto não foi abordado na reunião da Comissão Bilateral Permanente, em fevereiro.

 
“O município da Praia da Vitória refuta integralmente a estratégia ardilosa que está a ser montada à margem de todo este processo bilateral”, sublinhou, garantindo que a autarquia vai “ao limite” na denúncia desta situação e na “pressão” junto da opinião pública.

 
Perante uma alegada “conivência” do Estado português, Roberto Monteiro desafiou o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea portuguesa a “publicamente esclarecer estes pontos e estas matérias” e explicar por que é que está a ser dada a oportunidade aos EUA de escolherem as infraestruturas que querem continuar a utilizar.

 
Quanto aos edifícios que os Estados Unidos pretendem libertar, que poderão ser entregues ao Estado português ou demolidos, o autarca alertou para as suas condições físicas, alegando que “não cumprem as regras mínimas de utilização quer ao nível de eficiência energética, quer ao nível dos materiais utilizados, quer ao nível das instalações que estão feitas”.

 
“Sai mais caro readaptar os edifícios para utilizações civis do que eventualmente proceder a outras construções ou à aquisição de outros edifícios que estão no mercado”, frisou.

 

 

 

No Báltico, as feridas abertas de um passado que não passa

25/02/2015

 
“A União Europeia será talvez uma resposta à história, mas nunca poderá substitui-la”, escreveu Tony Judt. O que por vezes temos tendência a esquecer.

 
“Museu das Vítimas dos Genocídios”, este é o nome do imponente edifício que em Vilnius, capital da Lituânia, pretende mostrar ao público a história das ocupações soviética e nazi. O edifício construído no final do século XIX reflecte a história conturbada do país e da cidade: província do império russo até 1914, Vilnius foi ocupada pela Alemanha durante a Primeira Grande Guerra e em seguida pela Polónia até 1939. Em 1940-1941, ao abrigo do pacto Ribbentrop-Molotov, a União Soviética entra na cidade e o edifício do actual museu foi quartel-general da NKVD – a polícia política soviética – e prisão dos recalcitrantes.

 
Com a invasão nazi, no verão de 1941, o edifício torna-se sede da Gestapo e do Sonderkommando A – esquadrão de extermínio, que com o apoio de letões e lituanos, levou a cabo até 1944 o assassinato da quase totalidade dos 250 mil judeus da Lituânia, assim como de ciganos, resistentes nacionalistas e comunistas. E finalmente, entre 1945 e 1991, durante a longa ocupação soviética, o edifício torna-se de novo sede da polícia política comunista, rebaptizada em 1952 com o nome de KGB, local de interrogatório, tortura, prisão e execução.
Com uma história assim, o que nos conta hoje o Museu? Foi o que fomos ver neste verão de 2014, no decorrer de mais um “Seminário sobre Rodas”, viagem de estudo organizada pela Memoshoá – Associação Memória e Ensino do Holocausto, que desde há cinco anos percorre a Europa nos “passos” da Shoá com professores do ensino básico e secundário.

 
A maior parte dos três imensos andares do edifício é preenchida por aquilo que foi a prisão do NKVD-KGB. A guia, uma mulher jovem, conduz-nos demoradamente pelos meandros da prisão, as suas alas de interrogatório e tortura, celas e local de execução dos prisioneiros… Mas no decorrer da visita guiada apercebemo-nos da existência, sem qualquer menção nem paragem por parte da guia, de uma pequena cela com uma estrela de David ao fundo. Trata-se de um espaço exíguo onde o nosso grupo de 27 pessoas não cabe todo ao mesmo tempo, o único dedicado ao período nazi em todo o museu.

