O presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, justificou o valor histórico da abstenção na votação de domingo com a fraca competitividade da disputa e com a ideia de que a sua reeleição estava garantida.
“Uma boa parte dos cidadãos eleitores estava convencida à partida de que ganharia as eleições”, disse Jorge Carlos Fonseca.
O advogado e constitucionalista, que foi reeleito com 74% dos votos, respondia a perguntas dos jornalistas na sua sede da campanha na capital cabo-verdiana, onde na noite de domingo (madrugada desta segunda-feira em Portugal continental) fez o discurso de vitória.
“As pessoas diziam-me. No terreno todos estavam convencidos que ia ganhar as eleições. Tanto assim que fui obrigado a fazer um chamamento de calma e de apelo ao voto”, sublinhou.
“Milhares de cabo-verdianos não votaram porque entendiam que já tinha ganho as eleições, o que quer dizer que, se houvesse menos abstenção, provavelmente teria ganho com uma diferença muito maior do que a que tive”, acrescentou.
Jorge Carlos Fonseca considerou ainda como causa da abstenção, que ficou acima dos 60%, a “fraca competitividade eleitoral”.
“Não estando num momento de rutura política é normal que as pessoas não se envolvam tão fortemente como se tivesse havido uma concorrência mais competitiva ou se estivemos num momento político de rutura”, disse.
O chefe de Estado aludia à várias vezes dada como provável, mas nunca concretizada candidatura do ex-primeiro-ministro do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), José Maria Neves.
Apesar do nível histórico da abstenção, a maior de sempre desde que há eleições democráticas em Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca sublinhou que a sua legitimidade está intacta e não se sente desconfortável com as circunstâncias da eleição. “Sentir-me desconfortável por ter uma vitória com esta dimensão, a mais expressiva da história, ter três quartos dos votos expressos, ter a certeza que grande parte dos ausentes da eleição seriam meus eleitores?”, questionou.
“A democracia tem regras e quem ganha as eleições é quem tem a maioria dos votos validamente expressos nas urnas. Tive uma percentagem próxima dos três quartos dos votos expressos nas urnas, por isso tenho que estar muito alegre, muito satisfeito e sentir-me de corpo e alma como o Presidente e com as condições para ser Presidente de todos os cabo-verdianos como fui durante cinco anos”, concluiu.
De acordo com os dados provisórios e quando falta apurar a votação do círculo eleitoral das Américas, votaram nestas eleições 125.202 eleitores, o equivalente a 36,3% do total de inscritos enquanto 219.300, colocando a abstenção nos 63,7%.
Jorge Carlos Fonseca torna-se assim no terceiro presidente da República, reeleito para o segundo mandato, seguindo-se a Pedro Pires (2001-2011) e António Mascarenhas Monteiro (1991-2001).
Segundo a Comissão Nacional de Eleições (CNE) nestas eleições presidenciais foram registados 361.206 eleitores, dos quais 314.073 em território nacional e 47.133 no estrangeiro.
Jorge Carlos Fonseca descreve a sua reeleição como a “mais expressiva de sempre da democracia cabo-verdiana”
O candidato reeleito disse que a democracia cabo-verdiana está de parabéns e que a sua eleição simboliza uma vitória de cidadania, de todas as mulheres e de todos os homens que, a seu ver, prezem por esta eleição história do ponto de vista de resultado, “muito acima de 70 por cento”.
Jorge Carlos Fonseca, prometeu “continuar a ser fiel à Constituição”, cumprido o papel do mais alto magistrado da nação “com rigor, isenção e total independência”, tendo, por isto, considerando que foi honrosamente reconduzido para ser o Presidente da República, enquanto cimento da nação para garantir os superiores interesses do país.
“Saberei honrar, de forma integral e permanente, o mandato que hoje me foi confiado por vós, e prometo cumprir o mandato de forma dedicada e leal com todos os organismos, atestou Jorge Carlos Fonseca, que pretende ser um “promotor ativo do diálogo” entre as instituições eleitas democraticamente, mas também, um promotor da paz, do desenvolvimento social e da coesão territorial.
“Cabo Verde precisa de todos e conto com todos”, enfatizou, prometendo trabalhar para fazer da nação um espaço de maior desenvolvimento humano, social e económico, e aplicar toda a sua experiência e inteligência, para cumprir, “de corpo e alma, com toda a energia, força e dedicação” o compromisso de ser “O Presidente Sempre com as Pessoas”.
“O resultado expressivo desta eleição comprova o sentimento de que fiz uma campanha pela positiva, com ideias e propostas concretas, motivada por um espírito construtivo de cidadania e animada por uma comunhão de vontades”, salientou o reeleito chefe de Estado, para quem a democracia faz-se todos os dias e Cabo Verde ganhou com esta campanha.
