Ucrânia. As armas continuam a desafiar a paz

Merkel, Hollande, Poroshenko e Putin falaram esta quinta-feira de manhã por teleconferência e assumiram o compromisso de não desistir do plano diplomático firmado em Minsk. O secretário da Defesa do Reino Unido lança alerta para o “perigo real e atual” que Putin representa quanto a uma desestabilização dos três países do Báltico e defende que a NATO deve estar preparada.

  

Poroshenko quer capacetes azuis na Ucrânia depois da retirada das suas tropas em Debaltseve, imposta pelo cerco dos rebeldes /  Pierre Crom/Getty Images

 

Raquel Pinto – Quinta feira, 19 de fevereiro de 2015 – Não há sinal de que a guerra no leste da Ucrânia termine. Separatistas pró-russos avançaram e impuseram o cerco à estratégica cidade de Debaltseve, a meio caminho das autoproclamadas repúblicas de Donestk e Lugansk. A vitória dos rebeldes neste braço de ferro – que dura desde a entrada em vigor do cessar-fogo -, forçou à retirada “ordeira” de 80% das tropas da região na quarta-feira. Esta quinta-feira de manhã houve uma nova teleconferência entre os líderes que negociaram o cessar-fogo. Apesar da situação delicada, comprometeram-se a cumprir o acordado.

 

As armas ainda não foram silenciadas: continuam os relatos de fogo de artilharia a partir de Debaltseve, ainda que com menos intensidade que o verificada na véspera e as autoridades ucranianas garantem que o epicentro da batalha no Leste deslocou-se para a aldeia de Shyrokyne, a pouco quilómetros de porto de Mariupol, outro dos pontos estratégicos que sem sido disputado em sangrentos confrontos. Mas está tremido um dos pontos-chave do acordo – a retirada de armamento pesado deveria ter sido acionada na terça-feira.

 

O exército ucraniano fala em sequestro de 90 militares e no desaparecimento de outros 82 em Debaltseve. Nos últimos dias, as forças de comando de Kiev contabilizam 22 soldados ucranianos mortos e 150 feridos. O Governo da Ucrânia pediu à comunidade internacional uma resposta “severa” contra a Rússia e a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, recusam desistir.

 

Um comunicado do gabinete presidencial de França, citado pela AFP, refere que os quatro líderes “condenaram as sistemáticas violações” das partes envolvidas no conflito armado e comprometeram-se a tentar salvar o plano,  que deve ser cumprido “de forma estrita e na sua globalidade”. Para isso, os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) devem encontrar-se no terreno com as partes para a “rápida implementação das medidas”, diz a nota. Os detalhes deverão ser discutidos brevemente pelos ministros dos Negócios Estrangeiros dos quatro países.

 

“Perigo real e atual”

Durante a conversa telefónica, Poroshenko sublinhou que o cerco em Debaltseve não esteve em linha com as definições aprovadas em Minsk. Na quarta-feira, o conselho de segurança e defesa da Ucrânia deu “luz verde” a uma petição do presidente para pedir à ONU e União Europeia uma força internacional de manutenção de paz no Leste, esperando agora que o Parlamento faça passar a proposta.

 

A reação da Rússia chegou com a condenação pela voz do seu embaixador na ONU. Vitaly Churkin, citado pela agência Ria Novosti, acusa Poroshenko de, “ao invés de agir conforme o que foi acordado, sugere uma nova estratégia, o que levanta suspeitas de querer destruir o acordo”.

 

Do Reino Unido vem uma mensagem do secretário de Defesa britânico: Michael Fallon diz que Vladimir Putin representa um “perigo real e atual” para os países bálticos – o presidente russo, afirma, poderia lançar uma campanha escondida de desestabilização das ex-repúblicas soviéticas Estónia, Lituânia e Letónia. Fallon sustenta ainda que a NATO deve estar preparada para reagir.

 

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, exigiu à Rússia que retirasse “todas as forças militares do leste da Ucrânia, assim como apoio aos separatistas” e que “respeite o acordo de Minsk”. A Rússia tem negado sempre as acusações da comunidade internacional de ajudar os separatistas pró-russos num conflito que já matou mais de 5400 pessoas em dez meses, obrigando um milhão de pessoas a ter de abandonar as suas casas.

 

 

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