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ONU alerta para violência policial, cadeias cheias e justiça sem meios em Cabo Verde

Abusos sobre detidos, elaboração de “perfis raciais”, cadeias sobre lotadas e um sistema judicial sobrecarregado e sem meios são as conclusões da avaliação a Cabo Verde do comité das Nações Unidas conta a Tortura hoje divulgadas.

 

 

Cabo Verde, que aderiu à convenção das Nações Unidas sobre Tortura e outros Tratamentos, Desumanos, Cruéis e Degradantes em 1993, esteve em avaliação pelos membros do Comité Contra a Tortura a 26 de novembro, não tendo apresentado qualquer relatório sobre o assunto, nem enviado uma delegação para participar na sessão.

 

 

Esta situação mereceu a condenação do comité que considerou não ser assim possível obter informações sobre as medidas que o país tem tomado para implementar a referida convenção.

 

 

O comité, que trabalhou apenas com base no relatório da Comissão Nacional de Direitos Humanos, mostrou-se preocupado com “os consistentes relatos de brutalidade policial contra detidos” e com alegações da “recolha de perfis raciais durante operações de segurança e investigações”.

 

 

O relatório do comité recordou a propósito os confrontos entre as forças policiais e imigrantes oeste africanos entre 2002 e 2005 e alegações de violência policial contra jovens como forma de punição extrajudicial.

 

 

Citando o relatório da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDC), o comité adiantou que foram recebidas uma média de 10 queixas por anos por uso excessivo de força por parte da polícia.

 

 

Deu ainda conta que foram recebidas 50 queixas por abuso policial nos primeiros 10 meses de 2015.

 

 

Face a estes dados, o comité lamentou que o país não tenha submetido informação sobre o tratamento que foi dado a estes casos.

 

 

Assinalou ainda como preocupação o facto de os atrasos nos processos criminais estarem a contribuir para uma perceção de impunidade junto da população, que frequentemente retira as queixas apresentadas na polícia.

 

 

A avaliação constatou que a população prisional duplicou desde 1997 e que a sobrelotação das cadeias está a contribuir para o aumento do tráfico de droga, em particular na cadeia de São Marinho, na ilha de Santiago, o maior estabelecimento prisional do país.

 

 

Falta de guardas prisionais e de mecanismos de vigilância, dificuldades de acesso dos detidos a serviços de saúde, nomeadamente mental, ventilação e instalações sanitárias deficientes foram outros aspetos apontados sobre as cadeias cabo-verdianas no relatório.

 

 

O relatório expressou também preocupações com os relatos de que o sistema de justiça está sobrecarregado e com falta de pessoal, o que gera atrasos, levando ao prolongamento dos períodos de prisão preventiva e ao acumular de processos pendentes.

 

 

O comité sublinhou ainda que o facto de os juízes cabo-verdianos serem mal pagos os torna vulneráveis aos subornos e à corrupção.

 

 

As Nações Unidas assinalam a prevalência da violência contra mulheres e crianças, particularmente na esfera familiar e nos bairros mais pobres das áreas urbanas, bem como o uso de castigos corporais às crianças em casa e nas escolas.

 

 

O envolvimento de “um largo número de crianças” na prostituição, mendicidade, tráfico de drogas e venda ambulante é também destacado no relatório, que lamenta que as alterações recentes ao Código Penal não tenham introduzido penalizações para quem promove a prostituição entre os 16 e 18 anos.

 

 

Apresentando uma série de recomendações no sentido de o país corrigir as situações assinaladas, o comité pede a Cabo Verde que apresente até 07 de dezembro de 2017 um relatório sobre a aplicação dessas recomendações.

 

 

Cabo Verde deverá ser novamente avaliado em 2020, devendo até lá apresentar o relatório da situação do país nestas matérias, bem como sobre a aplicação da convenção sobre tortura das Nações Unidas.

 

 

Orçamento de Estado para 2017 em Cabo Verde foi aprovado por votação final global

 

 

 

O parlamento de Cabo Verde aprovou hoje, em votação final global, o Orçamento de Estado para 2017 com votos favoráveis do partido do Governo, votos contra do maior partido da oposição e abstenção da terceira força política.

 

O orçamento, o primeiro para um ano completo do governo do Movimento para a Democracia (MpD), contou com os votos favoráveis da bancada da maioria, os votos contra do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) e a abstenção dos três deputados da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID).

 

 

Na justificação do voto contra, a deputado do PAICV Julião Varela considerou tratar-se de um orçamento da “desesperança” que veio comprovar que uma “coisa é o que se diz em campanha eleitoral e outra é o que se faz na governação”.

 

 

Para o PAICV, o orçamento irá aumentar o custo de vida dos cabo-verdianos, assinalando que irá tornar mais caros bens como a água, a energia e os transportes.

 

 

O líder da UCID, António Monteiro, reconheceu, por seu lado, que o documento tem “medidas importantes” para que o país possa “ter outra performance económica”.

 

 

Ainda assim, o partido absteve-se por, durante o debate na especialidade, não terem sido acolhidas as propostas que fez para os setores da energia, água, transportes marítimos e telecomunicações.

 

 

“O documento não é o que gostaríamos para dar maior rendimento a muitas famílias e aos jovens desempregados”, considerou António Monteiro.

 

 

Para o deputado do MpD Miguel Monteiro trata-se de um orçamento de crescimento económico e de confiança que “cumpre os compromissos” assumidos pelo partido.

 

 

Miguel Monteiro sublinhou o aumento dos recursos para os municípios e as medidas de dinamização da economia através da “retirada de obstáculos”, nomeadamente em matéria de importações, e da “criação de incentivos” às micro e pequenas empresas.

 

 

A proposta de orçamento agora aprovada prevê um crescimento de 5,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e défice das contas públicas para 3%, tendo como prioridades a segurança pública, a justiça e promoção do crescimento económico.

 

 

Com um montante global de 56 mil milhões de escudos (cerca de 508 milhões de euros), o executivo prevê arrecadar receitas de cerca de 50 mil milhões de escudos (cerca de 454 milhões de euros).

 

 

TPT com: AFP//Lusa//AEP//Observador// 7 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

Vem aí um Presidente de extrema-direita para a Zona Euro

Com todos os olhos virados para Itália, é também neste domingo que os austríacos escolhem um Presidente. Há boas probabilidades de Hofer ser o primeiro chefe de Estado de extrema-direita na zona euro.

 

 

Na próxima segunda-feira, 5 de dezembro, a União Europeia pode acordar com um pântano político em Itália, se os eleitores rejeitarem as alterações constitucionais pedidas por Matteo Renzi e o primeiro-ministro, por essa razão, se demitir. Adivinha-se uma manhã comparável às de 24 de junho, com o Brexit, e de 9 novembro, com a eleição de Trump — e, no meio de uma agitação que o Banco Central Europeu irá tentar acalmar, pode escapar à atenção de muitos a eleição do primeiro chefe de Estado de extrema-direita na zona euro, na Áustria.

 

 

As sondagens, essa bola de cristal que tantas vezes se tem revelado avariada nos últimos anos, apontam para um eleitorado tão dividido que é impossível prever quem será eleito como próximo Presidente da Áustria. Os candidatos apoiados pelos partidos históricos do centro já ficaram pelo caminho – a corrida é entre um veterano moderado apoiado pelos Verdes, Alexander Van der Bellen, e o candidato apoiado pela extrema-direita do Partido da Liberdade, Norbert Hofer.

 

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Alexander Van der Bellen e Norbert Hofer voltam a disputar a Presidência austríaca, depois de uma campanha longa, atribulada e controversa

 

 

A eleição presidencial na Áustria deste domingo é uma segunda tentativa de encontrar um novo chefe de Estado, depois de as eleições de 22 de maio terem sido anuladas devido a irregularidades “graves” na recolha de votos. Na realidade, é a terceira tentativa, porque a nova votação devia ter ocorrido em outubro mas não foi possível devido a um problema com a cola dos envelopes.

 

 

Nessa primeira votação, contudo, o candidato dos Verdes tinha vencido por 0,6% dos votos, uma vantagem muito menor do que as sondagens indicavam. Um photo finish que, recorde-se, aconteceu em maio — antes de o Reino Unido votar pelo Brexit e de os EUA escolherem Donald Trump para a Casa Branca. A maioria das sondagens dá uma vantagem ligeira ao candidato da direita, mas o resultado é muito incerto, como explicou ao Observador Marcelo Jenny, professor da Universidade de Viena e especialista em eleições e estudos de opinião.

 

 

“Ninguém sabe quem vai vencer. É impossível antecipar. As empresas de sondagens estão a coibir-se de dizer como se distribui, neste momento, o eleitorado. Foram queimados ao enganarem-se na primeira volta [onde se apuraram Van der Bellen e Hofer] e a votação foi muito renhida na segunda volta [em maio, os tais 0,6%]”, explica o académico, a partir de Viena de Áustria.

 

 

O fator decisivo, diz Marcelo Jenny, é a participação (e a abstenção). “Qual será o lado mais capaz de voltar a mobilizar o eleitorado para ir às urnas mais uma vez?”, pergunta.

 

 

“Não, não sou um nazi. Não sou uma pessoa perigosa”

 

 

 

vem-ai-um-presidente-de-extrema-direita-para-a-zona-euro-3Norbert Hofer é o candidato do Partido da Liberdade

 

 

A Áustria tem uma economia robusta mas o ritmo de crescimento abrandou nos últimos anos, o que estará a fomentar um sentimento anti-imigração que está a ser aproveitado por Norbert Hofer. Apesar de a taxa de desemprego rondar os 6%, muito abaixo da média europeia, a Áustria é um país com muito a perder, acredita boa parte do eleitorado.

 

 

A quantidade de refugiados a entrar no país está a aumentar e já surgem na imprensa várias notícias de comportamentos criminosos por parte de migrantes, em especial crimes sexuais. É, então, aqui que aparece o carismático Norbert Hofer, com um slogan que parecerá familiar a quem acompanhou a campanha do referendo britânico: “Queremos recuperar o controlo do nosso país“.

 

 

 

Quem é Norbert Hofer?

 

 

 

Engenheiro aeronáutico de formação, Hofer tem 45 anos, quatro filhos e um talento nato para lidar com as câmaras e com a exposição pública. Consigo leva, normalmente, uma bengala (consequência de um aparatoso acidente de parapente) e uma pistola Glock. Defende o direito à posse de armas e diz que não estranha que estejam a subir os pedidos de licença para porte, na Áustria, “dadas as incertezas recentes”. O seu ídolo na política é a falecida ex-primeira-ministra Margaret Thatcher.

 

 

 

“Temos de decidir se queremos um Estado Social ou um Estado para os imigrantes“. Esta foi uma das ideias-chave desta campanha, sobretudo nos últimos meses. No último debate entre os dois candidatos, Hofer fez fortes críticas à chanceler alemã Angela Merkel por ter “deixado entrar terroristas na Europa“.

 

 

Na campanha para as eleições de maio, Hofer disse que demitiria o governo centrista caso este “não fizesse o trabalho que tem de fazer” nas fronteiras. Mas o candidato recusa a ideia de que tem posições extremistas e, respondendo a uma acusação de ser um nazi, Hofer garantiu: “Não, não sou um nazi, não sou uma pessoa perigosa, de todo”. Mas deixa claro que “o islamismo não tem lugar na Áustria”.

 

 

O manifesto do Partido da Liberdade defende que o futuro da Áustria deverá passar, um dia, por um regresso à moeda nacional e a saída do euro e, mesmo, da União Europeia. Mas Norbert Hofer recusa que isso esteja na agenda — o candidato presidencial apenas defenderia um referendo à permanência caso houvesse sinais claros de uma União Europeia cada vez mais centralizadora de poderes ou, em alternativa, se for concedida a entrada à Turquia.

 

 

“O professor” que se diz “filho de refugiados”

 

 

 

vem-ai-um-presidente-de-extrema-direita-para-a-zona-euro-4Alexander Van der Bellen é o candidato apoiado pelos Verdes

 

 

 

Os 45 anos e o charme fácil de Norbert Hofer concorrem com os 72 anos e a afabilidade de Alexander Van der Bellen, um professor de Economia reformado que foi deputado pelos Verdes durante 18 anos e é o candidato apoiado pelo partido ecologista. Chamam-lhe “o professor”, não só pela carreira profissional mas, também, pela sua postura serena e austera.

 

 

Muito alto e um pouco desengonçado, tem o apoio do chanceler Christian Kern, mas tem dificuldades em conquistar votos entre os conservadores porque é visto como demasiado permeável às faixas mais esquerdistas da política austríaca. É, também, visto por muitos como empertigado e próximo de uma aristocracia elitista de esquerda que repugna muito eleitorado de classe trabalhadora.

 

 

 

Quem é Alexander Van der Bellen?

 

 

 

Tem ascendência russa — daí a outra alcunha que tem, o “Sascha” — e não tem qualquer problema em dizer que é “filho de refugiados” (o pai nasceu na Rússia, apesar de ser de uma família holandesa, e a mãe nasceu na Estónia). Divorciado, voltou a casar recentemente e tem dois filhos da primeira mulher. É um defensor dos direitos LGBT e do direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Depois dos 18 anos no parlamento, passou para o poder local e para a Câmara de Viena. Fumador inveterado, chegou a estar quatro meses sem pegar no cigarro mas desistiu — “com esta idade, de que me vale torturar-me com isto?”.

 

 

 

Van der Bellen foi muito criticado, a certa altura, por ter dito que se for eleito Presidente não dará posse a um eventual governo liderado pelo Partido da Liberdade, da direita. Há eleições legislativas em 2018 e Van der Bellen garantiu que só dará posse a um governo que se comprometa com a continuidade no euro e na União Europeia.

 

 

O candidato já recuou, entretanto, dessa declaração, depois de ser acusado de parcialidade e pouco respeito pela democracia. Norbert Hofer não perdeu a oportunidade para chamar a Van der Bellen, nessa altura, “ditador fascista de esquerda“.

 

 

Marcelo Jenny, professor da Universidade de Viena, diz que “se houver uma maioria parlamentar de direita, entre os nacionalistas do FPÖ e os sociais-democratas do ÖVP, Van der Bellen não terá alternativa e terá de aceitar”. “No máximo, poderá fazer como o Presidente Klestil, em 2000, e tentar extrair uma vitória simbólica como obrigá-los a fazer uma declaração pública de apoio à União Europeia”.

 

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São candidatos, em muita coisa, opostos, os que se apresentam a esta eleição potencialmente histórica para a Áustria e para a Europa

 

 

 

O que é que um Presidente pode fazer?

 

 

 

A Áustria não tem um sistema presidencialista, como França, por exemplo. Os poderes do Presidente podem ser, com as devidas especificidades, comparados com o sistema português. Na Áustria, o verdadeiro poder está com o chanceler e com o parlamento (o chamado Conselho Nacional).

 

 

Mas o candidato da extrema-direita afirmou, a dada altura, que as pessoas “ficariam surpreendidas com aquilo que o Presidente tem poder para fazer“. Foi uma das declarações mais polémicas da campanha e Hofer tem procurado desvalorizar a tirada.

 

 

O Presidente, eleito para mandatos de seis anos, não é apenas um símbolo com funções representativas e cerimoniais, apesar de nos últimos anos ter sido pouco mais do que isso, na prática. O Partido da Liberdade quer um papel mais interventivo para o Presidente e Norbert Hofer sugeriu que deve ser o Presidente a representar o país nas cimeiras europeias, em vez de ser o chanceler (ou, pelo menos, ao lado do chanceler).

 

 

Além disso, tal como sucede em Portugal, o Presidente pode ser importante em tempos de instabilidade política porque é ele que convida o chanceler a formar governo e porque tem o poder de dissolução da poderosa câmara baixa do parlamento. Cabe ao Presidente, também, nomear figuras importantes como juízes e líderes militares, e tem poderes para vetar leis, afirmando-se como um curador da Constituição.

