Avião desaparecido estava a ser procurado no sítio errado

29/05/2014

 
Buscas vão entrar numa nova fase, que começa em agosto e que pode demorar um ano até ficar concluída.

 

As buscas subaquáticas no Índico não foram detetaram sinais de destroços do avião.

 

Quase três meses após o seu desaparecimento, não só o mistério em torno do Boeing 777 da Malaysia Airlines continua por resolver, como a própria investigação parece dar passos atrás. Afinal, o avião não se despenhou na zona do sul do Oceano Índico onde foram detetados sinais acústicos, anunciou o centro que coordena as buscas.

 

“Esta área pode agora ser descartada como tendo sido o local onde terminou o MH370”, refere um comunicado do Centro de Coordenação Internacional das Buscas (JACC), liderado pela Austrália.

 
O novo dado foi tornado público após ter sido dada por concluída, sem resultados, a missão de busca subaquática iniciada em abril na área do Oceano Índico onde foram detetados sinais acústicos semelhantes aos emitidos pelas caixas negras dos aviões.

 

A agência de coordenação informa que não foram detetados sinais de destroços do avião pelo mini-submarino Bluefin-21, que tem capacidade para mergulhar até 4.500 metros de profundidade e que utiliza um sonar para criar uma imagem do fundo do mar.

 

Segundo a CNN, ganhou força a explicação de que os sons detetados terão origem numa fonte humana, sem que nada tenham que ver com o Boeing desaparecido.

 

Perante esta conclusão, as operações de busca vão entrar numa nova fase, explica a JACC. Serão agora utilizados sofisticados equipamentos para mapear a área do oceano que não foi examinada, com base em todas as informações disponíveis e em análises revistas, com vista a definir uma zona de busca de até 60 quilómetros quadrados. Esta próxima missão arrancará em agosto e deverá levar até um ano a ser concluída.

 

O avião da Malaysia Airlines, com 239 pessoas a bordo, desapareceu a 8 de março depois de descolar de Kuala Lumpur rumo a Pequim, onde deveria ter chegado cerca de seis horas depois.
Ainda na terça-feira, dados recolhidos pela operadora de satélites britânica Inmarsat, e divulgados pelo Governo malaio, davam força à tese do avião se ter despenhado no oceano Índico, devido a uma falha de combustível enquanto voava para sul.

 

 

FOTO: Reuters

 
Mafalda Ganhão

 

Há novos dados sobre a tragédia do avião desaparecido

27/05/2014

 

Governo malaio divulgou hoje os primeiro dados obtidos por satélite sobre o Boeing 777 da Malaysia Airlines, desaparecido com 239 passageiros a bordo.

 

As buscas pelo avião desaparecido da Malaysia Airlines continuam numa uma área estimada em 60 mil quilómetros quadrados (cerca de dois terços da área do território continental português), no sul do oceano Índico.

 
As 47 páginas de dados em bruto recolhidos pela operadora de satélites britânica Inmarsat vêm dar algum alento aos familiares das vítimas do voo MH370, na sua maioria chineses, que há semanas reclamavam por mais informação.

 
O documento do Departamento Malaio da Aviação Civil foi divulgado no próprio dia em que o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, inicia uma visita oficial de seis dias à China. Mas ainda não houve qualquer comentário das autoridades malaias sobre o conjunto de informações divulgadas, que incluem os sinais eletrónicos emitidos hora a hora pelo avião depois de a sua imagem ter desaparecido dos radares civis .

 
Os dados revelados esta terça-feira dão mais força à tese do avião se ter despenhado no oceano Índico, devido a uma falha de combustível enquanto voava para sul. Uma hipótese que tinha sido avançada na véspera pela Autoridade de Transportes da Austrália, responsável pelas buscas no sul do oceano Índico.

 
Sobre o relatório australiano, o “The Wall Street Journal” adiantou que a última comunicação do avião com o satélite não coincide com as transmissões regulares. Um desfasamento que poderá ser explicado pela possibilidade de o sistema elétrico estar a reiniciar devido à falta de combustível nos motores.

 
Buscas continuam no Sul do Oceano Índico

 
Com base na análise dos último sinais eletrónicos emitidos pelo avião, os peritos australianos continuam a acreditar que o avião se terá despenhado numa zona remota do sul do Índico, a cerca de 25 milhas náuticas do último sinal rádio emitido.

 
As buscas pelo avião continuam numa uma área estimada em 60 mil quilómetros quadrados (cerca de dois terços da área do território continental português). Nos próximos dias, o navio australiano “Ocean Shield” deverá abandonar as buscas. O rastreio do fundo do oceano à procura dos destroços do Boeing 777 da Malaysia Arlines vais ser continuado pelo navio chinês “Zhu Kezhen”.

 
FOTO: Getty Images
Helder C. Martins

 

 

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica

Possíveis consequências do pacto assinado com potências movimentam o xadrez diplomático da região.

 

A partir da esquerda) O chanceler iraniano, Mohamed Zarif; a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton; o secretário de Estado americano, John Kerry; e o chanceler francês, Laurent Fabius, comemoram em Genebra.

 

O acordo sobre o programa nuclear iraniano anunciado no último fim de semana ainda é preliminar, mas já permite algumas previsões sobre como ficará o xadrez político na problemática região. O pacto de seis meses foi negociado entre o grupo 5+1, formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, China, Grã-Bretanha e Rússia) mais a Alemanha, e a república islâmica. Neste período, a proposta é chegar a um documento mais abrangente, que envolva de fato o desmantelamento de instalações que podem ser usadas para a fabricação da bomba atômica – e não apenas uma desaceleração do programa nuclear, prevista no acordo atual, em troca do alívio de parte das sanções econômicas impostas ao Irão.

 

 

De imediato, o pacto desagradou Israel e Arábia Saudita, inimigos do Irão que ficaram desapontados com o aliado Estados Unidos. Descrentes de que o regime dos aiatolás vá cumprir as exigências do documento atual ou negociar algo mais abrangente, os dois países também veem reduzida sua influência sobre o governo americano e temem um fortalecimento da república islâmica na região.

 
O analista Elbridge Colby, consultor membro da empresa de consultoria CNA e ex-conselheiro da Secretaria de Defesa dos EUA, afirma que as preocupações de Israel e dos países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, vão além do programa nuclear iraniano. “Eles temem que o Irão esteja buscando alcançar a hegemonia regional. Estas nações do Oriente Médio estão muito preocupadas com o apoio do Irão a Assad e com as ligações de Teerão com o Hezbollah. Assim, entre os protagonistas da região, há uma pergunta: ‘O acordo vai permitir ou prejudicar a capacidade do Irão de dar sequência a seus objetivos?’ Eu não tenho resposta para essa questão”, disse ao site de VEJA.

 
Possíveis consequências do acordo

 
O professor de política do Oriente Médio, F. Gregory Gause III, citado em reportagem da revista Time (leia a íntegra, em inglês), vai na mesma linha ao dizer que o temor dos sauditas não é apenas com a arma atômica, mas com uma espécie de reabilitação internacional do Irão que provoque uma mudança no equilíbrio geopolítico que enfraqueça a posição da Arábia Saudita como o país mais influente na região. “Eles temem que o acordo seja um prelúdio de um arranjo entre iranianos e americanos que vai deixar o Irão como poder dominante no Líbano, na Síria e no Iraque”.

