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Donald Trump vai começar a desmantelar a reforma de saúde de Obama assim que chegar à Casa Branca

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, vai iniciar no seu primeiro dia na Casa Branca (20 de janeiro) o desmantelamento da reforma da Saúde de Barack Obama, anunciou esta quarta-feira o vice-presidente eleito, Mike Pence.

 

 

Pence reuniu-se esta quarta-feira com congressistas republicanos no Capitólio para lhes transmitir a mensagem de que a primeira ação do novo Congresso, que iniciou sessão na terça-feira, deverá ser “revogar e substituir o ObamaCare”, como é conhecida a reforma de Obama.

 

 

Em conferência de imprensa após essa reunião, o vice-presidente eleito precisou que Trump tomará decisões contra o ObamaCare desde o seu “primeiro dia” na Sala Oval, assinando várias ordens executivas.

 

 

Segundo Pence, o novo chefe de Estado usará a sua autoridade executiva para complementar os esforços já iniciados no Congresso pelos republicanos, com maioria em ambas as câmaras, para elaborar um projeto de lei que permita derrogar o ObamaCare.

 

 

Na mesma conferência de imprensa, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan, sublinhou que, assim que se consiga revogar a lei da Saúde de Obama, é necessário garantir que haja uma “transição estável” para um novo sistema de saúde com “mais opções” e “mais liberdade”.

 

 

“Esta lei fracassou”, sentenciou Ryan sobre o ObamaCare, uma reforma promulgada em 2010, que estabelece a obrigatoriedade de se ter um seguro de saúde. Obama também esteve hoje no Capitólio para se reunir com congressistas democratas com o objetivo de delinear uma estratégia para proteger a sua reforma da Saúde.

 

 

Entretanto, através da sua conta na rede social Twitter, Trump avisou hoje de que este ano haverá “aumentos maciços” no custo dos seguros de saúde do ObamaCare e que os democratas são “os únicos culpados do desastre”.

 

 

Na terça-feira, na inauguração do novo período de sessões do Congresso, os republicanos do Senado apresentaram uma iniciativa para permitir que a lei da Saúde de Obama possa ser revogada nessa câmara do parlamento norte-americano com apenas 50 votos a favor, em vez dos 60 habitualmente necessários.

 

 

A iniciativa dos senadores republicanos instrui igualmente as comissões do Congresso a ter preparado um projeto de lei para revogar o ObamaCare antes de 27 de janeiro.

 

 

Nem Trump nem os republicanos do Congresso apresentaram ainda um plano pormenorizado da sua alternativa ao ObamaCare, e os democratas têm denunciado que os mais de 20 milhões de cidadãos que conseguiram a cobertura de um seguro de saúde com a reforma do Presidente cessante estão em risco de a perder.

 

 

Obama pede a democratas firmeza contra esforços para revogar lei da Saúde

 

 

O Presidente norte-americano, Barack Obama, pediu nesta quarta-feira aos congressistas democratas firmeza contra os esforços republicanos para revogar a sua reforma da Saúde, argumentando que tal teria “consequências devastadoras” para milhões de pessoas, indicou a Casa Branca.

 

 

O porta-voz da Presidência dos Estados Unidos, Josh Earnest, falava na sua conferência de imprensa diária sobre a reunião que Obama manteve hoje com congressistas democratas no Capitólio com o objetivo de delinear uma estratégia que permita proteger a sua lei da Saúde, promulgada em 2010 e popularmente conhecida como ObamaCare.

 

 

Segundo Earnest, Obama falou com os congressistas do seu partido sobre as consequências “óbvias e tangíveis”, bem como “devastadoras”, que teria para os cidadãos de todo o país desmantelar o ObamaCare, sobretudo para os mais de 20 milhões que passaram a ter acesso à cobertura de um seguro de saúde graças a essa lei.

 

 

Revogar o ObamaCare “não é uma melhoria”, alertou o porta-voz, depois de referir que o próprio Presidente reconheceu que a lei não é perfeita mas nunca encontrou “vontade política” entre os republicanos para corrigir as suas debilidades.

 

Obama também aconselhou hoje os democratas a não “socorrerem” os republicanos ajudando-os a aprovar medidas para substituir o sistema ObamaCare, de acordo com informação de vários responsáveis presentes no encontro, que decorreu à porta fechada, citados pela estação televisiva CNN.

 

 

Apesar da insistência dos jornalistas, o chefe de Estado não fez declarações ao abandonar o Capitólio, tendo apenas dito que a sua mensagem para os democratas foi: “Cuidem do povo norte-americano”.

 

 

Após a reunião com o Presidente, os principais responsáveis democratas do Congresso compareceram numa conferência de imprensa para dizer que os republicanos “não têm qualquer ideia ou plano concreto” para substituir o ObamaCare.

 

 

O líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, frisou que a consequência de derrogar o ObamaCare será “voltar a pôr o país doente” e não “torná-lo grande”, como dizia o lema de campanha do atual Presidente eleito, Donald Trump.

 

 

Por sua vez, a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, declarou que os cuidados de saúde “são um direito, não um privilégio” e que Obama lhes perguntou hoje se estão “preparados” para lutar pelo ObamaCare no Congresso.

 

 

Em paralelo à reunião dos democratas, o vice-Presidente eleito dos Estados Unidos, Mike Pence, manteve um encontro com congressistas republicanos no Capitólio para lhes transmitir a mensagem de que a primeira ação do novo Congresso, que iniciou na terça-feira os trabalhos, deve ser “revogar e substituir o ObamaCare”.

 

 

Numa conferência de imprensa após a reunião, Pence indicou que Trump começará a desmantelar o sistema de saúde instaurado por Obama no seu “primeiro dia” na Sala Oval, 20 de janeiro, com a assinatura de várias ordens executivas.

 

 

Segundo o “número dois” de Trump, depois de prestar juramento, o novo Presidente usará a sua autoridade executiva para complementar os esforços iniciados no Congresso pelos republicanos, com maioria em ambas as câmaras, para elaborar um projeto de lei que permita revogar a reforma da Saúde do seu antecessor.

 

 

Porque é que o Obamacare divide tanto os americanos?

 

 

 

O que é exatamente o Obamacare?

 

 

Chama-se formalmente Affordable Care Act (ACA), mas a lei ficou rapidamente conhecida por Obamacare. É o programa legislativo de reforma na Saúde implementado pela administração Obama em março de 2010 (entrou em vigor plenamente a partir de 1 de janeiro de 2014) para garantir que todos os norte-americanos têm acesso a um seguro de saúde.

 

 

Nos EUA não há um Serviço Nacional de Saúde tal como o conhecemos, daí que tenha sido criada uma solução para resolver a falta de cobertura que afetava cerca de 15% da população. Essas pessoas não estavam cobertas pelos programas de saúde estatais para os mais pobres (Medicaid) e os mais velhos (Medicare) nem pelos seguros de saúde das entidades empregadoras. Havia um buraco no sistema.

 

 

Com o Obamacare, todas as pessoas que vivem nos EUA passaram, assim, a ser obrigadas a comprar algum tipo de seguro de saúde. É mais ou menos o mesmo que acontece quando se compra um carro e se é obrigado a ter um seguro. Quem não tem, paga multa (ver pergunta 5).

 

 

Em termos gerais, o que a lei faz é atribuir subsídios estatais para ajudar uma família, ou um cidadão individual, a comprar seguros no chamado “marketplace” (locais online para comprar seguros, apoiados pelo Governo, como o healthcare.gov). A ideia é reduzir o mercado individual das seguradoras, onde só quem tem dinheiro consegue suportar os custos de um seguro de saúde, deixando os outros de fora.

 

 

Mas além de universalizar o acesso às seguradoras, o Obamacare também mexe com as regras das seguradoras. Se antes uma pessoa que tivesse uma doença prévia podia ver o seu acesso à seguradora recusado, sob pena de pagar uma quantia astronómica no hospital, agora ninguém pode ser recusado por motivos discricionários. A lei de Obama permite ainda que os mais novos fiquem incluídos no plano de saúde dos pais até aos 26 anos e, consequentemente, reduz idealmente a despesa das seguradoras ao levar gente mais nova e mais saudável para o sistema.

 

 

Quais são os argumentos dos defensores?

 

 

 

A lei agrada a praticamente a todos os democratas e desagrada aos republicanos. A forte oposição ao programa Obamacare dos republicanos e do movimento Tea Party foi um dos fatores que mais contribuiu para a quebra da popularidade do Presidente e que permitiu aos conservadores recuperarem o controlo da Câmara de Representantes nas intercalares de 2010.

 

 

Eis alguns dos principais argumentos dos que são a favor:

 

 

  • Menos despesa e custos para o Estado: atrai mais pessoas jovens e saudáveis para a indústria dos seguros, e esse é o segredo do sucesso do programa;

 

 

  • Obriga as seguradoras a cobrir alguns benefícios essenciais: tratamento para a saúde mental, doenças crónicas ou doenças associadas a dependência, internamentos, incluindo emergências, assim como os cuidados preventivos, como exames de diabetes ou cancro, vacinas ou métodos contracetivos devem ser integralmente reembolsados;

 

 

  • As seguradoras deixam de poder recusar cobertura para determinadas pessoas por terem condições médicas prévias, ou aumentar os prémios por estarem doentes;

 

 

  • Deixa de haver limites para a cobertura;

 

 

  • Os pais podem adicionar os filhos ao seu plano de saúde até aos 26 anos, o que aumenta o lucro para as seguradoras na medida em que, à partida, os mais jovens são mais saudáveis;

 

 

  • A classe média passa a poder ter seguro de saúde (antes só os mais velhos e os mais pobres estavam abrigados pelas ajudas do Estado), através dos créditos fiscais de que beneficiam com ajudas do governo federal;

 

 

  • Pela primeira vez adultos sem filhos passam a ficar incluídos no leque de pessoas que podem submeter a candidatura aos planos de saúde apoiados pelo Estado;

 

 

  • As companhias de seguros deixam de poder cobrar mais a mulheres do que a homens, como antes acontecia;

 

 

  • Empresas com mais de 50 empregados são obrigadas a oferecer seguro de saúde aos funcionários. Em troca recebem benefícios fiscais do Estado para ajudar com os custos.

 

 

 

Quem beneficia?

 

 

 

As estimativas são mais ou menos consensuais: entre 22 a 23 milhões de pessoas terão ficado abrangidas pelo Obamacare desde que entrou em vigor. Contrabalançando com os cerca de 4 a 6 milhões que perderam os seus planos de saúde como consequência da lei (ver pergunta 6), dá um total aproximado de 17 milhões de beneficiários a mais. Segundo a BBC, a taxa de pessoas sem seguro caiu de 15% para 5% desde que o programa começou.

 

 

Ficam aptas a subscrever (e a comprar) estes seguros subsidiados no “marketplace” todos os que não têm seguro de saúde através da entidade empregadora e que recebem até 45 mil dólares por ano, por pessoa, ou 62 mil por casa, ou ainda 94 mil dólares por uma família de quatro pessoas. Estes podem ser beneficiados com os subsídios do governo federal.

 

 

Quem já é beneficiado pelo Medicare e Medicaid não pode adquirir estes seguros, mas já está abrangido por planos de saúde do Estado – que também se estendem a mais gente do que antes.

 

 

 

O Obamacare cobre toda a gente?

 

 

 

Não. Apesar de ser considerado um serviço de saúde universal, o Obamacare não chega a toda a gente. As estimativas apontam para que, mesmo depois de o programa estar totalmente implementado, 31 milhões de pessoas ainda ficam de fora, sem seguro de saúde.

 

 

Quem são estas pessoas? Segundo o site noticioso Vox, parte destas pessoas são aquelas que não têm rendimento suficiente para subscrever (ver pergunta 2); outras pura e simplesmente decidem não comprar seguro de saúde por achar que são saudáveis e não precisam; outros ainda são aqueles que são trabalhadores que não declaram rendimentos, e portanto não existem para as finanças. Há falhas na lei.

 

 

Toda a gente tem de ter seguro? E quem não tem paga multa?

 

 

 

Ou por via da entidade empregadora ou por exigência individual (mandato individual), praticamente todos os cidadãos até aos 65 anos têm de ter um seguro de saúde. A exceção vai para os que não têm rendimento suficiente e para os mais velhos, mas esses já estão à partida abrangidos pelo Medicare ou pelo Medicaid.

 

 

Cerca de 85% da população já beneficiava de cobertura médica através dos seus empregadores, número que aumenta a partir do momento em que o Obamacare obriga as empresas com mais de 50 funcionários a oferecer cobertura médica aos empregados. Nos chamados planos individuais, não há nada na lei que diga que os novos subscritores têm que comprar apólices através dos “marketplace” do Estado, mas sendo a única maneira de beneficiar dos subsídios, acaba por ser a melhor via para aderir.

 

 

Quem não tiver seguro, nestas condições, paga uma multa que começou por ser de 1% do rendimento, subindo depois para 2% e a partir de 2016 passou para 2,5%.

 

 

O problema do Obamacare é que muitas pessoas que não recebem o seguro do seu empregador podem escolher não pagar um seguro pelo menos até não estarem doentes, na medida em que muitas vezes a coima é inferior ao prémio do seguro que teriam de pagar.

 

 

 

O que dizem os que são contra?

 

 

 

Barack Obama propôs a lei desde o primeiro ano do seu mandato e o Partido Republicano quis desde o primeiro dia revogá-la.

 

 

  • Segundo os críticos, impõe custos às pessoas de forma arbitrária. Os cidadãos não deveriam ser obrigados a pagar um seguro de saúde e o Obamacare é uma invasão do Estado nas escolhas privadas e nos negócios individuais;

 

 

  • Além disso, argumentam, o Obamacare destrói empregos;

 

 

  • O facto de aqueles que têm uma condição de saúde preexistente grave poderem comprar um seguro com um prémio padronizado, fixo, pode ser tanto uma vantagem como uma desvantagem, na medida em que encoraja os que não estão doentes a cancelar os seus seguros, ou a permanecerem sem subscrição até que fiquem de facto doentes. Isto pode levar, no limite, a uma subida dos prémios, na medida em que os cidadãos doentes representam mais custos para as seguradoras do que os saudáveis.

 

 

  • Outro dos argumentos é a ideia de que muitos dos utilizadores estão a faltar às consultas para reduzirem os custos com a saúde. “De que serve um plano de saúde se não se pode dar ao luxo de usufruir dele?”, questionou o vice-presidente de Donald Trump, Mike Pence, a dada altura na campanha.

