O PSD criticou esta quarta-feira a atribuição de um pelouro a Ricardo Valente, acusando Rui Moreira de “jogo político pouco ético” e o vereador de “deslealdade”. Pelo contrário, o PS foi “auscultado” e manifestou “total concordância”.
Um dia após ter sido anunciado que o presidente da Câmara do Porto decidiu delegar competências no vereador Ricardo Valente, dando o pelouro da Economia ao autarca eleito pela coligação “Porto Forte” que é liderada pelos sociais-democratas, o presidente da Concelhia, Miguel Seabra, garante que “o PSD não contribuirá para o negócio da ‘compra e venda’ de apoios políticos”.
“Percebemos o jogo político pouco ético do presidente da Câmara Municipal do Porto, mas, entre o caráter e lealdade de processos ou um vereador, o PSD da cidade do Porto prefere ficar com o caráter e com a lealdade. No fundo, aquilo que presta”, refere a nota enviada ao JN.
Contra “o albergue” e a “deslealdade”
Para os sociais-democratas do Porto “ganha, assim, o albergue em que se está a tornar o Executivo camarário, mais um cristão-novo a juntar a uma amálgama de raças, credos e oportunismos, sem precedentes na cidade do Porto”, sendo este Executivo “responsável por uma inenarrável execução orçamental”.
As críticas ao vereador também não tardaram. O PSD manifesta “a sua surpresa pela decisão tão categórica e tão entusiasmada com que Ricardo Valente aceitou o convite” e, “tendo embora toda a legitimidade pessoal para o fazer, não deixa de ser uma deslealdade para quem o elegeu”.
Além disso, Miguel Seabra diz estranhar a decisão do vereador “porque quase sempre se referiu em tom de crítica contundente ao trabalho do atual executivo camarário, no que às contas municipais diz respeito e, de forma no mínimo irónica, em relação a alguns dos seus, agora, colegas de vereação”. E esta postura torna-se, pois, elucidativa sobre o grau de convicção com se norteou”.
Por fim, o PSD deseja “que Ricardo Valente seja feliz”, mas promete estar atento, “e até com indisfarçável curiosidade”, à “mudança do chip político e, consequentemente, à adoção de novas convicções, princípios e narrativas do mais recente apoiante de Rui Moreira”.
Contactada pelo JN, a Autarquia do Porto disse não comentar comunicados do PSD.
PS “auscultado antes da decisão”
Por sua vez, contactado pelo JN, o vereador socialista Manuel Pizarro destacou que a reação do PS à atribuição do pelouro da Economia a Ricardo Valente é “muito positiva” e de “grande expectativa”.
Manuel Pizarro conta que foi “auscultado por Rui Moreira antes desta decisão” e que manifestou “total concordância”. Além disso, recorda que Ricardo Valente foi candidato pelo PSD mas é independente e que “vezes sem conta votou ao lado do Executivo, muitas vezes contra a orientação do partido pelo qual foi eleito”.
Defendendo que “as contingências partidárias são secundárias” neste caso, embora “importantes”, tece elogios a Ricardo Valente dizendo ter em comum o entusiasmo e o objetivo que “o anima”: saber “o que pode ser feito para ajudar a melhorar a cidade”.
CDS compreende redistribuição
O vereador comunista Pedro Carvalho diz, por sua vez, que a sua primeira reação foi confirmar que “realmente constata-se que só há um projeto alternativo e capaz de fazer oposição” que “é o da CDU”. E admite que terá havido aqui já alguma “matemática eleitoral”.
Já o líder do CDS/Porto, César Navio, crê que entregar a Economia a Ricardo Valente foi uma consequência “normal” da redistribuição de pelouros que “é competência do presidente”. Sublinha que Sampaio Pimentel suspendeu o mandato recentemente por motivos de saúde, o que “provavelmente” levou à decisão noticiada pela Câmara. Rui Moreira terá decidido assumir a Proteção Civil e, em troca, entregar a pasta da Economia, refere, desvalorizando qualquer interpretação política.
TPT com: AFP//Carla Soares//JN// 14 de Julho de 2016