 
Síria – Atualmente, sauditas e iranianos travam uma corrida para fornecer armas para os atores da guerra civil na Síria, com os primeiros ao lado dos rebeldes e o Irão apoiando o ditador Bashar Assad. O aumento da influência do Irão no explosivo cenário da região se fez sentir na semana passada, quando terroristas realizaram um atentado contra a embaixada do país no Líbano, em represália ao apoio dado ao ditador e ao grupo terrorista Hezbollah, rival da facção responsável pelo ataque – que, por sua vez, é ligada à Al Qaeda.

 
Questões sobre o acordo nuclear com o Irão

 

 

Como é o acordo a que as nações assinaram?

 
É um acordo preliminar antes da assinatura de um acordo definitivo, descrito como “limitado, temporário e reversível”. Ele tem duração de seis meses e a Casa Branca afirma que inclui “limitações substanciais que ajudarão a prevenir que o Irão crie uma arma nuclear”. Em resumo, o Teerão se comprometeu a não enriquecer urânio acima da concentração de 5% durante seis meses e neutralizar todo seu estoque do material enriquecido a quase 20%, patamar próximo do limite para o uso bélico. Em troca, as nações concordaram em liberar algo entre 6 e 7 bilhões de dólares iranianos retidos no exterior. O acordo não inclui o setor petrolífero e o Irão segue proibido de exportar petróleo para a maioria dos grandes compradores mundiais. O acordo preliminar visa desacelerar o programa nuclear iraniano enquanto as nações negociam um pacto mais amplo.

 

 
Como é o acordo a que as nações assinaram?

 
É um acordo preliminar antes da assinatura de um acordo definitivo, descrito como “limitado, temporário e reversível”. Ele tem duração de seis meses e a Casa Branca afirma que inclui “limitações substanciais que ajudarão a prevenir que o Irão crie uma arma nuclear”. Em resumo, o Teerão se comprometeu a não enriquecer urânio acima da concentração de 5% durante seis meses e neutralizar todo seu estoque do material enriquecido a quase 20%, patamar próximo do limite para o uso bélico. Em troca, as nações concordaram em liberar algo entre 6 e 7 bilhões de dólares iranianos retidos no exterior. O acordo não inclui o setor petrolífero e o Irão segue proibido de exportar petróleo para a maioria dos grandes compradores mundiais. O acordo preliminar visa desacelerar o programa nuclear iraniano enquanto as nações negociam um pacto mais amplo.

 
Quais são as outras obrigações do Irão?

 
O Irão também não deverá parar a construção de novas centrífugas atômicas e centros de enriquecimento de urânio. Os iranianos ainda terão de congelar os trabalhos em seu reator de água pesada em Arak, ao sudeste de Teerão. Esse reator pode ser usado como fonte de fabricação de plutônio – outro material que poder ser usado para fabricação de armas nucleares.

 
Por que o enriquecimento de urânio deve ser reduzido à concentração de até 5%?

 
Teerão afirma que enriquece urânio para fins pacífico e para suprir necessidades energéticas. O combustível usado para gerar eletricidade em plantas nucleares é o urânio enriquecido a 5%.

 
Quais são as sanções que o Irão enfrenta?

 
O Irão sofre sanções comerciais e financeiras da ONU, dos EUA e da União Europeia (EU) e de outros países, como Canadá, China e Israel. Esse acordo refere-se exclusivamente às sanções dos EUA, da ONU e da UE. Saiba mais sobre as sanções.

 
Por que outros países não enfrentam tantas sanções?

 
Índia e Paquistão não são signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e isso explica, em parte, o fato deles não sofrerem sanções. O Irão assinou o tratado e por isso seu programa deveria ser unicamente para fins pacíficos e constantemente vistoriado pela comunidade internacional e pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Mas, desde a revolução de 1979, aumentou a preocupação de que o Irão possa enriquecer urânio e fabricar armas nucleares.

 
Obama terá condições políticas internas de levar adiante o acordo?

 
Esse acordo, especificamente, não precisa ser submetido ao Congresso americano, pois é um tratado internacional, assinado sob o âmbito das Nações Unidas. Mas Obama já enfrenta críticas de democratas e republicanos contrárias ao acordo. Parlamentares americanos inclusive já manifestaram desejo de ampliar as sanções americanas contra o Irão.

 
Os setores iranianos ultraconservadores vão apoiar o acordo?

 
A Guarda Revolucionária, setor conservador das Forças Armadas, e clérigos muçulmanos já manifestaram críticas contra o acordo. O líder supremo aiatolá Khamenei, no entanto, considerou o acordo um “sucesso”. O Irão precisa urgentemente de dinheiro para reativar sua economia estrangulada.

 
Quando o Irão iniciou seu programa nuclear?

 
O Irão lançou seu programa nuclear em 1957, com o apoio dos Estados Unidos. À época, o xá Reza Pahlavi era aliado dos EUA. Na década de 1970, o programa nuclear iraniano ganhou força. Em 1979, houve a Revolução Islâmica e a deposição de Pahlavi, com isso os EUA retiraram o apoio ao Irão.

 
O Irão é o único país que mantém um programa nuclear?

 
Não. Sete nações têm armas nucleares declaradas: EUA, França, Rússia, Grã-Bretanha, China, Índia e Paquistão. Israel nunca confirmou oficialmente ter armas nucleares, embora a Federação de Cientistas Americanos estime que tenha cerca de 80 ogivas. A Coreia do Norte já conduziu testes nucleares e com mísseis balísticos. A comunidade internacional receia que os norte-coreanos estejam próximos de fabricar um míssil nuclear, mas não há confirmação oficial da real capacidade bélica de Pyongyang. Quanto à energia nuclear, mais de 30 países a utilizam, ente eles, o Brasil.

 
O programa nuclear iraniano é uma grande ameaça?

 
Sim, pois o Irão já manifestou aspirações de dominar o Oriente Médio por meio da força e da intimidação. Há mais ou menos dez anos, inspetores da AIEA anunciaram ter achado traços de urânio altamente enriquecido em uma planta em Natanz, possivelmente fruto de pesquisas para fazer uma bomba atômica. O Irão parou temporariamente com o enriquecimento, mas começou novamente em 2006.

 

 

Teerão é hoje, ao lado da Moscou, o principal apoiador do regime Assad, fornecendo armas e apoio logístico. Mas a ajuda ao ditador, que superaria centenas de milhões de dólares por mês, segundo analistas, teria se tornado um peso excessivo para o combalido tesouro iraniano. “Os combates na Síria são dispendiosos e cansativos para o Irão e para a Rússia. Eles adorariam se livrar desse fardo”, afirmou ao site de VEJA John Tirman, diretor executivo do Centro de Estudos Internacionais do MIT. Para ele, se o Irão se tornar uma presença construtiva nas reuniões em Genebra sobre a Síria, aumentam as possibilidades de remoção de Assad e construção de um novo governo. Ainda que a queda do regime não seja garantia de fim dos problemas na Síria, uma vez que as forças anti-Assad estão infiltradas por jihadistas, e um cenário de guerra civil entre as facções rebeldes não possa ser desconsiderado.