 

Questionada, a guia remete para o final a visita ao referido espaço. Na verdade, esta não terá lugar: sob pretexto de que “somos especialistas” e que não precisamos dela, abandona-nos precipitadamente. Parece-nos evidente que não está preparada para nos falar do nazismo e sobretudo das vítimas judias…

 

O Museu das Vitimas do Genocídios conta bem a história de quase meio século de ocupação soviética: os documentos, as fotos e testemunhos são abundantes, esclarecedores e constituem uma clara condenação do regime comunista. Conta-nos também o combate pela independência da Lituânia e a resistência nacional e popular anti-soviética ao longo de todo esse período histórico. Mas a história da ocupação nazi é-nos praticamente ocultada.

 

A narrativa do Museu é clara: sim, fomos ocupados pelos nazis entre 1941 e 1944, mas o verdadeiro sofrimento, aquele que tem de ser contado, narrado e nunca esquecido, é o meio-século de ocupação soviética. Esta é a narrativa que encontrámos com pequenas diferenças e algumas (poucas) excepções nos três países do Báltico: Lituânia, Letónia e Estónia. Os grandes museus nacionais evocam o sofrimento das populações sob o regime soviético, calando ou minimizando o massacre dos seus cidadãos judeus.

 

 

É compreensível? Em parte sim. Independentes entre 1920 e 1939, os três países ocupados pela URSS em 1939/1940, ao abrigo do Pacto Molotov-Ribbentrop, acolhem os nazis em 1941 como libertadores e muitos colaboram no extermínio dos judeus, ciganos e quadros comunistas. E em 1944-45, quando finalmente aguardam pelo restabelecimento da independência nacional, são de novo ocupados pelo poder soviético e desta vez até à sua derrocada, em 1991.

 

São pois décadas de esperanças frustradas, de repressão, de deportações para os goulags siberianos. Por outro lado, nestes países ferozmente nacionalistas, as minorias étnicas ou religiosas não “são parte”, são os “outros”: a cultura define a nacionalidade, herança do império russo. Presentes desde o século XIV na Lituânia, na Letónia no século XVI e no século XVIII na Estónia, os judeus são considerados uma minoria nacional não autóctone, com as consequências óbvias em termos de marginalização social.

 

Mas vinte e três anos depois da libertação, é tempo de reconhecer que a história dos países do Báltico não é apenas uma longa e heróica luta pela independência. É também uma história de quatro anos de colaboração com o nazismo no extermínio praticamente total de uma parte significativa da sua população.

 

Nas valas comuns das florestas de Ponary, em Vilnius, de Rumbula e de Bikernieki, perto de Riga ou de Klooga em Tallinn, jazem as cinzas dos cerca de meio milhão de judeus das comunidades dizimadas entre Julho e Dezembro de 1941, pelos Einsatzgruppen que acompanham o exército nazi na Operação Barbarossa. Em Janeiro de 1942, na conferência de Wahnsee, os três países do Báltico já são considerados praticamente judenrein – “limpos” de judeus.

 

 

A brutalidade da matança coincide muito provavelmente com a decisão de Hitler nesse Outono de 1941 de levar a cabo o que hoje chamamos de Holocausto: o extermínio total do povo judeu.
Nas imensas e belíssimas florestas do Báltico que percorremos, pequenos e simbólicos memoriais erguidos perto das valas comuns por alguns sobreviventes, ou seus descendentes imigrados, financiados na sua maioria por entidades judaicas e doadores americanos, lembram um genocídio que liquidou perto de 100% de comunidades com uma vivência cultural única no mundo judaico.

 

Os três países têm em comum uma intensa vida religiosa nos séculos XVIII e XIX à qual sucede uma vivência politica e cultural marcada pela secularização: desenvolvimento do movimento operário e dos movimentos sionistas, crescimento de uma imprensa, literatura e ensino em Iídiche e hebraico. Na viragem do século, Vilna, em russo, Vilno, em polaco, Vilnius em Lituano e Vilné em Iídiche, é o centro de todos os movimentos que suscitam uma transformação radical da vida judaica. A sua situação geográfica explica este papel chave. Considerada a “Jerusalém da Lituânia”, é um ponto de confluência entre o Ocidente e Oriente europeus, onde as correntes de vanguarda encontravam eco numa intelectualidade muito receptiva e preparada.