 

 

 

  • Os críticos da lei alegam também que milhões de cidadãos individuais perderam o seu seguro à custa dos planos de saúde individuais que havia no mercado liberalizado e que foram descontinuados na sequência do Obamacare.

 

 

Depois de a lei passar em 2010, os republicanos lançaram várias ações nos tribunais, nomeadamente para tentar que a imposição de subscrição individual de uma apólice fosse considerada ilegal. Mas, em 2012, o Supremo optou pela constitucionalidade da lei.

 

 

Mais recentemente, outro recurso pretendia mostrar que a atribuição de subsídios a nível nacional não era legal. Mas o Supremo voltou a dar razão à administração Obama. A existência de subsídios a nível nacional foi considerada legal, sendo uma medida-chave para o funcionamento do Obamacare, ao garantir o acesso às classes com menos recursos.

 

 

Os democratas sempre disseram que os republicanos que queriam acabar com o Obamacare estão apenas motivados politicamente a acabar com aquela que foi a grande bandeira do primeiro mandato de Obama na Casa Branca.

 

 

 

O que prometeu Donald Trump na campanha?

 

 

 

Donald Trump passou uma boa parte da campanha a classificar o Obamacare de “um desastre total”, “uma catástrofe” e uma máquina de “destruir empregos”. Nunca disse que alternativa para o setor da saúde propunha, mas disse desde o primeiro dia que iria revogar o Obamacare assim que chegasse à Casa Branca e que para isso iria convocar uma sessão especial do Congresso.

 

 

Para Trump, “o melhor programa social será sempre um emprego”. Ou seja, tendo trabalho, as pessoas poderão pagar do seu próprio bolso as despesas de saúde.

 

 

Falando na Pensilvânia, Trump centrou o discurso na denúncia das falhas do programa Obamacare e afirmou mesmo que se a lei não for revogada o sistema norte-americano de saúde “será destruído para sempre”.

 

 

A reforma de saúde que Donald Trump propõe baseia-se no “poder do mercado livre”, como explicou nessa altura, eliminando-se a obrigatoriedade de contratar um seguro médico porque não devia ser o Governo a dizer “como se deve gastar o dinheiro”. Mas, de resto, não se sabe em que consistiria a reforma proposta por Trump para a área da saúde, também chamada Trumpcare.

 

 

 

E o que vai fazer Donald Trump?

 

 

 

Três dias depois de ter vencido as eleições, na primeira entrevista que deu ao Wall Street Journal, Trump recuou e admitiu querer manter pelo menos dois pilares da reforma que tem sido criticada pelos republicanos.

 

 

O que quer Trump manter? A proibição contra as seguradoras que negam um plano de saúde a pacientes por causa da sua condição de saúde preexistente e um artigo que permite aos pais estender a cobertura do seu seguro aos filhos até aos 26 anos.

 

 

Numa entrevista ao programa 60 Minutos, da CBS, Trump voltou a reafirmar a sua intenção de tentar manter aqueles que são, na sua opinião, “os grandes ativos” da reforma da saúde. Isto depois de Trump se ter reunido com Obama na Casa Branca e de este o ter sensibilizado para a questão. “Eu disse-lhe que ia pensar nas suas sugestões e, por respeito, irei fazê-lo”, disse Trump.

 

 

 

Donald Trump pode revogar o Obamacare?

 

 

 

A guerra do Obamacare é antiga e, desde que passou no Congresso e foi assinada pela Casa Branca, em março de 2010, o Partido Republicano tem feito inúmeras tentativas (mais de 50, na verdade) para revogar a lei por via do Congresso. Sempre sem sucesso, uma vez que a maioria democrata travava sempre essas iniciativas.

 

 

Daí que os republicanos — nem todos fãs de Donald Trump — tenham visto na campanha do candidato presidencial uma oportunidade para acabar com a lei. É que a vitória do republicano devolveu também a maioria nas duas câmaras parlamentares aos republicanos.

 

 

A partir de janeiro, Trump vai trabalhar com uma maioria republicana no Senado e na Câmara dos Representantes, que irá apoiar a revogação ou alteração do Obamacare. Mas como o Trumpcare ainda está numa fase muito embrionária, parte do trabalho do Congresso vai ser também pensar em alternativas.

 

 

Os congressistas republicanos publicaram este verão a sua versão da substituição do Obamacare, a que chamaram “Uma Via Melhor”, com propostas legislativas que passavam por não limitar os planos de saúde às linhas do Estado, mas que não chegou a receber o apoio do Senado e não chegou a ser transposto para uma iniciativa legislativa. Há por isso ainda muito a fazer da parte dos republicanos.

 

 

 

Quais as principais falhas do programa?

 

 

 

O Obamacare não está a correr como o idealizado, uma vez que o número de pessoas que subscreveu os seguros subsidiados pelo Estado não está a ser tão elevado quanto o estimado.

 

 

Há apenas 10,4 milhões de segurados, menos de metade dos 22 milhões que o departamento orçamental do Congresso tinha estimado em 2014 para o total de apólices em 2016.

 

 

Uma semana antes das eleições foram divulgados novos dados do executivo de Barack Obama que preveem um aumento médio de 25% no próximo ano nos prémios das modalidades dos seguros de saúde mais populares, na sequência da menor adesão do que o esperado. De acordo com o Governo, esse aumento do custo não será tão devastador porque mais de 80% dos consumidores pode beneficiar de subsídios para adquirir os seguros. Mas, ainda assim, é um aumento de custos para os subscritores.

 

 

Isto porque um dos problemas passa pelo facto de, apesar de haver multas associadas, nem toda a gente que não está coberta pelo seguro da empresa optar por subscrever um mandato individual. Preferem deixar a subscrição para quando, ou se, forem diagnosticadas com alguma doença. Isto faz com que aumentem os valores do prémio, e, consequentemente, com que menos gente adira. É um efeito bola de neve.

 

 

A chave do sucesso do Obamacare era atrair pessoas jovens e saudáveis, com um valor de prémio fixo, que é igual para estes e para os que têm uma doença preexistente — mas pode estar a falhar neste princípio.

 

 

 

TPT com: AFP//CNN//Reuters// Lusa//Albin Lohr-Jones / POOL/EPA//Observador// 4 de Janeiro de 2017

 

 

 

 

 

Embaixador dos EUA em Portugal deixa Lisboa a 20 de janeiro

O embaixador dos Estados Unidos em Portugal, Robert Sherman, deixará Lisboa a 20 de janeiro, cumprindo assim uma norma estabelecida sempre que uma nova administração norte-americana é eleita, indicou na sexta-feira à agência Lusa fonte da representação diplomática.

 

 

Donald Trump, vencedor das eleições presidenciais do passado dia 8 de novembro, será empossado a 20 de janeiro.

 

 

“O embaixador Sherman iria sempre partir depois das eleições, independentemente dos resultados eleitorais”, afirmou a fonte da embaixada norte-americana, precisando que todas as novas administrações pedem aos embaixadores políticos, aqueles que não são diplomatas de carreira, para saírem.

 

 

“Ocasionalmente, uma exceção pode ser feita, mas a norma é que os embaixadores partam, dando espaço para que a nova administração nomeie os seus embaixadores. O embaixador Sherman partirá de Lisboa a 20 de janeiro de 2017”, disse a mesma fonte, acrescentando que o representante diplomático tem várias iniciativas previstas até à data de partida, como uma deslocação ao Porto e a participação num almoço promovido pela Associação de Amizade Portugal – EUA, em conjunto com a Câmara de Comércio Americana em Portugal e o American Club.

 

 

Advogado de formação e de carreira, Robert Sherman foi nomeado pelo Presidente norte-americano, Barack Obama, como embaixador dos Estados Unidos em Lisboa em julho de 2013.

 

 

Um ano depois, e após a sua nomeação ser aprovada pela comissão de Negócios Estrangeiros do Senado norte-americano (câmara alta do Congresso norte-americano), Robert Sherman apresentou credenciais, em finais de maio de 2014, ao então Presidente Cavaco Silva.

 

 

Tal como os seus antecessores em Lisboa nas últimas duas décadas, Robert A. Sherman é um embaixador político e não um diplomata de carreira.

 

 

Licenciado em Direito pela Universidade de Boston, Sherman foi um dos fundadores do escritório de advogados Greenberg Traurig (em Boston), onde exerceu desde 1999, e foi procurador-geral adjunto do estado do Massachussets entre 1991 e 1993.

 

 

Em janeiro de 2013, o advogado integrou o Conselho do Memorial do Holocausto, organismo que dirige o museu Memorial do Holocausto.

 

 

A sua primeira deslocação em Portugal, após ter apresentado credenciais, foi aos Açores, nomeadamente à base militar das Lajes, na ilha Terceira.

 

 

Em janeiro de 2015, Robert Sherman anunciou em Lisboa a decisão de Washington de reduzir gradualmente os trabalhadores portugueses e os civis e militares norte-americanos da base das Lajes.

 

 

Em novembro passado, o embaixador disse que a base das Lajes “continua estratégica” para os EUA e que aquele país não quer deixar a infraestrutura, mas salientou que as “necessidades militares” vão ser decisivas.

 

Durante o Campeonato Europeu de Futebol de 2016 (Euro 2016), o embaixador norte-americano ganhou notoriedade junto da opinião pública portuguesa, ao ter divulgado vários vídeos de apoio à seleção nacional.

 

 

Dois dias depois da eleição do candidato republicano Donald Trump, o embaixador Robert Sherman afirmou que a relação entre Portugal e os Estados Unidos iria “não só manter-se, mas também fortalecer-se”, defendendo na mesma altura, sobre o Presidente eleito, que era preciso “uma mente aberta”.

 

 

“A relação entre os Estados Unidos e Portugal vai não só manter-se forte, como vai fortalecer-se. Portugal está a aumentar a presença no mundo, no espaço da inovação, e o maior exemplo é a Web Summit, mas também a eleição de Guterres para secretário-geral da ONU, e portanto a relação com os EUA vai ser ainda mais forte “, considerou então Sherman, num encontro com jornalistas em Lisboa.

 

 

Quem é Robert A. Sherman, que agora termina o seu mandato de embaixador dos USA em Portugal?

 

 

 

Robert A. Sherman, natural de Boston, Massachusetts, chegou a Lisboa no dia 5 de Abril de 2014 para desempenhar as funções de Embaixador dos Estados Unidos da América para a República de Portugal. Apresentou as suas credenciais ao Presidente da República de Portugal, Sua Excelência o Prof. Aníbal Cavaco Silva, no dia 30 de Maio de 2014.

 

 

Desde a sua chegada a Portugal que o Embaixador Sherman adoptou a diplomacia económica do século XXI como prioridade. Nas suas viagens pelo país tem-se encontrado com líderes do governo e da comunidade empresarial para saber dos próprios quais os seus desafios e oportunidades. Numa parceria com o governo português, o Embaixador Sherman tem usado uma abordagem de base no contacto com as empresas locais e até andou numa Harley Davidson no Alentejo na primeira de várias viagens que fez pelo país para divulgar os benefícios da Parceria de Comércio e Investimento (TTIP, sigla em inglês).

 

 

Um dos principais objectivos do Embaixador Sherman tem sido a promoção do investimento bilateral. Ele liderou uma delegação de investidores e empresários portugueses à cimeira SelectUSA que teve lugar em Washington, em Março de 2015. Também trouxe muitos investidores a Portugal para que conhecessem a alta qualidade da inovação e empreendedorismo dos portugueses. Em Junho de 2015, por exemplo, a Embaixada organizou a vinda de uma missão comercial sobre Biotécnica e Ciências da Vida encabeçada pelo laureado Nobel Dr. Craig Mello para promover a cooperação e oportunidades de negócio entre instituições de pesquisa, investidores e empresas dos Estados Unidos e de Portugal.

 

 

Noventa dias após a sua chegada a Portugal, o Embaixador Sherman e a mulher, Kim Sawyer, lançaram o Connect to Success, iniciativa de bandeira da Embaixada no campo do empreendedorismo feminino, que compreende um programa de Corporate Mentorship, um programa de MBA/Masters Consulting e workshops práticos gratuitos.

 

 

Num mundo cada vez mais interdependente, cheio de ameaças e desafios complexos, o Embaixador tem seguido a agenda do Presidente Obama de liderança “inteligente”, tentando encontrar mais formas de os Estados Unidos e Portugal, juntamente com outros aliados, poderem usar as suas capacidades em questões de segurança internacional. Em Portugal, o foco tem estado no reforço do compromisso em áreas como segurança marítima na África Ocidental, cibersegurança, narcoterrorismo e NATO.

 

O Embaixador Sherman tem demonstrado a sua paixão por Portugal, o seu povo e a sua cultura e está empenhado em ajudar os americanos a descobrir Portugal, tal como os navegadores portugueses descobriram “o Novo Mundo” há 600 anos.

 

 

Antes de se tornar Embaixador, Robert Sherman foi um dos fundadores dos escritórios de Boston da Greenberg Traurig, uma firma de advogados internacional.

 

 

O Embaixador Robert Sherman tem um B.A. em Ciência Política da University of Rochester e um J.D. da Boston University School of Law. É casado com a empresária e advogada Kim Sawyer e tem dois filhos adultos.

 

 

Antigos embaixadores dos EUA em Portugal

 

 

R. Henry Norweb Junho 1944 – Fevereiro 1945
Herman B. Baruch Abril 1945 – Março 1947
John C. Wiley Junho 1947 – Março 1948
Lincoln MacVeagh Junho 1948 – Fevereiro 1952
Cavendish W. Cannon Agosto 1953 – Setembro 1954
M. Robert Guggenheim Agosto 1953 – Setembro 1954
James C. H. Bonbright Fevereiro 1955 – Novembro 1958
C. Burke Elbrick Janeiro 1959 – Agosto 1963
George W. Anderson, Jr. Outubro 1963 – Junho 1966
W. Tapley Bennett, Jr. Julho 1966 – Julho 1969
Ridgway B. Knight Julho 1969 – Fevereiro 1973
Stuart Nash Scott Janeiro 1974 – Janeiro 1975
Frank C. Carlucci Janeiro 1975 – Fevereiro 1978
Richard J. Bloomfield Março 1978 – Junho 1982
Henry Allen Holmes Outubro 1982 – Junho 1985
Frank Shakespeare Outubro 1985 – Outubro 1986
Edward Morgan Rowell Janeiro 1988 – Março 1990
Everett Ellis Briggs Maio 1990 – Setembro 1993
Elizabeth Frawley Bagley                   Setembro 1994 – Outubro 1997
Gerald S. McGowan Janeiro 1998 – Junho 2001
John N. Palmer Novembro 2001 – Setembro 2004
Alfred Hoffman, Jr. Novembro 2005 – Novembro 2007
Thomas F. Stephenson Dezembro 2007 – Junho 2009
Allan J. Katz Abril 2010 – Julho 2013

 

 

JM//TPT com: AFP//Lusa//Observador//JN// 30 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

EUA expulsam 35 agentes dos serviços secretos da Rússia por ingerência nas eleições presidenciais

A administração Obama anunciou esta quinta-feira as sanções contra a Rússia, a propósito da alegada ingerência de Moscovo nas eleições presidenciais de 2016: 35 agentes dos serviços de inteligência russos vão ser expulsos do país, avança o New York Times. Agora, têm 72 horas para abandonar os EUA. Foi ainda ordenado o encerramento de duas instalações russas sediadas no país. Donald Trump já reagiu, anunciando que se vai reunir com os serviços secretos norte-americanos na próxima semana.

