Ex-líder da Octapharma em Portugal fica em prisão domiciliária por suspeitas de corrupção activa no negócio do plasma em Portugal

O Tribunal de Instrução Criminal decidiu não aplicar a medida de coação máxima, prisão preventiva, a Paulo Lalanda e Castro. O ex-líder da filial portuguesa da Octapharma vai ficar preso na sua casa em Cascais devido ao perigo de perturbação de inquérito, segundo notícia do Correio da Manhã.

 

 

Lalanda e Castro já tinha sido constituído arguido pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeitas de corrupção ativa e branqueamento de capitais. De acordo com a TVI 24, o igualmente ex-administrador da holding da farmacêutica suíça Octapharma será igualmente suspeito do crime de recebimento indevido de vantagem. Além de ser obrigado a permanecer na sua residência, Lalanda está ainda proibido de contactar com os restantes arguidos do processo.

 

 

O gestor farmacêutico é suspeito de ter alegadamente corrompido Luís Cunha Ribeiro como presidente do júri do primeiro concurso lançado em 2000 para a centralização da compra de hemoderivados (medicamentos feitos a partir do plasma do sangue) por parte do Serviço Nacional de Saúde que foi ganho pela Octapharma. Está igualmente a ser investigado pelo Ministério Público (MP) e pela PJ um concurso de compra de plasma sanguíneo adjudicado igualmente à farmacêutica suíça, como pode verificar aqui.

 

 

De acordo com o comunicado da Procuradoria-Geral da República (PGR) de 13 de dezembro, os dois “terão acordado entre si” que Cunha Ribeiro “utilizaria as suas funções e influência para beneficiar indevidamente” a Octapharma liderada em Portugal por Lalanda e Castro. O comunicado da PGR não identifica nomes, como é habitual, mas a descrição feita aplica-se, ao que o Observador apurou, aos factos que são imputados aos dois principais arguidos da Operação O -.

 

 

Cunha Ribeiro, que é suspeito dos crimes de corrupção passiva para ato ilícito e branqueamento de capitais, encontra-se preso preventivamente depois do mesmo Tribunal de Instrução Criminal ter considerado como fundamentados os indícios de perigo de fuga, perigo de perturbação do inquérito e perigo de destruição de prova que o Ministério Público imputou ao arguido.

 

 

SEF não terá comunicado presença de Lalanda em Portugal

 

 

 

Aquando do lançamento da Operação O – no dia 13 de dezembro, a estratégia do MP passava pela detenção de Lalanda e Castro e Cunha Ribeiro. Este médico, que foi presidente do Instituto de Emergência Médica e da Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo, foi detido no mesmo dia em que a PJ executou mais de 30 buscas domiciliárias e não domiciliárias relacionadas com este caso. Já o ex-líder da Octapharma Portugal foi detido no dia 15 de dezembro na cidade alemã de Heidelberg (cidade do fundador da farmacêutica suíça e onde a Octapharma tem instalações) no âmbito de um mandado de detenção europeu emitido a pedido por parte das autoridades portuguesas. Lalanda terá sido detido durante uma reunião do conselho de administração da Octapaharma.

 

 

O problema é que um juiz alemão, a pedido da defesa de Lalanda e Castro que era assegurada por Ricardo Sá Fernandes e por advogados locais, considerou que não se justificava a detenção, visto que o gestor já se tinha disponibilizado por várias vezes em missivas dirigidas à PGR para ser interrogado no caso que nasceu de uma reportagem da TVI emitida em 2015.

 

 

Sá Fernandes afirmou então que o mandado de detenção europeu tinha sido anulado pelo tribunal federal alemão que analisou o caso — facto contestado por fontes judiciais portuguesas ouvidas pelo Observador. Certo é que Lalanda e Castro ficou livre.

 

 

De acordo com a sua defesa, o gestor regressou a Portugal no dia 23 de dezembro, tendo-se manifestado desde logo disponível para ser interrogado pelo MP como arguido e ser conduzido à presença de um juiz de instrução para o primeiro interrogatório como arguido e para a definição das medidas de coação.

 

 

Apesar do mandado de detenção europeu estar em vigor no momento em que Lalanda e Castro aterrou no Aeroporto de Lisboa, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não terá comunicado à PJ a chegada do gestor a território nacional, ao que o Observador apurou. O facto de Lalanda ter feito uma viagem intra-comunitária — isto é, o avião partiu de um país do Espaço Económico Europeu (a Alemanha) para Portugal — fez com que o seu voo não tivesse sido fiscalizado pelo SEF.