 
Na véspera da II Guerra, as cidades do Báltico partilham assim uma brilhante cultura judaica e universal com um forte tecido associativo, cultual e cultural. Tudo isto será destruído pelo genocídio nazi. No final dos anos 1990 viviam apenas no conjunto dos países bálticos independentes, 25.000 judeus e os vestígios do seu brilhante passado praticamente desaparecidos. Hoje, pelo que pudemos apurar, serão ao todo entre quinze a dezassete mil a lutar pela sobrevivência das suas comunidades.

 

 
O poeta de língua Idiche, Abraham Sutzkever, escreveu: “E se na minha cidade não restarem mais nenhuns judeus, as suas almas continuarão a habitar as suas ruelas sinuosas”. Mas mesmo as almas precisam de espaço na memória dos povos. Vilnius, Riga, Tallinn, cidades que procuram sarar as feridas de uma longa e recente ocupação, talvez ainda não sejam capazes, mas o que elas nos demonstram é que a memória europeia não é simétrica no leste e no ocidente europeu. “A União Europeia será talvez uma resposta à história, mas nunca poderá substitui-la”, escreveu Tony Judt. O que por vezes temos tendência a esquecer.

 

 

Autora:

 

Esther Mucznik

 

 

 

Faria hoje 80 anos – Lembrança de Francisco Sá Carneiro

23/02/2015

 

 

Francisco Sá Carneiro nasceu a 19 de Julho de 1934. Faria hoje 80 anos. Pretexto para recordar o seu papel na Ala Liberal e na fundação da democracia. E lembrar o político voluntarioso e determinado.

 
Conheci pessoalmente Francisco Sá Carneiro nos primeiros dias de Maio de 1974, na Rua Viriato, à porta da SEDES – num momento em que as esperanças sobre o nosso futuro eram ilimitadas. Acompanhá-lo-ia na criação do PPD, tendo colaborado diretamente com ele, em especial no fim de 1975 e início de 1976, como secretário-geral adjunto para as questões da juventude e como membro do Secretariado Nacional.

 

 

Francisco Sá Carneiro1

Francisco Sá Carneiro com José Pedro Pinto Leite
Tinha seguido com grande interesse e entusiasmo a ação que desenvolveu na Assembleia Nacional na “Ala Liberal”, nos anos do fim do marcelismo, em especial nos domínios da justiça e do sistema prisional, da liberdade religiosa e da revisão constitucional. Depois da morte de José Pedro Pinto Leite, o primeiro líder do grupo dos renovadores, foi em Sá Carneiro que se concentraram as atenções. É certo que João Pedro Miller Guerra tinha um enorme prestígio, mas pelas características pessoais e por uma especial fogosidade, Francisco Sá Carneiro concitava especiais atenções. Isso era especialmente evidente entre os estudantes de Direito, na que tinha sido também a sua Faculdade, e que eu então frequentava. Os seus discursos, claros e corajosos, eram distribuídos, passavam de mão em mão e eram lidos com avidez.

 

 

Recordo bem, como se fosse hoje, o dia em que renunciou com estrondo ao lugar de deputado. Ninguém ficou indiferente a esse momento fundamental, em que o antigo regime começou o estertor de morte. Não tenho dúvidas de que então se despoletou o processo inexorável que culminaria nos acontecimentos do 25 de Abril de 1974. Conheço pessoalmente muitos jovens milicianos da altura que nesse dia deixaram de ter dúvidas sobre a necessidade de apoiar um movimento democrático. Se somarmos as renúncias de Francisco Sá Carneiro e de Miller Guerra à publicação do livro “Portugal e o Futuro” do General António Spínola, podemos encontrar fatores convergentes que aceleraram, de modo insofismável, a queda do “Estado Novo” que desde 1958 vinha sofrendo uma aceleração inexorável.