 

 

As sanções, que surgem depois de a correspondência eletrónica de membros da candidatura de Hillary Clinton ter sido violada, aplicam-se ainda a cinco entidades e a seis indivíduos, incluindo vários oficiais da GRU, a organização de serviços secretos das forças armadas russas.

 

 

Num comunicado citado pelo jornal The Guardian, Barack Obama disse que os norte-americanos “devem ficar alarmados com as ações da Rússia”, prometendo não ficar por aqui.

 

 

Emiti uma ordem executiva que dá autoridade adicional para responder a determinado tipo de atividades cibernéticas que procurem interferir ou minar os nossos processos e instituições eleitorais”, afirmou o ainda presidente.

 

 

Obama emitiu sanções contra a GRU e o FSB, sucessor do KGB, dois serviços de inteligência russos, quatro indivíduos do GRU e três empresas que providenciaram material para a operação de cariz cibernético desempenhada pelos operacionais da GRU. “Além disso, o Secretário de Estado do Tesouro norte-americano está a indiciar dois indivíduos russos por terem usado meios cibernéticos para o desvio de fundos e informação pessoal”, acrescentou Obama.

 

 

Os serviços secretos norte-americanos acreditam que a Rússia possa estar por trás dos ataques cibernéticos ao Comité Nacional Democrático, à campanha presidencial de Hillary Clinton e a outras organizações políticas, pelo que Obama salientou que estas ações não compreendem a resposta total dos EUA face à intervenção “agressiva” da Rússia.

 

 

Vamos continuar a tomar uma variedade de ações num tempo e lugar à nossa escolha, algumas das quais não serão divulgadas”, concluiu.

 

 

Nos próximos dias é esperada a entrega de um relatório no Congresso sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas, que culminaram com a vitória do candidato republicano Donald Trump.

 

 

Trump reúne-se com serviços secretos

 

 

Donald Trump, que terá de decidir se mantém ou levanta as sanções já no próximo mês, foi informado da decisão no dia anterior ao anúncio público. “Acho que devíamos continuar com as nossas vidas. Acho que os computadores complicaram muito as nossas vidas. A Era do computador fez com que ninguém saiba exatamente o que está a acontecer. Temos velocidade, temos muitas outras coisas, mas não tenho a certeza que temos a segurança de que precisamos”, afirmou o republicano.

 

 

Entretanto, esta quinta-feira, Trump já se pronunciou-se sobre a expulsão dos 35 agentes dos serviços de inteligência russos. “É altura de o nosso país seguir em frente para coisas maiores e mais importantes. Ainda assim, pelo interesse do nosso país e do seu grande povo, vou encontrar-me com os responsáveis da comunidade de inteligência na próxima semana, para ser informado sobre os detalhes desta situação”, afirmou Donald Trump em comunicado.

 

 

 

A reação russa à decisão “hostil” e “infeliz” de Obama

 

 

Entretanto, e pouco depois de serem conhecidas as sanções norte-americanas, a Rússia reagiu através do ministério dos Negócios Estrangeiros, garantindo o seu porta-voz, Maria Zakharova, que o país irá responder a qualquer “decisão hostil” dos Estados Unidos — não adiantando quando nem em que moldes.

 

 

O mesmo afirmou o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitri Peskov, adiantando ao jornalistas que “não há alternativa às medidas recíprocas”. Mas também alertou: Putin “não tem pressa” em tomar uma decisão, qualquer que seja.

 

 

Curiosa é a reação da embaixada russa no Reino Unido. Numa curta mensagem deixada na rede social Twitter, lê-se que a decisão de Obama é uma “Cold War deja vu” (o que dispensará traduções), tendo a mensagem a imagem de um pato e a inscrição “infeliz”.

 

 

Trump elogia resposta “muito inteligente” de Putin a sanções dos EUA

 

 

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, considerou “muito inteligente” o facto de o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, não ter reagido imediatamente às sanções decididas pela Administração Obama pela alegada interferência informática nas eleições presidenciais.

Putin condenou esta sexta-feira as sanções decididas por Washington, que incluem a expulsão de diplomatas, mas disse que não vai retaliar com a expulsão de norte-americanos. “Grande jogada, adiar. Sempre soube que ele era muito inteligente!”, escreveu Trump no Twitter, em reacção.

 

 

Trump, que no dia 20 de Janeiro é empossado como presidente dos Estados Unidos, também reagiu (ainda ontem noite) às sanções contra a Rússia anunciadas pelo ainda presidente Barack Obama, decretadas em resposta à alegada interferência russa nas presidenciais norte-americanas de 8 de Novembro.

 

 

 

Esta posição, sublinha a Bloomberg, poderá revelar uma possível mudança de atitude de Trump em relação às suas primeiras reacções, quando repeliu a possibilidade de qualquer envolvimento dos russos.

 

 

No seu comunicado, Trump disse que “está na altura de cuidarmos das nossas vidas e de centrar as atenções em coisas maiores e melhores”. “No entanto”, prosseguiu, “no interesse do nosso país e do seu grande povo, reunir-me-ei com os líderes da comunidade dos serviços de inteligência, na próxima semana, para ser actualizado sobre os factos em torno desta situação”.

 

 

Recorde-se que Obama anunciou ontem, 29 de Dezembro, a aplicação de um conjunto de sanções à Rússia, que passa pela expulsão de território norte-americano de 35 diplomatas e operacionais dos serviços de inteligência russos e pelo encerramento de dois complexos (Nova Iorque e Maryland) de dois serviços de informação russos, o GRU e o FSB.

 

Tratou-se de uma decisão sem precedentes que, em comunicado, a Casa Branca justificou com “as actividades significativas” de pirataria informática que considera “inaceitáveis e que não serão toleradas”.

 

Nas últimas semanas da campanha eleitoral para as presidenciais de 8 de Novembro, que Trump viria a vencer, o Wikileaks foi publicando a conta-gotas – à cadência de cerca de uma notícia diária – informações comprometedoras não apenas para o Partido Democrata mas também, e em especial, para Hillary Clinton e os russos são tidos como responsáveis por essa situação, desencadeada pelo acesso aos emails da candidata democrata.

 

 

 

TPT com: APA//Reuters//Observador//TNP//MICHAEL REYNOLDS/EPA// 30 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

Aviso à navegação!. Uma intervenção do Governo faz cancelar greve nos aeroportos portugueses

A greve que prometia afectar, esta semana, dois sectores de trabalho nos aeroportos portugueses foi desconvocada nesta segunda-feira após intervenção do Governo. Ao que o PÚBLICO apurou, as paralisações convocadas pelos representantes dos trabalhadores das empresas de segurança privada (da Securitas e da Prosegur) e das empresas de assistência em terra (como a Groundforce e a Portway), acabaram por ser desconvocadas depois de contactos entre o gabinete do primeiro-ministro e a direcção da CGTP, onde está integrado o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) – e que representa os dois sectores.

 

 

Após um plenário, e em conferência de imprensa, o dirigente do Sitava, Fernando Henriques, deu conta que o “caderno de compromissos” que o sindicato trouxe das reuniões com membros do Governo mereceu dos trabalhadores um voto de confiança suficiente para desconvocar a greve. Mas avisou que haverá um novo plenário em final de Janeiro, “a fim de avaliar em que ponto estará cada uma das situações”. “Estamos com espirito de proposta e resolução de problemas. Mas estaremos naturalmente vigilantes para que estes compromissos passem à prática”, afirmou.

 

 

Entre as reivindicações que deverão ter solução mais imediata estão as que dizem respeito ao acesso a lugares de estacionamento, a balneários e a salas de descanso no aeroporto, a que os trabalhadores de segurança até agora não tinham acesso, e que deverão estar resolvidas até final de Janeiro. Uma outra tem a ver com a publicação, ainda esta semana, do Contrato Colectivo de Trabalho (CCT) que foi assinado com a Groundforce, e com a publicação durante o mês de Janeiro da portaria de extensão que permite que esse CCT se estenda a todo o sector.

 

 

Segundo confirmou fonte do Governo, uma das principais garantias que os trabalhadores das empresas de assistência em terra terão recebido é que serão “envidados todos os esforços” para que o contrato que a TAP tem com os serviços de handling prestados pela Groundforce seja renovado em Junho. “Assim que assuma o seu lugar como accionista maioritário da TAP poderá faze-lo, e assim dar as garantias de que a empresa continuará com a sua estrutura e com os postos de trabalho”, explicou, por seu lado, Fernando Henriques. O receio dos trabalhadores, apurou o PÚBLICO, engrossou com a licença que foi dada à Ryanair para efectuar os seus serviços de handling, nomeadamente no aeroporto de Faro, dando origem a um despedimento colectivo. O Governo também se comprometeu a fazer avançar uma inspecção da Autoridade para a Condições de Trabalho na Portway, assegurou o dirigente do Sitava.

 

 

No caso dos trabalhadores das empresas de segurança privada, a intervenção do executivo vai ainda estender-se à negociação do CCT. Representantes do Ministério das Infraestruturas e do Planeamento, bem como do Ministério do Trabalho, Solidariedade e da Segurança Social vão participar nas negociações como “mediadores”, no sentido de ajudar a chegar a um acordo que tem, até agora, parecido inacessível.

 

 

De acordo com a informação prestada pela Associação das Empresas de Segurança (AES), as intensas negociações que manteve com os representantes dos trabalhadores (durante 15 reuniões) terminaram a 16 de Dezembro quando, em resposta a uma proposta dos patrões (de 22 de Novembro), o Sitava fez uma contraproposta (a 16 de dezembro) que as empresas consideraram “insustentável”.

 

 

A última sugestão da AES, presidida pelo advogado Rogério Alves, pressupunha um aumento salarial de 2,4% em 2017 e um aumento salarial indexado à inflação em 2018. A contraproposta do Sitava, acusa a AES, implicava um incremento de custos para as empresas de 35% em dois anos.

 

 

As convocatórias de greve (de 27 a 29 de Dezembro no caso dos seguranças e de 28 a 30 de Dezembro no handling) levaram a que tanto a gestora dos aeroportos nacionais, como as próprias companhias aéreas avançassem com recomendações aos passageiros. As transportadoras aéreas manifestaram preocupação com o impacto dos protestos num dos períodos de maior “pico” de procura.

 

 

TPT com: AFP//Luísa Pinto//Jéssica Rocha//Público// 26 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

Israel não vai cumprir a resolução contra colonatos que EUA deixou passar na ONU

É a primeira vez em mais de 36 anos que o Conselho de Segurança aprova uma resolução crítica dos colonatos israelitas. Netanyahu diz-se ansioso por trabalhar com Trump.

 

 

Os Estados Unidos abstiveram-se numa votação no Conselho de Segurança de uma resolução que exige o fim da construção de colonatos em Israel. O Governo de Telavive já anunciou que não vai respeitar a decisão das Nações Unidas.

 

 

“Israel não se vai conformar com a decisão da ONU sobre os colonatos. Rejeita esta vergonhosa resolução anti-Israel e não vai obedecer aos seus princípios”, diz um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, citado pela Reuters.

 

 

Numa acção nada habitual, o Presidente eleito dos EUA pronunciou-se sobre uma potencial decisão da Administração ainda em vigor perante a possibilidade de uma abstenção, que levou a uma chuva de críticas de Israel contra Obama. Poucas horas depois da votação, Donald Trump reagiu prometendo: “As coisas serão diferentes depois de 20 de Janeiro”, dia em que o republicano toma posse como Presidente dos EUA.

 

 

Diplomatas ocidentais tinham antes antecipado a possibilidade de abstenção dos Estados Unidos – numa tomada de posição que, mais do que marcar o desagrado de Washington com o Governo de Benjamin Netanyahu, tenta limitar os efeitos da anunciada mudança na política americana para a região com a chegada de Trump à Casa Branca.

 

 

No entanto, no Conselho de Segurança, a representante norte-americana Samantha Power defendeu que a resolução apenas repetia afirmações consistentes com a situação no terreno e que a abstenção americana era coerente com a política de décadas de administrações democratas e republicanas sobre a questão israelo-palestiniana.

 

 

“O Governo de Israel teve oportunidade de seguir políticas que poderiam conduzir a uma votação diferente”, disse um porta-voz da Casa Branca. Por seu lado, o secretário de Estado John Kerry afirmou que resolução agora aprovada “condena correctamente o incitamento à actividade de construção de colonatos”, e apela a ambos os lados para que avance uma solução de dois Estados, relata a Reuters.

 

 

A acção da Administração do Presidente Barack Obama acontece depois de o Egipto, que originalmente tinha proposto o texto, o retirar após pressão de Israel – e de Donald Trump.

 

 

A votação acabou por acontecer por iniciativa da Nova Zelândia, Malásia, Venezuela e Senegal, que eram, junto com o Egipto, co-patrocinadores da resolução apresentada em nome da Autoridade Palestiniana. A resolução foi aprovada com 14 votos favoráveis e a abstenção norte-americana.

 

 

O texto não prevê sanções nem define abertamente como ilegais os colonatos israelitas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Defende, no entanto, que Israel deve “cessar imediata e totalmente as actividades de colonização nos territórios ocupados”, sublinhando que a expropriação de terras e construção de bairros naquelas zonas “não tem validade legal” à luz do direito internacional e “põe perigosamente em risco a viabilidade da solução de dois Estados”, sobre a qual assenta o consenso internacional para a paz.

 

 

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, através do seu porta-voz, elogiou a resolução: “O secretário-geral aproveita esta oportunidade para encorajar os líderes israelitas e palestinianos a trabalharem com a comunidade internacional para criar um ambiente propício para o retorno de negociações significativas”.