 

 

 

Um abalo para o projeto europeu e para a moeda única?

 

 

 

Mesmo que Hofer vença as presidenciais e surja, também, um governo liderado pelo seu partido nas legislativas de 2018, não é expectável que haja uma pressão imediata para a saída do euro. Contudo, uma viragem para a extrema-direita na Áustria “poderá aumentar as tensões entre os países do euro, o que pode levar a alterações importantes da política europeia”, escreve o economista Ralph Solveen, do Commerzbank, em nota de antecipação destas eleições.

 

 

“Uma coisa é certa”, escreve Ralph Solveen. “Uma eleição de Norbert Hofer seria mais uma prova de que a coesão na moeda única está mais em risco por via dos países do centro da Europa e não da periferia“.

 

 

Porquê? “Um país da periferia que saia do euro iria sofrer uma depreciação dramática da sua moeda, o que levaria a uma crise na balança de pagamentos e a uma bancarrota do Estado. Já se for um país do centro a sair do euro, o mais provável é que a sua moeda se valorizasse, o que levaria a um abrandamento da economia mas, de resto, consequências muito menos graves do que para um país da periferia“.

 

 

TPT com: Reuters//AFP//AEP//Observador// 2 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

 

 

 

José Eduardo dos Santos reafirma renúncia à Presidência da República de Angola

O presidente de Angola e líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, terá reafirmado num documento escrito que não se vai recandidatar no próximo ano, avança o Jornal Expresso, indicando o nome do seu sucessor: o atual ministro da Defesa João Lourenço.

 

 

A intenção não é nova, e também não é oficial. No dia em que começa a reunião do comité central do MPLA, o Expresso e a RTP dão conta de uma renovada garantia do abandono da presidência de Angola, depois de quase quarenta anos à frente dos destinos do país, por José Eduardo dos Santos.

 

 

O afastamento de José Eduardo dos Santos já tinha sido noticiado no início deste ano, mas o líder angolano já tinha dito em anos passados que se iria afastar e reverteu a sua decisão, fazendo com que a sua decisão fosse recebida com ceticismo.

 

 

Agora, segundo o Expresso, Eduardo dos Santos terá colocado essa intenção num documento escrito e com o nome do seu sucessor, que será João Lourenço, atual ministro da Defesa e comissário político das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), antigo exército do partido do poder.

 

 

Na abertura da reunião, José Eduardo dos Santos não clarificou se encabeçará a lista às eleições gerais de 2017, após quase 40 anos no poder em Angola. Foi precisamente em março, também na abertura de uma reunião do comité central do MPLA, que Eduardo dos Santos anunciou que se pretendia retirar da vida política em 2018.

 

 

José Eduardo dos Santos, de 74 anos, sucedeu em 1979 ao primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, mas já integrava o primeiro Governo após o período colonial português, então como ministro das Relações Exteriores.

 

 

Maioria absoluta…no mínimo

 

 

O presidente do MPLA e chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, afirmou esta sexta-feira o objetivo do partido em vencer as eleições gerais de 2017 pelo menos com maioria absoluta, mas não esclareceu se é candidato.

 

 

“O nosso objetivo é ganhar as eleições com maioria qualificada ou no mínimo maioria absoluta e o segredo estará na disciplina, na união e coesão de todos em torno dos nossos candidatos, quer no processo da campanha eleitoral quer no momento da votação”, afirmou José Eduardo dos Santos, durante o discurso de abertura da segunda reunião ordinária do Comité Central do MPLA, que se realiza hoje em Luanda.

 

 

O Comité Central do MPLA conta desde agosto último com 363 membros e da ordem de trabalhos da reunião de hoje, a segunda do atual mandato, consta a apreciação da estratégia eleitoral do partido.

 

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“O Comité Central, nesta sessão, vai aprovar a estratégia eleitoral do partido, onde estarão expressas as orientações que todas as estruturas deverão cumprir”, disse.

 

 

A atual Constituição de Angola, que é o segundo maior produtor de petróleo de África, prevê que o cabeça de lista do partido mais votado em eleições gerais (parlamento e Presidência) é automaticamente designado Presidente da República.

 

 

“Devemos trabalhar com o povo e para o povo, rumo à vitória. E celebrar condignamente o sexagésimo aniversário da fundação do MPLA, que se aproxima”, disse o líder do partido.

 

 

José Eduardo dos Santos, de 74 anos, sucedeu em 1979 ao primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, mas já integrava o primeiro Governo após o período colonial português, então como ministro das Relações Exteriores.

 

 


A sucessão de José Eduardo dos Santos. O que vai acontecer?

 

 

Mantendo o ADN do tempo em que era o partido único de inspiração marxista-leninista, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) viveu uma semana marcada pela incerteza criada pelo possível afastamento de José Eduardo dos Santos ao fim de 37 anos de poder.

 

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O anúncio nesta terça-feira de uma reunião do Comité Central do MPLA sem agenda prévia, uma notícia no dia seguinte no jornal Folha 8 sobre um alegado agravamento do estado de saúde do Presidente angolano e um inusitado desmentido à notícia produzido esta quinta-feira pelo Departamento de Informação e Propaganda do MPLA — foram os ingredientes certos para provocar muita especulação no partido que governa Angola.

 

 

O epílogo verificou-se na tarde desta sexta-feira quando a Rádio Nacional de Angola, um órgão de comunicação social controlado pelo governo, anunciou que José Eduardo dos Santos não se apresentará às eleições de 2017. Ainda não há um comunicado oficial do Comité Central do MPLA que confirme a escolha de João Lourenço como sucessor de José Eduardo dos Santos, mas fonte oficial do partido confirma que foram aprovados dois nomes para encabeçar a lista do MPLA.

 

 

Além de João Lourenço, Bornito de Sousa, ministro da Administração do Território, terá sido escolhido como n.º 2 da lista do MPLA e candidato a vice-Presidente da República.

 

 

Comecemos pela reunião do Comité Central, que começou às 9h desta sexta-feira no Complexo Turístico Futungo 2, no distrito urbano de Samba (Luanda). José Eduardo dos Santos discursou logo a abrir e não disse uma palavra sobre o seu afastamento ou uma eventual recandidatura. Estipulou uma meta clara para o MPLA (“O nosso objetivo é ganhar as eleições com maioria qualificada ou no mínimo maioria absoluta”) mas não disse aos 363 membros do Comité Central se tenciona afastar-se ou recandidatar-se.“O Comité Central, nesta sessão, vai aprovar a estratégia eleitoral do partido, onde estarão expressas as orientações que todas as estruturas deverão cumprir”, limitou-se a afirmar o líder do governo e do partido.

 

 

Pouco tempo antes de José Eduardo dos Santos discursar no órgão mais importante do MPLA, o semanário Expresso noticiou que o Presidente angolano tinha oficializado num documento entregue ao partido o nome de João Lourenço, ministro da Defesa, como seu sucessor e candidato presidencial do MPLA às presidenciais de 2017. Segundo diversos órgãos de comunicação social angolanos, como a Rádio Nacional de Angola, o documento em causa será uma carta que alegadamente terá sido enviada por José Eduardo dos Santos ao Secretariado do Bureau Político do MPLA.

 

 

Ao início da tarde, e de acordo com diversos órgãos de comunicação social angolanos, Mário António, secretário do Bureau Político do MPLA para a Informação, leu um comunicado de encerramento do Comité Central que não aborda o tema da sucessão de José Eduardo dos Santos. Apenas terá dito que tinham sido aprovados dois nomes, sem os identificar.

 

 

Quem é João Lourenço?

 

 

João Lourenço, 62 anos, foi eleito vice-presidente do MPLA no congresso do partido que se verificou em agosto. Chefe do aparelho do MPLA e general de 3 estrelas na reserva, antigo comissário político e ex-chefe da Direção Política Nacional das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) — o Exército do MPLA durante a guerra civil com a UNITA –, João Lourenço é visto em Luanda como o homem perfeito para assegurar o equilíbrio entre as Forças Armadas e o MPLA. Ou seja, entre os militantes e a sociedade civil.

 

jose-eduardo-dos-santos-reafirma-renuncia-a-presidencia-4João Lourenço, à esquerda, numa visita a Portugal como ministro da Defesa de Angola, cumprimenta o então seu homólogo José Pedro Aguiar Branco

 

Num partido que deve o poder em grande parte aos generais das FAPLA, João Lourenço é visto com o homem que pode sossegar o poder militar (que tem nos generais Manuel Hélder Vieira Dias ‘Kopelipa’ e Leopoldino Nascimento ‘Dino’ a face mais visível), ao mesmo tempo que tem de assegurar uma vitória tranquila nas eleições de 2017. A meta a atingir foi esta manhã imposta por José Eduardo dos Santos: “No mínimo, a maioria absoluta”.

 

 

José Eduardo dos Santos pode permanecer líder do MPLA

 

 

Num cenário em que João Lourenço avança para uma candidatura presidencial, José Eduardo dos Santos pode permanecer como líder do MPLA até 2018, ao que o Observador apurou.

 

 

Sem quebrar a promessa que fez em março deste ano, de que abandonaria a política ativa em 2018, “Zedu” pode manter-se vigilante da forma como o seu sucessor exercerá o poder. Será igualmente uma maneira de proteger a influência da sua família, nomeadamente dos seus filhos Isabel (presidente executiva da Sonangol), José Filomeno(presidente do Conselho de Administração do Fundo do Soberano de Angola) e Welwistchia “Tchizé” (deputada e empresária).

 

 

A escolha do candidato a vice-Presidente da República não é clara. Os nomes em cima da mesa são dois: António Paulo Kassoma e Bornito de Sousa.

 

 

De acordo com a Rádio Nacional de Angola (órgão de comunicação social controlado pelo governo), Bornito de Sousa deverá ser o escolhido. A informação, contudo, ainda não teve confirmação oficial.

 

jose-eduardo-dos-santos-reafirma-renuncia-a-presidencia-5Bornito de Sousa numa visita a Portugal em 2011

 

Bornito de Sousa é ministro da Administração do Território desde 2010, tendo antes sido presidente do grupo parlamentar do MPLA na Assembleia Nacional. O político angolano foi notícia em 2015 devido ao facto de a sua filha, Naulila Diogo Graça, ter participado num conhecido programa de televisão da TLC chamado “Say Yes To The Dress”, em que as noivas escolhem o seu vestido de sonho. Naulila gastou mais de 200 mil dólares (cerca de 187 mil euros) em vestidos de alta costura.

 

 

António Paulo Kassoma, por seu lado, foi eleito secretário-geral do MPLA no último congresso realizado em agosto. Além de já ter sido ministro dos Transportes e das Comunicações (entre 1989 e 1992), ministro da Administração Territorial (entre 91 e 92) e governador do Huambo (entre 1997 e 2008), foi igualmente primeiro-ministro (entre 2008 e 2010) e presidente da Assembleia Nacional de Angola (entre 2010 e 2012).

 

jose-eduardo-dos-santos-reafirma-renuncia-a-presidencia-6Paulo Kassoma, numa reunião da OPEC, em Luanda durante o ano de 2009

 

 

Em 2013, António Paulo Kassoma foi nomeado chairman do Banco Espírito Santo Angola (BESA) no auge da crise da filial do banco da família Espírito Santo motivada pelas duras críticas apontadas à gestão de Álvaro Sobrinho. Kassoma foi indicado pelos acionistas angolanos (Portmil do general ‘Kopelipa’ e Geni do general ‘Dino’) e pelo BES, então liderado por Ricardo Salgado, para escrutinar, em conjunto com o novo CEO Rui Guerra, a gestão de Sobrinho.

 

 

Recentemente, Kassoma foi escolhido para liderar a comitiva do MPLA que esteve presente em Cuba para assistir ao funeral de Fidel Castro.Maria Eugénia Neto, viúva do líder histórico Agostinho Neto (que foi substituído em 1979 por José Eduardo dos Santos depois de morrer em Moscovo, capital da União Soviética), foi a segunda figura da comitiva do partido liderada por Kassoma. O vice-Presidente Manuel Vicente representou José Eduardo dos Santos.

 

 

Nesta autêntica dança de cadeiras, Fernando Dias Santos ‘Nandó’, 66 anos, regressa a um lugar de destaque. Figura próxima de ‘Zedu’ chegou a ser falado nos bastidores para número 2 de JES no MPLA, podendo substituí-lo a partir de 2018 quando o líder histórico do MPLA saísse de cena. De acordo com a Rádio Nacional de Angola, ‘Nandó’, contudo, continuará como presidente da Assembleia Nacional.

 

 

Dias Santos foi primeiro-ministro entre 2002 e 2006, tendo sido igualmente presidente do parlamento angolano entre 2008 e 2010 e vice-Presidente da República entre 2010 e 2012.

 

 

Os sucessores falhados

 

 

A indicação de João Lourenço como candidato presidencial do MPLA, isso significará o afastamento de vários pretendentes ao cargo. A saber:

 

  • Manuel Vicente, 60 anos. O outrora todo-o-poderoso presidente da Sonangol (cargo que ocupou entre 1999 e 2012) era visto desde há vários anos como o sucessor natural de ‘Zedu’ desde que saiu da petrolífera para o posto de ministro de Estado e da Coordenação Económica e, principalmente, desde que concorreu às eleições de 2012 como n.º2 da lista do MPLA e assumiu de seguida a vice-Presidência da República. Acabou por cair em desgraça depois de ter sido dado como suspeito de alegada corrupção ativa de um procurador português (Orlando Figueira) do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Figueira terá recebido cerca de 630 mil euros para arquivar um inquérito que visava Vicente por suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais. A forma como o governo de Eduardo dos Santos não defendeu o seu n.º 2, já deixava claro que Vicente era uma carta fora do baralho da sucessão.

 

 

 

  • Isabel dos Santos, 43 anos. Apresentada como uma empresária de sucesso, com importantes investimentos em Portugal (participações relevantes no BPI, NOS, entre outras sociedades), a filha mais velha de Eduardo dos Santos tomou posse em junho como presidente do conselho de administração da Sonangol. Logo aí, ficou claro que não sucederia ao seu pai. Sinal reforçado esta quinta-feira (no mesmo dia em que o MPLA desmentia um alegado agravamento do estado de saúde de José Eduardo dos Santos) quando promoveu uma conferência de imprensa para anunciar uma reestruturação urgente da empresa no valor de de 1.569 milhões de dólares (1.476 milhões de euros). O que significa que a sua prioridade imediata é a Sonangol. Isabel dos Santos, contudo, será sempre um nome a ter em consideração num contexto em que o sucessor do seu pai não tenha sucesso. Para isso, contudo, terá de conhecer melhor o MPLA — partido do qual ainda não faz parte do Comité Central.

 

 

 

 

  • José Filomeno dos Santos, 38 anos. Ao contrário da sua irmã Isabel, ‘Zenu’ entrou este verão para o Comité Central do MPLA, proposto pela organização da juventude. Tem sob a sua gestão desde 2013 mais de cinco mil milhões de euros em ativos do Fundo de Soberano de Angola. Além da sua juventude ser um claro defeito numa sociedade onde ser o ‘mais velho’ é um posto de respeito social, o facto do Fundo de Soberano ter estado envolvido em algumas polémicas não agradou às forças mais conservadoras do MPLA. Recorde-se que a gestão de José Filomeno no Fundo Soberano foi visada pela investigação dos Panama Papers. A investigação do consórcio internacional de jornalistas acusou a entidade gerida pelo filho de Eduardo dos Santos de promover um alegado esquema de branqueamento de capitais em conjunto com um banco angolano chamado Kwanza que será gerido por quadros suíços próximos de José Filomeno. Acusações que foram desmentidas pelo Fundo Soberano.