 

 

Certo é que poderia ter sido emitido um novo mandado de detenção mas tal não aconteceu.

 

 

Dirigente dos hemofílicos terá recebido 300 mil euros

 

 

 

Além de Lalanda e Castro e Cunha Ribeiro, foram ainda constituídos arguidos os advogados Paulo Farinha Alves e Barros Figueiredo, e a farmacêutica Elsa Morgado, representante da Associação Portuguesa de Hemofílicos e membro do mesmo júri do concurso liderado por Cunha Ribeiro em 2000 que deu a vitória à Octapharma na compra de medicamentos hemoderivados.

 

 

De acordo com o Expresso, Elsa Morgado será suspeita do crime de corrupção passiva para ato ilícito, por alegadamente ter recebido mais de 300 mil euros de Lalanda e Castro. Segundo a notícia da edição de 7 de janeiro daquele semanário, a PJ terá detetado um conjunto de transferências nesse valor para Morgado e familiares seus.

 

 

Soares da Veiga, advogado de Lalanda e Castro, diz que essas transferências dizem respeito a um empréstimo do gestor farmacêutico a Elsa Morgado a propósito da falência de uma parafarmácia que ambos detiveram em conjunto em Lisboa durante os anos 90 do século passado. O causídico recusa qualquer relação entre a circulação desse dinheiro e os negócios da Ocptaharma com o Estado português.

 

 

Soares da Veiga é assim o novo advogado de Lalanda e Castro na Operação -, mantendo-se Ricardo Sá Fernandes na Operação Marquês e Paulo Saragoça da Matta como advogado no caso Vistos Gold.

 

 

No processo que tem José Sócrates como principal arguido, o gestor farmacêutico foi constituído arguido por suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais por alegadamente ter contribuído para Sócrates receber mensalmente fundos que teriam origem no Grupo Lena.

 

 

Já no caso Vistos Gold, Lalanda e Castro foi mesmo acusado pelo MP e pronunciado pelo juiz Carlos Alexandre por dois crimes de tráfico de influência e deverá ser julgado no início de 2017.

 

 

Um advogado por processo é a estratégia de Paulo Lalanda e Castro — uma estratégia cara que não está ao alcance de qualquer bolso. Não é menos certo, contudo, que o recheio das contas bancárias de Lalanda e Castro não estão ao alcance do cidadão comum por via dos salários que auferiu durante largos anos como administrador da holding da multinacional suíça. Só em 2015, a Octapharma teve vendas brutas de 1,58 mil milhões de euros e lucros líquidos de 351 milhões de euros. Lalanda, que se demitiu de todos os cargos da Octapharma antes de ser anunciada a sua detenção em dezembro, chegou a ser apontado como um potencial sucessor do fundador e líder da Octapharma, AG.

 

 

Conheça aqui a história de Paulo Lalanda e Castro, o homem por detrás do negócio do plasma

 

 

 

Lalanda e Castro foi administrador de uma farmacêutica com vendas de 1,5 mil milhões de euros, gosta de roupas caras e adora carros desportivos. Eis a história da sua ascensão e queda.

 

Patrão de José Sócrates, suspeito de fazer-lhe chegar dinheiro que alegadamente tinha origem no Grupo Lena, acusado de tráfico de influências junto do ex-ministro Miguel Macedo, arguido por corrupção de responsáveis políticos líbios e agora alvo de um mandado de detenção europeu por alegadamente ter corrompido Luís Cunha Ribeiro para ganhar o monopólio do negócio do plasma em Portugal — afinal, quem é Paulo Lalanda e Castro, o homem que é suspeito em três dos principais processos judiciais nacionais dos últimos anos e que foi esta quarta-feira libertado por um tribunal alemão?

 

 

Administrador executivo da operação global de uma farmacêutica com vendas de 1,5 mil milhões de euros, apontado como sucessor do 17.º bilionário alemão à frente da Octapharma, com queda para carros desportivos, começou a dar nas vistas como delegado de propaganda médica pela sua capacidade de comunicação mas também pelos seus dotes sociais que o levaram a organizar jogos de poker pela noite fora com médicos amigos.

