Ex-líder do CDS irritou-se com as declarações de um deputado centrista que falou no congresso do MPLA

O ex-presidente do CDS, José Ribeiro e Castro, defendeu que o partido deve explicar as declarações do seu deputado Hélder Amaral no Congresso do MPLA, em Luanda, que classificou como “miserável” investidura de um partido único. “O que o CDS – com estas declarações – veio fazer foi investir o partido único, e isso é uma coisa miserável. Os angolanos, incluindo o MPLA, querem construir uma democracia pluripartidária e vem um partido estrangeiro ungir e investir um partido único como se não houvesse mais partidos em Angola. Isto, de facto, é outra vez um mau serviço que se faz aos angolanos: do mesmo calibre do tempo em que nos cafés em Lisboa as pessoas se entrincheiravam por trás dos partidos armados alimentando a guerra civil em Angola. Isto é muito negativo”, disse José Ribeiro e Castro.

 

 

O dirigente e deputado do CDS-PP, Hélder Amaral, disse na quarta-feira, em Luanda, que o partido está muito mais próximo do MPLA e, agora, com “muitos mais pontos em comum”.

 

 

Neste sentido, para o ex-líder centrista, o CDS-PP deve esclarecer as posições manifestadas pelo deputado centrista à margem do VII Congresso do MPLA porque é uma alteração brusca de posição em relação ao partido no poder em Angola.

 

 

“É uma colagem absoluta. É uma mudança radical de posição, que eu não sei se foi tomada por algum órgão do partido (CDS-PP). Creio que se trata de uma falta de respeito pelos militantes e pela estrutura do partido. É uma questão de grande relevância e que devia ser reavaliada pela Comissão Política ou porventura pelo Conselho Nacional”, sustentou.

 

 

Para Ribeiro e Castro, as declarações do membro da delegação do CDS ao Congresso do MPLA ultrapassam também a participação “discreta” de um observador, passando a ser um “realinhamento” que “vai além daquilo que é justificável ou compreensível”.

 

 

“Faço notar que não houve declarações tão encomiásticas nem factos tão encomiásticos de qualquer representante partidário, nem sequer daquele que é o parceiro histórico do MPLA: o Partido Comunista Português. Isto diz tudo da confusão e da perplexidade que estes factos lançam no eleitorado português”, frisou o antigo presidente do CDS-PP (2005-2007).

 

 

Quanto à presença de Paulo Portas, antigo vice-pimeiro-ministro do governo PSD/CDS-PP, Ribeiro e Castro nota que não representa os centristas mas que “os seus atos” recaem também sobre o partido. “A opinião pública e o eleitorado penaliza-nos por coisas que projectam indirectamente a imagem do CDS”, afirmou.

 

 

Ribeiro e Castro defendeu que a delegação do CDS-PP deveria verbalizar em Luanda, “sem ingerências”, a preocupação com questões relacionadas com direitos, liberdades e garantias em Angola e considerar que existem outras formações partidárias angolanas além do MPLA.

 

 

“O meu respeito por Angola, pelos angolanos e pela independência é total. José Eduardo dos Santos é o Presidente da República de Angola que deve ser tratado com respeito e consideração, sobretudo tratando-se de um país irmão”, referiu ainda Ribeiro e Castro, acrescentando que Angola só cumprirá “o seu destino” quando for uma democracia plena e se aproximar dos níveis da democracia em Cabo Verde, “um exemplo para todas as democracias africanas”.

 

 

José Ribeiro e Castro tem tomado posições públicas sobre direitos humanos em Angola, nomeadamente sobre os acontecimentos relacionados com os presos de consciência angolanos que foram acusados de tentativa de golpe de Estado em 2015.

 

 

Também o militante do CDS Pedro Pestana Bastos, um dos rostos da Alternativa e Responsabilidade (uma facção que se notabilizou por ser crítica da liderança de Paulo Portas), mostrou o seu desconforto com as palavras de Hélder Amaral. “O deputado Hélder Amaral está seguramente sob efeito de jet lag (só pode)”, escreveu na sua página de Facebook.

 

 

Para Pedro Pestana Bastos defende que “o CDS hoje nem tem muitos mais pontos em comum com o MPLA nem está muito mais próximo do MPLA. O CDS é um partido de centro direita com matriz personalista que nada tem a ver com o MPLA, a sua doutrina e a sua prática.”

 

 

“Dos piores problemas da política em Angola é a crescente promiscuidade entre o Estado e o MPLA. O CDS nada tem a ver com isso, combate a promiscuidade entre poder político e económico e não deve passar a mensagem errada de que tem cada vez mais pontos em comum com o MPLA”, acrescenta Pestana Bastos.

 

 

TPT com: AFP//JD//Lusa//Público// 22 de Agosto de 2016

 

 

 

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