 

 

Resta saber o que também acontecerá a outras figuras, como Carlos Feijó, 53 anos. Ex-ministro de Estado e chefe da Casa Civil de José Eduardo dos Santos entre 2004 e 2012, o jurista poderá ter um papel importante a desempenhar num futuro governo.

 

 

Além dos nomes, o cerne da questão para o MPLA será sempre como combater a crise económica iniciada em 2015 quando o preço do petróleo ficou abaixo dos 50 dólares o barril. As dificuldades provocadas pela crise, e as gritantes desigualdades sociais e económicas sentidas pela sociedade angolana, estão na origem da crescente impopularidade do governo liderado por José Eduardo dos Santos.

 

 

Corrigida a informação de que Manuel Vicente já teria sido constituído arguido. O vice-presidente de Angola é encarado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal como suspeito de alegadamente ter corrompido o procurador Orlando Figueira mas ainda não terá sido constituído arguido.

 

 

 

Comité Central do MPLA reúne-se em Luanda com sucessão em pano de fundo

 

 

 

O MPLA reúniu esta sexta-feira o Comité Central, numa altura de especulações sobre a continuidade do líder do partido no poder em Angola, que ainda não disse se pretende recandidatar-se ao cargo de Presidente da República.

 

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A convocatória para esta reunião daquele órgão, que conta com 363 membros, surge quando alguma comunicação social angolana aponta a possibilidade de o chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, indicar um sucessor como próximo candidato do partido às eleições gerais.

 

 

Essas eleições em Angola estão previstas para agosto de 2017 e José Eduardo dos Santos anunciou em março, também no discurso de abertura de uma reunião ordinária do Comité Central do MPLA, a intenção de abandonar a vida política ativa.

 

 

“Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018”, disse na altura José Eduardo dos Santos.

 

 

Contudo, já em agosto, acabaria por ser reeleito presidente do partido, não sendo ainda conhecido em que moldes será feita a anunciada transição ou sequer se pretende concorrer às eleições de 2017.

 

 

Desde março passado que José Eduardo dos Santos não voltou ao assunto da sua sucessão, tendo apenas sido designado pelo partido, ainda em agosto, o atual ministro da Defesa, general João Lourenço, para a vice-presidência do MPLA e potencial sucessor do líder.

 

 

Questionado pela agência Lusa sobre se estaria preparado para ocupar a liderança partidária, em caso de retirada do líder do MPLA da vida política em 2018, como anunciado anteriormente, João Lourenço preferiu não fazer comentários.

 

 

“Penso que é muito cedo para falarmos sobre esta matéria, prefiro prescindir de fazer comentários a respeito desta matéria”, respondeu.

 

 

O presidente do MPLA e chefe de Estado, de 74 anos, está no poder desde setembro de 1979, após a morte do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, tendo ocupado a pasta de ministro das Relações Exteriores de Angola logo após a proclamação da independência, a 11 de novembro de 1975.

 

 

Esta segunda reunião ordinária do Comité Central (eleito no congresso de agosto) está prevista para esta sexta-feira, 02 de dezembro, a partir das 9 horas (menos uma hora em Lisboa), no Complexo Turístico Futungo 2, em Luanda.

 

 

 

Rafael Marques: “Muda a cara fica o regime”

 

 

 

Rafael Marques não se congratula com a formalização do nome de João Lourenço para candidato presidencial do MPLA às eleições de 2017, em Angola.

 

 

“Neste momento qualquer cidadão está em condições de substituir o presidente José Eduardo dos Santos”, afirmou, em entrevista à SIC Notícias. “O presidente sai e o regime fica”, enfatizou.

 

 

Para o ativista, os angolanos não querem só “uma mudança de caras”, face a um partido que está há 41 anos no poder. “O presidente não é o único mau da fita. Estamos aqui a falar de um regime, que vai permanecer. Os angolanos querem mudanças efetivas e que o poder seja devolvido às instituições do Estado”, afirmou.

 

 

 

TPT com: Reuters//AFP//AEP//Bruno Fonseca//Lusa//Luís Rosa//Nuno André Martins//Paulo Novais// Susana Otão//António Di Gennaro// Handou//EPA//2 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

 

É oficial. Paulo Macedo e Rui Vilar aceitaram liderar a Caixa Geral de Depósitos

O Ministério das Finanças confirmou o convite a Paulo Macedo para ser o presidente executivo (CEO) da Caixa Geral de Depósitos, convite que foi aceite.

 

 

Em comunicado, o Ministério das Finanças revela que também Rui Vilar aceitou o convite para ser o presidente não executivo (chairman) da Caixa e adianta que o Governo está a trabalhar com os dois na definição da composição do restante conselho de administração.

 

 

O Ministério acrescenta que o processo de nomeação do novo conselho de administração da CGD segue o “seu curso normal”, o que deverá passar pela entrega dos nomes da equipa para a avaliação do Banco Central Europeu. A equipa ainda não estará totalmente constituída, pelo que para cumprir o calendário definido pelo primeiro ministro no início da semana, poderão ser propostos esta sexta-feira apenas os nomes já confirmados. O Banco Central Europeu faz a avaliação individual de cada candidato a um cargo de administração, mas também avalia a composição do órgão como um todo.

 

 

A separação dos cargos de CEO e chairman, que no anterior elenco eram ocupados por António Domingues, vai de encontro a uma das exigências do supervisor europeu que só aceitou a anterior acumulação de cargos a título provisório e sujeita a reavaliação. E representa ainda o regresso ao modelo de governo que estava em vigor durante o mandato de José de Matos.

 

 

Rui Vilar já era vice-presidente não executivo da Caixa na administração liderada por António Domingues, tendo sido um dos quatro administradores que não anunciou a renúncia na passada segunda-feira. Para além de Vilar, que já liderou a Caixa na primeira metade da década de 90, poderão ainda ficar alguns dos administradores executivos da equipa de António Domingues que não renunciaram ao cargo. A sua saída “forçada” antes do final de mandato pode obrigar a Caixa a pagar indemnizações.

 

 

Paulo Macedo será o 24º presidente da Caixa Geral de Depósitos, sucedendo a António Domingues, que se demitiu antes de completar três meses de funções, com data de saída no final do ano. O gestor foi ministro da Saúde do Governo do PSD/CDS e quadro do BCP, onde chegou a ser vice-presidente do banco. Macedo foi ainda diretor-geral de Impostos.

 

 

Nomeação de Paulo Macedo: Direita elogia, Bloco não comenta, PCP critica

 

 

PSD, CDS, PCP e Bloco de Esquerda já reagiram à nomeação de Paulo Macedo para presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos. Se por um lado a direita elogia, o PCP critica e o Bloco resguarda-se.

 

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Leitão Amaro, deputado do PSD, afirmou, na tarde desta sexta-feira, que os sociais-democratas “estimam e respeitam” Paulo Macedo, um ex-ministro do primeiro governo PSD/CDS, mas não deixou de salientar que os problemas da Caixa Geral de Depósitos foram uma questão de “incompetência do Governo”.

 

 

“É um independente que respeitamos e estimamos, mas as regras, os princípios básicos de transparência, boa gestão pública, escrupuloso cuidado na aplicação do dinheiro dos contribuintes, valem independentemente das pessoas, por mais estimadas que elas sejam”, afirmou o deputado, lançando farpas ao Governo:

 

 

Todas as trapalhadas que aconteceram na Caixa Geral de Depósitos há quase um ano nunca foram uma questão de pessoas, foram uma questão de escolhas, de más decisões, de incompetência do Governo”.

 

 

Em declarações aos jornalistas no parlamento, o deputado do PSD reiterou que “qualquer que seja a administração, qualquer que seja o líder, há regras básicas a que têm de estar sujeitos: deveres de transparência, todas as regras do estatuto do gestor público e limites aos salários”.

 

 

Os social-democratas salientam que vão continuar a exigir a dignidade das funções públicas. “O PSD cá estará hoje como ontem a exigir através dos seus esclarecimentos e de iniciativas legislativas que a transparência, a dignidade das funções públicas, a boa gestão do dinheiro dos contribuintes, e que a preservação da confiança e a tranquilidade do maior banco público prevalecem para além e acima das trapalhadas e da má gestão a que este Governo tem votado a Caixa Geral de Depósitos”, vincou.

 

 

Entretanto, o PSD apresenta na terça-feira dois projetos de lei pedindo alterações ao estatuto do gestor público, semana e meia depois de o BE ter votado ao lado dos sociais-democratas normas sobre a transparência na Caixa Geral de Depósitos. De recordar que durante a discussão na especialidade do Orçamento do Estado (OE), uma proposta do PSD forçando os gestores da CGD a entregar no Tribunal Constitucional (TC) as suas declarações de rendimento e património passou com os votos favoráveis do Bloco de Esquerda e do CDS. PS e PCP votaram contra, argumentando que a lei atual sobre o tema, de 1983, já prevê a obrigatoriedade de apresentação de documentos junto do TC.

 

 

Pelo CDS-PP, Nuno Magalhães salientou que Paulo Macedo tem competências para desempenhar bem o cargo e lembrou “que foi um excelente Ministro da Saúde”. Magalhães afirmou ainda que Macedo “tem todas as condições, e assim lhe sejam dadas essas condições por parte do Governo, para fazer o seu trabalho”.

 

 

O líder da bancada centrista realçou que a polémica em torno da Caixa Geral de Depósitos nunca foi uma questão de nomes. “Não conheço as competências do António Domingues. Aqui trata-se de uma questão legal e ética de cumprimento das regras”.

 

 

Apesar de se mostrarem confiantes com o trabalho que possa vir a ser desenvolvido por Paulo Macedo, os centristas insistem que todo este processo “foi uma irresponsabilidade e trapalhada do Governo e do primeiro-ministro [António Costa]”.

 

 

Para Nuno Magalhães é urgente normalizar e credibilizar a CGD. “O CDS sempre defendeu a essência de um banco público e 100% forte e credível. É urgente que se faça o processo de recapitalização”.

 

 

Sobre a obrigatoriedade da apresentação da declaração de rendimentos, o CDS neste caso não se mostra preocupado: “É uma não questão”, disse.

 

 

Catarina Martins não quis comentar o nome em concreto, realçando que o Bloco de Esquerda só pede transparência:

 

 

Foi uma escolha do Governo. Não vamos comentar uma escolha que não passou por nós. Espero que se abra uma nova fase na Caixa Geral de Depósitos, de exigência e transparência”.

 

 

A coordenadora do Bloco de Esquerda salientou que espera que a CGD se comece a comportar como “um verdadeiro” banco público. “O papel que a Caixa tem de assumir é o do cumprimento da Lei. Tem de ser um banco sólido ao serviço da economia. Tem de se comportar como um banco público, apoiando a economia e a criação de empresas e que não sirva apenas interesses privados”, disse, apelando sensatez no que respeita aos salários dos gestores públicos: ” Por princípio, nenhum gestor público de uma empresa pública deve ter um salário superior do que àquele que exerce o cargo mais alo, como o Primeiro Ministro”.

 

 

Já o PCP contesta a nomeação de Paulo Macedo por entender que não reúne os critérios mínimo para ser um gestor “competente e disponível para servir o país”.

 

 

TPT com: AFP//Lusa// //Susana Otão//Ana Suspiro//Observador// 2 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

António Domingues não aceitou as condições do Governo e demitiu-se da Caixa Geral de Depósitos

António Domingues apresentou a sua demissão da presidência da administração da Caixa Geral de Depósitos este domingo. A decisão é confirmada pelo Ministério das Finanças que, em comunicado, “lamenta” a decisão.

 

 

“O Governo foi informado pelo Presidente do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos (CGD) da renúncia apresentada pelo Presidente do Conselho de Administração (CA), António Domingues. Renúncia essa que o Governo lamenta. A renúncia só produzirá efeitos no final do mês de dezembro”, lê-se no comunicado.

 

 

“Muito brevemente, será designada, para apreciação por parte do Single Supervisory Mechanism, uma personalidade para o exercício de funções como Presidente do CA da CGD, que dê continuidade aos planos de negócios e de recapitalização já aprovados.”

 

 

A demissão de António Domingues surge após várias semanas de polémica à volta da nova administração da Caixa Geral de Depósitos. Os limites salariais dos gestores da CGD – assunto que envolveu a discussão sobre as alterações ao Estatuto dos Gestores Públicos – e a questão da entrega das declarações de património e de rendimentos no Tribunal Constitucional – que levantou a dúvida sobre se o Governo teria feito algum acordo que dispensaria esses administradores de entregarem as respetivas declarações – foram os dois principais temas que geraram discussão nas últimas semanas.

 

 

A essas duas questões juntou-se ainda, mais recentemente, uma nova polémica relacionada com a eventualidade de António Domingues estar na posse de informação privilegiada sobre a CGD quando participou, como convidado, em três reuniões com a Comissão Europeia para debater a recapitalização do banco.

 

 

 

As seis polémicas de António Domingues

 

 

 

Dos salários milionários ao braço de ferro sobre a declaração de rendimentos, passando pelo possível conflito de interesses. Foram muitas as polémicas que envolveram o presidente demissionário da CGD.

 

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Deixou para trás 27 anos na administração do BPI e aceitou, no passado dia 16 de abril, o cargo de presidente da Caixa Geral de Depósitos. Só no final de agosto, contudo, António Domingues e toda a nova administração do banco público viria a assumir plenas funções. De lá para cá, foram já muitas as polémicas em que o gestor se viu envolvido: desde os salários milionários que não costumavam acumulação do ordenado com a reforma do BPI, passando ser praticados no banco do Estado à suposta  pela picardia em praça pública com o líder da oposição, Pedro Passos Coelho, sobre o facto de ter tido ou não ter tido acesso a informação privilegiada antes de assumir funções. Foi um início difícil.

 

 

A demissão de António Domingues foi confirmada pelo Ministério das Finanças, este domingo, depois de meses debaixo de fogo. O Governo “lamentou”, mas aceitou a demissão.

 

 

Lembra-se de todas as polémicas que já envolveram a nomeação do novo presidente da Caixa?

 

 

O braço de ferro da declaração de rendimentos no TC. Do “não foi um lapso” ao acordo escrito

 

 

 

A questão foi levantada pelo comentador Luís Marques Mendes num comentário semanal na SIC. O ex-líder do PSD denunciou o que considerou ter sido a criação de um regime de exceção para a Caixa, não só a nível dos limites salariais, mas também de obrigações de transparência que vinculam os gestores públicos. Quando são nomeados, os gestores públicos têm de apresentar três declarações: uma declaração de rendimento e património ao Tribunal Constitucional, uma de participações financeiras (incluindo ações) à Inspeção-Geral das Finanças, e outra sobre incompatibilidades à Procuradoria-Geral da República. O ex-líder do PSD admitiu que esta consequência teria sido um erro da legislação que retira a Caixa do estatuto do gestor público. “Se foi de propósito, é muito grave”, disse.

 

 

O Ministério das Finanças veio entretanto assegurar que a retirada da Caixa Geral de Depósitos do estatuto dos gestores públicos, libertando os seus administradores da obrigação de entregar declarações de rendimento, não foi um lapso. Era assim mesmo. Segundo fonte oficial das Finanças “ideia é a Caixa ser tratada com qualquer outro banco. Essa foi a razão para que fosse retirada do estatuto do gestor público”. A mesma fonte acrescenta que “não foi um lapso” e que o “escrutínio já foi feito”, nomeadamente pelo Banco Central Europeu que deu luz verde ao modelo de governo da Caixa e a cada um dos nomes nomeados para a administração, e pelo acionista Estado.