 
Tirman avalia que o acordo preliminar fechado com a república islâmica tem potencial limitado, mas é positivo. Para ele, a rejeição ao documento pode aumentar a tensão na região. “Se o governo de Israel e as monarquias do Golfo Pérsico continuarem se opondo ao atual acordo provisório e tentando inclusive anulá-lo, essas ações podem provocar um dramático realinhamento de forças. Turquia, Iraque e Irão poderiam se aproximar novamente – especialmente se os conflitos na Síria chegarem ao fim. As monarquias do Golfo e Israel ficariam ainda mais isoladas no mundo árabe, provocando uma situação de maior tensão”.

 
Reequilíbrio de poder – Em artigo publicado no site da companhia americana de análise estratégica Stratfor, George Friedman afirma que os EUA não estão abandonando seus aliados Israel e Arábia Saudita ao fechar o acordo com o Irão. Considera, no entanto, que os termos do relacionamento podem estar mudando: “A mudança é que o apoio dos EUA se dará em um contexto de balanço de poder, particularmente entre Irão e Arábia Saudita. (…) O balanço de poder mais natural é sunitas versus xiitas, árabes versus iranianos. O objetivo não é a guerra, mas cada lado ter força suficiente para paralisar o outro” (leia a íntegra, em inglês).

 

 

Friedman lembra que um dos temores dos sauditas está relacionado à substancial minoria xiita concentrada no leste do país e sua potencial afinidade com o Irão. Outra preocupação é o Iraque, pois os sauditas não querem um estado xiita pró-iraniano em sua fronteira norte. Mas o Irão pediu a colaboração americana exatamente para evitar o surgimento de um governo contrário à república islâmica no Iraque.

 
O cenário é intrincado e há muitos interesses envolvidos, de forma que, nos próximos seis meses, os negociadores do que pode vir a ser um acordo definitivo serão observados de perto. Se fechar o pacto preliminar já foi tarefa árdua – foram dez anos de impasse até se chegar ao texto anunciado no último domingo – as dificuldades devem se multiplicar de agora em diante.

 
O caminho do programa nuclear iraniano

 
O Irão deu muitos passos rumo à bomba atômica nas últimas décadas – e nenhum sinal de que pretende recuar em seu programa nuclear, como exige o Ocidente. Confira os principais fatos:

 
Década de 1950

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica2
Liderado pelo xá Reza Pahlevi, o Irão dá início ao programa nuclear do país. Em um acordo com os EUA, fechado no contexto do programa de Dwight Eisenhower denominado ‘Átomos para a Paz’, o governo americano se comprometeu a fornecer um reator de pesquisa nuclear para Teerão e usinas de energia.

 
Década de 1950

 
1 de julho de 1968

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica3

Após o reator de pesquisa fornecido pelos americanos entrar em atividade em 1967, o Irão se torna a 51ª nação a assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Com a assinatura, Teerão concorda em nunca utilizar a energia nuclear para a fabricação de bombas.

 

 
Início da década de 1970

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica4

 

Em 1973, o xá Pahlevi cria a Organização de Energia Atômica do Irão, cuja finalidade era treinar mão de obra para trabalhar nas usinas e manter acordos nucleares com países como Estados Unidos, França, Alemanha Ocidental e África do Sul. Com o treinamento de engenheiros no Irão e no exterior, o país ganha um sólido conhecimento sobre tecnologias nucleares.

 
Um ano depois, a Kraftwerk Union, companhia da Alemanha Ocidental, se dispõe a construir dois reatores para produção de energia nuclear no complexo de Bushehr, ao sul de Teerão. As obras têm início em 1974, mas o contrato só é assinado em 1976. No fim da década de 1970, os EUA passam a demonstrar preocupações com a possibilidade de o Irão nutrir a ambição de construir armas nucleares.

 
1979

 

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Manifestantes seguram cartazes do Aiatolá Khomeini após a partida do xá Reza Pahlevi do Irão, em 1979
Ano da revolução que acabou com a ditadura do xá Pahlevi, aliado dos Estados Unidos. O primeiro-ministro Shahpur Bakhtiar assume o poder e cancela um contrato de 6,2 bilhões de dólares para a construção de duas usinas nucleares no complexo de Bushehr. Os Estados Unidos também cancelam o contrato para fornecimento de urânio enriquecido a Teerão, que havia sido firmado no ano anterior.
Em fevereiro, o premiê é deposto por seguidores do aiatolá Ruhollah Khomeini, um clérigo exilado, após conflitos sangrentos em Teerão. Khomeini instalou uma teocracia no país e muitos especialistas em energia nuclear fugiram do Irão. A crise dos reféns na embaixada americana, entre novembro de 1979 e janeiro de 1981, acaba com qualquer cooperação bilateral.

 

 
Década de 1980

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica6
O aiatolá Ali Khamenei

 
A guerra entre Irão e Iraque, que ocorreu entre 1980 e 1988, leva o aiatolá a retomar secretamente o programa nuclear iraniano. Ele solicita apoio de aliados alemães para completar a construção no complexo de Bushehr, danificado por bombardeios durante guerra.

 
No fim da década de 1980, o engenheiro Abdul Qadeer Khan, que chefiou o programa nuclear do Paquistão, vende a tecnologia para Irão, Coreia do Norte e Líbia.

 
Em 4 de junho de 1989, o aiatolá Ali Khamenei, presidente do país durante oito anos, se torna o líder supremo do Irão após a morte de Khomeini.

 
Década de 1990

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica7

 

Em 1995, o Irão anuncia a assinatura de um contrato de 800 milhões de dólares com a Rússia para o término da construção dos dois reatores de água leve no complexo de Bushehr. O projeto só foi concluído em 2010. Enquanto isso, os Estados Unidos tentam convencer países como a Argentina, Índia, Espanha, Alemanha e França a proibirem a venda de tecnologia nuclear para Teerão.

 
Com os crescentes indícios coletados pela inteligência americana de que Teerão tentava desenvolver uma bomba atômica, o presidente Bill Clinton assinou em 1995 as primeiras sanções contra companhias estrangeiras que estivessem investindo no Irão. Tais regras já eram aplicadas a empresas americanas.

 
Em maio de 1999, o presidente Mohammed Khatami visita a Arábia Saudita, tornando-se a primeira autoridade iraniana a fazer uma viagem ao mundo árabe desde 1979. Ele apoia uma proposta para tornar o Oriente Médio livre de armas nucleares. Em 2003, o Irão apoiaria uma iniciativa semelhante iniciada pela Síria.

 
Primeira metade dos anos 2000

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica8
Usina nuclear de Natanz

 
Em 2002, um grupo dissidente iraniano conhecido como M.E.K obtém e divulga documentos revelando um programa nuclear clandestino que inclui uma vasta usina em Natanz e outra em Arak. No mesmo ano, o Irão concorda com inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. Entre 2003 e 2005, período em que o atual presidente Hassan Rohani conduziu as negociações nucleares do Irão com o Ocidente, o Irão prometeu à Inglaterra, França e Alemanha uma pausa no enriquecimento de urânio. A suspensão temporária foi usada para instalar sorrateiramente equipamentos na usina de Isfahan e aumentar o número de centrífugas na planta de Natanz, como o próprio Rohani admitiu em entrevista a um jornal iraniano, em 2011.