 

 

Os acontecimentos históricos têm sempre uma génese complexa. Não podemos esquecer que o arrastamento das guerras de África, que a ausência de soluções políticas para as mesmas e que a tomada de consciência democrática de uma geração de jovens estudantes que foram mobilizados para o Ultramar pesaram decisivamente. Mas houve o pingo d’água que transvazou o copo. Francisco Sá Carneiro e a “Ala liberal” tiveram um papel decisivo, que se somou à influência das oposições clássicas e à situação das Forças Armadas. Como no início de 1963 bem viram Mário Soares e Francisco Salgado Zenha, na experiência de “O Tempo e o Modo”, havia que mobilizar os descontentes do regime e a opinião pública representados pelo General Delgado e pelo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, protagonista de um movimento de crescente independência da Igreja Católica em relação ao poder instituído, na linha do que viriam a ser as conclusões do Concílio Vaticano II.

 

 

Sá Carneiro confessando-se social-democrata, na célebre entrevista que concedeu a Jaime Gama, jornalista do “República”, representava uma corrente que fazia falta às oposições tradicionais – e que António Sérgio tanto procurou no fim da vida. E esse papel foi revelador da incapacidade de Marcello Caetano para encontrar soluções políticas para o regime. Desempenhou-o Francisco Sá Carneiro, jovem inconformista que fora chamado à primeira linha da ribalta política pela morte prematura de José Pedro Pinto Leite, e o certo é que a sua sensibilidade de jurista experimentado pôs a tónica nas carências do Estado de Direito o que potenciou a sua influência na opinião pública.

 

 

Os primeiros meses a seguir a 25 de Abril de 1974 foram de intensa actividade, mas a entrada para o I Governo Provisório, presidido pelo Prof. Adelino da Palma Carlos, e o agravamento de uma doença que vinha atormentando Francisco Sá Carneiro conduziram ao seu progressivo afastamento da vida pública descontente com o curso dos acontecimentos. Só depois do Verão de 1975 voltei ao seu contacto direto para apoiar o seu pleno regresso, por considerar que a institucionalização da democracia necessitaria de um PPD ativo e interveniente no centro da criação do compromisso constitucional que viria ser alcançado logo após os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975 na votação da Constituição da República, a 2 de Abril de 1976.

 

 

Francisco Sá Carneiro2
Conversámos longamente em diversas circunstâncias e recordo especialmente o encontro que tivemos em finais de Setembro de 1975 no Grémio Literário, onde me pediu para o apoiar, em especial na organização de iniciativas da JSD. Lembro uma outra conversa, já em 1976, depois da cisão de Aveiro (Dezembro de 1975) em que foi muito claro no sentido de que deveria ser preservada a identidade própria do PPD como partido de orientação social-democrática, no centro esquerda, não confundível com o projeto centrista do CDS. Foi nesse tempo que me dediquei a uma acção de intenso estudo e reflexão atualista sobre o programa político de Bad Godesberg (1959) do SPD da República Federal Alemã e sobre a evolução da social-democracia sueca. Com António Rebelo de Sousa, realizei ações de formação de norte a sul do País em torno desses temas, o que culminaria em 1977 com a publicação do livro “Democracia Incompleta”, dado à estampa pela Fundação Social Democrata Oliveira Martins. Aliás, foi por iniciativa de Francisco Sá Carneiro e após uma conversa que teve comigo sobre o assunto, que a Fundação do partido foi batizada com o nome de Oliveira Martins, contando com a participação ativa de meu avô Francisco d’Assis.

 
Importa explicar que o esfriamento das nossas relações deveu-se a uma discordância política. Se não houve dúvidas sobre a estratégia de viabilização da Constituição de 1976, a verdade é que importaria, a meu ver, consolidar o regime democrático com leis estruturais que deveriam ser aprovadas na Assembleia da República com os votos do PS e do PPD, para evitar a tentação de convergências coletivizantes que, nessa altura, apenas poderiam reforçar uma interpretação fechada e estatizante da Lei Fundamental.