 

 

Os EUA vetaram, ao longo de décadas, mais de 30 resoluções relacionadas com o conflito israelo-palestiniano – o último texto aprovado pelo Conselho de Segurança sobre a construção de colonatos remonta a 1980. O veto americano mais recente (o único decidido pelo actual Presidente) aconteceu em 2011, bloqueando um texto semelhante ao votado nesta sexta-feira.

 

 

O desagrado israelita

 

 

Mas a mera possibilidade de abstenção americana lançou o Governo israelita em modo de crise – cortando imediatamente com a Administração Obama, com a qual as relações não são boas. “Israel está ansioso por poder trabalhar com o Presidente eleito Trump para anular os efeitos da resolução da ONU”, diz ainda o comunicado do gabinete de Nentanyahu.

 

 

“A resolução proposta é mais do que simbólica […]. A sua linguagem visa minar a posição negocial de Israel em futuras conversações de paz” escreveu o jornal de grande tiragem Yediot Ahronot. Isto porque “face à oposição internacional generalizada aos colonatos, será quase impossível à Administração Trump revertê-la”.

 

 

Confirmando até que ponto azedaram nos últimos anos as relações entre os dois aliados, sobretudo desde o fracasso da última iniciativa de paz, em 2014, um alto responsável israelita, que falou aos jornalistas a coberto de anonimato, acusou Obama e o seu secretário de Estado, John Kerry, de estarem por detrás “desta vergonhosa iniciativa contra Israel na ONU”.

 

 

Ao mesmo tempo que fazia pressão sobre o Cairo, o Executivo de Netanyahu tomava a pouco diplomática opção de pedir o apoio de Trump ao bloqueio da iniciativa.

 

 

O Presidente eleito, que durante a campanha prometeu instalar a embaixada norte-americana em Jerusalém – reconhecendo implicitamente a cidade como capital de Israel – falou ao telefone com Abdul Fattah al-Sissi, o Presidente egípcio que se confessa admirador de Trump. Anunciando a retirada “temporária” da proposta de resolução que aprovada, a presidência egípcia explica que os dois homens concordaram que era preciso dar à próxima Administração americana a “oportunidade para lidar” com o conflito.

 

 

Além da ultrapassagem ao Presidente em funções, a intervenção de Trump antecipa a mudança radical que a sua chegada à Casa Branca trará à posição norte-americana para o conflito israelo-palestiniano, depois de oito anos de relações frias (por vezes geladas) entre Netanyahu e Obama.

 

 

Uma viragem já anunciada pela nomeação para o cargo de embaixador em Israel de David Friedman, um advogado especializado em falências que não só defende a expansão dos colonatos, mas vai além das posições assumidas pelo próprio primeiro-ministro israelita: rejeita a solução de dois Estados que há décadas é apresentada como o caminho para a paz, e defende que Israel deve anexar a Cisjordânia.

 

 

Antes da votação, vários responsáveis americanos prometiam consequências para países que a aprovassem ou para os palestinianos.

 

 

Lindsey Graham, o senador que preside ao Comité que supervisiona o financiamento americano da ONU, ameaçou suspender as transferências para os países que apoiem a resolução caso esta seja aprovada.

 

 

Também Newt Gingrich – antigo speaker republicano do Congresso e conselheiro de Trump – veio dizer que caso a Administração Obama se abstivesse, a futura Administração Trump deveria cortar o financiamento que dá à Autoridade Palestiniana.

 

 

Depois da resolução da ONU, Netanyahu anuncia represálias diplomáticas contra Senegal e Nova Zelândia

 

 

Depois do Egipto se afastar, a proposta de resolução contra os colonatos israelitas foi da iniciativa destes dois países, da Malásia e Venezuela. Com estes dois últimos, Israel não tem relações diplomáticas.

 

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu anunciou “uma série de medidas diplomáticas” contra a Nova Zelândia e o Senegal que tiveram a iniciativa da resolução votada esta sexta-feira na ONU contra os colonatos israelitas.

 

 

A proposta tinha tido originalmente origem no Egipto para ser votada esta quinta-feira. Mas, depois de um volte-face por parte do Cairo, a resolução acabou por ser votada esta sexta-feira, desta vez, por iniciativa da Nova Zelândia, Senegal, Malásia e Venezuela.

 

 

Israel não mantém actualmente quaisquer relações diplomáticas com a Malásia nem com a Venezuela. Desta maneira, e poucas horas depois da aprovação da proposta pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, Netanyahu anunciou a ordem de regresso “imediato” dos embaixadores na Nova Zelândia e no Senegal “para consultas”.

 

 

Além disso, o primeiro-ministro decidiu também cancelar a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros senegalês, prevista para Janeiro, o cancelamento de todos os programas de ajuda ao Senegal, bem como bloquear as visitas dos embaixadores não residentes do Senegal e Nova Zelândia.

 

 

Os Estados Unidos abstiveram-se numa votação no Conselho de Segurança de uma resolução que exige o fim da construção de colonatos em Israel. O Governo de Telavive já anunciou que não vai respeitar a decisão das Nações Unidas.

 

 

O texto não prevê sanções nem define abertamente como ilegais os colonatos israelitas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Defende, no entanto, que Israel deve “cessar imediata e totalmente as actividades de colonização nos territórios ocupados”, sublinhando que a expropriação de terras e construção de bairros naquelas zonas “não tem validade legal” à luz do direito internacional e “põe perigosamente em risco a viabilidade da solução de dois Estados”, sobre a qual assenta o consenso internacional para a paz.

 

 

TPT com: Jonathan Ernst//Reuters//AFP//FP//AEP//Público// 24 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

EUA considera que acordo de paz no Iémen tem de proteger também a Arábia Saudita

O ainda chefe da diplomacia norte-americana, John Kerry, afirmou este domingo que qualquer iniciativa para promover a paz no Iémen terá também de ter em conta a proteção da segurança da Arábia Saudita.

 

 

Numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo saudita em Riade, o secretário de Estado norte-americano disse que o plano proposto pela ONU poderá acabar com o conflito iemenita “se for aplicado de forma correta”, mas acrescentou, no entanto, que “não é definitivo e pode ser questionado”.

 

 

Na mesma ocasião, Kerry referiu que os Estados Unidos tinham intercetado um navio iraniano que transportava armas para o Iémen.

 

 

Quanto à venda de armas ao reino saudita, o chefe da diplomacia norte-americana explicou que foram feitos esforços para que existisse um aceleramento da situação “mas o processo é longo”.

 

 

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita (país islâmico de maioria sunita), Adel al Yuber, afirmou que o Irão (país de maioria xiita) “incendeia conflitos sectários no Médio Oriente” e acrescentou que o mundo tem de impedir que os iranianos desestabilizem aquela região.

 

 

A conferência de imprensa conjunta de John Kerry e Adel al Yuber aconteceu depois de uma reunião para analisar o plano de paz para o Iémen.

 

 

A par dos chefes da diplomacia americana e saudita, o encontro em Riade contou com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, Yusuf Bin Elwi, do enviado especial da ONU para o Iémen, Ismail Uld al Sheij Ahmed, e representantes do Reino Unido e dos Emirados Árabes Unidos.

 

 

No Iémen, uma coligação árabe apoiada pelos Estados Unidos e liderada pela Arábia Saudita lançou em março de 2015 uma campanha militar contra os rebeldes xiitas ‘huthis’, depois de estes terem tomado a capital e vastas zonas do país, obrigando o Presidente Abdrabuh Mansur Hadi a instalar a sede provisória do Governo, apoiado pela ONU, em Aden (sul), e a exilar-se posteriormente na Arábia Saudita.

 

 

Os ‘jihadistas’ da Al-Qaida e os seus rivais do Estado Islâmico têm-se aproveitado do conflito entre o Governo e os ‘huthis’ para reforçarem a sua presença em grande parte do sul do país, tendo multiplicado nos últimos meses os atentados em Aden, onde está instalado o Governo reconhecido internacionalmente.

 

 

A guerra no Iémen já fez mais de 7.000 mortos, cerca de metade civis, e quase 37.000 feridos em cerca de 21 meses, segundo a ONU.

 

 

Este domingo, um atentado bombista contra recrutas em Aden fez pelo menos 52 mortos. Kerry reuniu-se também com o rei saudita, Salman Ibn Abdulaziz al Saud, para debater a situação na região, segundo a agência noticiosa oficial saudita SPA.

 

 

Também abordaram as relações entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, um dos principais parceiros de Washington naquela zona.

 

 

Nesta ronda pelo Médio Oriente, que deverá ser a última, visto que a nova administração americana assume funções a 20 de janeiro, John Kerry anunciou nos Emirados Árabes Unidos uma nova iniciativa para acabar com a guerra civil iemenita.

 

 

Os seus contactos facilitaram um cessar-fogo de dois dias que acabaria por não ser respeitado pelas fações envolvidos no conflito.

 

 

TPT com: Reuters//AFP//Washington Post//Observador//EPA// 18 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

O S.E.C. José Luís Carneiro defende que o PS deveria apresentar um candidato próprio no Porto

José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades e ex-presidente da distrital portuense do PS, acredita que o PS se arrisca a “perder legitimidade política” se não apresentar um candidato próprio à Câmara do Porto e uma alternativa a Rui Moreira.

 

 

Em entrevista ao Diário de Notícias/TSF, José Luís Carneiro, que apoiou António José Seguro nas primárias socialistas que vieram a dar a vitória a António Costa, critica a decisão do partido de apoiar a recandidatura de Rui Moreira e fala no risco de “desvinculação” entre os eleitores portuenses e o Partido Socialista.

 

 

“Quando não apresentamos listas alternativas, desde as assembleias de freguesia às câmaras municipais, com o tempo há uma desvinculação na relação de legitimidade com aquele corpo de valores e princípios que defendem os partidos políticos”, defende o socialista.

 

 

As declarações de José Luís Carneiro já mereceram a resposta de Manuel Pizarro, líder da Federação Distrital do PS/Porto e um dos principais impulsionadores desta aliança entre PS e Rui Moreira. Em declarações à TSF, Pizarro lamenta a “visão estreita” do secretário de Estado e fala em sectarismo.

 

 

“Estou em completo desacordo com essa ideia, que é redutora, sectária e que até explica um pouco porque é que os partidos têm uma crise de representação perante os cidadãos”, afirmou o dirigente socialista.

 

 

Para Manuel Pizarro, de resto, a ideia de que o PS fica prejudicado por não apresentar candidato no Porto é errada. “A obrigação de um partido no Porto como o PS é colocar o interesse da cidade e das pessoas da cidade à frente de uma visão estreita sobre o interesse partidário. É por isso que nós nos sentimos tão bem a participar na governação autárquica com Rui Moreira, porque tem correspondido às necessidades e aspirações das pessoas do Porto”.

 

 

“Nós não podemos proclamar que o interesse geral deve suplantar o interesse partidário e depois fazer cálculos com base no interesse partidário mais imediato. O PS está a honrar os seus princípios e a cumprir o seu programa, porque se dá o acaso feliz de que o programa de Rui Moreira e do PS são similares do que desejamos para a cidade do Porto”, sublinhou ainda Manuel Pizarro.

 

 

No entanto, José Luís Carneiro não foi o único destacado socialista a sugerir que o PS deveria encontrar uma alternativa a Rui Moreira. Também em entrevista ao Diário de Notícias/TSF, Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra e da Associação Nacional de Municípios Portugueses, deixou claro que, no seu entender, o PS devia “apresentar candidaturas a todas as câmaras municipais do país, a todas as assembleias municipais do país, a todas as juntas de freguesias do país”.

 

 

Quando confrontado com a questão da Câmara do Porto e do apoio socialista à candidatura de Rui Moreira, Manuel Machado, que também apoiou António José Seguro nas primárias do partido, preferiu não comentar. “A minha missão não é exatamente emitir estados de alma. Portanto, não me sinto em condições de poder responder”, sublinhou o autarca socialista, admitindo, ainda assim, que “a haver acordo do PS com Rui Moreira devia ser depois das eleições”

 

 

Apesar do desconforto mostrado por alguns socialistas, a direção do PS não está disposta a recuar na decisão: Rui Moreira vai mesmo contar com o apoio do partido nas autárquicas de 2017.

 

 

TPT com: AFP//Tiago Petinga//Lusa//Observador// 18 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

Após se ter sagrado campeão do mundo Nico Rosberg anuncia que vai deixar a Fórmula 1

O piloto de Fórmula 1 alemão Nico Rosberg, anunciou hoje que se vai retirar do desporto, depois de se ter sagrado campeão do mundo esta semana. “Escalei a minha montanha, estou no topo, sinto que isto é o correto”, escreveu Rosberg.

 

 

Na mensagem que deixou na sua página de Facebook, o campeão do mundo escreve: “em 25 anos no automobilismo, o meu sonho, o único, foi tornar-me campeão mundial de Fórmula 1. Através de trabalho duro, de dor, dos sacrifícios, este foi o meu objetivo. Agora consegui. Escalei a minha montanha, estou no meu auge, sinto-me bem”, começa por dizer Rosberg.

 

O campeão mundial de Fórmula 1 conta ainda como e quando tomou a decisão de colocar um ponto final na sua carreira. “Quando ganhei a corrida em Suzuka, o destino do título passou a estar nas minhas mãos, começou a grande pressão, e comecei a pensar sobre encerrar minha carreira no automobilismo se me tornasse campeão mundial. No domingo de manhã, em Abu Dhabi, eu sabia que aquela poderia ser a minha última corrida, e esse sentimento tornou-se claro na minha cabeça antes da largada. Eu queria aproveitar cada parte da experiência, sabendo que poderia ser a última vez… e então as luzes se apagaram, e eu tive as mais intensas 55 voltas de minha vida. Tomei a decisão na segunda-feira à noite.”

 

 

Rosberg termina o texto afirmando que está agora a desfrutar do momento e agradece à equipa que o acompanhou.

 

 

Números de campeão

 

 

Nico Rosberg, de 31 anos, começou a correr com apenas seis anos, talvez por influência do seu pai, Keke Rosberg – também ele campeão do mundo em Fórmula 1 (1982) – e não mais parou… até esta sexta-feira. Desde 2006 a correr na Fórmula 1, Nico Rosberg conquistou bastantes prémios e cortou várias metas.

 

 

São estes os números que pautaram a caminhada do campeão de Fórmula 1: participou em 206 Grandes Prémios, teve 30 pole positons (venceu a qualificação e assim partiu na melhor posição), venceu 23 dos Grandes Prémios que disputou e conquistou um titulo de campeão mundial.