 
3 de agosto de 2005

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica9

 

O engenheiro Mahmoud Ahmadinejad é eleito para suceder Mohammed Khatami na Presidência. Entre 1997 e 2005, Khatami tentou implementar reformas no país, mas foi tolhido pelos aiatolás. Ahmadinejad, por sua vez, recolocou o país nos trilhos do fanatismo mais intransigente.

 

 

2006

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica10

 

A AIEA aprova em janeiro uma resolução para denunciar o programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança da ONU, citando “falta de confiança” entre os membros da agência de que “o programa nuclear iraniano é destinado exclusivamente para fins pacíficos”. Desafiando a perspectiva de sanções serem aplicadas contra o país, Ahmadinejad inaugurou formalmente a usina de Arak, a 250 quilômetros de Teerão, onde atualmente um reator de água pesada está sendo construído. A usina deve entrar em plena atividade em meados de 2014, quando será capaz de produzir plutônio para armas nucleares. Em dezembro de 2006, o Conselho de Segurança aprova por unanimidade um pacote de sanções contra o Irão, proibindo a importação e exportação de materiais e tecnologia usados no enriquecimento e reprocessamento de urânio e na produção de mísseis balísticos.

 
2009

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica11
A então secretária de Estado Hillary Clinton anuncia que os Estados Unidos vão participar das negociações com o Irão, que já envolvem outros cinco países: Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia. No ano anterior, os EUA tinham enviado um representante para uma reunião que terminou sem avanços, com o Irão negando-se a ceder em um ponto fundamental: a exigência de interromper o enriquecimento de urânio. Qualquer semelhança com o estágio atual das negociações entre o Irão e o grupo que ficou conhecido como 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) não é mera coincidência.

 
2010

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica12
Inspetores da ONU admitem pela primeira terem coletado indícios de que o Exército do Irão trabalhou para produzir bombas nucleares. O Conselho de Segurança da ONU também eleva as sanções contra o Irão, limitando compras, trocas e transações financeiras das autoridades responsáveis por controlar o programa nuclear. Os países membros dão o aval para que a comunidade internacional inspecione navios e aviões suspeitos de infringir o embargo. O Irão também é impedido de investir em usinas nucleares de outros países, minas de urânio e tecnologias relacionadas. Um comitê é criado para monitorar as sanções.

 

 

Também em 2010, um vírus de computador, o Stuxnet, verdadeira arma de guerra digital, infectou as máquinas da usina de Natanz e aumentou a velocidade das centrífugas, destruindo o motor de 1 000 delas. Os ataques cibernéticos ocorreram depois que Estados Unidos e Israel perceberam que o programa de sabotagem iniciado dois anos antes e introduzido na planta de Natanz estava disponível na Internet e sendo replicado rapidamente.

 
2011

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica13
Yukiya Amano, diretor-geral da AIEA
Novas sanções contra o banco central do Irão e bancos comerciais praticamente excluem o país do sistema financeiro internacional. Os EUA também impõem sanções contra companhias envolvidas no programa nuclear iraniano, além de limitar o comércio de indústrias petroquímicas e de combustível.

 
Em dezembro, um drone clandestino da CIA, RQ-170 Sentinel, cai perto da cidade iraniana de Kashmar, na fronteira com o Afeganistão. A aeronave tinha a finalidade de flagrar qualquer tentativa iraniana de construir uma nova usina nuclear. O Irão alega que o Exército derrubou a aeronave não tripulada, enquanto os EUA dizem que a queda foi causada por problemas técnicos.

 
2012

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica14

 

Mãe do cientista nuclear Mostafa Ahmadi Roshan lamenta sua morte.

 
Em janeiro, dois sujeitos de capacete preto realizaram um atentado a bomba contra o carro em que estava o Mostafa Ahmadi Roshan, diretor da usina de enriquecimento de urânio de Natanz. Ele foi o quinto especialista do programa nuclear iraniano a ser atacado em circunstâncias misteriosas, em um período de dois anos. Apenas um escapou. Os indícios apontam para a ação de agentes de Israel, país que mais tem a temer uma bomba atômica nas mãos do Irão. Ainda no primeiro semestre, o Irão anuncia a construção de 3 000 centrífugas para enriquecimento de urânio na usina de Natanz.

 
Um embargo ao petróleo iraniano imposto pela União Europeia entra em vigor em julho. Em retaliação, o Irão anuncia que pretende interromper o tráfego no Estreito de Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico. Em outubro, o rial, a moeda iraniana, despenca 40%, em decorrência das sanções impostas ao país. A moeda perde quase metade de seu valor no ano. Enquanto isso, a União Europeia reforça as sanções contra o país, proibindo negociações de indústrias nas áreas de finança, metal e gás natural.

 
2013 – Pré-eleições

 

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Saeed Jalili, então negociador nuclear do Irão: sem avanços
Uma nova rodada de negociações com o grupo 5+1 termina sem avanços. Mas as seis potências concordam em permitir que o Irão mantenha um pequeno montante de urânio enriquecido a 20% – que pode ser convertido para o grau de fabricação de bombas com um simples processo adicional – para uso em um reator de produção de isótopos médicos.

 
As vendas de petróleo do país caem pela metade em decorrência da pressão internacional e restrições a transações financeiras.

 
Em março, o presidente Barack Obama afirma que o Irão demoraria mais de um ano para desenvolver uma arma nuclear. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que Israel tem “diferentes vulnerabilidades” e precisa fazer seus próprios cálculos em relação à ameaça nuclear do Irão.

 
2013 – Rohani presidente

 

Acordo com Irão baralha as cartas da geopolítica15

A eleição do clérigo Hassan Rohani em junho foi apressadamente festejada como a de um político moderado, habilitado a conter o anseio dos aiatolás de construir uma bomba atômica. Ele tomou posse em agosto e adotou um discurso de conciliação, defendendo o diálogo com o Ocidente, mas sem dar qualquer sinal de que vá ceder nas negociações. Em um aguardado discurso na Assembleia Geral da ONU, deixou claro que o país não tem pretensões de abandonar o processo – que, contra todas as evidências, o Irão continua a afirmar que tem objetivos pacíficos. Rohani destacou que a aceitação “do direito inalienável do Irão” em enriquecer urânio é “o melhor e mais fácil” caminho para resolver a questão.

 

 

Dias depois, Obama e Rohani tiveram uma conversa por telefone, a primeira entre os presidentes dos dois países em 34 anos. Apesar da disposição demonstrada pelo presidente iraniano, é bom lembrar que a palavra final sobre as principais questões do país ainda é dada pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khomeini.

 
FOTO: Diego Braga Norte e Jean-Philip Struck
Veja – Abril

 

 

 

 

Batalha de Pedroso perdida em 1071

27/08/2014

 
O Condado Portucalense

 

A Batalha de Pedroso ocorreu a 18 de Janeiro de 1071 perto da freguesia de Mire de Tibães.
Nuno Mendes, então conde de Portucale, não conseguiu conter Garcia II da Galiza, perdendo a vida e a batalha, apesar de só terem perecido 25 dos seus 100 guerreiros, e 60 dos 300 que compunham as hostes de Garcia II. Nuno Mendes era o último descendente conhecido (6ª.Geração) de Vímara Peres.

