A porta-voz do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, desafiou este domingo o Partido Socialista (PS) a questionar António Guterres sobre a situação na Turquia, quanto à questão dos refugiados, considerando que está em marcha uma “verdadeira catástrofe humanitária”.
“O que está a ser preparado para a Turquia é uma verdadeira catástrofe humanitária que a própria Organização das Nações Unidas (ONU) já condenou e, portanto, talvez não fosse mau que o PS perguntasse a António Guterres, por exemplo, o que é que considera deste plano entre a União Europeia e a Turquia”, disse.
Para a porta-voz do BE, que falava aos jornalistas em Portalegre, à margem de uma sessão pública subordinada ao tema “O que traz este Orçamento? O que quer o Bloco?”, o Governo português não deve participar neste programa. “O que há a fazer neste caso, é o Governo retirar a proposta de participar num programa que é uma catástrofe humanitária anunciada”, declarou.
Sobre as dotações que o Orçamento do Estado (OE) prevê para a Grécia, Catarina Martins criticou a posição do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, sublinhando que os partidos devem ser “coerentes” sobre esta matéria. “Os partidos devem ser coerentes com aquilo que defendem, todo o país se lembra de ver Passos Coelho a congratular-se, em Bruxelas, com o memorando que foi imposto ao governo grego, na altura até dizia “por acaso foi ideia minha parte dele”, e agora está contra”, disse.
Catarina Martins fez questão de sublinhar que o BE não vai “impor” a austeridade na Europa, quando a mesma está a “acabar” em Portugal. “Nós no BE não temos duas palavras nem dois votos. Nós não vamos impor a nenhum povo a austeridade, que começamos a acabar com ela aqui em Portugal, e esse é o único voto do BE, um voto contra a austeridade na União Europeia”, afirmou.
Durante o encontro com os jornalistas, Catarina Martins voltou a sublinhar que o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, “não tem condições” para continuar em funções. “O BE não fez parte de um Governo que reconduziu Carlos Costa como governador do Banco de Portugal. Nós temos dito que Carlos Costa não tem condições, quando precisava de ser regulador é banqueiro, quando precisava de defender Portugal cumpre as ordens de Frankfurt e, portanto, temos um problema”, disse.
Para a porta-voz do BE, além do caso relacionado com o Banco de Portugal, os problemas do país passam também pela área financeira. “É verdade, também, que o problema se chama financeiro em Portugal. Não é só o Banco de Portugal. Se a regulação tem de ser mudada é preciso, sobretudo, mudar a legislação que permita o sistema financeiro fazer tudo”, defendeu.
Catarina Martins considerou que “não é preciso alterar a Constituição nem nada do género” para fazer aquilo que “PSD, CDS-PP, e até mesmo PS, se recusaram a fazer” até esta altura. Na opinião da porta-voz do BE, deve-se “separar” o que é vendido nos balcões, para que “não haja” mais lesados do BES e do Banif, “ter auditorias que são verdadeiramente auditorias e não pagas pelos próprios bancos”, responsabilizar quem “foge” às suas obrigações e, quando há dinheiro público envolvido, desenvolver uma gestão pública “em nome do interesse público”.
“Tudo isto tem faltado. É bom começarmos pelo princípio, pôr o sistema financeiro na ordem e não arranjar mais desculpas para adiar ainda mais fazer o que precisa de ser feito no nosso país”, defendeu.
Sousa Pinto diz que PS saiu profundamente derrotado das eleições
Sérgio Sousa Pinto, a antigo membro da direção do PS que saiu dos órgãos do partido por não concordar com a coligação parlamentar do PS com os partidos à sua esquerda, considera que o seu partido está agora “condenado a gerir as suas duras realidades”, enquanto PCP e Bloco de Esquerda colhem as vantagens deste tipo de acordo sem se comprometerem politicamente já que não fazem parte do Governo.
“O PCP tem adotado posições muito patrióticas ao lado do governo, designadamente neste Orçamento do Estado. O BE faz um sacrifício muito mais pequeno, porque é mais pragmático e desenvolto na sua atuação política. Não vai descansar enquanto não ocupar o lugar do PS no sistema partidário”, afirmou Sérgio Sousa Pinto em entrevista ao Jornal de Notícias. O deputado socialista considera ainda esta solução de Governo é “questionável”, já que o PS está no “vértice” do acordo.
Para Sousa Pinto, o “PS perdeu as eleições e foi desafiado pela extrema-esquerda, que já tinha derrubado governos do PS, a colaborar numa estratégia que arredasse do poder o partido que ganhou as eleições”. Atualmente, segundo Sérgio Sousa Pinto, o “PS parece um partido condenado a gerir as suas duras realidades enquanto os outros partidos das esquerdas vão arrancando admiráveis propostas políticas que permitem ao país avançar na senda progressista”, continuando a mostrar-se crítico da solução de governação encontrada por António Costa.
NUNO VEIGA/LUSA /Catarina Falcão/Observador/13 de Março de 2016