 

 

Sagrou-se pela primeira vez, campeão do mundo de fórmula 1 no passado dia 27 de novembro quando acabou em segundo lugar no Grande Prémio de Abu Dhabi. Apenas cinco dias após a conquista anuncia o fim da carreira e já há reações ao anúncio surpresa.

 

 

 

Nico Rosberg admite ter relação difícil com Lewis Hamilton

 

 

O alemão Nico Rosberg, novo campeão mundial de Fórmula 1, admitiu, esta quarta-feira, que a relação com o colega de equipa Lewis Hamilton é complicada, mas conhecer o britânico desde criança ajuda-o a superar os momentos de tensão.

 

 

“A nossa relação será sempre difícil. Seremos sempre rivais. Mas o facto de nos conhecermos desde a infância ajuda a ultrapassar períodos mais complicados”, disse o piloto da Mercedes aos jornalistas alemães, em Wiesbaden, na Alemanha.

 

 

Os alemães também questionaram a atitude de Hamilton, que deliberadamente diminuiu o ritmo de corrida para que os pilotos que seguiam atrás – Sebastian Vettel e Max Verstappen – ultrapassassem Rosberg no Grande Prémio de Abu Dhabi, no domingo, última prova do Mundial, que consagrou o germânico.

 

“Lamento ter de falar sobre isso. Eu entendo que Lewis é um guerreiro, o título mundial estava em jogo. Podemos entendê-la, por vezes, um pouco além dos limites, como disputa pelo título”, rematou o campeão, de 31 anos, que não quis comentar mais.

 

 

Rosberg conquistou o primeiro título mundial de Fórmula 1, em Abu Dhabi, no domingo, tornando-se o 33.º campeão mundial da categoria rainha do desporto automóvel e o terceiro alemão, depois dos títulos de Michael Schumacher (7) e Sebastian Vettel (4).

 

 

Hamilton triste mas não surpreso com a retirada de Rosberg da Fórmula 1

 

 

Nico Rosberg, que há cinco dias se sagrou campeão do mundo de Fórmula 1 pela Mercedes, anunciou esta sexta-feira a sua decisão de pôr termo à sua carreira, justificando-a com a “vontade de dedicar mais tempo à família”.

 

Em Viena, Hamilton disse ao autosport.com que era “uma das únicas pessoas para quem a decisão não foi uma surpresa”, uma vez que se conhecem desde os 13 anos e eram bons amigos até a relação esfriar quando se juntaram na Mercedes.

 

 

Vai ser muito estranho, e vai ser triste não o ter na equipa para o ano. O desporto vai sentir falta dele e desejo-lhe o melhor”, atirou o britânico, que este ano lutou até à última corrida, no Dubai, que venceu, pelo campeonato que acabaria nas mãos do colega de equipa.

 

 

A rivalidade escalou até à última prova do ano, antes da qual os dois pilotos não se cumprimentaram, sendo que durante a corrida o britânico reduziu deliberadamente a velocidade para que Rosberg, que seguia em segundo, sentisse dificuldades em segurar o pódio que lhe garantiu o título mundial.

 

 

O presidente da Federação Internacional Automóvel (FIA), Jean Hodt, revelou estar “muito surpreendido, como toda a gente”.

 

 

Rosberg demonstrou no último ano que é muito corajoso. Falo com muita emoção, porque o conheço desde criança”, acrescentou o francês.

 

 

O diretor desportivo da Mercedes, o austríaco Niki Lauda, também se manifestou surpreendido, porque “nada o anunciara”, explicou ao canal alemão n-tv.

 

 

Quanto à sucessão do campeão mundial, Lauda revelou que “não existe um plano B”, mas que “há que respeitar a decisão, que é pessoal”, embora tenha tentado demover o piloto de se retirar.

 

 

Rosberg abandona a F1 depois do campeonato conquistado há cinco dias, igualando o feito do pai, e de uma carreira com 23 vitórias em corridas e 30 “pole positions”.

 

 

À EFE, o antigo piloto de F1 Pedro de la Rosa viu a retirada como um sinal de que o alemão, de 34 anos, “não desfrutou dos momentos em que se luta por um mundial” e de que a saída se deve à “pressão” do desporto.

 

 

GP Abu Dhabi. Rosberg, um Nico de obra

 

Nico Rosberg 367 e Lewis Hamilton 355. À falta de um Grande Prémio (Abu Dhabi), os dois primeiros vêem-se a 12 pontos de distância. Se fosse como antigamente, digamos 1984, seria uma vantagem confortável, mas isto está on fire a partir do momento em que a FIA decide alargar o sistema de pontos para os dez primeiros classificados.

 

 

Após se ter sagrado campeão do mundo esta semana Nico Rosberg anuncia que vai deixar a Fórmula 1

 

 

 

Quer isso dizer o quê? Para chegar ao tri, Hamilton tem de ganhar e esperar pelo quarto lugar de Rosberg, curiosamente seu companheiro de equipa na Mercedes. Que o último GP coroe um campeão do mundo é sempre especial e até nem é caso único.

 

 

Ah-ha gotcha, daí a referência ao ano 1984 no parágrafo anterior. É o ano em que o GP Portugal domina as atenções na última decisão na Europa até 1997. É uma época particularmente especial para a McLaren, dominadora incontestável do circuito com Alain Prost e Niki Lauda a acumularem 12 vitórias em 16 provas. No Estoril, a dúvida: qual dos dois se sagra campeão mundial? À partida, o austríaco lidera com 66 pontos sobre o francês (62,5). Sessenta e dois e meio? É isso, o GP Monaco acaba a meio por determinação (polémica) de Jacky Ickx, sem consultar os responsáveis da pista, e os pilotos só fazem 1/3 dos pontos. Daí esse meio. Ou seja: Prost só poderia ser campeão se ganhasse e Lauda acabasse em terceiro. O campeão em título Nélson Piquet (5.º da geral) faz a 9.ª pole-position do ano, num Brabham. Ao seu lado, Prost. Na segunda linha da grelha, o miúdo prodígio Ayrton Senna (Toleman) e Rosberg (Williams). Então… e Lauda? Pasme-se: 11.º lugar.

 

 

O GP está marcado para 21 de Outubro. No arranque, Prost ultrapassa Piquet e caminho tranquilo para a vitória. Do GP e do Mundial. Então, e Lauda? O homem ziguezagueia com o talento que se lhe reconhece. Passa um, dois, três, quatro. Às tantas, já está em terceiro lugar, atrás de Nigel Mansell (Lotus). Tempo e resultado: Prost é campeão por um ponto e meio. A 18 voltas do fim, e com 29 segundos de avanço, Mansell quebra (culpa de uma fuga de óleo no sistema de travagem) e Lauda ultrapassa-o sem pestanejar. Como Prost está muuuuito longe, o austríaco conduz apenas para conservar o segundo lugar e sagrar-se tricampeão mundial, aos 35 anos, por meio ponto de diferença. A McLaren faz mais uma dobradinha e o pódio é também ocupado por um jovem irreverente, de seu nome Ayrton Senna. “Nunca esperava este resultado, estou bastante satisfeito. A ver se o melhoro para o ano.” E não é que o miúdo tem jeito para futurologia? Na segunda corrida de 1985, Senna não só vence o primeiro GP da sua vida (21 Abril, à frente de Prost) como ainda faz pole-position e melhor volta. Um hat-trick histórico.

 

 

De volta a esse 21 Outubro 1984, o que se passa no resto do país? Desportivamente falando, claro. O Sporting de Toshack empata 0-0 em Portimão, o Porto de Artur Jorge dá 5-0 ao Farense e o Vitória FC assusta o Benfica de Csernai na Luz (4-3). E no geral? Boa pergunta. Na Faculdade de Letras, o anfiteatro está cheio como um ovo para ouvir e beber da essência do argentino Jorge Luis Borges. “Mestre, o que é para si a verdade?” “Da verdade nada sabemos. Sobre a verdade, fazemos tão-só uma série de perguntas. Exibimos perplexidades a que chamamos filosofia. E é tudo…” Há quem insista: “Tudo?” Mesmo cego, Borges gira a cabeça na direcção da voz e repete: “Tudo. E é tudo.”

 

 

A magia de Abu Dhabi

 

 

 

É tudo, sim. Assim ao longe, que é como quem diz do sofá para a televisão, Abu Dhabi é um sonho. Os aviões da Emirates não voam, passeiam-se elegantemente por cima do circuito. A montanha russa do parque de diversões da Ferrari não assusta, distrai elegantemente ao lado do circuito. Tudo é elegante nos EAU, até o céu azul e o sol brilhante. Que maravilha, que emoção, que sonho. É assim desde 2012. Nesse ano, grande prova de Vettel, segundo lugar de um magnífico Alonso e improvável vitória de Räikkönen. Dito assim, até parece um GP normal, só que não é. A começar pela qualificação. Vettel quebra a regra 6.6.2 do regulamento – os pilotos devem levar os carros às boxes após o fim do treino com o mínimo de um litro no depósito – e larga do 24.º e último lugar.

 
É uma montanha russa de emoções, isso sim. A Red Bull opta por fazer arrancar Vettel do pit lane e é assim que o alemão desenha uma das corridas mais inesquecíveis da sua vida. O seu serpentear é iningualável. Que o digam os atarantados Senna, Karthikeyan, Pic, Glock e Petrov. Lá na frente, Hamilton domina até desistir à 20.ª volta com problemas eléctricos. O inglês encosta à relva e ainda murmura um “vou tentar resolver o problema”. Em vão.

 

 

Kimi Räikkönen avança para o primeiro lugar. Segue-se um espectáculo muito próprio do finlandês, conhecido como IceMan Com Alonso a cinco segundos, Räikkönen recebe indicações via radio para estar atento. Resposta: “Deixem-me em paz, eu sei o que estou a fazer.” Mais tarde, quando o safety car entra pela segunda vez, a mesma voz alerta-o para não deixar os pneus arrefecer. Kimi reage a quente. “Yes, yes, yes, yes, estou a fazer tudo isso. Não é preciso lembrarem-me a cada segundo.” No pódio, quando lhe perguntam se é uma grande emoção voltar a ganhar (desde Bélgica-2009), responde com um seco: “Not much.” É bruto? O espumante, é sim senhor. Reikkönnen, esse, é o maior.

 

 

Passam-se quatro anos. Domingo, 27 Novembro 2016. É o último dia da Fórmula 1. Ou vai ou racha. Ou Rosberg ou Hamilton, agora escolha. A rivalidade é o prato do dia. Diz Hamilton, para quem a relação de amizade com Nico é agora tão-só profissional. “Tínhamos tanto em comum: gostávamos de pizza, de comer caixas de Kellog’s Frosties. Orgulho-me da sua condução e é um prazer tê-lo como colegas, mas distanciámo-nos ao longo da época.” Nico assente com a cabeça, sem verbalizar uma palavra que seja. Lá está a tal distância. É coisa do passado recente. Antes, os dois divertem-se na pista e nas boxes. A partir do momento em que a Mercedes troca os cinco mecânicos de Hamilton pelos de Rosberg, e vice-versa, a relação azeda.

 

 

O GP Abu Dhabi é liderado por Hamilton desde a qualificação. Na corrida propriamente dita, o inglês avança destemido para a 10.ª vitória em 21 corridas. No fim de contas, até ganha mais que Rosberg (9), só que é insuficiente. O título de campeão, seja em que desporto for, voa sempre para o mais regular e, nesse aspeto, Nico acumula mais segundos lugares (5-3) e só não acaba um GP, o de Espanha, em choque com Hamilton – que também não acaba o GP Malásia. Por isso mesmo, Rosberg soma 285 pontos, mais cinco que o inglês. É o primeiro título do alemão, filho de um outro campeão mundial de F1.

 

 

 

Tal pai, tal filho

 

 

 

Quem tem filhos tem cadilhos, quem não os tem cadilhos tem. Ah pois é, toma lá morangos. Um provérbio calha sempre bem, seja em que situação for. Em Portugal, é comum os filhos seguirem as pisadas dos pais. Morato é capitão do Sporting como o pai, Ricardo Sousa marca golos no Porto como o pai, Rui Águas leva o Benfica à final da Taça dos Campeões como o pai, Canário levanta uma Taça de Portugal como o pai. Os exemplos como os chapéus do Vasco Santana no “Canção de Lisboa”: muitos, aos montes. Lá fora, idem idem aspas aspas. Primeiro, a família Hill (Graham e Damon). Agora, a família Rosberg. Campeão mundial em 1982, num ano sui generis da F1 com 11 vencedores em 16 corridas, Keke só ganha uma vez, em Dijon (França), no mascarado GP Suíça. Pelo meio, mais cinco pódios e cinco GP’s sem sequer ver a bandeira de xadrez. Keke é, mesmo assim, o inacreditável campeão com cinco pontos de avanço sobre a dupla Didier Peroni (francês) e John Watson (inglês).

 

Três anos depois, Keke é pai de Nico Erik Rosberg. O miúdo cresce dentro das boxes e aquilo das corridas está-lhe no sangue. Aos seis, já compete como gente grande nos karts. Aos 15, é companheiro de Hamilton. Aos 17, é campeão na Fórmula BMW ADAC (seja lá o que isso for). Aos 20, é campeão no GP2. Estamos em 2005 e a Williams oferece-lhe um cargo como piloto de testes. Menos de um ano depois, Nico já é um bico de obra. Na primeira corrida na F1, no GP Bahrain 2006, faz a melhor volta do circuito. Ainda hoje, com 20 anos e 258 dias, é o mais jovem de sempre a cometer tal proeza. Em 2009, crava a melhor volta no primeiro GP do ano, na Austrália, antes de assinar pela Mercedes, onde se junta ao compatriota Michael Schumacher. No segundo ano de Mercedes, a primeira vitória no GP China 2012. “As últimas 30 voltas duraram uma eternidade. Incrível, parecia que a corrida tinha seis horas. Não esperava ser tão veloz hoje, fiquei muito feliz com o ritmo que tivemos.”

 

 

Está dado o mote. A Mercedes contrata Lewis Hamilton e aí está de volta a dupla dos karts em 2000. A amizade é um posto. Os dois entretém o público e entretêm-se um ao outro. A camaradagem é evidente no GP Bahrein. Rosberg tem a pole position e aguenta a finta de Hamilton na curva 1 (aquela conhecida como Michael Schumacher). Lewis insiste e troca as voltas ao alemão antes do final da primeira volta, que tem Massa em terceiro (ele que arrancara em sétimo), Pérez e Bottas. Com dez voltas, o domínio Mercedes é mais que evidente – e não falamos só da dupla da frente (Rosberg e Hamilton); os cinco seguintes têm todos motores Mercedes. Uns mais rápidos que outros. Por isso, a equipa informa Hamilton que Rosberg está a economizar mais combustível que o inglês. Roger that. Hamilton entra nas boxes, mete pneus macios e acelera. Rosberg, com pneus médios, é ultrapassado e perde-o de vista. A meio da corrida, a diferença já é de sete segundos. E agora?