 

 

“Ambicioso”, “estratega”, “vendedor”, “sedutor” e “generoso” são outras palavras normalmente utilizadas para descrever Lalanda e Castro por ex-colegas ou amigos próximos. Luís Cunha Ribeiro, o outro protagonista da “Operação O -“, é, aliás, um amigo de infância e a proximidade entre ambos era conhecida quer na filial portuguesa da Octapharma, quer no seu círculo de amigos, nomeadamente ligados à medicina. Encontravam-se com regularidade, viajavam juntos e eram confidentes um do outro.

 

 

Luís Cunha Ribeiro, o outro protagonista da Operação O -, é um amigo de infância. Encontravam-se com regularidade, viajavam juntos e eram confidentes um do outro.
Lalanda e Castro chegou a empregar uma namorada dinamarquesa de Cunha Ribeiro na área do marketing da Octapharma. “Era uma autêntica modelo. A típica nórdica loira, de olhos azuis, alta, lindíssima”, afirmou um amigo de ambos.

 

 

 

O estudante que nunca foi médico

 

 

 

Nascido no Porto em 1957, filho de um militar e de uma farmacêutica, Joaquim Paulo Nogueira de Lalanda e Castro cresceu numa tradicional família de burguesia portuense. A proximidade natural que sempre sentiu em relação à mãe foi potenciada com a morte do pai quando ainda era jovem.

 

 

Dedicada ao trabalho, a mãe chegou a ser diretora de serviço da farmácia hospitalar do Hospital de São João (onde terá trabalhado com Luís Cunha Ribeiro) e terá sido sob a sua influência que Paulo Lalanda e Castro se interessou pela área da saúde. Tentando corresponder a uma expectativa da sua mãe, inscreveu-se na Faculdade de Medicina do Porto no período revolucionário do 25 de Abril mas acabou por desistir a meio do curso. E foi a partir daí que se dedicou ao trabalho na indústria farmacêutica, a área de trabalho da sua mãe.

 

 

Tentando corresponder a uma expectativa da sua progenitora, inscreveu-se na Faculdade de Medicina do Porto mas acabou por desistir a meio do curso. E foi a partir daí que se dedicou de corpo e alma ao trabalho na indústria farmacêutica — ao fim e ao cabo, a área de trabalho da sua mãe. Dotado de uma boa capacidade de comunicação e um forte sentido comercial, Lalanda começou a trabalhar como delegado de propaganda médica.

 

 

Dotado de uma boa capacidade de comunicação e um forte sentido comercial, Lalanda começou a trabalhar como delegado de propaganda médica e rapidamente se destacou entre os colegas, viajando pelo país. Foi nesses tempos iniciais que ganhou o epíteto de “Grande Vendedor”. Tanto vendeu medicamentos da mais variada espécie como instrumentos cirúrgicos e máquinas de sutura — tudo com a mesma eficácia.

 

 

Lalanda conseguia facilmente ganhar empatia com os médicos e era muito eficaz a explicar a cada um deles as mais-valias dos seus produtos. Socialmente era também um sucesso. Não só começou a ganhar facilmente amigos entre os médicos, como passou a organizar jogos de poker em Lisboa que se prolongavam pela noite fora no início dos anos 80.

 

 

Antes de entrar na Octapharma, passou por diversos laboratórios conhecidos nos anos 80 e chegou a ser diretor de marketing de uma farmacêutica norte-americana importante no mercado mundial da época: a Wyeth — empresa que viria a ser comprada pela Pfizer em 2009 por cerca de 68 mil milhões de dólares (cerca de 65 mil milhões de euros ao câmbio de hoje).

 

 

A entrada

 

 

 

Falar de Paulo Lalanda e Castro, contudo, é falar da Octapharma — uma farmacêutica suíça que passou a ser mais conhecida por causa das notícias da última semana sobre a “Operação O -“. Mas, afinal, o que é a Octapharma?

 

 

Trata-se de uma farmacêutica fundada em 1983 na Suíça pelo alemão Wolfang Marguerre. Um exímio violinista e ex-vice-presidente do grupo francês de cosméticos Revlon, Marguerre viu no início dos anos 80 uma oportunidade de negócio na biotecnologia — uma área que, então, estava num estado de desenvolvimento primitivo.