 

 

De acordo com as Finanças, a decisão de retirar a administração da Caixa do estatuto do gestor público é justificada pelo facto de o banco estar sujeito “a um conjunto de regras mais profundo, como todos os bancos. Não faz sentido estar sujeita às duas coisas. Não foi lapso. O escrutínio já é feito”. O Ministério tutelado por Mário Centeno acrescenta ainda que “há um reforço das políticas de governo internas da CGD. Os corpos dirigentes da CGD têm que prestar contas ao acionista e aos órgãos de controlo interno. Estão assim disponíveis para revelar essa informação ao acionista”.

 

 

 

Mas a resposta das Finanças não agradou ninguém, nem sequer o PS. Em todo o espetro político, da esquerda à direita, todos os partidos defenderam ao longo dos últimos meses a obrigatoriedade de os gestores da Caixa declararem os seus rendimentos ao Constitucional. PS e PCP defendem que a lei atualmente em vigor, de 1983, já os obriga a tal, mas PSD, CDS e BE aprovaram esta quinta-feira (dia 24 de novembro) no Parlamento uma proposta de alteração à lei que reforça essa obrigação de escrutínio.

 

 

Recentemente, António Lobo Xavier, no comentário semanal na Quadratura do Círculo, adiantou que havia um acordo escrito, feito via-email, entre o Governo e a administração da Caixa, a admitir que os gestores estavam isentados de apresentar rendimentos no Constitucional. Os e-mails nunca foram conhecidos e o Governo, questionado várias vezes pelos deputados e os partidos políticos, nunca esclareceu a dúvida. O braço de ferro manteve-se até ao último dia.

 

 

Teve ou não teve acesso a informação privilegiada? Houve ou não um conflito de interesses?

 

 

 

O processo entre a nomeação de António Domingues e o dia em que efetivamente assumiu funções foi demorado, com o Banco Central Europeu a tardar em dar o seu aval à nova administração escolhida pelo Governo de António Costa. Mas, no entretanto, entre abril e o final de agosto (assumiu funções a 31 de agosto), Domingues teve um papel decisivo nas negociações em Bruxelas que culminaram com a luz verde ao processo de capitalização. Foi a três reuniões (a primeira a 24 de março, a segunda a 7 de abril e a terceira a 15 de junho), onde chegou a ser tratado durante como presidente informal não nomeado: informal non designated CEO.

 

 

Esta quarta-feira, dia 23 de novembro, houve nova lenha nesta fogueira: a Comissão Europeia e o BCE confirmaram que António Domingues tinha participado, a convite do Governo, em reuniões em Bruxelas e Frankfurt sobre a recapitalização do CGD, quando ainda era quadro do BPI. Domingues foi convidado a 19 de março pelo Governo, só aceitou o convite para o cargo a 16 de abril e só viria a comunicar à CMVM a saída oficial e formal do BPI a 30 de maio. Durante este caminho já tinha ido a pelo menos duas reuniões enquanto mandatário do Governo para gerir o dossiê. Houve ou não conflito de interesses? O debate reacendeu-se, com o PSD e o CDS a exigirem esclarecimentos urgentes de António Costa, e com o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel a pedir, em nome próprio, a demissão do secretário de Estado do Tesouro, Ricardo Mourinho Félix.

 

 

Mas António Domingues esteve nestas reuniões a negociar o plano de recapitalização da Caixa com acesso a informação privilegiada que só um administrador do banco teria, ou fê-lo apenas com a informação que é do domínio público? É que tanto um como outro merecem críticas. E foi isso que começou por fazer o ex-primeiro ministro e líder do PSD, Pedro Passos Coelho, desencadeando um clima de fogo cruzado entre ambos. Em entrevista ao jornal Público, Passos garantiu que Domingues, quando ainda não era formalmente presidente da Caixa, teve acesso a informação privilegiada para negociar o plano com Bruxelas. Mas António Domingues já tinha dito, no final de setembro, no Parlamento, que não — que se limitou ao relatório e contas da CGD, tendo apenas pedido alguns esclarecimentos adicionais, mas nunca informações ao abrigo do “sigilo bancário”. Agora voltou a afirmá-lo num desmentido direto às declarações do líder do PSD.

 

 

Só que Passos Coelho não ficou satisfeito com a resposta e ainda reagiu ao desmentido. “Das duas uma, ou o plano foi negociado com Bruxelas com base no trabalho do atual presidente que não teve acesso à informação adequada — como argumenta António Domingues –, e isso significa que é uma mistificação política, ou é um logro e vai ter de ser negociado outro plano”, disse, acusando o presidente da Caixa de estar a “atirar areia para a cara das pessoas. Ou seja, ou sabia de mais e negociou na posse de todos os dados, ou sabiam de menos e agora será preciso negociar outra vez.

 

 

Na sequência da informação da Comissão Europeia, o Governo confirmou a presença de Domingues nas reuniões mas garantiu que não estava na posse de qualquer informação privilegiada sobre o banco e que as reuniões serviram para o governo ouvir as autoridades europeias sobre a viabilidade dos traços gerais do plano de capitalização da CGD. Para o Governo, a nomeação de António Domingues e as negociações com Bruxelas sobre o plano de recapitalização do banco estavam de mãos dadas, e uma dependia da outra. Segundo disse o líder do PS Carlos César, as idas de António Domingues a Bruxelas e a Frankfurt para negociar o plano de recapitalização antes de assumir funções foram “importantes e necessárias”.

 

 

“Aquilo que as reuniões visaram foi assegurar um pressuposto da sua nomeação: a constatação de que o processo de capitalização e reestruturação da Caixa era possível de forma totalmente pública sem ser considerado ajudas de estado — foi essa a sua diligência”, disse o líder parlamentar socialista.

 

 

Mas nesta guerra que envolve o período em que Domingues era oinformal non designated CEO (o quase-presidente da Caixa) houve ainda uma outra questão a levantar poeira: quem pagou à consultora McKinsey e aos advogados durante a negociação com Bruxelas?

 

 

É que ainda a nova administração da Caixa não tinha sido aprovada pelo BCE e António Domingues já tinha posto a consultora McKinsey e a sociedade de advogados Campos Ferreira, Sá Carneiro e Associados a avaliar e a negociar o plano estratégico para o banco público. A ideia era que, quando a nova administração assumisse finalmente funções (já estava nomeada desde abril), parte do trabalho já estivesse feito. Começou por ser uma contratação informal, que seria formalizada depois, quando a administração tomasse posse. Mas o caso foi polémico porque, primeiro, aqueles serviços de consultoria encareciam significativamente a fatura pública e, depois, porque levantava a seguinte questão: se a administração de António Domingues acabasse chumbada pelo supervisor quem pagava aqueles serviços que, assim sendo, teriam sido em vão? Aos deputados, António Domingues chegou a admitir que, nesse cenário, pagaria do seu bolso.

 

 

O problema foi que, no final de julho, quando Mário Centeno foi ouvido na comissão de inquérito no Parlamento, disse que nem o Estado nem a CGD tinham contratado nenhuma consultora. Mas quando foi a vez de António Domingues ser ouvido pelos mesmos deputados, assumiu que a escolha dos consultores tinha sido sua, e disse que informara o ministro das Finanças de que o pagamento dos consultores devia ser feito pela CGD — ou seja, pelo acionista Estado. Os partidos da direita parlamentar duvidaram que Centeno não soubesse já, em julho, que havia uma consultora e uma sociedade de advogados a trabalhar com o futuro presidente da Caixa, mas o episódio acabaria por morrer. Mais um caso de desinformação.

 

 

Salários “milionários” e a exceção dos gestores da Caixa

 

 

A polémica surgiu quando o Governo avançou com um decreto-lei que isentou a Caixa Geral de Depósitos do estatuto do gestor público para permitir o pagamento de remunerações em linha com as praticadas no setor bancário. A lei do anterior Executivo limitava os salários dos gestores ao vencimento do primeiro-ministro, mas permitia que os administradores optassem pela média das remunerações auferidas nos três anos anteriores à sua nomeação.

 

 

O diploma invocava questões de concorrência, mas também o enquadramento jurídico aplicável especialmente exigente para as instituições de crédito qualificadas como «entidades supervisionadas significativas», que são por isso objeto de supervisão direta do Banco Central Europeu. Argumentava ainda que “as regras específicas a que estão sujeitas as referidas instituições de crédito sobrepõem -se largamente, ou mesmo ultrapassam, os limites estabelecidos à organização, ao funcionamento e à atividade das entidades públicas, incluindo as integradas no setor empresarial do Estado e aos titulares dos respetivos órgãos”.

 

 

O tema voltou a aquecer quando o ministro Mário Centeno revelou as remunerações dos novos gestores da Caixa: 423 mil euros anuais para o presidente e 337 mil euros para administradores não executivos, mais prémios de gestão que podem ir até 50% da remuneração fixa, em função do cumprimento de objetivos e parcialmente pagos de forma diferida. A dimensão dos valores provocou fortes reações à esquerda, sobretudo do Bloco de Esquerda, e à direita, com o PSD a querer retomar os limites salariais para os gestores da Caixa. E até o Presidente da República que promulgou o diploma que retirou a Caixa dos limites salariais do Estado, torceu o nariz, lembrando que os administradores de bancos privados com apoios públicos estavam sujeitos a cortes nos vencimentos.

 

 

O ministro das Finanças assegurou que os vencimentos atribuídos resultaram da aplicação da mediana de salários praticados em bancos de dimensão comparável e que os valores fixados permitem uma poupança em relação ao que resultaria da aplicação das regras anteriores, mas não divulgou as contas que sustentaram estas conclusões. No caso de António Domingueso vencimento atribuído corresponde ao que ganhou no BPI como vice-presidente executivo, um valor que seria provavelmente equivalente se fosse aplicada a regra que estava em vigor durante a anterior legislatura. Já em relação aos outros administradores executivos, não há dados públicos sobre os vencimentos que auferiam até irem para a administração da Caixa.

 

 

Sobre o papel que o Banco Central Europeu teve nesta matéria, o BCE veio esclarecer que não lhe foi atribuída “qualquer competência para instruir os governos dos Estados-Membros no sentido de revogar legislação que restrinja as remunerações”.

 

 

No Parlamento, os vários partidos, à exceção do PS, tentaram alterar a lei criando limites para a remuneração: o PCP propôs inicialmente salários os salários dos gestores da Caixa ao teto máximo de 90% do salário do Presidente da República, mas proposta foi chumbada pelo PS e pelo PSD. O BE fez proposta semelhante, propondo a limitação ao salário do primeiro-ministro, mas proposta foi esta quinta-feira (dia 24 de novembro) chumbada no âmbito da discussão do Orçamento do Estado. À direita, também o CDS propôs que, no tempo de exceção enquanto decorresse o processo de reestruturação da Caixa, o salário dos administradores tivesse o teto do salário do primeiro-ministro, mas com possibilidade de atribuição de prémios por objetivos. Já o PSD propôs a limitação ao salário do primeiro-ministro mas com uma exceção: a de que o ministro das Finanças pudesse autorizar um salário superior para determinado administrador, caso achasse “razoável”, e desde que esse salário não excedesse a média da remuneração que aquele gestor auferiu nos últimos três anos. Também esta proposta foi chumbada pelo Parlamento.

 

 

As reservas do BCE aos nomes propostos para a administração

 

A nomeação da nova administração da Caixa nasceu torta, e o que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Quando, em agosto, o Banco Central Europeu aprovou os 11 nomes propostos pelo Governo para o conselho de administração do banco, rejeitou outros oito nomes propostos para administradores não executivos. Porquê? Por excederem o limite de cargos em órgãos sociais de outras sociedades. Era o caso de Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, Carlos Tavares, presidente do grupo PSA Peugeot Citroën, ou de Paulo Pereira da Silva, presidente do grupo Renova.

 

 

O Governo ainda pensou mudar a lei para permitir a acumulação de cargos (atualmente a lei não permite) mas a ideia não caiu bem junto dos partidos e do Presidente da República e, para evitar que fossem vetados, o Governo retirou-os da lista final submetida ao BCE.

 

 

Entre os nomes aprovados para administradores executivos, houve ainda três sobre os quais o BCE manifestou reservas e impôs condições: são obrigados a frequentar o curso de Gestão Bancária Estratégica do INSEAD. Foi o caso de João Tudela Martins, Paulo Rodrigues da Silva e Pedro Leitão. Mas as condições do supervisor não se ficaram por aqui. Quando terminou a sua avaliação à nova administração da Caixa, o BCE deixou ainda claro que a acumulação provisória do cargo de chairman e presidente executivo por António Domingues teria de ser revista no prazo de seis meses. Prazo esse que termina em fevereiro do ano que vem.

 

 

Uma última condição do BCE: a imposição de que a administração da Caixa terá de integrar um terço de mulheres até 2018. Ainda assim, é certo que a nova equipa da Caixa Geral de Depósitos foi escolhida por Domingues e saiu quase inteiramente do BPI, banco do qual era vice-presidente há 27 anos.

 

 

Salário e reforma: 2 em 1? Sim

 

 

A lei prevê que quem desempenha funções no Estado não possa acumular os salários com o recebimento de pensão. Se no passado era possível escolher o rendimento mais vantajoso, agora quem está nessa situação é obrigado a optar pelo salário, abdicando de receber a pensão enquanto a remuneração estiver a ser paga.

 

 

As regras que limitam a acumulação de pensões e salários no Estado têm vindo a ser apertadas ao longo dos anos, mas não se vão aplicar ao novo presidente da Caixa Geral de Depósitos, que tem direito a receber uma reforma a partir de janeiro, pelos anos em que desempenhou cargos na administração do BPI. Isto porque a entidade que é responsável pelo pagamento da pensão, e para a qual Domingues contribuiu, não é pública, mas sim privada.

 

 

A lei, na última versão dada pelo Orçamento do Estado para 2014, diz que o regime de acumulação de funções públicas remuneradas é aplicável aos beneficiários de pensões de reforma da segurança social e de pensões de base pagas por quaisquer entidades públicas, e independentemente de serem pagas por seguradoras ou entidades gestoras de fundos de pensões. A partir do início de funções, os beneficiários devem comunicar o início de funções remuneradas à entidade pagadora de pensões no prazo de dez dias.

 

 

O novo presidente da Caixa teria direito à pensão, cujo valor não é conhecido, quando fizesse 60 anos no final deste ano e porque esteve na administração do BPI, o número de anos necessário para ter esse direito. António Domingues iria ganhar um pouco mais de 30 mil euros como presidente da Caixa, que é sensivelmente o mesmo salário que tinha no BPI, excluindo prémios de gestão.

 

 

Ao contrário das pensões da maioria dos trabalhadores bancários, que passaram para a Segurança Social quando os fundos de pensões dos bancos foram transferidos para o Estado — uma decisão de Passos Coelho para tapar o défice de 2011 –, as responsabilidades por algumas pensões e complementos de reforma e saúde ficaram do lado das instituições bancárias. No caso dos administradores do BPI, a pensão seria paga pelo Fundo de Pensões Valorização. A atribuição da pensão é automática e não estará prevista a possibilidade de o beneficiário suspender o seu recebimento, como no caso das pensões pagas por entidades públicas.

 

 

 

Uma auditoria prometida mas não executada (ainda)

 

A batalha das auditorias externas à gestão da Caixa foi outra das questões que esteve no centro dos primeiros tempos da liderança de António Domingues — e foi mais um episódio sobre as contradições entre Domingues e o ministro das Finanças. Os dois demoraram, de facto, a acertar o passo.

