Nos Estados Unidos da América, a educação foi sempre vista como ‘o grande amplificador social’, contudo esta ideia tornou-se ao longo do tempo um mito. Ao longo da última década, havido um esforço vigoroso para fortalecer e reconstruir as nossas escolas, e há um reconhecimento geral de que temos falhado, com as nossas crianças, especialmente com as que vivem em situação de pobreza, para as quais, a educação pode – e deve – significar evolução. De Chicago a Nova Orleães, a reforma da escola foi projetada pelos endinheirados e bem relacionados gestores de “hedge funds” juntamente com os diretores das fundações, que acreditam que com o tipo certo de professores e pedagogia, e com uma boa administração, a escolaridade pode superar os encargos diários e indignidades de crescer pobre. “Não há desculpas” tornou-se o grito de guerra dos reformadores.
O novo livro de Dale Russakoff “The Prize”, é um relato de alguém de fora do espectro político, fala sobre a tentativa da cidade Newark endireitar o sistema escolar público. Quando Russakoff começou a escrever este livro em 2010, o sistema escolar estava a desmoronar-se e algo precisava de ser feito. Destes escombros surgiu uma emocionante e incomum parceria entre três indivíduos: O carismático e ambicioso ex-Mayor Cory Booker, actualmente Senador Federal, o tempestuoso Governador Republicano, Chris Christie e Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook , que prometeu uma soma gritante de 100 milhões de dólares. Este presente tão extraordinário de Zuckerberg, com Booker e Christie ao seu lado, teve como objectivo, não o de reparar o sistema de educação em Newark, mas desenvolver um modelo para salvá-lo. Um caso de estudo para toda a América urbana e Newark passou a ser uma “bússola” para a reforma escolar.
Russakoff, uma experiente repórter do Washington Post, teve o bom senso de reconhecer o poder potencial de toda esta história logo no início, e com uma análise honesta e incisiva do que vê e ouve, incorporou-se no xadrez social de Newark, ganhando acesso não só aos jogadores-chave – Booker, Christie e Zuckerberg – mas também a alguns professores e alunos notáveis cujas histórias servem como uma verificação dos esforços de reforma.
Quando Zuckerberg declarou a sua concessão, foi bastante claro: Em cinco anos queria transformar as escolas de Newark num modelo para toda a nação. O problema comecou por ser a falta de consenso quanto à melhor forma de proceder. Mais do que tudo, Christie queria romper o domínio dos sindicatos dos professores. Booker queria mais escolas charter. Zuckerberg pretendia elevar o estatuto dos professores e recompensar o ensino, com as melhores contribuições para o desempenho dos alunos.
Perante este começo difícil recorreu-se a consultores, alguns pagos a mil dólares por dia. Um educador rotolou esta indústria financeira como a “indústria do fracasso escolar.” Perante o interesse cada vez maior de Booker na sua carreira política, Christie contratou uma ideóloga para controlar as escolas de Newark. E Zuckerberg, um recém-chegado à filantropia, parece frustrado pela incapacidade de negociar um acordo para aumentar os salários dos professores jovens e promissores e pagar bónus de mérito substanciais aos melhores professores.
Cami Anderson, Super-intendente das escolas de Nova Iorque, impôs uma gestão inflexível e um estilo único criando o pânico entre pais, professores e alunos . Cami com um furor ideológico para criar mais escolas charter, deixa um sistema de escola pública enraivecido. Russakoff chamou a esta teoria ‘salva-vidas da reforma da educação’, argumentando que poderia ter deixado a maioria das crianças a afundar-se no grande navio educacional. O processo democrático é muitas vezes ignorado nas escolas, essa mesma educação tão importante como chave da Democracia. A grande fundação desta expriência, a inclusão dos pais e professores na reforma do sistema de educacão esbarra em Cami Anderson, no seu estilo de gestão inflexível.
Neste relato emocionante ainda que preocupante Russakoff conta histórias de pessoas: professores, alunos e pais. Esforços heróicos por parte dos professores e funcionários, e os obstáculos enfrentados pelos alunos. Anderson anunciou recentemente demitir-se do cargo de superintendente.
No ano passado, juntamente com sua esposa, Priscilla Chan, que como estagiária pediátra cuidou de crianças carentes nos arredores de San Francisco, Zuckerberg anunciou uma doação de 120 milhões de dólares em doações para as escolas de extrema pobreza da área da baía. Porém, desta vez, declararam a sua intenção de incluir os pais e os professores no processo de planeamento e a construção de “uma rede de apoio geral aos estudantes,” que inclui tudo, desde médico, aos cuidados de saúde mental. Zuckerberg concluiu que a reforma escolar sozinha não é suficiente, que, se queremos fazer a diferença na sala de aula, precisamos de fazer a diferença nas vidas destas crianças, muitas das quais lutam contra os efeitos debilitantes da pobreza e os traumas que daí advém.”
Pedro Fernandes/The Portugal Times/7/10/2015
Fontes: nytimes.com/NJ.com