O quadro clinico do secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, baleado ao princípio da tarde de ontem na Beira, centro de Moçambique, continua preocupante, exigindo uma assistência “intensiva e especial”, disse fonte do maior partido da oposição.
Horácio Calavete, chefe da mobilização da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) na Beira, disse que a última informação clínica indicava que uma das balas perfurou a barriga, tendo atravessado os pulmões e se alojou entre duas costelas, carecendo de uma cirurgia especializada.
O dirigente da Renamo adiantou que o secretário-geral do seu partido e deputado se mantinha numa clínica privada da Beira, sem confirmar informações que dão conta da possibilidade de Bissopo ser transportado para a África do Sul.
O secretário-geral da Renamo foi baleado por desconhecidos no princípio da tarde de hoje na Beira, tendo o seu segurança morrido no local, segundo fontes oficiais do maior partido de oposição.
Ao contrário de informações que davam conta de que Bissopo tinha sido atingido no bairro da Munhava, um bastião da oposição, o incidente ocorreu no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, quando saía de uma conferência de imprensa para denunciar alegados raptos e assassínios de quadros da Renamo.
Segundo jornalistas locais, os atiradores, que se faziam transportar em duas viaturas, bloquearam o carro em que seguia Bissopo e abriram fogo.
À entrada da clínica, Bissopo estava consciente e fez uma curta declaração à imprensa, descrevendo o incidente.
“Estava a passar em frente dos serviços de viação. Vi um carro de dupla cabine a virar e alguém a tirar uma [arma automática] Kalashnikov e disparar. Me atingiram”, disse Bissopo.
O guarda-costas do secretário-geral da Renamo morreu no local, tendo os outros ocupantes da viatura sofrido ferimentos ligeiros.
A polícia na Beira disse que continua a trabalhar para esclarecer o caso, sem mencionar o envolvimento do secretário-geral da Renamo nem de outros membros do partido.
A Frelimo e a Renamo têm vindo a acusar-se mutuamente de sequestro e assassínio dos seus dirigentes na província de Sofala.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
Afonso Dhlakama não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.
Nos pronunciamentos públicos que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.
Moçambique à beira da guerra
A tentativa de assassínio do número dois da Renamo coincide com a proibição de várias atividades da Renamo na capital moçambicana, por parte do Governo.
O líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dlakhama, continua a constestar os resultados oficiais das legislativas de 2014. Recentemente Dlakhama anunciou pretender assumir o poder em seis das 11 províncias de Moçambique, se necessário pela força.
O paradeiro de Afonso Dhlakama é alvo de debate uma vez que não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.
Confrontos entre forças governamentais e da Renamo, nas últimas semanas no centro do país, levaram já mais de 2000 pessoas a procurarem refúgio no vizinho Malawi.
Ivone Soares atribui à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) a autoria de todos os incidentes, acusando o partido no poder de tentativas repetidas de assassínio dos dirigentes da maior força de oposição.
“A morrer um por um”
Para a líder da bancada da Renamo, o caso de ontem envolvendo Manuel Bissopo vem no seguimento de incidentes anteriores com a comitiva do líder do seu partido, Afonso Dhlakama, no que descreve como um quadro de “terrorismo de estado”.
A chefe da bancada da Renamo acusou ainda as Nações Unidas de “assobiarem para o lado” face à situação política em Moçambique, bem como as principais missões diplomáticas em Maputo, referindo os casos concretos de Portugal, Estados Unidos, Reino Unido e Itália como símbolos de “um estranho silêncio”.
Para Ivone Soares, esta crise é motivada pela falta de justiça eleitoral, insistindo na acusação de fraude na votação de outubro de 2014.
“Fomos roubados em votos e agora estamos a morrer um por um”, afirmou a deputada, reafirmando a necessidade de uma intervenção urgente da comunidade internacional.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição.
Obs/TPT/c/Lusa/21/1/2016