 

 

O combate à hemofilia é a principal missão empresarial da Octapharma. Aliás, a primeira parte do seu nome, “Octa”, significa oito em grego e pretende simbolizar o Factor VIII — o factor sanguíneo deficiente que caracteriza a hemofilia A, a variante mais grave desta doença genética hereditária. Através de uma forte aposta na investigação, Marguerre e a sua equipa conseguiram desenvolver dois processos inovadores:

 

  • Inativação do plasma sanguíneo — consiste na separação do plasma, que é a parte líquida do sangue (que se caracteriza por uma forte cor amarela), dos restantes componentes, isolando-o e conservando-o de forma a que seja utilizado em transfusões. A grande novidade deste processo foi um aumento exponencial da segurança das transfusões, já que reduziu ao mínimo a transmissão das doenças dos dadores;

 

  • Criação de produtos hemoderivados — através de um processo de fracionamento, foi possível separar, purificar e transformar as proteínas do plasma em produtos farmacêuticos. Estes medicamentos viriam a ser chamados de hemoderivados e a Octapharma foi das primeiras farmacêuticas a criar produtos com Factor VIII (para combater a hemofilia A) e Factor XIX (para lutar contra a hemofilia B).

 

 

O mínimo que se pode dizer é que Wolfgang Marguerre acertou na mouche. Desde o final dos anos 80 que a Octapaharma não parou de crescer, tornando-se uma das maiores farmacêuticas do mundo especializadas em plasma sanguíneo. Para ter uma real percepção da escala da Octapharma, concentremo-nos nos resultados do exercício de 2015:

 

 

  • Vendas brutas – 1.58 mil milhões de euros

 

  • Lucro – 351 milhões de euros

 

 

O crescimento da empresa nos últimos seis anos tem sido exponencial, como se pode verificar no gráfico abaixo reproduzido:

 

Mas podemos ir mais longe: as vendas acumuladas suplantaram os 10 mil milhões de euros entre 2004 e 2015, enquanto os lucros acumulados atingiram cerca de 1,9 mil milhões de euros no mesmo período, de acordo com os dados contidos nos relatórios e contas da empresa.

 

 

Resultados que traduzem a operação global da Octapharma, presente em 32 mercados nacionais, com destaque para os principais países europeus, Estados Unidos, Brasil, México, Rússia, Ucrânia, China, Arábia Saudita, Singapura e Austrália. A empresa tem ainda fábricas em Viena (Áustria), Springe e Dessau (Alemanha), Lingolsheim (França), Estocolmo (Suécia), Charlote (Estados Unidos) e México.

 

 

 

O 17. º bilionário alemão

 

 

 

Por isso mesmo, Wolfgang Marguerre ocupa um lugar destacado na famosa lista anual de milionários da revista Forbes. Na lista de 2016 (actualizada em tempo real consoante a variação diária das empresas cotadas), Marguerre ocupa a posição #196 em termos globais, com um conjunto de ativos que suplantam os 5,3 mil milhões de euros. Se olharmos apenas para a Alemanha, estamos a falar do 17.º bilionário alemão.

 

 

Uma informação de contexto: Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, está na posição #369, com ativos avaliados em 4,1 mil milhões de euros, enquanto Alexandre Soares do Santos encontra-se posição #854, com 2,1 mil milhões de euros.

 

 

Um exímio violinista, Marguerre viu no início dos anos 80 uma oportunidade de negócio na biotecnologia. Hoje ocupa a posição #196 na lista da Forbes sobre os homens mais ricos do mundo com uma fortuna de 5,3 mil milhões de euros. É o 17.º bilionário alemão. Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, está na posição #369 com ativos avaliados em 4,1 mil milhões de euros.

 

 

Marguerre transformou a Octapharma desde o início numa empresa com um forte cariz familiar. Fundada e gerida por Wolfgang, a administração da farmacêutica conta ainda com dois dos seus três filhos (Tobias e Frederic) com pastas importantes na gestão da empresa.

 

 

Apesar de ter sido fundada por um alemão, tem sede na cidade suíça de Lachen (Cantão Schwyz), nas imediações do Lago de Zurique. Essa é a sede formal, mas a cidade alemã de Heidelberg, onde nasceu Wolfgang, passou a ter um lugar de destaque na organização a partir do momento em que foi inaugurado um centro de investigação em 2012 que custou mais de 25 de milhões de euros — e que estava anteriormente em Munique. Foi nestas instalações que Paulo Lalanda e Castro foi detido pela polícia alemã e pela Polícia Judiciária em plena reunião do Conselho de Administração da Octapharma.