 
Foi essencial a ação parlamentar do PPD no sentido da aprovação de leis estruturantes como a de delimitação de sectores ou as respeitantes às indemnizações, à reforma agrária e ao arrendamento rural. A manutenção do governo minoritário do PS, dirigido por Mário Soares, levou, porém, Francisco Sá Carneiro a mudar de rumo, deixando inesperadamente a direção do partido em finais de 1977, sem uma explicação clara… Estava em causa a necessidade de apresentar uma alternativa contra o que foi designado como o “impasse” e que tinha três vértices fundamentais: clara demarcação em relação à ação do Presidente da República, Ramalho Eanes, cuja eleição o PPD apoiara e que estaria a favorecer objetivamente a eternização do governo minoritário; apresentação da necessidade de um novo texto Constitucional e de um novo sistema político, que, em última análise, deveria ser sujeito a referendo; e fim da colaboração parlamentar com o PS na viabilização das “leis do regime”.

 

 
Foram estes os três pomos de discórdia que iriam conduzir, em 1978, ao documento “Opções Inadiáveis”, depois de uma muito fugaz presidência do partido pelo Prof. António Luciano de Sousa Franco, de quem fui chefe de gabinete… O resto da história é bem conhecido… Neste momento, devo salientar que não esqueci as boas relações pessoais que tive sempre com Francisco Sá Carneiro, em quem admirei as qualidades de lutador pelos valores da liberdade e da dignidade de pessoa humana e de político voluntarioso e determinado. Foram razões políticas que me levaram a sair do PSD a 4 de Abril de 1979, continuando a respeitar as qualidades e a ação de quem teve um papel fundamental na institucionalização da democracia portuguesa. Foi, por isso, com um grande choque que recebi a notícia trágica da sua morte. Foi uma perda irreparável para a nossa democracia.

 

 

Guilherme d’Oliveira Martins

 

 

Nota do Editor:

 

O Dr. Guilherme d’Oliveira Martins é Presidente do Tribunal de Contas de Portugal desde 2005. Jurista de formação de base, é um dos principais dirigentes do actual regime político constitucional  português. No baralho de cartas do regime ocupa a posição de rei dos diamantes. É uma das cartas mais valiosas do baralho do regime. Está conotado com o Partido Socialista e a sua cúpula directiva máxima, fez parte dos governos esquerdistas dos Primeiros Ministros Maria de Lourdes Pintasilgo e António Guterres, e foi líder da bancada parlamentar do Partido Socialista. É figura próxima de Mário Soares, líder revolucionário do Partido Socialista, e ocupa um lugar dirigente na Fundação de Mário Soares, um sifão de fundos do Estado com um valor de vários milhares de milhões de euros.

 

 

Como presidente do Tribunal de Contas, um orgão de soberania independente na actual estrura do Estado Português, responsável pela auditoria das despesas do Estado, assistiu impávidamente ao descalabro e colapso das contas do Estado Português. Quando em 2011 o Estado Português entrou em bancarota, já o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins era presidente à seis anos. Em conclusão, hoje sabemos que mais de um milhão de portugueses sofreram uma degradação completa e colapso das suas vidas,  vivendo a pobreza, miséria e emigração para o estrangeiro por causa do abandono e descontrolo completo das contas públicas e economia portuguesas em 2011, e sabemos também que o Tribunal de Contas foi uma das instituições de soberania portuguesa que não cumpriu a sua função de auditoria e controlo das contas do Estado.

 

 

Neste artigo de opinião presenciamos o esforço que o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins faz para se conotar com o outro partido socialista de Portugal, o Partido Social Democrata, ainda que com a aliança ao partido democrata cristão português, o CDS-PP, aquele apresenta-se como um partido um pouco mais centrista. Este esforço é óbviamente um esforço de branqueamento e encombrimento do seu passado político e das suas responsabildades.