 

 

É que, na primeira vez que foi ao Parlamento enquanto presidente da Caixa, António Domingues revelou que, ao contrário do que o Governo chegou a aprovar, a nova administração nunca tinha sido “incumbida” de levar a cabo nenhuma auditoria à gestão do banco público desde 2000. Era mais uma contradição entre o que dizia o presidente da Caixa e o que tinha dito o Governo, já que o Governo tinha aprovado, em junho, uma resolução a “incumbir a nova administração da CGD de proceder à abertura de uma auditoria independente a atos de gestão da CGD praticados a partir de 2000”. Uma incumbência que Domingues desconhecia — e com a qual nem concordava (disse mesmo achava que devia ser uma entidade independente, como o Banco de Portugal, a pedir e a pagar essa auditoria).

 

 

O tema fez aquecer os ânimos no Parlamento, e obrigou o ministério das Finanças a justificar-se. Vai haver auditoria independente, sim, mas só depois de encerrado o processo de recapitalização do banco. A capitalização da CGD ficou acordada no verão, com a Comissão Europeia a aceitar um reforço de 5.160 milhões de euros, sendo que 2.700 milhões serão através de dinheiro do Estado, mas o plano concreto e o montante exato ainda têm de ser afinados e validados em Bruxelas.

 

 

Em causa está uma auditoria externa para apurar o que correu mal nos últimos 16 anos para a Caixa ter chegado à situação em que está hoje. O ministério assegura que “a abertura de uma auditoria independente, que abrange o período de 2000 a 2016, aprovada em Conselho de Ministros, será solicitada posteriormente [ao processo de recapitalização]”. O que já está em marcha é uma outra auditoria, feita pela Deloitte, para apurar as necessidades efetivas de capital da Caixa. E é com base nos resultados dessa auditoria, que Mário Centeno espera ter em mãos até ao fim do ano, que serão apurados os reais montantes de capitalização que serão usados para o banco público.

 

 

 

PCP não vê necessidade de Centeno assumir responsabilidade

 

 

 

O PCP olha para a aprovação da lei que obriga os gestores públicos a mostrar as declarações de rendimentos e património, que passou no Parlamento na passada quinta-feira com os votos a favor do BE, PSD e CDS, como uma “decisão inútil”, segundo afirmou este domingo o dirigente comunista Jorge Pires. “É uma decisão inútil, mas que serviu como mais um argumento para que o presidente da Caixa viesse a apresentar a demissão.”

 

 

Questionado pelos jornalistas sobre se não deverá haver consequências para o Governo pela forma como geriu todo o processo, o comunista põe de parte essa hipótese. “Não tem de haver responsabilidade do Ministro das Finanças porque, até hoje, não temos nenhuma informação no sentido de dizer que foi o ministro que garantiu que [os gestores da Caixa] podiam não apresentar declarações.”

 

 

Lembrando que esta lei aprovada na quinta-feira na votação na especialidade do OE para 2017 vem “obrigar a concretizar uma lei que está em vigor”, o comunista lembrou que o Tribunal Consitucional “está a tratar do assunto e tem decisões para breve sobre esta matéria”, relativamente à apresentação das declarações de rendimentos e património dos administradores da Caixa.

 

 

“O que é necessário é pôr a Caixa a funcionar. Pensamos que este problema deve ser resolvido o mais depressa possível para que a Caixa comece a funcionar”, acrescentou.

 

 

“Ao longo deste processo fomos criticando algumas opções do Governo. Não apenas pelo tempo que este processo demorou, pelas opções e escolhas que fizeram”.

 

 

Jorge Pires criticou sobretudo a posição do PSD ao longo destas semanas, “no sentido de criar dificuldades neste processo e de impedir que a Caixa venha a revolver os seus próprios problemas”.

 

 

Marques Mendes afirma que demissão deveu-se à aprovação da lei que obriga a mostrar declaração

 

 

 

 

O comentador da SIC diz que entre sexta-feira e hoje “houve várias tentativas e diligências para ver se António Domingues recuava na sua intenção”.

 

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Marques Mendes diz que foi a aprovação da obrigatoriedade de os gestores da Caixa Geral de Depósitos terem de mostrar as suas declarações de rendimentos e património, confirmada na quinta-feira na votação na especialidade do OE 2017, que levou António Domingues a decidir apresentar a sua demissão da presidência da administração da Caixa Geral de Depósitos, confirmada este domingo, pelo Ministério das Finanças.

 

 

“Julgo que António Domingues, apesar de ir apresentar as declarações, ainda lhe passava pela cabeça que poderiam ficar confidenciais”, afirmou o comentador da SIC no seu habitual comentário ao domingo. “No momento em que é aprovada a lei, António Domingues considerou certamente que estava bloqueado por um lado e por outro”, acrescentou. “Considerou-se ofendido.”

 

 

A lei em causa, que foi aprovada no Parlamento na quinta-feira, passa a permitir que os gestores da Caixa não tenham limite salarial, mas que sejam obrigados a mostrar as declarações de rendimentos e património. O BE aliou-se ao PSD e CDS na aprovação da lei. A votação ainda foi repetida segunda vez no Parlamento, mas o Bloco voltou a votar junto do PSD e CDS.

 

 

“Tanto quanto sei, entre sexta-feira e hoje – e é essa a razão de o comunicado sair hoje-, houve várias tentativas e diligências para ver se António Domingues recuava na sua intenção, ou seja, se poderia eventualmente voltar atrás. Só agora é que o caso se torna definitivo”.

 

 

Marques Mendes considera que a situação que se desenrolou ao longo das últimas cinco semanas à volta da CGD “tornou-se insustentável”.

 

 

“António Domingues poderá sempre dizer que o Governo se comprometeu a desobrigá-lo de apresentar a declaração. Por aquilo que sei, se houvesse uma comissão de inquérito parlamentar para analisar isto, muita gente sairia mal da fotografia. Julgo que não vai nem deve haver.”

 

 

Marques Mendes destaca duas questões “deploráveis”: uma, “o pedido que foi feito e que terá sido atendido pela equipa do Ministério das Finanças”, numa referência à não divulgação das declarações de rendimentos e património. “Criaram uma expectativa em António Domingues e ele criou junto das pessoas que convidou.” Em segundo lugar, afirma, está a dúvida “se a lei em concreto era a solução jurídica adequado para a promessa política que tinha feito”. “Era uma promessa que nunca deveria ter sido feita.”

 

 

O essencial agora, defende Marques Mendes, é que “o assunto se resolva com rapidez”, que o Governo “escolha um nome para a presidência da Caixa que tenha uma matriz igualmente profissional, desligada da vida política e partidária”. O comentador da SIC considera que “isto não vai afetar a recapitalização pública da Caixa”.

 

 

A demissão de António Domingues da presidência da administração da Caixa Geral de Depósitos foi conhecida este domingo, e confirmada pelo Ministério das Finanças, que “lamenta” a decisão.

 

 

“O Governo foi informado pelo Presidente do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos (CGD) da renúncia apresentada pelo Presidente do Conselho de Administração (CA), António Domingues. Renúncia essa que o Governo lamenta. A renúncia só produzirá efeitos no final do mês de dezembro”, lê-se no comunicado enviado esta noite às redações.

 

 

TPT com: AFP// Raquel Albuquerque//Expresso//Rita Diniz//Ana Suspiro//HUGO AMARAL/OBSERVADOR// 27 de Novembro de 2016

 

 

 

 

Morreu Fidel Castro o herói, ditador e mito do século XX

“O comandante-chefe da revolução cubana morreu esta noite às 22:29”, afirmou Raúl Castro, que sucedeu a Fidel no poder em 2006.

 

 

Ao longo de 57 anos, Fidel Castro foi uma figura ímpar em Cuba e no mundo. ‘El Comandante’, como era conhecido, tinha apenas 32 anos quando derrubou o ditador cubano ditador Fulgêncio Batista, em 1959, transformando a partir daí Cuba num ícone do comunismo e tornando-se ele próprio um mito.

 

 

Reza a história que enquanto proclamava o triunfo da revolução em 1959, várias pombas voaram em seu redor e uma delas pousou no seu ombro. As pessoas entenderam isto como um sinal sobrenatural. O mito marcou a vida de Fidel.

 

 

Em 2006 adoeceu. Tinha já 80 anos e nos dez anos seguintes pouco seria visto em público. A 13 de agosto, completou 90 anos. Em 2016, Fidel foi notícia algumas vezes pelas suas aparições públicas que se tornaram raras nos últimos anos. No dia, a seguir ao aniversário, a 14 de agosto, Fidel Castro foi visto com Nicolás Maduro e ao lado de Raúl Castro, num evento organizado pela companhia de teatro infantil “La Colmenita”, no teatro Karl Marx, em Havana.

 

 

Tinha também publicado o artigo “El Cumpleaños” (“O Aniversário”), divulgado pela imprensa estatal de Cuba, onde se referiu à histórica rivalidade com os Estados Unidos e criticou presidente Barack Obama pelo discurso que proferiu durante a visita realizada ao Japão em maio.

 

 

“Um capricho do destino”

 

 

Quatro meses antes, a 20 de abril, discursou junto com o irmão, o presidente Raúl Castro, no encerramento do Sétimo Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), realizado em Havana. “Estou quase a completar 90 anos, nunca teria imaginado isto, nem foi fruto de um empenho, foi um capricho do destino. Serei como todos os outros. Essa hora chegará para todos nós”, afirmou na altura. Na assistência, houve quem comentasse a melancolia do momento.  “Senti que ele estava um pouco melancólico, como se estivesse a despedir-se. Ele sabe que talvez este tenha sido o último congresso do partido em que pôde participar”, comentou à AFP Natalia Díaz, uma engenheira industrial de 54 anos.

 

 

Nesse discurso, Fidel sublinhou que, após a sua morte “ficarão as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se se trabalhar com fervor e dignidade, conseguem produzir-se os bens materiais e culturais de que os seres humanos precisam”. “Devemos transmitir” aos nossos irmãos da América Latina e do mundo “que o povo cubano vencerá”, apontou. “Talvez esta seja uma das últimas vezes que falo nesta sala”, disse Fidel Castro em tom firme, agradecendo depois ao seu irmão, o presidente Raúl Castro, pelo seu “magnífico esforço” à frente do PCC.

 

 

 

 O guerrilheiro que terá escapado a 634 tentativas de assassinato

 

 

 

Na história do século XX, Fidel Castro será lembrado como uma figura ímpar. Foi o criador de uma doutrina militar própria e conseguiu “transformar uma guerrilha num poder paralelo, formado por guerrilheiros, organizações clandestinas e populares”, disse à AFP Alí Rodríguez, ex-guerrilheiro e atual embaixador venezuelano em Cuba.

 

 

A revolução cubana tornou-se um símbolo das revoltas do século XX e ele, o comandante da barba comprida e uniforme militar foi o seu rosto nas décadas que se seguiram. Não é para todos derrotar um exército de 80 mil homens contra uma guerrilha que no seu pior momento contou com 12 homens. Sem passado militar, Fidel Castro expulsou do poder o ditador Batista e esta parte da história é um roteiro quase perfeito de um filme sobre heróis.

 

 

A sua vida foi sempre um livro – ou filme de aventuras. Derrotou conspirações apoiadas pelos EUA, enviou 386 mil concidadãos para lutar em Angola, Etiópia, Congo, Argélia e Síria. Ao longo de 40 anos (1958-2000) diz-se que escapou a 634 tentativas de assassinato, segundo escreveu Fabián Escalante, ex-chefe dos serviços de inteligência cubanos.

 

 

Ao jornalista Ignacio Ramonet, Fidel confessou carregar quase sempre uma pistola Browning de 15 tiros. “Oxalá todos morrêssemos de morte natural, não queremos que se adiante nem um segundo a hora da morte”, disse em 1991.

 

 

Mas ao líder revolucionário sucedeu também o ditador Fidel que oprimiu os seus opositores e governou a sua ilha com mão de ferro. Nas reações à sua morte, Ramón Saúl Sánchez, líder do Movimento Democracia para Cuba (MDC), no exílio, lamentou que a morte de um “tirano” não signifique “a liberdade do povo de Cuba”. “É a maior tristeza que tenho no meu coração”, disse o ativista à agência Efe.

 

 

“Gostaria de poder dizer que a morte do tirano é a liberdade do povo”, mas no caso de Cuba não é assim, “porque eles [os Castro] trataram muito bem a sucessão”. Para Ramón Saúl Sánchez, se Fidel Castro tivesse morrido enquanto estava no poder poder-se-ia ter desencadeado uma revolta em Cuba para reclamar liberdade, mas como o seu irmão Raúl se encontra na presidência, o impacto não será o mesmo. Para o líder da organização de cubanos exilados, Fidel Castro é um símbolo do terror que Cuba sofreu durante quase 60 anos e o seu legado é nomeadamente “medo” e “dor”.

 

 

 

“Gosto de Portugal. É um país amável, que está no extremo da Europa”

 

 

 

Em Portugal, Fidel foi notícia recentemente, a 27 de outubro, aquando da visita do presidente Marcelo Rebelo de Sousa a Cuba. Os dois apareceram juntos e sorridentes numa fotografia divulgada pelo Granma, órgão oficial. “É natural que duas pessoas bem-dispostas em certas circunstâncias ou sorriam ou riam mesmo acerca de um comentário qualquer que foi feito, agora não me lembro em pormenor”, declarou  na altura o chefe de Estado português.

 

 

Fidel visitou Portugal várias vezes e, em outubro de 1998, depois de uma reunião com o empresário Américo Amorim, no âmbito da VIII Cimeira Ibero-Americana, que decorreu no Porto, confessou que gostava muito dos portugueses. Reforçaria a mesma ideia, três anos depois, numa escala rápida em Lisboa. “Gosto de Portugal. É um país amável, que está no extremo da Europa”.

 

 

Na visita de 1998, é recordado um discurso memorável, em Matosinhos (numa festa promovida pela Associação de Amizade Portugal-Cuba), e encontros com o antigo primeiro-ministro Vasco Gonçalves (morreu em 2005) ou com Carlos Carvalhas (na altura secretário-geral do PCP), além de José Saramago (morreu em 2010). Foi de Saramago, que considerava seu amigo, que terá lido palavras duras sobre a Cuba não da revolução, mas da opressão. Aconteceu em abril de 2003 e na sequência de terem sido fuzilados três cubanos dissidentes que tinham sequestrado um barco, escreveu: “Cuba não ganhou nenhuma heroica batalha fuzilando esses três homens, mas perdeu a minha confiança, destruiu as minhas esperanças e defraudou as minhas expectativas”, escreveu o Nobel português.

 

 

Herói, ditador, mito. Fidel Castro morreu hoje aos 90 anos.

 

 

 

Fidel Castro assistiu desconfiado à reaproximação americana e morreu sem acreditar nela

 

 

 

O líder revolucionário já vira uma dezenas de presidentes americanos avançar e recuar nas suas intenções cubanas antes de Obama fazer a sua reaproximação histórica. Dificilmente Trump a reverterá.

 

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Há quase dois anos – em dezembro de 2014 – Barack Obama e Raúl Castro anunciaram que os seus países iriam reatar os laços diplomáticos depois de mais de cinco décadas inimizade e, ocasionalmente, de guerra. A notícia tinha tanto de simbólica como de surpreendente. Afinal de contas, foi de Cuba que os americanos mais temeram o início de uma guerra nuclear com a União Soviética, na crise de 1962; e foi dos Estados Unidos que os cubanos mais se aproximaram de um golpe de Estado patrocinado por um poder estrangeiro, quando militares apoiados pela CIA tentaram tomar o poder, em 1961.

 

 

Obama e Raúl Castro não prometiam restaurar os laços integralmente e não o fizeram. Desde que anunciaram a reaproximação, Cuba e Estados Unidos reabriram as suas embaixadas nos dois países, Barack Obama tornou-se o primeiro presidente americano a visitar Cuba desde Calvin Coolidge, em 1928; Washington retirou Havana da lista de Estados promotores de terrorismo e aprovou dezenas de leis que normalizaram parte do investimento e comércio entre os dois países, permitiram o regresso da aviação comercial a cidadãos de ascendência cubana e abriram dezenas de projetos científicos e humanitários. O embargo mantém-se, por insistência dos republicanos.