Afirmou, igualmente, que os eleitores escolheram um candidato que fez uma campanha positiva, no terreno, em todos os comícios, nos tempos de antena, em todos os debates e em todas as intervenções.
“É tempo, agora, de olhar para frente”, enfatizou Jorge Carlos Fonseca.
Albertino Graça, o candidato do “Equilíbrio”, ficou no segundo posto, com 27.644 votos, correspondente a 22,6%, ao passo que Joaquim Monteiro, o autoproclamado “Candidato do Povo” ficou no terceiro lugar ao somar 4,213 votos, equivalente a 3,4%.
Ao todo, 125.202 eleitores exerceram o direito de voto, equivalente a 36,3%, enquanto 219.300 inscritos, correspondente a 63,7 %, decidiram pela abstenção.
Jorge Carlos Fonseca torna-se no terceiro Presidente da República, reeleito para o segundo mandato, seguido de António Mascarenhas Monteiro e Pedro Pires.
Dados avançados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) revelam que nestas eleições presidenciais foi registado um total de 361.206 eleitores inscritos, dos quais 314.073 votantes no território nacional e 47.133 na diáspora.
Observadores consideram eleições livres, mas alertam para abstenção
Os observadores internacionais às presidenciais de domingo em Cabo Verde consideraram hoje que as eleições foram livres e transparentes, mas aconselham a adoção de reformas para incentivar maior participação dos cidadãos.
A votação contou com a participação de missões de observadores da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Africana.
Em conferência de imprensa hoje, na cidade da Praia, o chefe de missão da CEDEAO, o antigo presidente do Benim, Thomas Boni Yayi sublinhou “as condições de liberdade e transparência” e o “clima pacífico” e “sem incidentes” em que decorreu todo o processo eleitoral.
“Este sexto processo de eleição presidencial representa de facto um marco na consolidação das conquistas democráticas do povo cabo-verdiano, demonstra a maturidade de todos os interessados e o funcionamento das instituições”, afirmou Thomas Boni Yayi.
A missão da CEDEAO, composta por 50 membros, marcou presença em 480 mesas de voto (47 por cento) em nove das 10 ilhas cabo-verdianas.
Na avaliação preliminar, o chefe da missão assinalou, por outro lado, a “baixa mobilização dos eleitores” e recomendou que sejam tomadas medidas para incentivar uma maior participação dos cidadãos.
A CEDEAO sugere, nomeadamente, o envolvimento da sociedade civil através de campanhas de sensibilização e a organização de eleições gerais (presidenciais, legislativas e municipais) em simultâneo para reduzir custos e “suscitar mais interesse nas eleições”.
A missão propõe ainda às autoridades cabo-verdianas que considerem a possibilidade de introdução do voto eletrónico.
Thomas Boni Yayi elogiou o profissionalismo na organização do escrutínio e manifestou o desejo de que a experiência possa ser partilhada com os países homólogos da CEDEAO.
Também o chefe da missão de observadores da União Africana (UA), o ex-presidente da República da Guiné-Bissau, Serifo Namadjo, considerou que as eleições “foram livres e justas”.
“O processo decorreu na normalidade. Constatamos que nas mesas os técnicos da Comissão Nacional de Eleições (CNE) eram pessoas bem preparadas para o efeito e também não houve nenhuma situação registada que pudesse indiciar alguma fricção ou outro problema”, disse.
A missão da UA inclui 29 elementos e acompanhou as eleições em sete das nove ilhas de Cabo Verde.
Marcelo elogia “capacidades de liderança” de Presidente de Cabo Verde reeleito
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou hoje José Carlos Fonseca pela reeleição como chefe de Estado de Cabo Verde, elogiando as suas “capacidades de liderança”.
Numa mensagem publicada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que os cabo-verdianos deram “um claro e muito expressivo voto de confiança” ao advogado e constitucionalista, que conquistou mais de 70 por cento dos votos, na primeira volta das presidenciais, realizada este domingo, mas que ficou marcada por uma taxa de abstenção histórica, acima dos 60 por cento.
Para o Presidente português, o reeleito “amigo” tem as “capacidades de liderança para continuar o caminho da paz, da democracia e do desenvolvimento sustentável” do “país irmão”.
Marcelo destacou que “Cabo Verde é um exemplo de boa governação para toda a África” e “um país que soube crescer mesmo sem dispor de riquezas naturais, mas apostando nas qualidades do seu povo”.
TPT com: Inforpress//AFP//Lusa//JN// 3 de Outubro de 2016