 

 

A ligação do fundador da Octapharma à cidade onde nasceu traduz-se igualmente na doação pessoal de cerca de 17 milhões de euros para a renovação do teatro local, assim como na doação de cerca de 1 milhão de euros para a autarquia de Heidelberg promover a integração dos refugiados que entraram na Alemanha no âmbito da política de portas abertas da chanceler Angela Merkel, segundo informação da revista Forbes.

 

 

A ascensão

 

 

A farmacêutica suíça começou por entrar no mercado português em 1988, através de um distribuidor local escolhido para comercializar os seus produtos. Lalanda e Castro trabalhava nessa distribuidora local, coincidência que fez com que tivesse os primeiros contactos com os suíços. Quatro anos mais tarde, a empresa de Wolfgang Marguerre decidiu avançar para a criação de uma filial portuguesa e convidou Paulo Lalanda e Castro. Então diretor de marketing da Wyeth em Portugal, encontrava-se numa posição segura. E foi precisamente isso que a mãe argumentou, segundo um amigo próximo conta ao Observador, para o demover de aceitar o convite da Octapharma. Apesar da forte oposição da mãe, de quem sempre foi muito chegado até à data da sua morte, Lalanda acabou por aceitar o convite da família Marguerre.

 

 

O gestor português começou por focar-se em dominar o negócio da venda do plasma sanguíneo inativado a cada um dos hospitais portugueses, apostando mais tarde na venda de hemoderivados. Tendo em conta a ausência ou a fraca concorrência, foi muito fácil dominar o mercado ao início. Os seus conhecimentos nos principais hospitais portugueses foram vitais para o sucesso da Octapharma.

 

 

Lalanda e Castro conhecia tão bem o mercado que, com o conhecimento e autorização da casa mãe, começou a abrir outras empresas (suas e que nada têm a ver com a Octapharma) com o objetivo de comercializar produtos farmacêuticos que complementassem o portfólio da farmacêutica suíça. É a partir daqui que constrói um pequeno conglemorado de empresas que, mais tarde estará, na origem, das imputações criminais.

 

 

 

A filial portuguesa, apesar de faturar muitos milhões anualmente, era uma espécie de micro-empresa nos seus primórdios. Apenas quatro funcionários davam uma dimensão familiar à empresa e enfatizavam as capacidades de liderança de Lalanda e Castro. “Era uma pessoa muito gentil. Procurava estar a par de tudo e dos problemas das pessoas”, diz um ex-funcionário.

 

 

Outro destaca as suas capacidades de gestão: “Era um estratega. Tinha grande sentido comercial e conhecia muito bem o mercado em que se movia”, afirma outro ex-funcionário.

 

 

Conhecia tão bem o mercado que, com o conhecimento e autorização da casa-mãe, começou a abrir outras empresas (suas e que nada têm a ver com a Octapharma) com o objetivo de comercializar outros produtos ´ que complementassem o portfólio da farmacêutica suíça. É a partir daqui que constrói um pequeno conglemorado de empresas que também chega a sectores como o imobiliário — e que está na origem, segundo o Ministério Público e a Polícia Judiciária, das contrapartidas pelo alegado crime de corrupção activa que lhe é imputado.

 

 

Veja aqui as várias empresas criadas por Lalanda e Castro

 

 

 

Quando Maria de Belém, então ministra da Saúde do primeiro Governo de António Guterres (1996/1999), decide centralizar as compras de plasma sanguíneo e de hemoderivados para conseguir preços mais baratos, a Octapharma continua a ter sucesso. A vitória da farmacêutica suíça no concurso de 2000 para a compra de produtos hemoderivados, cujo júri foi presidido por Luís Cunha Ribeiro, é um exemplo disso mesmo, como pode verificar aqui. É este concurso que está na origem da “Operação O -“.

 

Segundo a TVI, a Octapharma terá facturado em Portugal nos últimos 20 anos mais de 120 milhões de euros. Mas, de acordo com dados do Infarmed citados pelo Público, só entre 2009 e setembro deste ano os suíços tiveram receitas de 250 milhões de euros com origem nos hospitais públicos portugueses.

 

 

Todos estes dados de sucesso no mercado nacional fizeram com que Paulo Castro — o nome normalmente usado pelos seus amigos — tivesse uma ascenção na empresa suíça. Um exemplo da importância do mercado português para a Octapharma: em 2006, Paulo Lalanda e Castro já era membro do Conselho de Administração da holding suíça como diretor-geral da filial portuguesa. Com esse estatuto, apenas os responsáveis máximos das filiais alemã e nórdica tinham igualmente assento no board da Octapharma — quando a empresa estava presente em 11 países europeus.