 

 

Para trás ficou um ano e meio de negociações secretas entre os dois países, em parte mobilizadas pelo Papa Francisco, que escreveu várias cartas a ambos os presidentes e acolheu encontros no Vaticano. O que começou com um modesto plano da administração Obama para alterar algumas das leis mais restritivas tornou-se numa reaproximação diplomática que poucos anteviam. Afinal de contas, Raúl Castro não era o seu irmão, Fidel, envelhecido, frágil e remetido para um pano de fundo mitológico. Tal como Obama não era nenhum dos Bush ou Bill Clinton, receosos de Fidel e nunca dispostos a desafiar o lobby cubano em Washington.

 

 

Fidel não participou nas negociações, mas fez saber ao governo do seu irmão e herdeiro que desconfiava das intenções americanas – escreve-o a New Yorker. O histórico líder revolucionário já vira dez presidentes americanos avançarem e recuarem em promessas e ameaças a Cuba antes de Obama tentar a sua reaproximação. Mesmo depois de Obama visitar Cuba, onde fez um discurso sobre os méritos do sistema livre de comércio, Fidel escreveu um artigo para o órgão oficial do partido, o jornal “Granma”, alertando para a possibilidade de o seu país se estar a vender aos mesmos americanos que o tentaram assassinar dezenas de vezes – centenas, a acreditar nas suas palavras.

 

 

“Ninguém deve estar sob a ilusão de que o povo deste país digno e altruísta vai renunciar à sua glória, aos seus direitos e à riqueza espiritual que conquistou”, escreveu Fidel desde o seu retiro. “Não precisamos de nada do império”, concluiu, referindo-se aos Estados Unidos.

 

 

A mudança segundo Fidel

 

 

 

Barack Obama diz compreendê-lo. À “New Yorker”, o presidente americano confessou que esperava uma reação mais agressiva de Fidel ao seu programa cubano e ao discurso que fez a um grupo de investidores durante a sua visita. “Até acho que a resposta foi mais branda do que esperava”, lançou. “A resposta de Fidel foi, em parte: ‘Não quero escapar ao passado’. O que entendo completamente de quem tem 90 anos e foi uma figura icónica do século XX.”

 

 

É difícil distinguir entre o que em Fidel foi ceticismo diante a reaproximação americana e o que era receio de que o seu sistema político poderia ser enfim vítima dos americanos não pelo isolamento, mas pela abertura. “As ideias do comunismo cubano são para durar”, disse às centenas de delegados que o ouviram pela última vez este ano no VII Congresso do Partido Comunista Cubano. “Ficarão como prova de que, neste planeta, se trabalha com fervor e dignidade, podem produzir-se bens materiais e culturais de que necessitam os seres humanos. Devemos lutar sem trégua para obtê-los.”

 

 

Disse-o desdenhando a sua própria morte, que, nesse discurso de abril, já lhe parecia próxima, mas não tão importante quanto preservar as conquistas da sua revolução de 1959. “Talvez esta seja a última vez que falo nesta sala. Em breve cumprirei 90 anos, não em resultado de nenhum esforço, mas por capricho do destino. Sou como todos os demais: também chegará a minha hora.”

 

 

O dilema Trump

 

 

 

Hillary Clinton foi a primeira grande candidata americana a prometer acabar com o embargo comercial a Cuba na sua campanha. Mas não foi ela quem venceu as eleições. O presidente eleito, Donald Trump, deixou em aberto o seu programa para Cuba, elogiando em alguns momentos a reaproximação da administração Obama e, noutros, criticando algumas cedências comerciais. “Os cubanos – como muitos países no mundo –, não sabem o que esperar e receiam muito uma administração Donald Trump”, escrevia este sábado o analista da CNN, Peter Kornbluh.

 

 

É pouco provável que a próxima administração levante o embargo comercial a Cuba, mas parece também ser difícil reverter a reaproximação iniciada por Obama. O lobby dos dissidentes cubanos conservadores continua a ser uma força de poder em Washington, mas as novas gerações de cubanos-americanos são mais moderadas e favorecem a abertura com o regime, como, aliás, a maioria da população americana  – 58%, de acordo com uma sondagem do “New York Times”.

 

 

Para além disso, dezenas de grandes empresas americanas começaram já a preparar projetos em Cuba – até o próprio Donald Trump sugeriu que poderia abrir lá um hotel. A reaproximação, por outras palavras, tem já vida própria.

 

 

Em Miami grita-se Cuba livre e abrem-se garrafas de champanhe

 

 

A comunidade cubana em Miami passou o dia em festa com a notícia da morte de Fidel Castro. Vários americanos, incluindo responsáveis políticos como Marco Rubio, candidato vencido nas primárias republicanas, juntaram-se às manifestações que, para os exilados, são de celebração pelo fim de uma era.

 

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Gritam “Cuba livre!” e “Liberdade, liberdade!”, tomam banho de champanhe, tiram selfies e fazem vídeos, cantam, tocam tambores e batem panelas. Milhares de cubanos que estão no exílio comemoraram a morte de Fidel Castro e Miami, em particular, está em festa. “É triste que as pessoas comemorem a morte de uma pessoa, mas é que essa pessoa nunca devia ter nascido”, disse Pablo Arencibia, um professor de 67 anos que saiu de Cuba há 20 anos. “Satanás é quem tem que se preocupar agora, porque Fidel vai para lá e vai querer tirar-lhe o lugar”, brincou, quase inaudível, entre sons de panelas, tambores, buzinões e palavras de ordem que acordaram os vizinhos.

 

 

Segundo o Centro de Pesquisas Pew, há dois milhões de cubanos nos Estados Unidos e 68% vive na Flórida. Com comentários como “demorou muito” e “agora falta Raúl”, mais de mil pessoas em Little Havana e outro tanto em Hialeah – dois bairros de Miami que são redutos do exílio cubano – cantam, dançam e se abraçam para comemorar a morte, na sexta-feira, do líder cubano de 90 anos.

 

 

Nestes dois bairros, várias gerações de exilados cubanos acompanharam de perto a atualidade do outro lado do Estreito da Flórida. Uns cantavam o hino de Cuba, outros abriam garrafas de champanhe no meio da multidão que grita “Viva Cuba!” e improvisa batidas de tambores. Os vizinhos acordam com os buzinões que enchem as ruas e saem para festejar praticamente em pijama. Gente de todas as idades e, inclusive alguns americanos, junta-se à festa. “É um grande momento para a comunidade cubana e estou com eles”, disse Debbie, uma aposentada americana, originária da Flórida. “Vivo em Little Havana e isto é grande parte das nossas vidas. A comunidade está sempre  unida”.

 

 

Debbie e a sua amiga cubana, Aymara, comemoram em frente ao emblemático Café Versailles, um ponto de encontro dos cubanos no exílio que, ao longo de décadas, viu muitos protestos e muito poucos motivos de comemoração.

 

“A história não absolverá Fidel Castro”

 

 

 

A meio do dia de sábado, a rua 8, em Little Havana, permanecia lotada de pessoas em festa desde a madrugada. Jovens e idosos exibiam bandeiras cubanas e americanas, enquanto os motoristas os saudavam com buzinões.

 

 

O governador da Flórida, Rick Scott, declarou num comunicado que se juntava “aos cubano-americanos de todo o país que estão incrivelmente esperançosos com o futuro de Cuba”. “Após décadas de opressão, o povo cubano merece liberdade, paz e democracia”, acrescentou o governador republicano, associando-se ao sentimento dos cubanos nas ruas.

 

 

Também partilharam esta visão o senador pela Flórida, Marco Rubio, e a representante Ileana Ros-Lehtinen, dois congressistas de origem cubana, conhecidos pelas suas críticas ao regime dos irmãos Castro. “A história não absolverá Fidel Castro”, disse Rubio. “Será lembrado como um ditador cruel e assassino que trouxe miséria e dor ao seu próprio povo”.

 

 

“A morte de Fidel Castro encerra uma era de repressão e opressão, [é uma] oportunidade para um novo capítulo democrático em Cuba”, disse Ros-Lehtinen no Twitter.

 

 

Mas além da celebração pelo fim de uma era, os cubanos de Miami não se mostravam muito otimistas com o futuro da ilha. “Demorou demais e houve muita morte pelo caminho, mas não acho que sirva para alguma coisa”, afirmou Aymara, reticente em dar mais dados sobre a sua identidade.

 

 

Viam-se algumas bandeiras venezuelanas entre as cubanas e as americanas, e palavras de ordem eram ouvidas contra o governo de Nicolás Maduro. Os mais jovens faziam vídeos no Facebook Live, postavam fotos no Instagram e transmitiam a festa por FaceTime e Skype aos seus amigos e parentes na ilha, naquele que é para eles um momento histórico.

 

 

Ao contrário do que aconteceu, no mesmo local, há três semanas, quando um grupo de cubanos, na sua maioria reformados, se juntou para comemorar a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, desta vez havia manifestantes de todas as idades. “Os que diziam que o exílio era coisa de velhos, vejam que esta é uma resposta extremamente eloquente de que o exílio continua vivo e que a ânsia por uma Cuba democrática e progressista está em todos os cubanos”, disse Arencibia.

 

 

URSS/Rússia-Cuba: De irmãos a amigos e parceiros

 

 

 

José Milhazes recorda os altos e baixos de uma relação que colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear (a “crise dos mísseis” de 1962) e passou pela colaboração em países como a Etiópia e Angola.

 

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A posição da direcção soviética face à tomada do poder por Fidel Castro em Cuba não foi de imediato apoio. Nikita Krutschov, à altura secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, olhou com desconfiança para a revolução de jovens barbudos, tanto mais que estes não gozavam do apoio do Partido Comunista de Cuba e não eram muito claras as suas intenções políticas.

 

 

A URSS de Estaline tinha cortado as relações diplomáticas com a ditadura de Baptista em 1952 e voltou a restabelecer os laços diplomáticps com Cuba após a conquista do poder por Fidel Castro em 1960 e já depois da morte do ditador soviético. Porém, o Kremlin virou-se mais seriamente para Cuba quando os Estados Unidos tentaram derrubar Fidel através do desembarque de mercenários na Praia dos Porcos, em Abril de 1961. Em Maio do mesmo ano, o dirigente cubano proclama abertamente a opção pela “via socialista de desenvolvimento e é precisamente este factor que irá definir as relações entre Cuba e a União Soviética.

 

 

À medida que aumenta o embargo norte-americano, cresce o número de engenheiros, médicos, conselheiros militares e outros especialistas soviéticos que são enviados para a “Ilha da Liberdade”. A justificação era evitar novas tentativas de derrubar o “primeiro regime socialista no hemisfério ocidental”, mas, na realidade, o Kremlin não podia perder a possibilidade de possuir um “submarino inafundável” a poucos quilómetros do seu principal adversário na guerra fria: os Estados Unidos da América.

 

 

Em 1962, Raúl Castro visita Moscovo, onde é recebido por Nikita Khrutschov, o sucessor de Estaline à frente da URSS. Durante o encontro eles acordaram, a fim de evitar novas invasões norte-americanas, instalar em Cuba mísseis de médio alcance com ogivas nucleares. A reacção dos norte-americanos a esse passo provocou uma série crise nas relações entre Washington e Moscovo, que por pouco não descambou num confronto nuclear. O potencial poder destruição das armas nucleares era tão grande que obrigou os dirigentes das duas grandes super-potências a chegarem a um acordo. Khrutschov aceitou retirar os mísseis soviéticos da ilha enquanto que John Kennedy comprometia-se a retirar os mísseis norte-americanos instalados na Turquia, país que fazia fronteira com a URSS, e a não invadir Cuba.

 

 

Este acordo foi recebido com alívio pela comunidade internacional, mas os dirigentes cubanos ficaram ofendidos pelos seus camaradas soviéticos não os terem consultado sobre esse acordo. Em Cuba surgiu a frase: Nikita, Nikita, lo que se dá, non se quitá”.

 

 

Porém, Fidel não tinha outras alternativas para se manter no poder, pois a ajuda financeira, económica e política da URSS era fundamental para a sobrevivência do regime cubano. Por outro lado, os comunistas soviéticos tinham em Cuba um aliado importante para penetrar nos países do chamado Terceiro Mundo.

 

 

 

Angola, Etiópia e por aí além

 

 

Foi no campo desta política que as tropas cubanas foram enviadas, por exemplo, para a Etiópia e Angola. Porém, é de ressalvar que a intervenção armada de Cuba em Angola em 1975, essencial para salvar o regime do MPLA e de Agostinho Neto, foi decidida sem o consentimento do Kremlin. Moscovo recebeu a notícia do envio de militares cubanos para a antiga colónia portuguesa através do seu embaixador na Guiné-Conacri, quando os aviões cubanos já sobrevoavam o Atlântico. Fidel receava que as autoridades soviéticas não dessem luz verde a essa operação antes da proclamação da independência de Angola, a tempo de travar as tropas sul-africanas e da UNITA que avançavam sobre Luanda. Os comunistas soviéticos acabaram por aceitar esse facto consumado, que levou a que a URSS chamasse a si os custos económicos da guerra em Angola.

 

 

A propósito, a cooperação com a União Soviética quase transformou a ilha numa grande monocultura de açúcar, o principal produto de exportação cubana.

 

 

As relações entre a URSS e Cuba começaram a mudar rapidamente com a subida de Mikhail Gorbatchov ao poder em Março de 1985, acelerando à medida que o secretário-geral do Partido Comunista da URSS aprofundava a sua política de reformas internas e de desanuviamento no campo internacional.

 

 

Desde o início que Fidel Castro olhou com desconfiança e cepticismo para a política de “perestroika” (“reconstrução”) e “glasnosti (“transparência), proibindo em Cuba a venda de alguns jornais e revistas soviéticas. Segundo recorda Boris Ieltsine, o dirigente cubano teria manifestado apoio a este na sua luta contra Gorbatchov, mas, como mostraram os acontecimentos, Fidel enganou-se redondamente.

 

 

Em 1989, Gorbatchov visita Cuba num momento em que o seu próprio país atravessava graves problemas económicos, sociais e políticos, que levaram o dirigente soviético a reduzir fortemente a ajuda ao regime de Fidel.

 

 

Nos anos 90, Boris Ieltsin, então Presidente da Rússia, continuou essa política, retirando de Cuba grande parte dos militares russos aí aquartelados. No entanto, é Vladimir Putin que, em 2003, ordena o encerramento da base de espionagem electrónica em Lurdez, que dava a Havana mais de 200 milhões de euros por ano. A título de exemplo, o enfraquecimento dos laços económicos entre Cuba, por um lado, e a Rússia e outros países do espaço post-soviético, por outro, provocou, entre 1990 e 1993, uma queda de 33% do PIB, levando alguns analistas a considerar que a queda do regime comunista cubano estaria para breve.

 

 

Porém, Havana soube encontrar parceiros que permitissem manter vivo o regime, sendo aqui importante salientar o apoio da Venezuela de Hugo Chavez, principalmente no que diz respeito ao fornecimento de petróleo.

 

 

Com a chegada de Vladimir Putin ao poder na Rússia, em 2000, dá-se um novo incremento às relações russo-cubanas em numerosas esferas. Em 2014, o Presidente russo visita Cuba, pouco antes disso, perdoou 90% da dívida cubana à URSS, que constituía cerca de 30 mil milhões de dólares, e foram assinados vários acordos de cooperação em diferentes áreas. No contexto da actual política externa do Kremlin, são cada vez mais as notícias de que os russos poderão regressar à base de Lurdez. Muito irá depender da forma como se desenvolver o diálogo entre Raúl Castro e o Presidente eleito dos Estados Unidos, Ronald Trump. Caso não melhorem as relações entre a Rússia e os Estados Unidos e Washington decida regredir na politica de abertura face a Cuba, iniciada por Obama, os contactos entre Moscovo e Havana poderão conhecer uma nova era.