 

Vale a pena fazer um breve resumo sobre este famoso Vímara Perez:
Depois da invasão no ano 711, onde os cristãos foram derrotados pelos muçulmanos na fatídica batalha de Guadalete, será talvez, desde que começou a reconquista cristã, o primeiro nome a entrar nos primórdios da nossa nacionalidade. Não será o pai da Nação, longe disso, essa honra pertence a D.Afonso Henriques, mas antes de haver Portugal de forma jurídica e de papel passado, como se diz na gíria, existia já um Condado que tinha gente, e gente de elevada qualidade como é o caso de Vimara Peres e seus descendentes, onde se incluía a não menos famosa Condessa Mumadona Dias, sua sobrinha neta. Esta, por sua vez, era tia do Rei Ramiro II.

 
Ramiro II reveste-se ainda de particular importância para a história portuguesa – trata-se do primeiro rei a intitular-se (ainda que por breve período – entre 925, ainda em disputas com o irmão Afonso IV, e 931, um ano após a subida ao trono) de rei de terra portucalense – reconhecimento pleno da existência de uma terra portucalense, que já se vinha firmando desde 868 com a conquista de Vímara Peres e a formação da sua casa condal à frente dos destinos da mesma.

 

Batalha de Pedroso perdida em 1071-2

 
O caro leitor vai desculpar-me. Comecei pela Batalha de Pedroso perdida por Nuno Mendes, e a conversa descambou para o seu 6º. avô Vimara Peres, passando, ainda que de forma ligeira, pela Condessa Mumadona Dias e acaba no Rei Ramiro II.

 
Felizes somos nós portugueses por termos uma história tão longa e cheia de factos ilustres e gloriosos! (pena são os tempos actuais…)

 

Voltemos então ao Vímara;

 

Era um senhor da guerra da segunda metade do século IX do noroeste da Península Ibérica. Nascido na Galiza provavelmente no ano 820 e vassalo de Afonso III das Astúrias, foi enviado a reclamar o vale do Douro – em tempos remotos integrado na província romana da Galécia.

 

Vímara Peres foi um dos responsáveis pela repovoação da linha entre o Minho e Douro e, auxiliado por cavaleiros da região, pela acção de presúria do burgo de Portucale (Porto), que foi assim definitivamente conquistado aos muçulmanos no ano de 868 e o governou até 873.

 

Vímara Peres foi também o fundador de um pequeno burgo fortificado nas proximidades de Braga, Vimaranis (derivado do seu próprio nome), que com o correr dos tempos, por evolução fonética, se tornou na actual cidade de Guimarães.

 

POR: HERMÍNIUS LUSITANO

 
Portugal Glorioso – Blog

 

 

Conquista do Império Inca pelos Espanhóis causou aumento brutal da Poluição Atmosférica

10/02/2015

 

A chegada dos conquistadores espanhóis à América do Sul, no século XVI, provocou a destruição do império Inca e despoletou o aumento dos níveis de poluição atmosférica a um ponto apenas superado no século XX.

 
De acordo com um estudo da Universidade do Ohio, nos Estados Unidos, o gelo dos glaciares do Querlccaya, no Peru, demonstra a existência de uma grande variedade de elementos entre os anos de 793 e 1989, incluindo chumbo, bismuto e arsénico. Esta recolha foi feita para registar a história da indústria mineira e metalúrgica da América do Sul.

 
Estes elementos podem ser emitidos para a atmosfera durante a extracção de vários metais. Para verificar os dados do núcleo de gelo, os investigadores da Universidade de Ohio, liderados por Paolo Gabrielli, comparam-no com outros registos ambientais, tais como turfas recolhidas na Tierra del Fuego e neve da região de Coats Land, na Antárctida.

 
Os níveis destes elementos eram pequenos antes da ascensão do Império Inca, em meados do século XIII – havia algumas excepções, poucas, mas os investigadores atribuíram-nas às erupções vulcânicas do Andes.

 
Em 1480, de acordo com os registos do gelo, ocorreu a primeira alteração humana – um aumento dos níveis de bismuto. Nessa altura, os Incas estavam a expandir-se e começaram a utilizar depósitos de bismuto para produzir um novo tipo de liga de bronze – muitos destes artefactos foram encontrados em Machu Picchu.

 
Mas foi o final do Império Inca que trouxe o maior aumento da poluição atmosférica até à revolução industrial: após a conquista espanhola, em 1533, os níveis de crómio, molibdénio, antimónio e chumbo aumentaram bastante, provavelmente devido aos esforços espanhóis de procura por metais na região. A prata, por exemplo, foi extraída de um mineral chamado argentiferous galena, que também continha chumbo, e o processo de refinamento emitia pó metálico.

 
Os depósitos de metal cresceram até aos 1700 e permaneceram consistentes até 1830, quando começaram a decair. Durante as revoluções sul-americanas, os independentistas e os monárquicos destruíram maquinarias e infra-estruturas.
De acordo com o estudo, que foi publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, o começo da revolução industrial ditou um novo aumento na poluição atmosférica.

 
Foto: Miguel Vera León / Creative Commons

 
Sapo Notícias

 

 

 

 

Judaísmo em Chaves: A localização da judiaria flaviense

08/11/2014

 
No artigo anterior tentámos contextualizar a judiaria flaviense na geografia das judiarias existentes no reino, no início do século XIV, destacando o relevo que a mesma teria alcançado especialmente no contexto transmontano. Para suportar esta tese, lançamos mão dos impostos pagos pelos judeus flavienses e do facto de aí ter existido uma escola, para o estudo das sagradas escrituras, famosa em toda a comunidade científica. Só uma comunidade judaica culta, financeiramente desafogada poderia suportar tamanhos encargos materiais.

 
Acresce que este desafogo financeiro irá ser confirmado mais tarde, pelo menos em duas ocasiões. Num primeiro momento, logo no início de 1497, quando lhes pareceu ser possível, através de “suborno”, protelar a aplicação das ordens do rei relativas à apropriação da sinagoga e das alfaias litúrgicas; mais tarde, em 1631, quando contribuíram, com maior verba que qualquer comunidade, para levantamento de um padrão, mas destes temas falaremos oportunamente.
Hoje, proponho-me tentar responder à seguinte questão: onde se localizaria a comuna judaica flaviense e a célebre escola onde se explicavam as sagradas escrituras? No estado atual das investigações, não se pode dar uma resposta concreta, apenas podemos formular uma hipótese.

 
Depois da expulsão (ou conversão forçada ao cristianismo) das minorias religiosas, deixou de haver, pelo menos oficialmente, judeus em Portugal e, como tal, tudo aquilo que fossem símbolos, templos e nomes que lembrassem os seguidores da Lei de Moisés foram eliminados. Em Chaves também assim foi, daí que não se possa afirmar, com total segurança, que a judiaria e os edifícios associados ao seu funcionamento se localizassem exatamente aqui ou ali; mas, pelos indícios existentes, que me parecem relevantes, podemos dizer, sem grande margem de erro, onde se localizaria a judiaria e o seu templo agregador, a sinagoga.

 

 

No final da Idade Média e princípio da Idade Moderna, a vila de Chaves encontrava-se ainda encerrada entre muralhas e tinha apenas quatro ruas principais (Rua da Cadeia – atual Rua Bispo Idácio –, Rua Direita, Rua de Santa Maria e Rua Nova) e algumas travessas que faziam a ligação entre aquelas, situação que se mantinha ainda no século XVIII. Neste século, como se constata por gravuras de Chaves daquela época, as casas que existiam fora da cerca amuralhada eram pouquíssimas.