 

 

De repente, a 16 voltas do fim, Maldonado acerta em cheio no Sauber de Gutiérrez e o mexicano capota de forma espectacular. Os segundos que se seguem são ligeiramente assustadores porque Gutiérrez demora uns sustos para se mexer mas está tudo bem. Entra então um safety car e os carros aproximam-se uns dos outros. Com pneus mais rápidos, Rosberg aproveita e encosta em Hamilton. Aviso: a pressão do alemão sobre o inglês vai ser useira e vezeira até ao fim. Na primeira tentativa, Hamilton fecha a porta com a classe que se lhe reconhece. Muito bom. À segunda, Rosberg é bem sucedido e, acto contínuo, leva um nó de seguida. Ouch, até dói. Isto sim, é Fórmula 1, ao contrário do apregoado por Luca Montezemolo. Com o seu habitual aspecto de personagem de um filme de Federico Fellini e de olhar cravado nas jornalistas, o patrão da Ferrari reúne-se com Bernie Ecclestone e Jean Todt com o intuito de mudar algumas regras a meio do campeonato. Porquê? “Não faz sentido haver controlo de combustível. Os espectadores não querem ver um piloto a conduzir como um taxista.” Taxista ou não, Hamilton faz pela vida em nítida desvantagem (por conta dos pneus macios e, por isso, mais lentos) e segura a vitória num GP histórico, com Rosberg em segundo. Na escadas da subida ao pódio, os dois abraçam-se felizes da vida. É a magia da dobradinha.

 

 

Passam-se uns anos e a rivalidade cresce. Hamilton começa mal e Rosberg acumula quatro vitórias seguidas. Mais uma, na estreia da F1 no Azerbaijão (circuito citadino). E outras três (Bélgica, Itália e Singapura). No Japão, onde faz pole e controla da primeira à última volta, eis a nona vitória do ano e o confortável avanço de 33 pontos sobre Hamilton. O título é mais que dele. Será? Hamilton agarra-se à calculadora e ganha todos os quatro GP’s em falta (EUA, México, Brasil e EAU), com Rosberg sempre sempre sempre mas sempre em segundo lugar. A regularidade é um posto e Nico é o novo campeão mundial. A família Rosberg está de parabéns. Detalhe: os dois consagram-se a conduzir carros com o número 6 (tal como Piquet 1987 e Räikkonen 2007).

 

 

 

TPT com: Reuters//AFP//Lusa//Observador//AP//Fernando Bizerra Jr./Srdjan Suki///EPA// 17 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

Obama acusou a Rússia do massacre em Alepo e de tentar intervir nas eleições presidenciais americanas

Na última conferência de imprensa de Barack Obama este ano, o presidente dos Estados Unidos revelou que pediu ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que “parasse com isso” de tentar intervir nas eleições norte-americanas ou “haveria sérias consequências”. O aviso, segundo disse Obama, surtiu efeitos porque, desde então, as interferências informáticas de Moscovo pararam. O problema é que o ataque aos servidores do Partido Democrata já tinham acontecido e as suas comunicações internas fornecidas ao site WikiLeaks.

 

 

Obama mostrou-se extremamente crítico do regime de Moscovo, e fê-lo em todas as frentes: descreveu a Rússia como “um país mais pequeno e mais fraco” e com uma economia que “não produz nada que ninguém queira comprar, com exceção de petróleo e gás, não inova”. Atacando os Republicanos por se “associarem ao inimigo” apenas porque os russos não gostavam dos democratas, Obama disse que “Ronald Reagan daria voltas no túmulo” se tivesse que testemunhar a atual postura do seu partido.

 

 

E voltou à carga contra Moscovo. Questionado sobre se considerava que Putin esteve pessoalmente envolvido na aprovação das manobras de pirataria informática, Obama disse que “nada acontece na Rússia sem Vladimir Putin” e que o hacking tinha “acontecido ao mais alto nível do governo russo”.

 

 

A questão do envolvimento russo na guerra da Síria não demorou muito a saltar da enorme plateia de jornalistas que quiseram estar presentes na última conferência do ano. E mais uma vez, Obama não poupou nas críticas: “O sangue está nas mãos da Rússia e do seu aliado, o Irão”; “o mundo está chocado com o que estão a fazer na Síria”; “sem surpresas mas tragicamente a Rússia bloqueou várias vezes, no Conselho de Segurança, o envio de ajuda humanitária”; “opõem-se a uma solução mais representativa”, disse o Presidente referindo-se à proposta dos Estados Unidos para que seja encontrada uma solução que não inclua a continuação de Bashar al-Assad.

 

 

No fim do capítulo “Rússia” Obama ainda criticou o legado do país na área dos direitos humanos e da liberdade de imprensa dizendo que Putin pode enfraquecer os Estados Unidos “tal como está a tentar enfraquecer a Europa se começarmos a achar normal prender dissidentes ou limitar a liberdade de imprensa”.

 

 

Ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, Obama fez, nesta conferência de imprensa, um balanço não do ano que agora acaba, mas dos oito anos da sua presidência. Segundo os dados que apresentou, a taxa de desemprego desceu de 10 para 4.6%, o valor mais baixo em uma década, mais de 90% da população tem um seguro de saúde, a dependência de combustíveis fósseis dos Estados Unidos reduziu para metade, enquanto a produção de energia renovável duplicou. No plano das relações internacionais, Obama lembrou o avanço das relações com Cuba, disse que o contingente militar americano destacado em cenários de guerra passou de 180 mil para 15 mil homens, que o Irão não poderá fabricar uma arma nuclear e que os acordos de Paris “juntaram mais de 200 nações num objetivo que, se cumprido, pode salvar o planeta para as nossas crianças”.

 

 

 

O FBI também acha que a Rússia tentou intervir nas eleições a favor de Trump

 

 

 

O diretor do FBI, James B. Comey, e o principal conselheiro presidencial na área da segurança, James Clapper, juntaram as suas vozes à da CIA — a Rússia interferiu mesmo nas eleições presidenciais norte-americanas na tentativa de ajudar Donald Trump a chegar a Presidente.

 

“Esta semana encontrei-me com James Comey e com Jim Clapper, e há um forte consenso entre nós sobre a abrangência, a natureza e a intenção da interferência russa na nossa eleição presidencial”, disse o diretor da CIA John O. Brennan, numa mensagem interna enviada aos trabalhadores da agência, segundo confirmaram ao diário norte-americano Washington Post algumas das pessoas que leram a mensagem.

 

 

Os três responsáveis terão dito também que “todos os organismos envolvidos na investigação devem agora completar a revisão minuciosa do caso, tal como nos foi pedido pelo presidente Obama”.

 

 

As suspeitas de que Moscovo teria tentado influenciar o resultado das eleições nos Estados Unidos não é de agora mas o último relatório da CIA cimenta as suspeitas. A agência diz ter provas de que piratas informáticos russos tenham quebrado a segurança dos emails democratas publicando comunicações internas que podem ter prejudicado Hillary Clinton.

 

 

Hillary Clinton diz que perdeu eleições devido a ataque russo e à polémica dos emails

 

 

 

A ex-candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton assegurou esta sexta-feira que perdeu as eleições presidenciais nos Estados Unidos devido a um ataque informático russo e à reabertura da polémica dos emails pela polícia federal norte-americana (FBI).

 

Segundo uma gravação divulgada esta sexta-feira pelo “The New York Times”, Hillary Clinton, que perdeu as eleições para o republicano Donald Trump, disse que a sua derrota ficou a dever-se, em parte, a “uma vingança” do Presidente russo, Vladimir Putin, contra si. Nas declarações, a democrata atribuiu o seu fracasso a “fatores sem precedentes”, que, considerou, “não podem ser ignorados”.

 

 

Hillary Clinton disse que a carta do diretor do FBI, James Comey, que reabriu a polémica da utilização indevida do seu ‘e-mail’ pessoal para tratar de assuntos internos do Estado enquanto era secretária de Estado, a uma semana das eleições, foi um dos fatores que modificou os votos em Estados-chave, incluindo a Flórida e a Carolina do Norte.

 

 

“Creio que isso fez diferença no resultado”, salientou Hillary Clinton na gravação a que o jornal nova-iorquino teve acesso. Outro fator que contribuiu para a sua derrota, segundo a ex-candidata, foi um “complot” sem precedentes dos russos”, algo que, disse, “deveria preocupar todos os norte-americanos”.

 

 

Hillary Clinton assegurou que o ataque cibernético não foi só contra a sua campanha, mas “contra o país” e pediu uma investigação de fundo do Congresso, porque o “público necessita de saber o que se passou e para prevenir novos ataques”.

 

 

Os Estados Unidos têm fortes indícios de que piratas informáticos russos se infiltraram no correio eletrónico pessoal da campanha de Hillary Clinton e do Partido Republicano com a intenção de expor a estratégia e supostos conflitos de interesses.

 

 

 

TPT com: AFP//Lusa//Ana França//Observador//Michael Reynolds//EPA// 16 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

António Guterres jurou sobre a Carta das Nações Unidas e promete ajudar a resolver os conflitos mundiais

Foi “um dia único”, como descreveu Marcelo Rebelo de Sousa esta segunda-feira, ao chegar ao edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde António Guterres se preparava para jurar a Carta da ONU. Um português ascendia ao topo do mundo, contra todas as probabilidades. O secretário-geral “designado”, que entrará em funções no início de janeiro, discursou pela primeira vez na Assembleia Geral das Nações Unidas, na qualidade de promotor da paz no mundo. Uma tarefa difícil. Na conferência de imprensa que se seguiu, o ex-primeiro-ministro português recordou que as guerras descritas nos livros de história que lia na juventude tinham sempre vencedores e vencidos. “Hoje as guerras não têm vencedores. Todos perdem”, disse Guterres. O mundo com que vai lidar é mais complexo, caótico e imprevisível.

 

 

A história não acabou e o mundo está mais imprevisível

 

 

O mundo melhorou nos últimos 20 anos em muitos dos indicadores sociais e de desenvolvimento tecnológico, mas tudo o resto mergulhou no caos: aprofundaram-se desigualdades, instalaram-se desconfianças e, sobretudo, criou-se um fosso entre representantes e representados. É este o retrato do mundo que António Guterres começou por fazer no discurso em que se dirigiu à Assembleia-geral das Nações Unidas. O secretário-geral indigitado não evitou falar de fenómenos políticos atuais — embora sem nomear o Brexit ou Donald Trump — como exemplos de consequências preocupantes do que aconteceu desde o fim da Guerra Fria.

 

 

Os últimos 20 anos viram um extraordinário progresso tecnológico, a economia global cresceu, os indicadores básicos sociais melhoraram, a proporção das pessoas a viverem em absoluta pobreza caiu dramaticamente. Mas a globalização e o progresso tecnológico também contribuíram para o aumento de desigualdades. Muita gente foi deixada para trás, mesmo nos países mais desenvolvidos, onde milhões de empregos desapareceram e os novos estão fora do alcance de muitas pessoas”.

 

 

Antes deste momento, Guterres tinha recordado o tempo em que tomou posse como primeiro-ministro de Portugal num “mundo cheio de otimismo” no final da Guerra Fria: “Alguns descreviam este momento como o fim da história (…) mas o fim da Guerra Fria não foi o fim da história. Pelo contrário, a história estava simplesmente congelada em alguns sítios“. E ela voltou quando “a ordem mundial derreteu”, disse Guterres, descrevendo o surgimento posterior de “contradições e tensões escondidas”, “novas guerras e falta de transparência”, “impunidade”, “imprevisibilidade”, “violações de direitos humanos”, “pessoas obrigadas a fugir das suas casas como não acontecia em décadas” e “terrorismo global”.

 

 

Acontecimentos que dominaram os últimos 20 anos e que, de acordo com a intervenção de Guterres, fizeram crescer a “instabilidade social, até a violência e o conflito. Um pouco por todo o lado, os eleitores não hesitaram em rejeitar o status quo e o que quer que os políticos levaram a referendo”, sublinhou o antigo alto-comissário da ONU para os refugiados. Mais tarde, na conferência de imprensa que se seguiu à intervenção, Guterres foi questionado, por duas vezes, sobre a postura que teria relativamente à nova administração dos EUA, chefiada por Donald Trump, mas nas respostas nunca saiu da linha pré-definida. Fará com Trump o mesmo que tenciona fazer com os outros líderes mundiais, ou seja, “dizer a verdade” (com que pretende “restaurar a confiança” entre instituições) e “estabelecer uma plataforma de cooperação baseada na vontade de reformar as Nações Unidas”.

 

 

Guterres optou por contornar um assunto sensível, e relativo a uma das maiores potências da ONU, mas na intervenção não deixou de manifestar preocupação com os “muitos” que “perderam confiança, não só nos seus governos, mas nas instituições internacionais, incluindo nas Nações Unidas”. Este novo quadro “aprofundou a divisão entre as pessoas e os políticos”, disse mesmo o secretário-geral indigitado sublinhando que “o medo está a conduzir as decisões de muitas pessoas no mundo”. Assim, neste campo, a prioridade de Guterres é “reconstruir as relações entre pessoas e os líderes nacionais e internacionais. É tempo para os líderes ouvirem e mostrarem que se preocupam com as pessoas, é tempo para a estabilidade global e a solidariedade de que todos dependemos. É tempo para as Nações Unidas identificarem falhas e reformarem a sua forma de atuar”.

 

 

Aqui, o primeiro ponto é melhorar uma das falhas que o novo secretário-geral identifica na comunidade internacional: “A incapacidade para prever crises”. Aliás, disse mesmo que a prevenção dos conflitos “não é um conceito novo”. Existe desde a fundação da ONU: “É o que os fundadores das Nações Unidas nos pediram para fazer e constitui o melhor meio de salvar vidas e aliviar o sofrimento humano”. Mencionando os mais graves conflitos mundiais, como “as crises agudas na Síria, Sudão Sul” ou as disputas de longa data “como o conflito israelo-palestiniano”, o secretário-geral designado afirmou que esses problemas “precisam de mediação, arbitragem e diplomacia criativa”. O próprio António Guterres garantiu que estaria empenhado nesses cenários, sem que os países envolvidos e com interesses nessas regiões pudessem desresponsabilizar-se: “Vou envolver-me pessoalmente através dos meus bons ofícios na resolução dos conflitos, mas constitui uma mais-valia reconhecer o papel primordial dos estados membros”.