 

 

 

Roupas, Porsche e cremes

 

 

A sua vida pessoal também foi conhecendo muitas mudanças. Casado com uma advogada, separou-se ainda nos anos 90, tendo tido dois filhos de outra relação.

 

 

Os resultados positivos da Octapharma, e ainda antes de subir à administração da holding na Suíça, trouxeram os aumentos salariais e os prémios anuais elevados. Quem conviveu com Lalanda e Castro no final dos anos 90 recorda-se do seu gosto por roupa cara, em especial por marcas italianas como Ermenegildo Zegna ou Cerruti; da sua queda por comprar carros desportivos, como um Porsche 911; e de ter uma grande preocupação com a sua imagem, comprando cosméticos masculinos para retardar o envelhecimento da pele.

 

 

Um amigo recorda igualmente uma casa que Lalanda e Castro tinha no final dos anos 90 na Av. Estados Unidos da América que tinha a melhor tecnologia disponível para as chamadas casas inteligentes. “Ele não precisava de fazer nada. Bastava dar uma ordem e abriam-se os estores, as luzes e a televisão”, diz.

 

 

Na década de 2000, com a ascensão à administração da Octapharma, Lalanda e Castro ficou com a pasta do marketing da multinacional suíça e começou a viajar por todo o mundo, muitas vezes em aviões privados.

 

 

Os resultados positivos da Octapharma, e ainda antes de subir à administração da holding na Suíça, trouxeram os aumentos salariais e os prémios anuais com cheques chorudos. No final dos anos 90 Lalanda e Castro tinha uma queda especial por marcas italianas como a Ermenegildo Zegna ou a Cerruti, e por carros desportivos. Após ser nomeado administrador, os amigos começam a comentar o seu gosto por namoradas eslavas. Irina, uma hospedeira ucraniana, foi a sua grande paixão dessa época.

 

 

 

A subida dos lucros da Octapharma e o apreço que Wolfgang Marguerre foi ganhando por Lalanda e Castro, fez com que este começasse a ter mais poder dentro da administração da Octapharma.

 

 

Em primeiro lugar, passando a ser diretor-geral para Portugal e Espanha. Numa segunda fase, em 2008, Lisboa foi igualmente a base para o nascimento de uma “Latin America Unit”. Seria Paulo Lalanda e Castro que ficaria responsável pela penetração da Octapharma no Brasil e nos restantes países da América Latina.

 

 

Apesar de a Octapharma e de Lalanda e Castro terem sido investigados no âmbito do chamado processo “Máfia dos Vampiros”, juntamente com outras farmacêuticas, sob a suspeita de terem inflacionado os preços acima do valor de mercado, as vendas, mais uma vez, foram muito positivas. Entre 2010 e 2015, a Octapharma faturou cerca de 668 milhões de reais brasileiros (cerca de 192 milhões de euros ao câmbio de hoje), segundo um requerimento apresentado pelo senador Álvaro Dias no Senado da República do Brasil.

 

 

Foi também devido ao sucesso da implatanção na América Latina que Lalanda e Castro é promovido em 2010 a líder do “Global Management Commitee International Marketing” da farmacêutica. É também por esta altura, que Paulo Castro é desafiado pela empresa a viver em Paris ou na Suíça. Acaba por escolher Zurique e começa a ser falado dentro da empresa como um potencial sucessor de Wolfgang Marguere.

 

 

Foi também devido ao sucesso da implatanção na América Latina que Lalanda e Castro é promovido em 2010 a líder do “Global Management Commitee International Marketing” da farmacêutica.

 

 

É também por esta altura, que é desafiado pela Octapharma para viver em Paris ou na Suíça. Acaba por escolher Zurique e começa a ser falado dentro da empresa como um potencial sucessor de Wolfgang Marguere.

 

 

Tendo em conta a característica de empresa familiar e o facto de os dois filhos do fundador serem membros do Conselho de Administração, sendo Frederic o representante dos accionistas e líder da operação dos Estados Unidos, é pouco provável que isso viesse a acontecer.

 

 

 

Os problemas

 

 

 

O início dos problemas de Lalanda e Castro dá-se com um facto que deveria exponenciar a sua importância dentro de um grupo como a Octapharma: a contratação de José Sócrates, um ex-primeiro-ministro de um governo europeu, como consultor. O lugar oferecido era o de presidente do Conselho Consultivo para a América Latina.