 

 

 

Vitaminas Antioxidantes

23/02/2015

 
Saiba que alimentos deve privilegiar para combater a oxidação.

 
As vitaminas têm um forte poder antioxidante e podem ajudá-lo
a combater o processo de oxidação.

 

Este é um processo natural do organismo que acompanha o envelhecimento.

 

No entanto, pode ser controlado com uma alimentação adequada. Basta que passe a incluir os alimentos que se seguem nas suas refeições diárias.

 

Vitamina C

 

É o antioxidante hidrossolúvel mais abundante no sangue. Gera a inibição da formação de radicais superóxidos ou de nitrosaminas durante a digestão. Intervém na reparação das células dos tecidos (principalmente da pele, ao nível da formação de colagénio), das gengivas, veias, ossos e dentes, ajudando também a aliviar o stress.

 

A vitamina C está presente em frutas como o limão, laranja, tangerina, toranja, morangos, quivi, goiaba, papaia, manga, framboesa e em vegetais como a couve roxa, pimentos, espinafres, grelos, nabiças e repolho.

 

Vitamina E

 

É um antioxidante lipossolúvel que impede a oxidação dos tecidos gordos polinsaturados e evita danos nas membranas celulares. Favorece a nutrição e regeneração dos tecidos. Grande parte das funções antioxidantes da vitamina E melhoram significativamente com a acção conjunta do selénio. Ainda assim, segundo um estudo da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, é de referir que o consumo excessivo de vitamina E pode provocar transtornos metabólicos e perturbações ao nível do coração.

 

A vitamina E está presente em óleos vegetais, como óleo de gérmen de trigo, azeite, girassol, soja, desde que não refinados (obtidos a frio), cereais integrais, abacate, amêndoas, amendoins, margarina, conservas em azeite ou óleo (atum, cavala…), pistachos e espargos.

 
Vitamina A + carotenóides

 

Os carotenóides são compostos de importante função antioxidante que funcionam como precursores da vitamina A.

 

Destacam-se os carotenos alfa, beta (provitamina A) e gama, que protegem os tecidos celulares e desempenham uma função essencial na saúde dos olhos e membranas mucosas.

 

Também fortalecem o sistema imunitário e ajudam a prevenir doenças cardiovasculares e determinados tipos de cancro.

 

«Juntamente com as vitaminas C e E, o betacaroteno pode capturar os radicais livres», refere Pedro Lôbo do Vale. O licopeno é outro carotenóide que pode ajudar a prevenir vários tipos de cancro, proteger a memória, proteger contra a degeneração macular (da retina), e ajudar as pessoas menos jovens a manterem-se activas.

 

Esta substância é mais facilmente absorvida quando submetida ao calor, daí que a sua presença seja mais significativa, por exemplo, no tomate cozinhado do que no tomate ao natural. Já a luteína é um carotenóide que absorve os raios solares ultravioleta, evitando que estes provoquem danos na retina ocular, o que ajuda a prevenir problemas como a degeneração macular e as cataratas.

 

Os carotenos estão essencialmente presentes em cenouras, salsa, espinafres, mangas, brócolos e folhas verde escuras em geral. Já o licopeno dá a cor avermelhada a alimentos como o tomate, melancia, goiaba, etc. A luteína pode ser ingerida através de espinafres, pimentos vermelhos, gema de ovo, abacate, aipo, brócolos, salsa, repolho, aipo, abóbora e mostarda. Para ficar a saber porque oxidamos, clique aqui. (http://saude.sapo.pt/saude-medicina/o-corpo/artigos-gerais/porque-oxidamos.html) Veja ainda os benefícios dos minerais antioxidantes e dos polifenóis no combate à oxidação.

 
Texto: Ana Catarina Alberto com Pedro Lôbo do Vale (médico de clínica geral, docente no mestrado de Nutrição, na Faculdade de Medicina de Lisboa)

 

PREVENIR

 

SAPO – PESO E NUTRIÇÃO