 

 

A reforma da ONU: coordenar melhor as 38 entidades que lutam contra o terrorismo

 

 

O ex-primeiro-ministro português apontou três prioridades para a reforma que quer levar a cabo nas Nações Unidas: primeiro, “no trabalho a favor da paz”; segundo, no “apoio ao desenvolvimento sustentável”; terceiro, na “gestão interna” da organização.

 

 

As operações de paz, mereceram de Guterres um elogio, com uma referência aos “heróicos” elementos da ONU que colocam “em perigo as suas vidas” ao terem muitas vezes a “tarefa de manter uma paz que não existe”. No entanto, será preciso lançar as bases de “uma reforma urgente”:

 

 

Essa reforma deve incluir um exame do nosso trabalho no domínio da luta anti-terrorista, e um melhor mecanismo de coordenação entre as 38 entidades das Nações Unidas relacionadas com o tema”.

 

 

O futuro secretário-geral da ONU não passou por cima dos temas mais polémicos e embaraçosos para os capacetes azuis, como os abusos sexuais em países africanos, como na República Democrática do Congo. E foi duro nas palavras: “O sistema da ONU ainda não fez o suficiente para prevenir e responder a crimes de exploração sexual cometidos sob a bandeira das Nações Unidas sobre aqueles que supostamente devíamos proteger”.

 

 

No que parecia ser uma crítica ao antecessor (não era), Guterres disse que seria severo em relação a novos casos do mesmo tipo. Prometeu “tolerância zero” e a criação de “estruturas e legais e medidas operacionais” para que não se repetissem casos semelhantes, medidas pelas quais Ban-Ki Moon “combateu arduamente para serem uma realidade”. Objetivo: “Oferecer transparência, reponsabilização, proteção e compensações efetivas às vítimas”.

 

 

A “responsabilização” foi uma palavra muito repetida por António Guterres para se referir às estrutura. “Uma forte cultura de responsabilização, precisa de mecanismos de avaliação independentes e efetivos”, afirmou. A estrutura é tão pesada, que o novo secretário-geral foi aplaudido quando pediu mais “eficácia” e “menos burocracia” para a organização estar “mais focada nas pessoas” do que “nos processos”. E deu um exemplo: “Ninguém beneficia se demorarmos nove meses a destacar um membro do staff para o terreno”. Garantiu uma “cultura de responsabilidade” e de transparência e pediu “proteção efetiva para os whistleblowers” — a pessoas que denunciam os casos mais complicados.

 

 

 

As mulheres os jovens e um regresso às origens

 

 

Sobre o discurso de Guterres paira uma ideia que soa a contraditória em si mesma: é preciso mudar, voltando à raiz. Mudar porque o mundo que se defendia há 70 anos e o mundo a em que nos movemos estão desfasados. Por isso, é preciso voltar à raiz para fazer diferente daquilo que nos trouxe aqui.

 

 

É preciso, desde logo, prestar atenção aos jovens, esse “vazio” universal no trabalho das Nações Unidas e que explica, em grande medida, a distância entre os eleitos e os povos que os elegeram.

 

 

Durante demasiado tempo, os jovens viram-se excluídos da tomada de decisões que afetam o seu futuro”.

 

 

Tal como é preciso dar às mulheres um papel igual ao dos homens – nas imagens do juramento da Carta das Nações Unidas, entre os 15 homens que aplaudem Guterres no palco apenas se vislumbra um rosto feminino –, também é preciso “dar mais poder aos jovens e aumentar a sua participação na sociedade e o se acesso à educação, formação e emprego”. Porque se houver um futuro melhor para despontar amanhã, ele terá de ser construído pelos mais novos.

 

 

Elevar o papel das mulheres é a outra missão. O objetivo da ONU era alcançar a paridade entre homens e mulheres no ano 2000. Mas, “16 anos depois, estamos longe desse objetivo”, sublinhou Guterres. “Precisamos de um mapa claro com objetivos e com um calendário que nos permita alcançar a paridade por todo o sistema muito antes do objetivo de 2030” e o próximo secretário-geral – que venceu uma eleição onde a paridade era ponto de honra no início da corrida – jurou batalhar para que esse princípio embelezador de discursos passe da teoria à prática.

 

 

Guterres também se preparou para um mandato pela Paz. E isso obriga a um regresso às origens de uma organização que nasceu das trevas da II Guerra Mundial sustentada, além da paz entre os povos, também nos valores da tolerância, solidariedade, justiça, respeito e Direitos Humanos. É essa a carta de princípios orientadora do mandato de António Guterres para os próximos dez anos.

 

 

Só que o próximo secretário-geral sabe que esse caminho não se faz sozinho. Mesmo quando “sozinho” significa liderar uma instituição em que têm assento representantes de 193 países.

 

 

Eu sei que o secretário-geral não é o líder do mundo”, reconheceu Guterres na conferência de imprensa que deu a seguir ao seu juramento.

 

 

Guterres sabe que não pode tudo. Sem a vontade dos líderes políticos, Guterres não pode mesmo nada. “O papel do secretário-geral”, reconhece, “é para ser visto com um valor acrescentado” e um “apoio” a quem tem, de facto, poder na resolução dos conflitos: os líderes políticos de cada Estado.

 

 

“Acabar com esses conflitos” que saltaram fronteiras e que representam hoje uma ameaça global – terrorismo é o termo que melhor sintetiza essa realidade – obriga as Nações Unidas a contar com os outros. Porque “vivemos num mundo complexo” e porque “as Nações Unidas não conseguirão ter sucesso sozinhas”. É por isso que “as parcerias devem manter-se no centro” da estratégia da organização, para que se possa de novo acreditar que é possível alcançar essa ideia tão cliché, mas ao mesmo tempo tão atual: a paz.

 

 

Os seis trabalhos de Hércules que esperam por Guterres na ONU

 

 

 

Se fosse um país, António Guterres era como a Suíça: pragmático, diplomático, não-alinhado e reputado por ouvir as opiniões de toda a gente. “Talvez seja mais conhecido onde faz falta: nas linhas da frente dos conflitos armados e das maiores crises humanitárias mundiais”. Foi assim que Ban Ki-moon descreveu o homem que lhe vai suceder à frente das Nações Unidas, mas que até ter chegado à liderança do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), não fazia parte da constelação política mundial.

 

Distância do poder e proximidade às pessoas parece uma formulação simplista, mas poderá ser esta moderação que todos lhe reconhecem a criar um espaço de manobra para que António Guterres possa tentar resolver alguns dos conflitos que afetam o planeta. Foi eleito por unanimidade pelo mesmo Conselho de Segurança que, em outras considerações, se tem revelado uma engrenagem empedernida em velhos posicionamentos.

 

 

Será difícil reproduzir o mesmo entendimento em questões essenciais como o conflito na Síria, no qual os Estados Unidos e a Rússia não têm os mesmos objetivos nem forma de atuar. Desde os tempos da Guerra Fria que o fosso não estava tão visível: além das atrocidades cometidas na Síria, pelas quais as duas potências se culpam mutuamente, a CIA disse esta semana que piratas informáticos russos interferiram na contagem dos votos nas eleições presidenciais norte-americanas para favorecer Donald Trump.

 

 

Como lidar com o imprevisível Donald Trump?

 

 

 

“O desafio mais difícil será talvez a falta de previsibilidade das relações internacionais nos próximos anos, agora que Trump foi eleito. O balanço de poderes tem implicações, por exemplo, na resolução da guerra na Síria ou no peso e papel da NATO. As Nações Unidas não parecem ser a prioridade de Donald Trump”, diz ao Observador Inês Sofia de Oliveira, investigadora sénior do RUSI, um centro de análise geopolítica com sede em Londres.

 

Desde que soubemos da eleição de Guterres, uma peça essencial do puzzle mudou: Donald Trump é o Presidente-eleito dos Estados Unidos da América, um homem virado para dentro à frente de um país com uma influência enorme cá fora. Durante a campanha, Trump manifestou-se várias vezes contra o peso que a ajuda internacional e o financiamento da NATO têm no orçamento dos Estados Unidos e muitas vezes negou a visão do seu país como “polícia do mundo”.

 

 

“Conjugam-se aqui duas realidades perigosas”, diz Inês Sofia de Oliveira. “Primeiro, o processo de desresponsabilização dos Estados Unidos que, tendo em conta o que Donald Trump disse durante a sua campanha, afastando-se dos assuntos internacionais, se poderá iniciar em breve. Há tratados internacionais, dos quais os Acordos de Paris é o mais óbvio, que ainda não sabemos como serão implementados. Do outro lado há uma Rússia que não respeita o direito internacional, que acabou de se retirar do Tribunal Internacional de Justiça”, acrescenta a investigadora.

 

 

Há, porém, quem veja Trump com um pragmático, como é o caso de Andrê Corrêa d’Almeida, professor na School of International and Public Relations da Columbia University. Será alguém que, como António Guterres, dá mais importância à resolução de problemas do que à camisa de forças ideológica que atrofiou a geopolítica mundial durante quarenta anos de Guerra Fria.

 

 

“Há um conjunto de circunstâncias que se alinham para Guterres: é um político experimentando e, ao mesmo tempo, um pragmático e o pragmatismo é tudo. Pode haver possibilidade de sintonia com Donald Trump”, diz André Corrêa d’Almeida ao Observador. “Eu sei que esta posição é controversa, mas pode haver sintonia”.

 

 

“Trump tem sido inteligente, na minha opinião, na forma como está a tentar desdramatizar as relações com a Rússia, até a fomentar o respeito por Putin”, diz o professor da Columbia University. “António Guterres pode e deve utilizar este pragmatismo. A normalização das relações China-Rússia-Estados Unidos é a chave para tudo e Guterres, um homem tido por todos como imparcial e equidistante, poderá colocar estas potências em diálogo”, diz o investigador.

 

 

Na opinião de Corrêa d’Almeida, “as três potências são fundamentais tanto para o cumprimento dos objetivos ambientais, como para o financiamento dos órgãos da ONU, e para a resolução de alguns conflitos armados”.

 

 

Otimismo na Síria apesar da catástrofe humanitária

 

 

 

Apesar de existirem dezenas de focos de conflitos no mundo, a guerra na Síria tem prendido a atenção dos meios de comunicação; talvez pela violência das imagens, talvez por durar há uma incompreensível meia década, talvez pela intransigência demonstrada pelos intervenientes que poderiam colocar um ponto final nas mortes e abrir um corredor de ajuda humanitária, nem que fosse acordando momentaneamente um cessar fogo, e não o fazem.

 

Já não há hospitais em Alepo, a comida está permanentemente em vias de se esgotar, as pessoas estão sitiadas na sua própria cidade. As estimativas mais conservadoras, do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, falam em 400 mil mortos. A ONU diz que há pelo menos 13,5 milhões de sírios que necessitam de ajuda humanitária urgente, seis milhões são refugiados internos e 4,8 milhões já terão sido acolhidos por outros países, um dos quais a Turquia, aquele que mais sírios tem recebido — mais de 2,7 milhões.

 

 

“A resolução do problema na Síria cai neste campo de fomento das relações entre as grandes potências. Guterres tem que utilizar o que tem de melhor: o caráter de mediador e negociador para construir pontes. Estou confiante que ele vai conseguir coisas muito importantes”, diz André Corrêa d’ Almeida.

 

 

Para o professor português, Guterres poderá mais “facilmente” alcançar algum sucesso na Síria do que, por exemplo, na resolução do conflito israelo-árabe: “O caso da Síria é chocante mas é, mesmo assim, mais fácil de resolver do que aqueles conflitos nos quais as forças que os alimentam são endógenas como é o caso do conflito israelo-árabe. Esse sim, é um conflito sobre o qual Guterres necessariamente se pronunciará mas que é extremamente difícil de resolver em dez anos. Na Síria não: existem forças exteriores que são membros da comunidade internacional e que poderão ser ‘movimentadas’ por fora”.

 

 

O problema dos outros refugiados

 

 

 

Nunca existirem tantos refugiados no mundo. É esta a conclusão expressa nas primeiras linhas do relatório da ONU sobre este desafio, que será um dos mais importantes de António Guterres. São 65,3 milhões de pessoas.

 

Quando Guterres chegou ao ACNUR eram metade e isso tem-lhe valido algumas das poucas críticas que lhe fizeram. Se formassem um país, seria o 24º mais populoso do mundo.

 

 

“A maior crise do nosso tempo é mesmo a questão dos refugiados”, diz Bill Frelick, diretor do Programa de Apoio a Refugiados da Human Rights Watch, ao telefone com o Observador a partir de Washington. “Não falo apenas dos que chegam à Europa, empurrados para fora das suas cidades pelos conflitos armados, mas também daqueles que estão há décadas em países onde não são bem-vindos”. O norte-americano refere que o caso dos refugiados afegãos no Paquistão “é terrível” e “há 400 mil pessoas a serem expulsas de onde sempre viveram”.

 

 

Exemplos como o dos afegãos no Paquistão multiplicam-se. “Este é apenas um dos cenários”, descreve Frelick. “Há campos de refugiados gigantescos na Jordânia, no Líbano, na Turquia, no Quénia e está cada vez mais difícil de os justificar, política e economicamente”, diz o responsável da ONG.

 

 

Alertando para a incerteza que domina o jogo geopolítico, Bill Frelick diz que “António Guterres tem que estar preparado para, eventualmente, a meio do caminho, ter que lidar com um corte de financiamento por exemplo por parte dos Estados Unidos, um dos mais importantes contribuintes, uma vez que não sabemos onde Trump irá cortar”.

 

 

Frelick já esteve com Guterres em diversos cenários de emergência e acredita que ele quer mesmo mudar as coisas: “Está a par das dificuldades dos refugiados como ninguém. Está preparado para construir pontes e não chegou aqui vindo da academia.Ele tem a parte política também, de gestão de gastos, de recursos, experiência de mediação. Ele entende as exigências e as pressões políticas a que muitos chefes de Estado estão sujeitos”.

 

 

Frelick fala também da importância de mudarmos de discurso sobre os refugiados, outra área que vai ao encontro daquilo que Guterres já disse querer fazer: prevenir e educar. “Espero que Guterres consiga colocar os olhos dos governantes na direção do investimento privado nos refugiados, que reconheçam as pessoas pelas suas qualidades, não apenas como um peso nas contas do estado”. Cita o exemplo dos iogurtes Chobani, um negócio indicado por Hamdi Ulukaya, um refugiados turco nos Estados Unidos que hoje emprega outros refugiados.