 
Em muitas localidades do Reino, a rua onde se localizava a comuna judaica, depois da expulsão dos judeus, passou a chamar-se Rua Nova ou Bairro Novo [no Porto, em Lisboa, Castelo Branco, (…) não foi assim]. Em Chaves, a atual Rua General Sousa Machado foi a Rua Nova, pelo menos, durante quatro centúrias, até início do século XX. Nela existe uma casa que faz esquina com a Rua Luís Pires de Viacos e se distingue das demais pela sua estrutura arquitetónica e, sobretudo, pela frontaria, e que tudo indica que seja a antiga sinagoga, centro nevrálgico e aglutinador da judiaria, que desempenhava nesta as mesmas funções da igreja no concelho cristão. Aquela, depois da expulsão/conversão da minoria judaica, foi transformada numa capela em honra de Nossa Senhora da Conceição, que, como refere Tomé de Távora Abreu, se situava na Rua Nova, ali perto do Postigo da Manas. Por outro lado, sabe-se que os judeus tinham por hábito marcar as ombreiras das portas e janelas com o símbolo do Deus único de Israel, a estrela de seis pontas, que costuma designar-se de Estrela de David.

 

 

Acontece que depois da conversão (voluntária ou não) dos judeus ao cristianismo, estes, para que não restassem dúvidas sobre a sua nova condição religiosa, desenharam a cruz de Cristo na entrada das suas casas. Algumas dessas marcas, embora de difícil observação devido à erosão, ainda podem ser vistas nas ombreiras de algumas habitações na atual Rua General Sousa Machado (antiga Rua Nova que começava junto à cerca do castelo e à capela da Misericórdia e desembocava no Postigo da Manas, aberto na alta muralha, com acesso direto ao arrabalde de baixo). Ali perto, do lado esquerdo do Postigo da Manas, quem está voltado para norte, existe o baluarte do Cavaleiro, em honra do fidalgo Gaspar Queiroga, provedor da vila em cortes, de possível origem judaica, e que residia ao lado da judiaria, segundo o Abade de Baçal. Acresce ainda que a Rua Nova (Antiga Rua da Judiaria?) “deve ter marcado na época uma das vias de maior movimento comercial do burgo” (Júlio M. Machado, 2006, p. 226), o que faz jus à tradicional predileção das gentes de origem judia para lidar com as atividades mercantis. Os judeus flavienses, e os seus descentes cristãos-novos, fizeram do trato comercial (fossem tratantes, mercadores e tendeiros) a sua atividade favorita.

 
Quando a Câmara Municipal de Chaves atribuiu (e bem!) a uma rua (antiga Travessa de Santa Maria) o nome de Luís Pires de Viacos, segundo Firmino Aires, outro motivo não teve senão transmitir aos vindouros um facto histórico da vida judaica na vila de Chaves. Ora, a Luís Pires de Viacos foram atribuídas as rendas do Genesim (este nome advém do primeiro livro da Bíblia, o Genesis) de Chaves, a tal escola onde os rabis e eruditos da Lei, depois das orações da manhã e da tarde, iam fazer preleções sobre o Pentateuco e o Talmude, no valor de 3000 réis. A sinagoga era o local de oração, mas também podia servir para aí reunir a comunidade, ser escola e tribunal. Para o “Povo do Livro” a instrução era fundamental, daí que em todas as judiarias tivessem uma escola que poderia ter instalações próprias ou que então se poderia servia da sinagoga.

 

 

O Genesim de Chaves, provavelmente, tinha instalações próprias, pois só assim poderia alcançar o nível que o notabilizou entre a comunidade judaica e atualmente entre a comunidade científica. Mas onde se localizaria esta escola? O estado atual da questão não nos permite ainda esclarecer esta dúvida. Contudo, tudo aponta para que a mesma se localizasse no edifício anexo à sinagoga, com serventia para a atual Rua Luís Pires de Viacos por duas portas ali existentes, e que faz parte do mesmo conjunto arquitetónico.

 

 
Para a localização da judiaria, nesta área da vila medieval, concorre também a existência de um poço ali nas imediações (atual Rua do Poço) e o acesso privilegiado às nascentes das caldas, pois a existência de água perto era muito importante tanto para as abluções rituais, como para preceitos higiénicos que os judeus tanto prezavam, em contrate com a maioria cristã.

 

 
Depois, a judiaria deveria localizar-se perto dos templos cristãos para que, através da prédica e do exemplo, os judeus se convertessem à fé de Cristo – o proselitismo apenas era permitido à maioria cristã.

 
Para além de poderem professar livremente a religião mosaica, os judeus tinham direito a possuir cemitério próprio, geralmente no exterior das muralhas, mas, até ao presente, não é possível ter a mínima ideia onde se localizaria. Contudo, sabemos que os cemitérios judaicos foram apropriados e doados a entidades públicas e privadas e, algumas vezes, as pedras das campas e as cabeceiras dos jazigos utilizadas em construções de todo o tipo, como hospitais e templos.

 

 

Ora, segundo Júlio Montalvão Machado, a Igreja Matriz de Chaves sofreu obras de ampliação e restauro durante o século XVI, as quais incluíram a construção da nave central e da lateral esquerda. Não deixa de ser interessante constatar que na fachada lateral esquerda, do lado esquerdo da ombreira da porta lateral, junto ao solo, possa ser observada o símbolo judaico, uma estrela de seis pontas. Esta foi posta a descoberto aquando da realização das obras de restauro do pavimento do Largo do Pelourinho.

 

 

É provável que na construção da nave tenham sido utilizados materiais que pertenceram à antiga judiaria, pois não podemos equacionar que alguém, independentemente do seu credo religioso, afrontasse a toda-poderosa e conservadora Igreja Católica ali desenhando propositadamente tal símbolo.

 

 
Pelo que atrás foi referido, ainda que de modo simples, podemos afirmar, com alguma certeza, que a judiaria flaviense se localizava na parte sul da atual Rua General Sousa Machado, junto ao Postigo das Manas, e na Rua Luís Pires de Viacos. É claro que falta encontrar um documento escrito, se é que existe, que confirme esta aceção; no entanto, para esta interpretação concorre a tradição oral. No sentido de tentar esclarecer esta questão da localização exata da sinagoga, abordamos a atual ocupante do edifício que pensamos corresponder àquele templo.

 

 

Questionamos se sabia qual a importância daquela habitação para a História de Chaves. Respondeu-nos, enquanto estendia a roupa ao sol, que tinha consciência de morar numa casa com muita história, pois apareciam muitas pessoas, que não eram naturais da cidade e algumas vinham de longe (até do estrangeiro!), para a visitar, e sempre nos foi dizendo que aquela casa era a “igreja dos judeus”! Parece não restar dúvidas que estamos perante a antiga sinagoga flaviense, que o caro leitor vai, porventura, querer visitar sem mais delongas!

 

 

Urge potenciar esta zona da Medieval Vila de Chaves e integrá-la no roteiro turístico religioso, mormente através da inclusão na “rede das judiarias” que tão bons resultados têm proporcionado a outras localidades fronteiriças, com bem menos tradição judaica do que a velhinha Aquae Flaviae.

 
No próximo artigo iremos abordar a questão dos privilégios (individuais e coletivos) concedidos aos judeus flavienses na Baixa Idade Média.

