O ex-primeiro-ministro português venceu a terceira votação informal que decorreu esta segunda-feira em Nova Iorque, segundo informações oriundas da sede da ONU e divulgadas pelo Twitter.
Guterres terá recebido 11 votos a favor, três contra e um neutro, o que representa mais um negativo face à votação anterior e três em relação à primeira.
A votação secreta iniciou-se às 15.00 em Nova Iorque (20:00 em Lisboa) e terminou cerca de uma hora e 15 minutos depois, segundo jornalistas presentes no local.
Em segundo lugar ficou o eslovaco Miroslav Lajcak, com nove votos a favor, cinco contra e um neutro.
Estes resultados indicam que pela terceira vez que ainda não será desta vez que uma mulher chegará ao topo da ONU, apesar de essa ser uma das condições – a outra é ser da Europa de Leste – apontadas inicialmente como decisivas na escolha do sucessor de Ban Ki-monn.
A búlgara Irina Bokova, que satisfaz aqueles dois critérios, manteve o terceiro lugar da segunda votação, embora empatada com o sérvio Vuk Jeremic (que ficara em segundo). Ambos receberam sete votos de “encorajamento”, cinco de “desencorajamento” e três de “não opinião”.
Natalia Gherman (Moldávia) e Christiana Figueres (Costa Rica) obtiveram 12 votos negativos, dois favoráveis e um neutro, pelo que nesta fase já não terão condições para se manter na corrida.
A argentina Susana Malcorra e a neo-zelandesa Helen Clark ficaram em quinto e sétimo lugares: a primeira com sete votos a favor e sete contra, a segunda com seis positivos e oito negativos (ambas com um neutro).
Em sexto lugar ficou o macedónio Srgjan Kerim (com seis “sim”, sete “não” e dois neutros) e, em oitavo, o esloveno Danilo Turk (cinco a favor, seis contra e quatro “sem opinião”).
As duas primeiras votações informais do Conselho de Segurança realizaram-se a 21 de julho e 5 de agosto, tendo levado ao afastamento dos candidatos Vesna Pusic (Croácia) e Igor Luksic (Montenegro).
Guterres venceu a primeira votação com 12 votos de encorajamento e nenhum de desencorajamento.
Na segunda votação ganhou com 11 votos a favor e dois contra, tendo as posições neutras passado de três para duas.
Segundo observadores da organização, o vencedor da eleição para secretário-geral da ONU necessita de pelo menos nove votos a favor e nenhum veto entre os atuais 15 membros do Conselho de Segurança: EUA, Rússia, China, Reino Unido, França, Angola, Egito, Espanha, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Senegal, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.
Candidatura de Guterres consolida-se, diz Augusto Santos Silva
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, destacou nesta segunda-feira que a candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU se está a consolidar e que as suas qualidades estão a ser reconhecidas pela comunidade internacional.
“Quer pelo lado positivo, quer pelo lado negativo, a votação conseguida pelo engenheiro Guterres continua a ser a melhor votação possível. Isto significa que a posição do engenheiro Guterres consolida-se de votação, para votação”, afirmou em declarações à agência Lusa o chefe da diplomacia portuguesa.
Segundo Augusto Santos Silva, António Guterres “teve os melhores resultados” nas três votações, o que é um “elemento importante”.
“Há aqui uma candidatura que se consolida a olhos vistos. Consolida-se a olhos vistos no Conselho de Segurança a percepção que o engenheiro António Guterres é o melhor candidato a secretário-geral das Nações Unidas nas circunstâncias presentes”, afirmou o ministro.
Segundo o ministro, aquela foi, aliás, a razão pela qual Portugal apresentou a candidatura do antigo primeiro-ministro a secretário-geral da ONU.
“Está mais que justificada a apresentação da candidatura de António Guterres por parte de Portugal, visto que as suas qualidades políticas, humanas, pessoais, as suas competências diplomáticas, multilinguísticas são reconhecidas pela generalidade da comunidade internacional e esse reconhecimento tem uma expressão muito sólida no Conselho de Segurança”, salientou.
O ministro lembrou, contudo, que o processo de escolha ainda está numa fase internacional e que as votações são informais e “procuram perceber, ponderar, os apoios que cada candidato tem”.
O balanço dos votos favoráveis, desfavoráveis e sem opinião de Guterres face aos três candidatos que se lhe seguiram beneficia claramente a candidatura do português. No entanto, este é um processo que está em curso – deverá ser marcada em breve uma quarta votação na qual os membros permanentes do Conselho de Segurança com direito de veto – EUA, Reino Unido, França, China e Rússia – vão recorrer a um código de cores para as três opções, definindo, então, o seu sentido de voto.
Será só, então, que uma candidatura pode ser considerada consensual, levando à recomendação da sua aprovação pela Assembleia-Geral da ONU, que reúne representantes de 193 países.
Em 12 de Abril, a apresentação da candidatura de António Guterres em Nova Iorque, numa iniciativa inédita contracenando com os outros candidatos, foi elogiada pela imprensa internacional, da BBC ao Guardian, da revista Economist à agência EFE. O seu perfil, segundo estes meios influentes, combina a solidez das convicções com a capacidade de diálogo, consideradas necessárias para combater os perigos do tempo actual que António Guterres definiu como o populismo político, o racismo e a xenofobia.
TPT com: AFP//REUTERS/Mike Segar//Lusa//Manuel Castro Freire//DN//29 de Agosto de 2016