 

 

O convite foi feito à mesa de um restaurante em Paris em 2012 e o objetivo era claro: ajudar a Octapharma a melhorar as suas relações com o Governo de Dilma Rousseff, no Brasil. Por 12.500 euros mensais, Sócrates comprometia-se a abrir portas para melhorar a imagem da farmacêutica por causa do processo Máfia dos Vampiros e também para fazer com que a Octapharma ganhasse uma posição no negócios dos hemoderivados — cuja produção os brasileiros pretendiam que fosse tendencialmente pública, como pode verificar aqui.

 

A péssima imagem de José Sócrátes junto da comunicação social fez com que automaticamente a Octapharma passasse a ser um nome a ter em conta nas redações portuguesas a partir do momento em que o Ministério da Saúde brasileiro divulgou fotos de uma reunião em fevereiro de 2013 entre José Sócrates, Paulo Lalanda e Castro e o ministro Alexandre Padilha.

 

 

José Sócrates passou a estar sob escuta na Operação Marquês pouco tempo depois. Após a detenção do ex-primeiro-ministro em novembro de 2014, tudo mudou para Paulo Lalanda e Castro.

 

 

Devido ao forte escrutínio a que as empresas são sujeitas na Suíça por parte dos diferentes reguladores, a Octapharma viu-se obrigada a despedir José Sócrates de imediato.

 

 

Neste contexto, a Octapharma passa a estar ligada a um caso em que se investiga suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais — facto exponenciado pela constituição de Lalanda e Castro como arguido e a divulgação das escutas telefónicas das conversas entre o administrador da Octapharma e Sócrates.

 

 

A nódoa na imagem da Octapharma é clara. Isso mesmo enfatiza ainda hoje a revista Forbes no perfil que faz de Wolfgang Marguere.

 

 

Devido ao forte escrutínio a que as empresas são sujeitas na Suíça por parte dos diferentes reguladores, a Octapharma viu-se obrigada a despedir José Sócrates imediatame a seguir à sua detenção. A nódoa na imagem da farmacêutica é clara. Isso mesmo enfatiza ainda hoje a revista Forbes no perfil que faz de Wolfgang Marguere como um dos homens mais ricos do mundo.

 

 

Tudo vai piorar, contudo. Em 2015, Lalanda e Castro é acusado da alegada prática de dois crimes de tráfico de influências devido a problemas fiscais de empresas pessoais suas e constituído arguido por alegada corrupção activa no comércio de responsáveis políticos da Líbia para ganhar um contrato para a International Life Solutions — outra empresa sua que nada tem a ver com a Octapharma.

 

 

O facto de as suspeitas criminais na Operação Marquês e nos Vistos Gold estarem relacionadas apenas com empresas pessoais de Lalanda e Castro — e não com a Octapharma — foi a razão pela qual se manteve como administrador da farmacêutica suíça.

 

 

Wolfgang Marguere segurou-o até ao dia 14 de dezembro — quando uma reunião do Conselho de Administração da Octapharma em Heidelberg foi interrompida por uma brigada da polícia federal alemã, acompanhada de um agente da Polícia Judiciária, para prender Paulo Lalanda e Castro. Ao mesmo tempo, a polícia suíça fazia buscas na sua casa de Zurique. Poucas horas depois, a Octapharma emitia um comunicado em que agradecia “os serviços de 33 anos à Octapharma”, declarava o seu “apoio total” e “confiança” de que Paulo Lalanda e Castro “irá ser ilibado de qualquer irregularidade”, mas informava que o seu gestor “tinha apresentado a sua demissão de todos os cargos na Octapharma para se concentrar na sua defesa”.

 

 

“Porquê?” — questionam os seus amigos. Porque razão um homem que tudo teve, com competência reconhecida, se deixou enredar em três das principais investigações judiciais dos últimos anos em Portugal. Se uns o defendem, enfatizando, por exemplo, a defesa do aproveitamento do plasma português e do seu fracionamento que Lalanda e Castro sempre fez, outros enfatizam defeitos clássicos da natureza humana. “A ganância do dinheiro e de mais poder foram as razões porque ele caiu. Não tenho dúvidas”, diz uma amiga.

 

 

 

TPT com: AFP//Luís Rosa//Observador// 12 de Janeiro de 2017

 

 

 

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