 

Judaísmo em Chaves - A localização da judiaria flaviense4

Rua General Sousa Machado (ex- Rua Nova), rua onde se localizava a judiaria flaviense. Fotografia obtida a partir do Postigo das Manas.

 

Judaísmo em Chaves - A localização da judiaria flaviense2

A sinagoga flaviense (?), “a Igreja dos Judeus”.

 

Judaísmo em Chaves - A localização da judiaria flaviense3

 

Planta parcial da atual cidade de Chaves com localização provável da judiaria flaviense.

 

Artigo por:

Jorge-José-Alves-Ferreira-licenciado-em-História

 

Jorge-José-Alves-Ferreira

Licenciado em História
Mestre em- Estudos Portugueses Multidisciplinares
Especialização em História

 

 

 

Diario Digital

 

 

 

Cientistas descobrem na Argentina esqueleto de dinossauro ‘mais completo’

04/09/2014

 

 

Uma equipe de paleontólogos apresentou nesta quinta-feira um dinossauro gigantesco que viveu há 77 milhões de anos na Patagônia argentina, com o esqueleto “mais completo” encontrado até hoje.

 
Este novo dinossauro, descrito na revista Scientific Reports, pertence à família dos titanossauros – dinossauros herbívoros encontrados em grande número no período Cretácico Superior – na região em que esse fóssil foi descoberto em 2005, na província de Santa Cruz (sul). A Patagônia argentina é o local onde habitaram os maiores dinossauros da Terra.

 

Os cientistas estimam que o animal, que teria um pescoço muito comprido, media cerca de 26 metros de comprimento e pesava 60 toneladas. Seu esqueleto mostra também que quando morreu, ele ainda não teria parado de crescer.

 

Durante quatro sessões de escavações, entre 2005 e 2009, os palentólogos encontraram mais de 70% dos ossos, exceto os da cabeça, ou seja, mais de 45% do conjunto do esqueleto. Segundo os pesquisadores, é muito mais que os outros tiranossauros descobertos anteriormente.

 

Os cientistas também têm praticamente todos os ossos dos membros inferiores e superiores, incluindo um fêmur de 1,80 metro e um úmero. Isso permitiu descrever detalhadamente o animal e calcular de forma confiável suas impressionantes medidas.

 

Kenneth Lacovara, da universidade americana de Drexel (Filadélfia), coordenou a equipe que estudou o fóssil. Seus principais colaboradores foram Matthew C. Lamanna, do Museu Carnegie de História Natural (Pittsburgh) e Lucio M. Ibiricu, do Centro Nacional Patagônico, na província argentina de Chubut (sul).

 
Este dinossauro foi batizado de Dreadnoughtus schrani. “Dreadnought” significa “que não teme nada” em inglês antigo.

 
“Com um corpo do tamanho de uma casa, o peso de uma manada de elefantes e uma cauda usada como arma, o Dreadnoughtus não devia ter medo de nada”, explicou Lacovara.

 
A palavra “dreadnought” também é usada para designar um tipo de encouraçado desenvolvido no início do século passado.

 

O termo “schrani” é uma homenagem ao empresário Adam Schran, que apoiou as pesquisas.

 
“Os maiores titanossauros continuam a ser um mistério porque, em quase todos os casos, seus fósseis estão muito incompletos”, lembrou Matthew Lamanna.

 
A massa do Argentinosaurus, por exemplo, era comparável e até superior à do Dreadnoughtus, mas poucos ossos foram encontrados.

 
“Este é de longe o melhor exemplar que temos de todos os animais gigantescos que andaram alguma vez por este planeta”, declarou Kenneth Lacovara.

 
Para o estudo, o fóssil do Dreadnoughtus foi transferido para os Estados Unidos para ser analisado na universidade de Drexel e no Museu Carnegie de História Natural.

 
A universidade de Drexel indicou em um comunicado que o fóssil, que pertence ao governo federal argentino e deve permanecer na província de Santa Cruz, terá que ser devolvido ao Museu Padre Jesús Molina, em Río Gallegos, em 2015.

 
AFP – Agence France-Presse

 

 

 

 

 

Identificado Fóssil Da Possível Maior Ave Que Já Existiu

07/07/2014

 
Washington – Cientistas identificaram fósseis de uma ave que, com uma extensão de mais de sete metros da ponta de uma asa para a outra, pode ser o maior pássaro que já existiu na Terra, informou nesta segunda-feira a revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”.

 

Os fósseis foram encontrados em 1983 na Carolina do Sul (EUA) pelo voluntário James Malcom, do Museu de Charleston, durante escavações lideradas por Albert Sanders para a construção de um novo terminal do Aeroporto Internacional na cidade.

 

 

A criatura, batizada pelos cientistas como Pelagornis sandersi, provavelmente foi um planador extremamente eficiente, com asas longas e elegantes que o ajudavam a se manter no ar apesar de seu tamanho, segundo os pesquisadores.

 

A espécie era tão grande -duas vezes maior que o albatroz real, a maior ave conhecida até hoje- que os cientistas tiveram que retirar os fósseis com uma pá mecânica.

 

“Somente o osso superior da asa era mais longo que meu braço”, comentou Dan Ksepka, do Centro Nacional de Síntese Evolucionária em Durham, na Carolina do Norte.

 

“O Pelagornis sandersi pode ter viajado distâncias enormes quando cruzava as águas oceânicas em busca de suas presas”, acrescentou.

 

Os pesquisadores calculam que a ave viveu há entre 28 e 24 milhões de anos, isto é, depois da extinção dos dinossauros e antes dos primeiros seres humanos povoarem a Terra.

 
Os pássaros habitaram todas partes do mundo durante dezenas de milhões de anos, mas desapareceram há cerca de três milhões de anos, durante o período plioceno.

 
Os paleontólogos não determinaram a causa de sua extinção. Os fósseis do Pelagornis sandersi incluem ossos ocos e finos, patas curtas e asas enormes, por meio dos quais se pode deduzir que a ave não era muito elegante em terra mas provavelmente era no ar.

 

A questão enfrentada pelos cientistas era determinar como um animal cujas dimensões e peso excediam o máximo considerado possível para as aves voadoras podia levantar o voo e se manter no ar.

 

Com a utilização de modelos para computador, os cientistas concluíram que o Pelagornis sandersi provavelmente decolava correndo ladeira abaixo com o uso do vento ou aproveitando as correntes de ar, como fazem as asas-deltas.

 

Avanços na genética têm permitido sequenciar o genoma de animais extintos para trazê-los à vida novamente por clonagem. Mas é preciso um fóssil preservado para extrair DNA e uma espécie atual semelhante para a gestação.

 

Sapo Notícias

 

 

 

Nasa testará ‘disco voador’ com tecnologia para explorar Marte

28/06/2014

 

Nasa quer elevar capacidade máxima de carga de 1,5 tonelada para até 30, peso do equipamento exigido em missão tripulada. Nasa pesquisa formas de levar mais caraga à Marte para uma missão tripulada.

 
A Nasa, a agência especial americana, se prepara para testar uma espaçonave muito parecida com um disco voador.

 
Na verdade, o LDSD (sigla em inglês do Desacelerador Supersônico de Baixa Densidade) é uma amostra do tipo de tecnologia que a raça humana precisará para pousar em Marte.

