Após 17 anos à frente da FIFA e quatro dias depois de ter sido reeleito, Blatter anuncia saída e diz que não será novamente candidato.
Quatro dias depois de ter sido reeleito presidente da FIFA, Joseph Blatter não resistiu ao escândalo de corrupção que afeta a organização e anunciou a sua demissão. Numa conferência de imprensa surpresa, em Zurique, o dirigente suíço disse ainda que vai convocar eleições e que não é candidato.
“Embora tenha um mandato dos membros da FIFA, não sinto que tenha um mandato de todo o mundo do futebol – os fãs, os jogadores, os clubes, as pessoas que vivem, respiram e adoram o futebol tanto quanto todos na FIFA”, disse o dirigente suíço, numa declaração que já está disponível.
Blatter, de 79 anos, pediu ao Comité Executivo que convoque um congresso eleitoral extraordinário (que deverá ser agendado entre dezembro deste ano e março de 2016) para a escolha do seu sucessor. Relembre-se que no último congresso eleitoral, sexta-feira passada, Blatter venceu as eleições contra o príncipe jordano Ali-bin al Hussein, após as desistências de Luís Figo e do holandês Michael Van Praag.
O suíço garante que desta vez não se vai candidatar e promete usar o seu tempo para implementar reformas profundas: “Uma vez que não serei candidato, e agora estou livre dos constrangimentos que as eleições inevitavelmente impõem, vou poder focar-me em liderar reformas profundas e fundamentais, que transcendem os nossos esforços anteriores.”
O escândalo rebentou na quarta-feira passada quando sete responsáveis da FIFA foram detidos em Zurique, na Suíça, a pedido das autoridades norte-americanas. A justiça dos EUA acusa 14 pessoas de corrupção, envolvendo subornos na atribuição de várias competições.
Apesar das detenções terem acontecido apenas dois dias antes das eleições na FIFA, e da polémica ter rodeado o processo, Blatter foi reeleito para um quinto mandato, no meio de muitas críticas, incluindo do presidente da UEFA, Michel Platini.
Entretanto, o príncipe Ali-bin al Hussein já anunciou que vai recandidatar-se à presidência do organismo que tutela o futebol mundial.
PRESIDENTE DA FIFA DIZ QUE A ENTIDADE É MAIS INFLUENTE QUE TODAS AS RELIGIÕES E PAÍSES DO MUNDO
O presidente da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) resolveu deixar a modéstia de lado e afirmou que a entidade que ele presidia é mais influente que qualquer país do mundo e mais eficiente que qualquer religião na promoção da paz e da justiça.
A declaração arrogante de Joseph Blatter, que está em campanha por sua reeleição, foi feita ao um jornal suíço. O dirigente esportivo se gaba de ter dirigido, com sucesso, a Copa do Mundo mais lucrativa da história para a FIFA, com receitas na casa dos bilhões de dólares.
“A FIFA é mais influente do que qualquer outro país do mundo e todas as religiões, devido às emoções positivas ela libera”, disse Blatter ao jornal Sonntags-Zeitung. “Nós movemos massas. Nós queremos usar isso para criar mais paz, dar justiça e saúde ao mundo”, acrescentou.
Aos 79 anos, Blatter queriaa« continuar à frente da FIFA, mesmo tendo enfrentado acusações de corrupção ao longo dos últimos anos. Com pouca ou nenhuma humildade, ele afirmou que as pessoas gostam de futebol e por isso se curvam à entidade que rege o futebol no mundo.
“Eu acredito em Deus e eu acredito em mim mesmo. É por isso que eu posso cumprir os meus deveres, independentemente da idade “, disse o dirigente.
O jornalista Matt Bonesteel, colunista do Washington Post, comentou as declarações arrogantes de Joseph Blatter: “É um deus menor [o que ele crê], obviamente. É aquele que recebe ordens de Blatter e move montanhas (e milhares de trabalhadores migrantes que são tratados como escravos) para FIFA poder realizar uma Copa do Mundo em um país deserto sem tradição do futebol ou infraestrutura, enfurecendo quase todo o mundo fã de futebol no processo. Estas são as coisas que acontecem sob o domínio mundial da FIFA”, criticou.
Tiago Chagas
Fotografia: REUTERS/Arnd Wiegmann/Files
Diario de Noticias
02/06/2015