Sorridente, mas formal e nunca exuberante. Quando Rio chegou ao Sheraton, no Porto, perto das nove, já sabia que seria o futuro presidente do PSD ou que estava muito perto disso. Os desabafos do diretor de campanha, Salvador Malheiro, à medida que recebia os resultados no telemóvel eram sinal disso: “Já ganhámos. Morreu. Já limpámos“. Mais sereno, na hora da vitória Rui Rio optou por um discurso eficaz: agradeceu a Santana Lopes, num piscar de olho aos apoiantes do seu opositor, honrou Passos Coelho, de quem não quis renegar o legado, e guardou apenas uma réstia de rancor para Miguel Relvas. Foi para o antigo secretário-geral que foi dirigida a indireta mais dura: “O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos, nem foi pensado para ser uma agremiação de interesses individuais.” A sala aplaudiu com estrondo.
A “velinha” que Santana disse que António Costa terá acendido, resultou: Rio ganhou. Talvez por isso, ou porque é essa a sua estratégia, Rio não atacou frontalmente o líder do PS. Deixou apenas ao primeiro-ministro um aviso e uma promessa: o aviso de que terá uma oposição firme, a promessa de que não será populista nessa oposição. “A partir de fevereiro começaremos a construção de uma alternativa de Governo à atual frente de esquerda que se formou no Parlamento“, começou por dizer Rio. O candidato defendeu uma “alternativa capaz de dar a Portugal uma governação mais firme e mais corajosa, capaz de enfrentar os grandes problemas estruturais com que há muito o país se confronta e capaz de reforçar a nossa aposta em Portugal e de nos restituir a vontade, a alma e a esperança”.
Porém, sem utilizar o que chama de “truques”, Rio adverte que “o atual Governo terá na nova liderança do PSD uma oposição firme e atenta, mas nunca demagógica ou populista, porque nunca contra o interesse nacional“.
Rio sorriu, deu muitos abraços e antes de começar a discursar ouviu uns gritos de “Rio vai em frente, tens aqui a tua gente.”Agradeceu aos que estiveram com ele (54%), mas também à outra metade da laranja que apoiou Santana e que não tem dúvidas que o vão apoiar: “Quero fazer um agradecimento a todos aqueles que fizeram uma opção diferente nas urnas, mas sei que estão disponíveis para em unidade continuar a defender os ideias do PSD e a servir o país“.
Rio quer virar a página no partido, mas sem desdenhar do trabalho de Passos Coelho, como foi fazendo, a espaços, ao longo do mandato do ainda líder. O vencedor antecipou que “com a realização do congresso nacional em fevereiro, onde serão finalmente eleitos e empossados os novos órgãos nacionais, iniciaremos uma nova etapa da vida do PSD”. Mas não disse que seria melhor nem pior que a anterior. E ainda enalteceu o caminho feito por Passos. “Com ela vai-se também fecha um ciclo da vida política do partido, que foi muito exigente para todos nós portugueses. Todos sabemos que o nosso companheiro e atual presidente Pedro Passos Coelho teve de enfrentar a mais grave e mais longa crise económico-financeira que o país viveu nos últimos 40 anos. Na história vai ficar registar o nosso agradecimento a Pedro Passos Coelho, que foi o primeiro-ministro que tirou Portugal da bancarrota, para onde desmandos de outros atiraram o país”.
Para Marcelo as palavras não foram duras, mas distantes. Rio garante que “o senhor Presidente da República terá no PSD a lealdade que princípios éticos a todos nos impõe e a colaboração institucional de que o país e o regime necessitam”. Santana falava de Marcelo quase como um exemplo, para Rio é apenas uma figura com quem se terá de relacionar a nível institucional.
Rio prometeu ainda um PSD com “uma vontade inabalável de servir Portugal e de procurar contribuir para dar a todos um futuro melhor”. Ora esse futuro só é possível se forem capazes de “construir uma sociedade mais justa, mais solidária e mais capaz de ajudar na construção na felicidade de todos e de cada um de nós”.
O partido que Rio quer é o pensado por Sá Carneiro, tendo por base os valores do “dinamismo político, unidade interclassista, dinamismo económico, deu justiça e solidariedade social, de igualdade de oportunidades e de crescimento, desenvolvimento e afirmação da nação portuguesa”. Para o novo presidente do PSD “este é o ADN do Partido Social Democrata”. Vai ser esta, promete, a “bússola” de Rio.