 

 

Claro que muito também dependerá da evolução da política interna de Cuba depois da morte de Fidel Castro.

 

 

BE realça, em comunicado, que Fidel foi “um grande estadista cubano”

 

O Bloco de Esquerda realça que Fidel Castro foi “uma das figuras mais importantes da história do século XX e líder de uma revolução vitoriosa”.

 

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Em comunicado, os bloquistas defendem que por “mais lendas históricas que se contem sobre heróis infalíveis e encarnações do mal, elas só negam a cidadania e o pensamento crítico. Fidel foi o autor, como figura histórica de grande importância, de grandes feitos e de grandes erros”.

 

 

Para o partido de Catarina Martins, “nos seus erros e nos seus feitos”, Fidel Castro foi “um grande estadista cubano e assim será recordado”.

 

 

O BE foi o único partido que não aceitou integrar a comitiva do Presidente da República, Marcelo rebelo de Sousa, na viagem de Estado a Cuba, que se realizou há um mês.

 

 

Marcelo Rebelo de Sousa envia mensagem de “condolências” ao povo cubano

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou hoje “sinceras condolências” ao presidente Raúl Castro e ao povo cubano pela morte de Fidel Castro, com quem se encontrou há um mês. Jerónimo, líder do PCP, transmitiu “solidariedade” e condolências aos comunistas e familiares do falecido “camarada” Fidel Castro.

 

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“No momento em que tomo conhecimento do falecimento do antigo chefe de Estado Cubano, Comandante Fidel Castro, quero expressar as minhas sinceras condolências ao Presidente Raúl Castro Ruz e ao Povo Cubano”, disse Marcelo Rebelo de Sousa numa mensagem divulgada no ‘site’ da Presidência da República portuguesa.

 

 

“Evoco, ainda, o encontro havido há um mês, em que falámos das relações entre Portugal e Cuba, na perspetiva do seu aprofundamento económico, social e cultural, num mundo em mudança”, salienta.

 

 

“Foi um protagonista controverso mas marcante, quer em Cuba, quer na América Latina quer no que então se chamava 3.º mundo, ou não alinhados, sobretudo entre os anos 60 e os anos 90 do século passado e que chegou a ser uma personalidade mítica para os seus apoiantes”, afirmou o chefe de Estado Português.

 

 

Apesar de Fidel Castro, admitiu Marcelo Rebelo de Sousa, não se situar na mesma “área ideológica”, que ele, o Presidente reconheceu o papel do líder cubano na História: “Não se pode negar que ele teve um peso na América Latina, no chamado terceiro mundo, até no mundo em geral, pensemos na crise dos mísseis que fez suspender por um instante o mundo no início dos anos 60”, salientou.

 

 

Do encontro com Fidel quando visitou Cuba, Marcelo Rebelo de Sousa partilhou que o líder cubano estava “fragilizado do pronto de vista físico mas intelectualmente muito atento, atento ao que se passava hoje, acompanhava a par e passo as notícias do dia e comentando o mundo tal como ele se encontrava, além de recordar o passado com uma vivacidade indiscutível”.

 

 

Mesmo reconhecendo a debilidade física de Fidel Castro o Presidente da República confessou estar algo surpreendido com a morte do ex-chefe de Estado cubano.

 

 

“Eu não diria, apesar da fragilidade física que um mês depois já não pertencesse ao mundo dos vivos”, referiu.

 

 

Jerónimo sobre Fidel: “Uma vida inteiramente consagrada aos ideais da liberdade, da paz e do socialismo”

 

 

 

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, numa declaração sobre a morte de Fidel Castro, prestou “homenagem à sua excepcional figura de patriota e de revolucionário comunista evocando o exemplo de uma vida inteiramente consagrada aos ideais da liberdade, da paz e do socialismo”.

 

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Jerónimo de Sousa destacou a “heróica guerrilha da Sierra Maestra”, que “libertou Cuba de uma cruel ditadura e que, enfrentando a agressão e o bloqueio dos EUA, uniu e mobilizou a energia criadora dos trabalhadores e do povo na construção de uma nova sociedade liberta da exploração e da opressão imperialista, uma sociedade socialista, solidária com a luta libertadora de todos os povos do mundo”.

 

 

Para o secretário-geral do PCP “a melhor forma de honrar a memória do camarada Fidel Castro é prosseguir a luta pelos ideais e o projecto a que se consagrou até ao fim da sua vida, é fortalecer a solidariedade com Cuba e a sua revolução socialista exigindo o incondicional respeito pela soberania da Ilha da liberdade, o imediato fim do criminoso bloqueio norte-americano e a restituição ao povo cubano de Guantánamo”.

 

 

Trump diz que o mundo está assinalar a “morte de um ditator brutal”

 

Donald Trump reagiu inicialmente à morte do líder cubano (com algumas horas de atraso) através da sua conta pessoal do Twitter, se bem que de uma forma lacónica e demasiado curta. Depois, em comunicado, alongou o seu parecer e chamou Fidel Castro de “ditator brutal”.

 

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O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, afirmou que Fidel Castro foi um “brutal ditador” que “oprimiu o seu próprio povo” e prometeu que procurará assegurar que os cubanos atinjam a “prosperidade e liberdade”.

 

 

Através de um comunicado, Donald Trump prometeu que o seu governo fará “tudo o possível para assegurar que o povo cubano possa iniciar finalmente o seu caminho para a prosperidade e liberdade”.

 

 

Quanto a Fidel Castro, apontou que deixa “um legado de fuzilamentos, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação de direitos humanos fundamentais”. Para Trump, Cuba é ainda uma “ilha totalitária”.

 

 

Papa Francisco manifesta pesar e diz que reza por Fidel Castro

 

O papa Francisco manifestou hoje pesar pela morte do líder cubano Fidel Castro e, num telegrama dirigido ao seu irmão Raúl, que o sucedeu na presidência de Cuba, disse que vai rezar pelo seu descanso.

 

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“Ao receber a triste notícia do falecimento do seu querido irmão, o excelentíssimo senhor Fidel Alejandro Castro Ruz, ex-presidente do Conselho de Estado e do governo da República de Cuba, expresso os meus sentimentos de pesar”, afirma o papa.

 

 

No telegrama, Jorge Bergoglio estende os seus pêsames aos restantes familiares do líder histórico cubano, assim como ao governo e ao povo “dessa amada nação”.

 

 

“Ao mesmo tempo, ofereço preces ao Senhor pelo seu descanso e confio a todo o povo cubano a materna intervenção de Nuestra Señora de la Caridad del Cobre, padroeira desse país”, acrescentou o papa Francisco.

 

 

 

TPT com agências: Reuters//AFP//José Milhazes//Observador// 26 de Novembro de 2016

 

 

 

 

José Luís Carneiro reforça poderes aos consulados honorários de Artesia e Tulare, na Califórnia

Depois de deixar o Canadá onde manteve contactos com a diáspora, visitou consulados e teve reuniões com autoridades, que fizeram parte do roteiro da viagem oficial do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas ao Canadá e Estados Unidos, o Dr. José Luís Carneiro, acompanhado pelo Cônsul Geral de Portugal em Newark, Dr. Pedro Soares de Oliveira, visitou o  Sport Clube Português de Newark (SCP), onde foi recebido por diversas personalidades políticas, culturais e empresariais luso-americanos do Estado de New Jersey, em ambiente de aplausos e abraços, por parte dos convidados presentes.

 

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Jack Costa, presidente do SCP deu as boas vindas  e desejou que o agora Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Luís Carneiro, tenha sucesso no seu cargo.

 

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O Secretário de Estado das Comunidades que também visitou algumas cidades dos estados de New York e Califórnia, agradeceu em New Jersey a hospitalidade com que foi recebido em  “Terras do Tio Sam” e lembrou que nas prioridades políticas do ministério dos negócios Estrangeiros incluem-se a promoção de um ensino de qualidade para aqueles que querem manter na língua portuguesa a vinculação à sua Pátria e, ao mesmo tempo, a sua inserção numa vida quotidiana cada vez mais globalizada, mas também a valorização e expansão de uma Língua, a Portuguesa, que à escala global conta já com mais de 260 milhões de falantes, que, em 2050, serão previsivelmente mais de 350 milhões.

 

 

José Luís Carneiro anunciou também  a abertura de um concurso para doze chanceleres, “que tem vindo a decorrer ao longo deste ano”, e um outro, com igual número de vagas, terá lugar em 2017. Recorde-se que o chanceler é alguém com poderes em tudo o que são actos consulares essenciais, da administração à área financeira passando pela contabilística. A sua existência visa “combater os período de espera, que tem sido uma das principais queixas das comunidades de portugueses no estrangeiro”. Está também “previsto em orçamento” a abertura de um outro concurso, desta feita para quarenta novos funcionários consulares, apesar do “quadro de dificuldades orçamentais do Estado português”.

 

 

A terceira dimensão do apoio e protecção consulares tem a ver com a designação de cônsules-gerais adjuntos (processo em curso) capazes de apoiar os serviços consulares onde há um maior afluxo.

 

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O secretário de Estado das Comunidades falava em Newark, no dia de S. Martinho, 11 de novembro, antes de uma ceia tradicional, que decorreu no “Porão” do Sport Clube Português desta cidade, com políticos luso-americanos, conselheiros, empresários e sindicalistas, bem como com elementos do  Luso American Veterans Monument, um grupo que está a desenvolver um projecto de construção de um monumento que irá lembrar e reconhecer para a posteridade o contributo dos Portugueses e dos Luso-Americanos, que tombaram em todas as guerras ao serviço dos Estados Unidos e que muitos insistem, em esquecer.

 

 

Entre as figuras políticas destacavam-se a presenças de Eliana Pintor-Marin, legisladora do estado de New Jersey, Dr. Alberto Santos, mayor de Kearny, Manuel Figueiredo, mayor de Union, os vereadores de Kearny, Albino Cardoso e MaryTrine de Castro, o advogado e vereador de Bridgewater, Dr. Pedro Pedroso, o Adjunto de Coordenação do Ensino Português nos Estados Unidos da América, Dr. José Carlos Adão, o Conselheiro das Comunidades Portuguesas, no estado de New York, Dr. Gabriel Marques, o ex-legislador do estado de New Jersey, Alberto Coutinho, e ainda a presença do presidente da direcção do Heavy Laborers Local 472, Manuel (Manny) Oliveira, um sindicato ligado às áreas da construção civil e com importante jurisdição territorial nos condados de  Hudson, Bergen, Passaic, Morris, Warren, Essex, Union, Middlesex,
Hunterdon, Sussex, Somerset & Monmouth Counties, no estado de New Jersey.

 

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José Luís Carneiro que tem a seu cargo a organização dos consulados, a nova vaga de emigração e a participação eleitoral entre outros temas a dominar os encontros oficiais, defende o recenseamento obrigatório para os portugueses residentes no estrangeiro e criticou os obstáculos técnicos, financeiros e políticos para a sua implementação.

 

 

O secretário justificou ao site The Portugal Times.com que, “segundo dados da Comissão Nacional de Eleições, nas legislativas de 06 de outubro de 2015, registou-se uma abstenção recorde nos círculos pela emigração de 83 por cento no da Europa e de 91 % fora da Europa.

 

 

“O recenseamento automático valorizando os eleitores, o exterior, esvazia os círculos eleitorais internos no próprio país. É uma matéria de grande complexidade mas que está a ser trabalhada tendo em vista o objetivo político do recenseamento automático”, acrescentou.

 

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José Luís Carneiro espera trabalhar com os governantes e políticos luso-canadianos e luso-americanos nesse sentido “criando melhores condições para que os portugueses se possam recensear sem tanto esforço, criando mais mesas de voto no estrangeiro” podendo dessa maneira participar mais ativamente nas eleições em Portugal, e para que “os portugueses com dupla cidadania possam também ajudar a eleger os políticos luso-descendentes na América do Norte.

 

 

Porém, o recenseamento obrigatório para os portugueses residentes fora de Portugal necessita do apoio de dois terços dos 230 deputados da Assembleia da República, a quem o governante lança um apêlo: “Há alterações que têm de ser feitas à lei eleitoral para as quais todos os partidos políticos têm de concorrer. É um objetivo político, não depende apenas da vontade do Governo”, afirmou José Luís Carneiro.

 

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Segundo o secretário de Estado, a petição lançada pelo movimento “Também Somos Portugueses” propõe que o recenseamento eleitoral seja automático quando é emitido o Cartão de Cidadão ou é feita uma alteração da residência, e que seja permitido o recenseamento via postal ou pela internet. Atualmente, os portugueses residentes na América do Norte  necessitam de deslocar-se ao Consulado da sua área de residência para se registarem nos cadernos eleitorais, ao contrário do que acontece em Portugal, onde o recenseamento é automático.

 

 

“Este é um passo importante para aproximar estes portugueses do seu país de origem”, explicou Luís Carneiro, que confirmou o reforço da rede consular nos Estados Unidos com a contratação de cinco funcionários, aumento de poderes de dois consulados honorários e nomeação de um novo consulado honorário.

 

 

Segundo o mesmo responsável, o novo consulado honorário será nomeado para a cidade de San Diego, também na Califórnia.

“Este reforço procura repor para níveis normais o funcionamento destes consulados. Ainda não é o ideal, mas é um primeiro passo”, disse Luís Carneiro.

 

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Os novos funcionários serão atribuídos aos consulados de São Francisco, Boston, New York, New Bedford e à embaixada de Washington, que destacará o seu funcionário para o consulado honorário de Palm Coast, na Flórida, uma cidade que nos últimos anos passou a acolher uma numerosa comunidade portuguesa.

 

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Quanto ao reforço de poderes, serão atribuídos aos consulados honorários de Artesia e Tulare, cidades da Califórnia que passarão a ter poderes de notariado e de recenseamento eleitoral, podendo vir a acolher urnas de voto nas eleições.

 

 

“Estas cidades estão a muitos quilómetros de distância do consulado mais próximo, e acolhem grandes comunidades portuguesas. Este é um passo importante para aproximar estes portugueses do seu país de origem”, explicou Luís Carneiro.

 

Segundo o mesmo responsável, o novo consulado honorário será nomeado para a cidade de San Diego, também na Califórnia.

 

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Para José Luís Carneiro, outro dos principais objectivos da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas “é prestar protecção e apoio aos portugueses presentes «em todas as geografias do mundo”. Confrontados com novos desafios, “porque há hoje uma imprevisibilidade muito forte na vida internacional”, necessitam de um gabinete de emergência consular bem articulado com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. “Onde quer que os nossos concidadãos estejam é crucial que estejamos também, que tenhamos uma palavra de proximidade para os acompanhar nas suas fortes inquietações”.

 

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Outra prioridade para 2017 está ligada à modernização consular e, nesse âmbito, há três esforços em curso: o primeiro prende-se com o espaço do cidadão, e que é, nada mais nada menos, que uma loja do cidadão para portugueses a residir no estrangeiro. O primeiro desses espaços surgiu no posto consular de Paris, pois, “com 190 mil actos consulares”, é o mais requisitado de todos. Seguir-se-ão o de São Paulo, “que registou 188 mil actos consulares de prática anual”, e depois “os muito críticos postos consulares de Londres, de Bruxelas e etc.”.

 

 

O outro esforço vai ao encontro a uma alteração estrutural no que refere à resposta por parte dos serviços consulares. “Está a decorrer uma migração de dados de todos os postos consulares para uma base de dados única que permitirá, a partir do próximo ano, o acto único de inscrição consular. Assim, independentemente da jurisdição onde o cidadão vá residir, trabalhar ou investir, não mais terá que proceder a uma nova inscrição consular”, informou Luís Carneiro.