 
O LDSD será lançado de uma altitude elevada a partir de um balão posicionado sobre o Havaí. Ele testará um novo tipo de paraquedas e um anel inflável de kevlar que pode ajudar a reduzir a velocidade da espaçonave quando ela se aproximar da superfície do planeta vermelho.

 
A Nasa diz que está tentando elevar a capacidade máxima de carga que pode ser levada para Marte da atual 1,5 tonelada para algo entre 20 e 30 toneladas,– o peso do equipamento que uma missão tripulada exige.

 
Ian Clark, pesquisador do LDSD, disse à BBC News: “Nós estamos testando tecnologias que nos permitirão pousar maiores e mais pesadas cargas úteis, de uma maior altitude e com mais precisão do que jamais fomos capazes”.

Nasa testará 'disco voador' com tecnologia para explorar Marte2
O teste acontecerá em uma base de testes da mísseis da Marinha americana em Kauai, no Havaí. Um balão de hélio levantará o LDSD a uma altitude de 35 quilômetros antes de soltá-lo. Um motor de propulsão a foguete deve então elevar o dispositivo a 55 quilômetros de altura a uma velocidade de Mach 4 (quatro vezes a velocidade do som).

 
Quando o LDSD começar a reduzir a velocidade, ele acionará seus dois novos sistemas de freios atmosféricos.

 
‘Donut’

 
O primeiro a ser acionado será o “donut”, um dispositivo inflável de seis metros. Ele aumentará o tamanho do veículo e como consequência a força de arrasto. Quando a velocidade cair para cerca de Mach 2,5, o paraquedas será acionado.

 
“O paraquedas supersônico que estamos testando é enorme”, diz Ian Clark. “Ele tem 30 metros de diâmetro; ele gera duas vezes e meia o arrasto de qualquer paraquedas anterior que mandamos a Marte”.

 

Nasa testará 'disco voador' com tecnologia para explorar Marte3
“Vamos levar o equipamento ao limite no qual os materiais dos quais o paraquedas é feito, nylon e kevlar, podem começar a derreter. Mas não sabemos, por isso vamos fazer esse teste”.

 
Se as estruturas se mantiverem intactas, o paraquedas deve soltar o LDSD no oceano em 45 minutos. O plano da Nasa é fazer um novo teste no ano que vem, com um anel e um paraquedas maiores.

 

A sonda Curiosity, de uma tonelada, é o maior objeto que já pousou em Marte até agora.

 
Acredita-se que essa capacidade de carga terá que ser muito aumentada para que astronautas possam receber todos os suprimentos e equipamentos necessários para sobreviver no planeta.

 
BBC

 

 

Japão apresenta primeiro robô pessoal que lê emoções humanas

09/06/2014

 

Pela primeira vez um computador convenceu o homem que era humano. Programa de computador criado por dupla russa e ucraniana passou no teste de Turing.

 
Um programa de computador que foi apresentado como Eugene Goostman, um ucraniano de 13 anos, conseguiu convencer um júri da Royal Society, em Londres, Reino Unido, que era uma pessoa. Esta é a primeira vez que um computador consegue convencer seres humanos de que é também um, através do teste de Turing. Eugene “enganou” o painel.

 

O teste de Turing foi criado em 1950 por Alan Turing, matemático britânico considerado o pai da informática, sendo considerado um trabalho pioneiro no domínio da inteligência artificial. No teste, um computador entra em conversa com um humano (que não sabe se está a comunicar com uma máquina ou não). O teste é superado se o humano não conseguir perceber se estava a comunicar com outra pessoa ou com um computador. Se o computador for confundido com um ser humano mais de 30% do tempo em que duram as conversações escritas de cinco minutos, passa no teste.

 
Apesar de já ter sido tentado por várias vezes que um computador se saia bem-sucedido na prova, isso nunca tinha acontecido até agora, segundo reclama a Royal Society, considerada a instituição mais importante para a ciência britânica.

 
No último sábado, a Universidade de Reading organizou o Teste Turing 2014, onde participaram cinco programas de computadores, entre eles Eugene, desenvolvido em 2001, em São Petersburgo, Rússia, pelo russo Valdimir Veselov e pelo ucraniano Eugene Demchenko. Durante o dia foram realizadas 300 conversas através do teclado entre os computadores e os elementos do júri e Eugene conseguiu passar por humano, enganando 33% dos elementos do júri.

 
“A nossa ideia era que ele [Eugene] pudesse afirmar que sabe tudo, mas a sua idade [13 anos] torna perfeitamente razoável que não saiba. Passámos muito tempo a desenvolver a personagem com uma personalidade credível”, explica Vladimir Veselov, num comunicado divulgado pela Universidade de Reading.

 
Durante este ano, a equipa que criou Eugene concentrou-se em melhorar o controlo de diálogo do programa que permite uma conversação seja mais próxima de uma entre humanos quando comparado com outros programas que se limitam a responder a questões. “No futuro, pretendemos tornar o Eugene mais esperto e continuar a trabalhar na melhoria do que chamamos conversação lógica”, acrescentou o russo.

 
Kevin Warwick, vice-chanceler para a Investigação na Universidade de Coventry, esteve no evento de sábado, e explica que apesar do teste realizado ser importante e o resultado obtido ser “excitante”, há questões que se levantam. “Ter um computador que consegue levar uma pessoa a pensar que alguém, ou mesmo alguma coisa, é uma pessoa de confiança é um alerta para o cibercrime. O teste de Turing é uma ferramenta vital para combater essa ameaça. É importante percebermos como online, uma comunicação em tempo real deste tipo pode influenciar um ser humano de uma forma a ser enganado e acreditar que alguma coisa é verdadeira, quando de facto não o é”.

 

Turing morreu há 60 anos

 

A realização do teste coincide com o 60.º aniversário da morte de Alan Turing, em 1954. Turing nasceu a 23 de Junho de 1912 em Londres. Em 1936 publicou um artigo determinante para o desenvolvimento da computação onde teorizou uma máquina muito simples que seria capaz de resolver qualquer problema matemático, desde que fosse capaz de ser representado sob a forma de um algoritmo. Tornou-se assim o primeiro informático e o pai da computação.

 
Mas o maior feito do matemático aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando Turing trabalhou para o Governo britânico e desenvolveu uma máquina capaz de descodificar a Enigma – a poderosa máquina encriptadora que os nazis utilizavam para transformar as suas mensagens em códigos aparentemente não descodificáveis.

 
O matemático não deixou de fazer ciência depois da Guerra, continuou a trabalhar em informática e até teorizou sobre temas como a metamorfose na biologia.

 
Mas, o final da sua vida ficou associado à sua orientação sexual. Turing era gay, uma ofensa e um crime no Reino Unido até 1960. Por causa de um assalto à sua casa, o matemático teve a sua vida pessoal investigada e acabou no banco dos réus, em 1952, onde foi dado como culpado por ter tido relações sexuais com outros homens. Foi castrado quimicamente e assim terminou o seu trabalho para o Governo.

 

Dois anos depois, o matemático foi encontrado morto na sua casa, com uma maçã trincada a seu lado. Tinha 41 anos. A autópsia mostrou que morreu envenenado por cianeto, que estaria no fruto, e que muitos dizem que é uma metáfora da história da Branca de Neve que sempre fascinara o cientista

 
PÚBLICO