 

 

“O grande desafio de Guterres será lutar contra os possíveis cortes na ajuda internacional e lutar contra a mentalidade de construir paredes que se está a apoderar da Europa. Preocupa-me, e a ele creio que também, que as nossas sociedades estejam e caminhar para uma era onde os valores universais estão a sucumbir ao individualismo”, concluiu Frelick.

 

 

 

Agilizar um organismo pesado e polémico

 

 

 

Capacetes azuis no Congo, onde há investigações por abusos sexuais e onde a ONU foi acusada de não conseguir prevenir massacres.

 

Além da acusação de imobilismo na questão da Síria, e da inoperância em relação à anexação da Crimeia pela Rússia, o organismo tem sido acusado de negligência na atuação de soldados em missões de paz: o primeiro escândalo foi o dos 69 capacetes azuis, acusados de abuso sexual na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo. Em agosto, após anos de pedidos de esclarecimentos, a ONU admitiu finalmente ter sido responsável por espalhar uma epidemia de cólera no Haiti, para onde enviou ajuda após o terrível terramoto de 2010.

 

 

A ONU é também acusada de ser um organismo demasiado pesado para a ginástica que lhe é exigida. A teoria é que se a estrutura encolhesse talvez se conseguissem libertar mais fundos para o que realmente importa. Também aqui António Guterres tem provas dadas, segundo André Corrêa d’Almeida: “À frente do Alto Comissariado para os Refugiados, Guterres baixou os custos com pessoal de 41% para 22% do orçamento. Além disso, reduziu de 13,7% para 6,5% o custo de manutenção da sede do ACNUR nos custos totais de gestão da ONU. Aumentou o número de parcerias com outras Organizações Não-Governamentais e Governos e a taxa de implementação dos programas de auxílio que desenvolveu está muito perto dos 90% por cento, raro para programas de ajuda humanitária”.

 

 

Inês Sofia de Oliveira foca a questão da paridade como uma das mudanças prioritárias: “Quanto à reestruturação interna da ONU, Guterres terá que se esforçar por incluir mais pessoas de nacionalidades diferentes e também mais mulheres. Não se lhe podem exigir impossíveis, a reformulação interna no Conselho de Segurança por exemplo é impossível”.

 

 

Regras mais apertadas na admissão de pessoal, para que o protecionismo e a influência dos países mais poderosos — já tão pesados na estrutura da organização — não se traduza em nepotismo, é também um objetivo referido pelos vários analistas.

 

 

A escalada da Rússia e a segurança da Europa

 

 

 

Também aqui a sua ação está “limitada” ao diálogo apesar de ninguém negar a capacidade que António Guterres possui em construir consensos em lugares onde antes existia só crispação.

 

Em 2014, a Crimeia foi anexada pela Rússia e o presidente russo Vladimir Putin tem apoiado os separatistas no Leste do país. O problema é que a Rússia não pare na Ucrânia. Se a NATO mostrar fraqueza, Putin pode continuar a movimentar-se para mais perto de países bálticos. André Corrêa d’Almeida lembra um recente viagem de Guterres que considera simbólica:

 

 

“Guterres visitou o Cazaquistão há 15 dias. É a maior prova de que está a tentar juntar à mesa não só o mundo árabe com também os russos”.

 

 

Num artigo para o Huffington Post, o académico explica melhor o potencial papel daquele país como plataforma entre a Europa, a Rússia e o mundo árabe: “A conceção que se tem do Cazaquistão é míope: inacessível, periférico, deserto, suspeito de ligações ao regime soviético, são tudo ideias que impedem o país de assumir um papel mais importante nas relações internacionais e são todas discutíveis”.

 

 

André Corrêa d´Almeida considera que “não há um risco de esvaziamento do poder do ocidente mas há um risco de esvaziamento do peso da Europa pela sua fragmentação. Não quer dizer que aconteça, mas há correntes antigas que estão de novo a ganhar força e também é por isso que é importante sentar todos os atores à mesa, incluindo os russos e os chineses”.

 

 

A temperatura aumenta: as alterações climáticas

 

 

 

A situação acima descrita assusta, mas se pensarmos que, em 2050, poderemos estar a somar ao atual número de refugiados mais 200 milhões de pessoas desalojadas por culpa das alterações climáticas, entendemos porque é que o aquecimento do planeta tem sido uma preocupação central de António Guterres durante o seu tempo à frente do ACNUR.

 

É o assunto que mais ramificações futuras pode ter, se não for combatido. Um dos mais sérios alertas chega de James Hansen, cientista climático na NASA que, no seu último estudo, comparou a taxa de aquecimento atual (0,2 graus por década) com aquela que se verificou no período Eemiano, uma era interglacial que terminou há 115 mil anos, quando o nível da água do mar estava nove metros acima do que está hoje — suficiente para colocar, por exemplo, todos os prédios da Rua Augusta debaixo de água.

 

 

Académicos da área revelam-se bastante confiantes na escolha de Guterres, não só pelas suas intervenções públicas, mas também pelo tempo que passou junto de populações que sofreram diretamente com as alterações climáticas como é o caso do Darfur.

 

 

Num relatório publicado pela divisão de Estudos Ambientais e de Segurança do Wilson Institute, Ruth Greenspan Bell e Sherri Goodman, dizem que “os maiores desafios de António Guterres são a crise de refugiados e a escassez de água que é a linha da frente das alterações climáticas. O incrível número de pessoas desalojadas mostra-nos como as alterações climáticas podem gerar conflitos, exacerbar os que já existem e ajudar na emergência de grupos radicais”, escrevem no relatório.

 

 

O estudo refere também que, apesar da sua experiência “no campo”, Guterres terá que pedir ajuda: “A ONU sozinha não será suficiente para desacelerar o aquecimento global. É preciso uma colaboração mais estreita entre setores público e privado. Não é trabalho para um único governo, nem apenas para o governo”, alertam os académicos.

 

 

Também aqui há razões para otimismo moderado. Não só Guterres cita a urgência da implementação dos Acordos de Paris na Carta de Intenções [pdf do original em inglês] que entregou quando se candidatou à posição de secretário-geral, como reconhece a necessidade de procurar parcerias com empresas e outras organizações que já estejam presentes nos cenários onde a ONU pode intervir.

 

 

Em novembro de 2011, Guterres apresentou um estudo no Conselho de Segurança – “Novos Desafios para a Paz Internacional e Prevenção de Conflitos” – que fica na memória como uma das suas mais apaixonadas intervenções pela defesa da proteção ambiental. “A luta contra as alterações climáticas é o desafio que define o nosso tempo.Um desafio que interage com e reforça outras correntes preocupantes como o crescimento populacional, urbanização, e a falta de segurança alimentar, energética e hídrica. É um problema que aumenta o número de refugiados e que tem implicações importantes na manutenção da paz e segurança internacionais”, disse Guterres chamando ainda à atenção para os potenciais conflitos que se podem gerar quando eles têm que competir por recursos como a água e terra arável.

 

 

Numa época em que o medo parece ser o farol que guia as decisões políticas do mundo ocidental, a investigadora diz que “o maior desafio talvez seja esse de procurar o equilíbrio entre questões de segurança e questões humanitárias. Há uma pressão junto dos políticos para que se foquem mais na segurança. Na Guerra Fria, os blocos estavam mais ou menos definidos, havia a cola da ideologia, hoje mais facilmente dizemos que ‘não queremos cá aquela pessoa’, porque o perigo se pulverizou”. António Guterres vai estar a partir desta segunda-feira no topo de um mundo onde a única certeza é o conjunto das incertezas.

 

 

Guterres, o homem certo num lugar incerto

 

 

 

Este é o trabalho mais impossível do Mundo, disse o primeiro secretário-geral da ONU, o norueguês Trygve Lie. Talvez, mas só talvez, possa Guterres tirar à palavra impossível o morfema gramatical “im”.

 

 

Não tem quase poder, senão o poder da influência a conquistar pela palavra.

 

 

Mas foi assim que António Guterres fez a maior parte da sua carreira política e internacional, falando, expondo, convencendo, persuadindo. Negociando.

 

Nas Nações Unidas, houve vários tipos de secretários-gerais:

Os dinâmicos e interventivos, dados a iniciativas independentes e até fora das previsões da Carta das Nações Unidas, como foi Dag Hammarskjold; os politicamente comprometidos, como terá sido U Thant, alinhado com as questões do desenvolvimento e em confronto com os grandes poderes ocidentais; os activos e reformistas, incluindo do funcionamento da organização, como Koffi Annan, crítico da intervenção americana no Iraque, prémio Nobel da Paz em 2001; os passivos e contemporizadores, dados à discrição, como o actual Ban Ki-Moon, a quem Guterres vai suceder.

 

 

Que lições a tirar, pelo secretário-geral português, das experiências dos seus ilustres antecessores? Talvez se resumam em três pontos-chave:

 

 

  • Sendo o poder da palavra o mais importante, é pela palavra, e por uma palavra assertiva e clara, que o secretário-geral da ONU pode conquistar o poder da influência sobre um Mundo crescentemente instável e perigoso.

 

 

  • O peso da “máquina” da organização interna é um problema persistente e que nenhum secretário-geral pode ignorar, sob pena de, para usar um coloquialismo comum, ser “engolido” por ela.

 

 

  • Não é possível enfrentar os poderes do Mundo a partir da cadeira de Nova Iorque, ou pelo menos todos ao mesmo tempo, ou quiçá mais do que um de cada vez, sob pena de se ser por eles esmagado, mas também de pouco serve um secretário-geral amorfo e inactivo (ou melhor, serve para alimentar as vozes daqueles que consideram a ONU inútil).

 

 

António Guterres, o português – e quantas vezes estas palavras vão estar associadas no próximo-futuro, para nosso orgulho e contentamento -, conhecerá melhor do que ninguém esta trilogia. A sua experiência ao serviço da ONU preparou-o para as funções que agora vai exercer, a sua preparação para vencer as cinco rondas da competição ao cargo demonstrou sobretudo o profundo conhecimento sobre o que é preciso fazer como titular do cargo e sobrelevou apriorismos poderosos sobre quem devia ser… o titular do cargo.

 

 

É frágil o escasso poder do homem que depende do tesouro alheio para financiar as suas iniciativas e está preso numa teia impiedosa constituída por cinco poderes armados de veto, que o podem impedir de fazer seja o que for. É frágil e a um tempo imenso, o extraordinário poder do homem que, do 38º andar do edifício sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, vai ter uma visibilidade planetária, sabendo que as suas palavras e actos serão escrutinados profunda e permanentemente; do homem cujo rosto será o rosto do Mundo durante os próximos 5 anos, pelo menos.

 

 

São grandes as expectativas sobre a prestação de António Guterres, o português. Espera-se que ele reforme as Nações Unidas, como em certa medida fez como Alto-comissário para os refugiados no sector que chefiou durante dez anos. Espera-se que traga de novo prestígio e credibilidade à organização, abalada por décadas de impotência, braços de ferro com as potências do Conselho de Segurança e dramas e crises relativas aos Secretários-gerais, como Kurt Waldheim, Boutros Ghali (cujo segundo mandato foi vetado pelos EUA) e o próprio Koffi Annan, envolvido em controvérsia no final do seu mandato. Espera-se que esteja à altura do prestígio que o cargo ainda tem, como líder e porta-voz de uma organização que venceu o Nobel em 2001 (conjuntamente com o seu secretário-geral) e que tem como objectivos manter a paz internacional, estabelecer relações amistosas entre as nações com base no princípio da autodeterminação, estimular a cooperação para resolver os grandes problemas internacionais e ser um pólo congregador do esforço dos Estados em busca dos seus objectivos.

 

 

Espera-se de Guterres, no cumprimento desses objectivos, que contribua para a solução dos grandes problemas internacionais. E que problemas são! A lista é imponente:

 

 

Crise dos refugiados; guerras e conflitos em regiões como o Médio-Oriente e África sub-sahariana; ameaça do Daesh e de outros grupos radicais islâmicos; crescente desigualdade no Mundo, entre os que mais possuem e os que pouco têm; o concomitante aumento da exclusão; aquecimento global e tantos outros. Entre estes, os outros, os menores não serão decerto os relacionados com as novas tendências políticas em tantos países do Ocidente, a começar pelos Estados Unidos, onde cresce a onda do populismo e dos nacionalismos exacerbados e, com eles, a tentação do proteccionismo, dos muros, da exclusão do Outro.

 

 

Guterres sabe que conta com um Mundo mais avesso a soluções globais para os problemas comuns, de que a ONU é o mais óbvio e natural dos paradigmas. Mais do que nunca, mais do que boa parte dos seus predecessores, é pela palavra, com o poder que advém da sua autoridade moral e magistério de influência, mas também pela negociação e com uma habilidade que os portugueses bem lhe conhecem para negociar consensos e aproximar extremos, que o novo secretário-geral da ONU pode ter sucesso.

 

 

Que as esperanças da comunidade internacional podem ser confirmadas.

 

 

Que os pobres e desvalidos do Mundo podem receber alívio.

 

 

Quando se apresentou como candidato ao cargo que vai ocupar em Janeiro, António Guterres, o português, disse ao que vinha: “Estamos a gastar 70% dos nossos recursos em operações de manutenção de paz onde não há paz para manter. Face aos impactos das mudanças climáticas, dos problemas causados pela desigualdade e falta de inclusão, prevenir, focando nos pilares da actividade da ONU de uma forma holística, é claramente a minha prioridade pessoal”.

 

 

Prevenir: é com base nessa ideia, tendo em conta os objectivos e os princípios da Carta das Nações Unidas, que António Guterres, o português, se pode revelar um Homem do Mundo e para o Mundo. Uma excelente notícia para as Nações Unidas e para que as nações possam estar (mais) unidas do que nunca.

 

 

Este é o trabalho mais impossível do Mundo, disse há décadas o primeiro secretário-geral da ONU, o norueguês Trygve Lie. Talvez, mas só talvez, a pessoa que vai ocupar o lugar em Janeiro de 2017 seja a indicada para retirar da palavra impossível o morfema gramatical “im”: António Guterres, o português secretário-geral da ONU.

 

 

 

TPT com: AFP// Textos de Rita Tavares, Pedro Rainho e Vítor Matos//Ana França//Observador//Paulo de Almeida Sande//Observador// 12 de Dezembro de 2016