Sempre ciente das contas, Rio agradeceu “aos militantes e a muitos amigos que, generosamente, ajudaram a financiar esta campanha” sem terem qualquer objetivo que não financiar a atividade política. Houve muitos sorrisos no final da noite, muitos abraços com pancadas nas costas audíveis, mas uma festa moderada. Na sala do discurso da vitória — ao contrário da de Santana — não havia comida nem água. Só apoiantes, jornalistas e algumas bandeiras. A música do fim de noite era igual à de toda a campanha: “Nós somos um Rio, que não vai parar…”
Pedro Duarte otimista fala de parte do país ansiosa por um PSD diferente
O antigo líder da JSD Pedro Duarte vê com “otimismo os próximos tempos do PSD”, considerando que com Rui Rio na liderança se abrem novas oportunidades porque há uma parte do país que está ansiosa por um partido diferente. “Estou satisfeito com a eleição do doutor Rui Rio de forma inequívoca e principalmente estou satisfeito com a mobilização que o partido demonstrou”, disse Pedro Duarte.
O antigo líder da JSD vê “com otimismo os próximos tempos do PSD”, considerando que se abriram “novas janelas, novas oportunidades de fazer uma mudança” importante para o PSD, mas “principalmente para o país”. “Há uma parte do país que está manifestamente ansiosa de ver um PSD diferente, mais ativo e um PSD constituído como alternativa à frente de esquerda que nos está a governar”, sublinhou.
Para Pedro Duarte, a primeira prioridade da nova liderança “é unir o partido”, considerando que “seria no mínimo absurdo que o PSD agora se dividisse e não estivesse coeso à volta da nova liderança”. “Depois desta primeira prioridade, será a constituição de um programa alternativo a esta governação socialista”, antecipou.
O antigo deputado defende que “é importante que o PSD rapidamente vire a página da agenda política”, que ficou marcada pelos anos de governação entre 2010, 2011 e 2012. “O PSD ainda não encontrou um novo discurso, eu diria que esse é o segundo grande desafio da liderança de Rui Rio”, adiantou.
Na opinião de Pedro Duarte “há mais do que tempo” para o PSD se constituir como alternativa à governação socialista, mas antecipa que “têm que ser meses de trabalho, que não vão ser fáceis” porque “isto implica uma mudança muito importante”. “Já defendi, na altura praticamente isolado – ao lado do José Eduardo Martins – um rumo diferente no PSD, mas isso não significa que se possa dar agora essa mudança, que não haja mais do que tempo até às eleições legislativas”, afirmou.
Para o ex-diretor de campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa “há todas as condições para Rui Rio se afirmar como líder da oposição nesta fase e mais tarde como primeiro-ministro de Portugal”. O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio foi eleito, no sábado à noite, presidente do PSD com 54,37% dos votos, com uma diferença de cerca de 10 pontos percentuais para Pedro Santana Lopes, informou o partido. Rui Rio será o 18.º presidente do PSD desde o 25 de Abril de 1974, sucedendo a Pedro Passos Coelho, eleito em 2010.
No seu discurso de vitória, Rui Rio afirmou que seguirá o legado deixado por Francisco Sá Carneiro e avisou que o atual Governo terá com a nova liderança do PSD uma “oposição firme e atenta”, mas “não demagógica ou populista”. Pedro Santana Lopes assumiu a responsabilidade pelos resultados nas eleições diretas para a liderança do PSD, mas disse estar de consciência tranquila e assegurou que vai continuar no combate político.
Marcelo felicitou Rui Rio. Novo líder do PSD é recebido em audiência depois do congresso
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou por telefone o vencedor das eleições diretas do PSD, Rui Rio, estando já agendada uma audiência em Belém para 19 de fevereiro, logo após o congresso do partido.
Numa mensagem publicada na página oficial da Presidência da República pode ler-se que Marcelo Rebelo de Sousa “felicitou por telefone o novo líder eleito do PSD, Rui Rio”, que venceu as eleições diretas sociais-democratas de sábado, derrotando Pedro Santana Lopes.
O Presidente da República, de acordo com a mesma curta nota, receberá Rui Rio “em audiência a 19 de fevereiro, imediatamente após o congresso do partido”.
O congresso do PSD irá decorrer em Lisboa, entre 16 e 18 de fevereiro.
O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio foi eleito, no sábado à noite, presidente do PSD com 54,37% dos votos, com uma diferença de cerca de 10 pontos percentuais para Pedro Santana Lopes, informou o partido.
Rui Rio será o 18.º presidente do PSD desde o 25 de Abril de 1974, sucedendo a Pedro Passos Coelho, eleito em 2010.
No seu discurso de vitória, Rui Rio afirmou que seguirá o legado deixado por Francisco Sá Carneiro e avisou que o atual Governo terá com a nova liderança do PSD uma “oposição firme e atenta”, mas “não demagógica ou populista”.
Pedro Santana Lopes assumiu a responsabilidade pelos resultados nas eleições diretas para a liderança do PSD, mas disse estar de consciência tranquila e assegurou que vai continuar no combate político.
TPT com: AFP//Lusa//Rui Pedro Antunes//João Porfírio//Observador// 14 de Janeiro de 2018