A agência de rating Fitch considera que a falta de um acordo mais abrangente entre PS e os partidos mais à esquerda, e as visões muito divergentes entre estes partidos, aumenta o risco de um eventual Governo do PS não chegar ao fim do seu mandato, e avisa que cortará a notação de crédito de Portugal, caso o ritmo de consolidação orçamental abrande ao ponto de aumentar o nível de dívida pública ou se a economia crescer menos.
Numa nota publicada na tarde desta quarta-feira, a agência de notação financeira considera que um Governo liderado pelo PS, com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda e do PCP, não eliminaria a incerteza e cita as grandes divergências entre os socialistas e os partidos mais à esquerda.
Na visão da agência, o tipo de cooperação que levou ao acordo entre as quatro forças políticas era improvável, até recentemente, devido às visões e prioridades diferentes destes partidos e isso, na opinião dos analistas,aumenta o risco de um eventual Governo não chegar ao fim.
A Fitch nota que, até agora, os socialistas têm mostrado pouca ou nenhuma intenção de avançar com as propostas “mais extremas” destes partidos, caso da reestruturação da dívida pública, e que se devem manter comprometidos com as regras orçamentais europeias, apesar de a um ritmo mais baixo. Mas, na sua opinião, existem “incertezas significativas” no caminho orçamental que deverá ser seguido.
Os analistas consideram que a continuação da incerteza na situação política portuguesa, e a eventual posse de um Governo PS dependente de países que têm tido até agora uma posição anti-austeridade, podem aumentar os riscos de derrapagem orçamental.
A Fitch considera, também, que a incerteza na situação política está a fazer perder o apetite dos legisladores por reformas económicas que promovam o investimento e que, juntando isto com uma política orçamental que faz depender mais a redução do rácio da dívida de um crescimento económico robusto, pode criar um problema para as contas de Portugal.
Por isso, a Fitch deixa um aviso: se o alívio da política orçamental levar a um aumento do rácio de dívida pública ou a economia portuguesa crescer menos do que o esperado, e isso tiver impacto nas contas públicas portuguesas, o rating será cortado.
A dívida portuguesa é atualmente classificada pela Fitch como BB+, ou seja, é considerada como especulativa (ou ‘lixo’), mas tem uma perspetiva positiva, o que indica uma possível revisão em alta numa das próximas avaliações.
ANDREW GOMBERT/EPA/Nuno André Martins/Obs/19/11/2015