 

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Outra das novidades anunciadas por José Luís Carneiro foi a decisão governamental de aumentar a duração desse importante documento de cinco para dez anos, notícia que mereceu a simpatia e os aplausos da plateia.

 

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Sobre outro dos aspectos da modernização “uma informação em primeira mão”-, nas palavras do secretário de Estado, durante uma conferência de imprensa no SCP, em que o The Portugal Times esteve presente, é o desenvolvimento em curso de uma aplicação para telemóveis que vai ficar pronta, se tudo correr bem”, em Dezembro. Doravante, quem assim desejar, poderá aceder no seu telemóvel a um conjunto de dados dos postos consulares e permitirá a estes, “nomeadamente ao gabinete de emergência, saber de imediato se há ou não há portugueses num determinado teatro de operações onde haja a necessidade de accionar a protecção e o apoio consulares”.

 

 

 

A participação política e eleitoral, “uma das dimensões fundamentais da cidadania”, nas palavras do secretário de Estado, é a quarta das prioridades do seu nóvel gabinete. “Uma cidadania sem participação política não é uma cidadania plena”, afirmou.

 

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Como que fazendo um “ponto de situação” da sua 1ª visita oficial à América do Norte, José Luís Carneiro referiu em Newark que no Canadá, para além da série de encontros que teve com várias organizações locais, gostou dos encontros que teve com o ministro da Cidadania e Imigração do Canadá, John McCallum, e com o deputado federal canadiano Boris Wzresnewskyj, presidente do Comité Parlamentar para a Cidadania e Imigração “onde foi abordada a necessidade de se concluir o memorando de entendimento relativo à mobilidade juvenil, nomeadamente de jovens que desenvolvem hoje a atividade de pós-graduação, que é um nível de qualificação e de aprendizagem que interessa aos dois países.”, afirmou José Luís Carneiro.

 

 

O programa International Experience Canada (IEC, sigla em inglês) facilita a cooperação bilateral na mobilidade jovem entre ambos os países e proporciona oportunidades para os jovens canadianos entre os 18 aos 24 anos de idade e cidadãos dos países que integram o acordo, do qual fazem parte atualmnte 33  países.

 

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O secretário de Estado das Comunidades mostrou-se bastante satisfeito pela “grande abertura” dos responsáveis federais canadianos para que o Acordo de Mobilidade Juvenil possa ser uma realidade e afirmou que gostava que em 2017 o Acordo Bilateral de Mobilidade Juvenil entre o Canadá e Portugal pudesse ser assinado numa altura em que o Canadá celebre o seu 150.º aniversário.

 

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Nos Estados Unidos, o Secretário de Estado das Comunidades promoveu os apoios da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas e com empresários portugueses da área tecnológica em Sillicon Valley.

 

 

Vários destes empreendedores, que têm empresas próprias ou estão ligados a empresas como o Facebook e a Cisco, garantiram que vão participar no encontro de micro e pequenos investidores portugueses emigrados em várias regiões do mundo que vai acontecer em Sintra no mês de dezembro.

 

 

José Luís Carneiro fez ainda contactos durante a viagem para que uma escola secundaria de Tulare, onde é ensinado português, seja um dos primeiros estabelecimentos de ensino a usar a plataforma digital para o ensino de português, uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto Camões e a Porto Editora que deverá estar disponível até ao final do ano.

 

 

Além da sua participação, “estes jovens comprometeram-se em falar com alguns dos empresários portugueses da diáspora de áreas mais tradicionais para perceber como é que estas duas áreas podem trabalhar em conjunto e conseguir benefícios para todos”, explicou o secretário de Estado.

 

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Após a sua alocução, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro (na foto com elementos do Consulado Geral de Portugal em Newark e com o Adjunto de Coordenação do Ensino Português nos Estados Unidos da América, Dr. José Carlos Adão, o 1º à esquerda) conversou com os convidados presentes sobre vários temas destacando-se, entre outros, as relações com a União Europeia, a imperiosidade de cumprimento das medidas de execução orçamental pelo executivo liderado por António Costa e a necessidade de crescimento efetivo da economia portuguesa para fazer face aos desafios de desenvolvimento.

 

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Antes da ceia de S. Martinho, José Luís Carneiro, comentou ainda que foram abordados com os responsáveis canadianos a ideia da “oferta da língua portuguesa integrada no ensino das várias províncias” e congratulou as sucessivas gerações de portugueses que aqui foram “mantendo vivas as manifestações nas áreas da cultura e recreio, e sobretudo nas acções humanitárias e de solidariedade”, anunciando desde já “apoio financeiro estatal aos movimentos associativos que pugnem pelo rejuvenescer das estruturas das associações, pois por todo o lado onde passamos, há uma grande preocupação com o futuro”.

 

 

José Luís Carneiro anunciou a realização do Primeiro Encontro de Empresários da Diáspora nos dias 16 e 17 de Dezembro, em Sintra, no qual “estarão presidentes das câmaras do País, presidentes das câmaras do comércio e ainda responsáveis das academias do Bacalhau”, sendo esta a oitava das prioridades anunciadas para o próximo ano.

 

 

O secretário de Estado, disse ainda ao The Portugal Times que no Canadá esteve acompanhado pelo embaixador de Portugal no Canadá, José Fernando Moreira da Cunha, e que se encontrou com os deputados lusodescendentes Alexandra Mendes (Montreal) e Peter Fonseca (Mississauga), que presidem ao Comité Parlamentar de Amizade entre o Canadá e Portugal, entre outros parlamentares canadianos presentes. Em Vancouver, visitou o monumento de homenagem ao português Joe Silvey (um pioneiro na colonização da costa oeste do Canadá), em Stanley Park, e o consulado-geral de Portugal naquela cidade, e ainda diversas empresas de luso-canadianos.

 

 

O governante português almoçou também com o ministro das Finanças do Ontário, o luso-canadiano Charles Sousa, e com a ministra da Educação de Ontário, Mitzie Hunter, bem como com o deputado federal, Peter Fonseca, a deputada provincial do Ontário, Cristina Martins, o vereador da Câmara Municipal de Brampton, Martim Medeiros, e o cônsul-geral de Portugal em Toronto, Luís Barros.

 

 

Oficialmente, há 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá (censos 2011), mas calcula-se que existam cerca de 550 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário. Estima-se que entre 60 % a 70 % sejam de origem açoriana.

 

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Neste encontro e para mais tarde recordar, uma foto (dir/esq) com os doutores José Luís Carneiro, os luso-americanos Pedro Pedroso, vereador de Bridgewater, Alberto Santos, mayor de Kearny e Pedro Soares de Oliveira, Cônsul Geral de Portugal em Newark e Pennsylvania.

 

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Mas seguiram-se outras fotos: José Luís Carneiro num momento de boa disposição, na presença de Paula Seca e Pedro Soares de Oliveira.

 

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Figuras públicas da cidade de Elizabeth, New Jersey, que também estiveram prensentes na recepção ao SECP em Newark. Na foto(esq/dir), os empresários Jorge da Costa, Martinho Pereira, o padre Nuno Rocha, da Igreja de N.S. de Fátima de Elizabeth, o advogado e “Prosecutors” (procurador público) no tribunal municipal da localidade de Plainfield, New Jersey, Dr. Júbilo Afonso, o Secretário de Estado José Luís Carneiro, Michael  Afonso e ainda o Dr. Pedro Soares de Oliveira, Cônsul Geral de Portugal em Newark e Pennsylvania.

 

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José Luís Carneiro com Alberto Coutinho, ex-legislador do estado de New Jersey e o activista Donald Gonçalves.

 

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Os responsáveis pelo BPI em Newark, com o director Ricardo Brochado ao centro, acompanhados por José Luís Carneiro.

 

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O Cônsul Geral Pedro Soares de Oliveira com o Adjunto de Coordenação do Ensino Português nos Estados Unidos da América, Dr. José Carlos Adão.

 

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O Secretário de Estado das Comunidades com alguns dos membros da ProVerbo,  Secção Cultural do Sport Clube Português de Newark.

 

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Depois da sessão de fotografias, o Dr. José Luís Carneiro desceu ao “Porão” do Clube, onde participou na tradicional ceia de S. Martinho, que como manda a tradição,  não faltaram o vinho, as castanhas, as sardinhas e o caldo verde.

 

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Após a ceia, José Luís Carneiro em mais um “Diálogos com a Comunidade”, afirmou que nesta sua primeira visita oficial à América do Norte, tem em vista “cultivar um diálogo mais estruturado e sistemático com os portugueses que cá residem e dar expressão concreta nas políticas públicas aos seus anseios e preocupações”.  Uma das prioridades políticas da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas é o alargamento territorial e institucional da rede de Gabinetes de Apoio ao Emigrante. Ao mesmo tempo, queremos criar esta resposta em municípios dos países de acolhimento e, em resultado da boa cooperação interinstitucional, dar-lhes um outro conteúdo em termos sociais e económicos.

 

 

O Gabinete de Apoio ao Emigrante resulta de um protocolo de cooperação entre a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP), do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e os Municípios Portugueses, tendo como destinatários os portugueses ainda emigrados, aqueles que já regressaram ou que irão regressar, bem como os que pretendem iniciar um processo migratório.

 

 

Segundo o Secretário de Estado das Comunidades, a 23 de Abril deste ano (2016) foi apresentado, em Coimbra, o modelo da nova geração de protocolo dos GAE, resultando de acordos entre a DGACCP, a ANAFRE e a ANMP. Este novo modelo de Gabinetes de Apoio ao Emigrante procura valorizar a dimensão económica e empresarial por intermédio da relação com o Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora.

 

 

São já cerca de 120 os municípios que proporcionam esta resposta aos cidadãos, fazendo o acompanhamento dos processos de saída, mas também de regresso definitivo ou temporário às suas terras de origem, constituindo um importante sinal de sensibilidade dos autarcas para este fenómeno.

 

 

Além do reforço da sua eficácia pelo alcance territorial e conteúdo funcional, importa sublinhar o facto de termos integrado o Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora (GAID) – que visa detetar, apoiar e acompanhar micro e pequeno investimento da diáspora em território nacional ou intenções de investimento no exterior – na esfera de intervenção dos GAE e na relação com a secretaria de Estado da Internacionalização, dos Assuntos Fiscais, Indústria e do Comércio.

 

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E nesta sua primeira noite de S. Martinho, em Newark (organizada pelo LAV em parceria com o SCP de Newark)  José Luís Carneiro também brindou ao sucesso da diáspora portuguesa a aproveitou para lembrar que “Portugal é cada vez mais destino para as férias de muitos turistas estrangeiros, também, por obra da promoção que os emigrantes fazem nos seus países de acolhimento”.

 

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Seguiram-se momentos de agradável convívio e disfrutou-se de uma boa conversa.

 

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Na mesa do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. José Luís Carneiro, estava também o presidente da direcção do Heavy Laborers Local 472, Manuel (Manny) Oliveira, um sindicato ligado às áreas da construção civil e com importante jurisdição territorial nos condados de  Hudson, Bergen, Passaic, Morris, Warren, Essex, Union, Middlesex, Hunterdon, Sussex, Somerset & Monmouth Counties, no estado de New Jersey.

 

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José Carlos Adão, Adjunto da Coordenação do Ensino Português nos Estados Unidos da América, com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.

 

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O projecto de construção do  Luso American Veterans Monument, em Newark, também foi abordado nesta noite, tendo o Secretário de Estado das Comunidades elogiado o projecto e tomado conhecimento da edição do livro do jornalista e escritor Fernando dos Santos, que tem por título “Terra que é boa para viver é também boa para defender”, frase que o fuzileiro naval luso-americano Joaquim Vaz Rebelo escreveu à namorada, colocando-lhe a natural possibilidade de ali encontrar a morte, mas justificando o desafio que diariamente atirava à vida, poucos dias antes de morrer numa emboscada (dia 13 de Maio de 1967) no Vietname .

 

 

Fernando dos Santos diz neste livro que “são largos milhares os luso-americanos que serviram e servem as forças armadas dos Estados Unidos. São menos os que morreram nos campos de batalha, mas aproximam-se do milhar. Neste livro, constam os nomes de 929 militares com apelidos portugueses que perderam a vida nas guerras dos Estados Unidos – desde a Guerra da Independência até à actual intervenção na Síria. Deste total, 428 têm a sua origem portuguesa perfeitamente confirmada e os restantes 501 têm elevada probabilidade de terem iguais raízes.

 

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A confirmação da origem portuguesa das 428 baixas foi feita através de demorada consulta da imprensa luso-americana. A elevada probabilidade de as restantes 501 baixas serem de origem portuguesa foi aceite quando, partindo do apelido de tradição portuguesa, analisamos o nome próprio, o nome médio, o local de nascimento, o estado em que o militar cresceu, a fotografia confirmando a sua raça branca e outros factores que, por vezes, surgem nas breves biografias a que conseguimos acesso”, disse o escritor.

 

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Os elementos do LAV que organizaram este “Serão de S. Martinho” e que querem reconhecer para a posteridade o contributo dos Portugueses e dos Luso-Americanos, ao serviço dos diversos ramos das Forças Armadas Americanas.

 

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Fazem parte do Comité Honorário, deste projecto, o Dr. Pedro de Oliveira, Cônsul Geral de Portugal em Newark (na foto); Joseph DiVincenzo, Chefe Executivo do Consado de Essex; Armando Fontoura, Xerife do Condado de Essex; Augusto Amador, Vereador da cidade de Newark; Tereza Ruiz, Senadora do estado de New Jersey; Dr. Manny Grova Jr., vereador geral da cidade de Elizabeth.

 

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Depois da sua estadia no estado de New Jersey, e antes de regressar a Portugal, José Luis Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas seguiu para o estado de Virgínia, onde participou na festa do 25º Aniversário do “Portuguese-American Leadership Council of the United States (PALCUS), que decorreu no palacete da “Morais Vineyards and Winery”em Bealeton, Virgínia.

 

Neste evento, foram convidados de honra o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, o embaixador de Portugal nos EUA, Domingos Fezas Vital e o presidente da FLAD, Vasco Rato.

 

 

 

Quem é o Dr. José Luís Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas?

 

 

 

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José Luís Carneiro nasceu a 4 de Outubro de 1971.

Licenciado em Relações Internacionais. Mestre em Estudos Africanos, é doutorando em Ciência Política e Administração.

Foi Presidente da Câmara Municipal de Baião entre 2005 e 2015.

Foi Deputado à Assembleia da República entre Fevereiro e Novembro de 2005, e, nesse período, integrou a Comissão dos Negócios Estrangeiros e foi eleito membro da Assembleia Parlamentar Euro-Mediterrânica.

 

 

Integrou ainda o Comité das Regiões da União Europeia, entre 2006 e 2015, as Comissões de Educação, Juventude, Ciência e Cultura (Educ) e a comissão de Coesão Territorial (Coter), tendo presidido à Comissão de Recursos Naturais (Nat).

 

 

Foi membro do Conselho Geral da Associação Nacional dos Municípios Portugueses e do Conselho Económico e Social, entre 2013 e 2015.

 

 

Desempenhou as funções de Chefe de Gabinete do Grupo Parlamentar do Partido Socialista entre 2000 e 2002.

 

 

Eleito deputado para a XIII Legislatura, integrou as Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação; e, como suplente, integrou as comissões de Assuntos Europeus e Agricultura e Mar. Foi, ainda, eleito vice-Presidente da Direção da Bancada Parlamentar do PS.

 

 

Entre 1998 e 2005 foi vereador sem pelouro na Câmara Municipal de Baião.

É presidente da Federação Distrital do Partido Socialista do Porto desde 2012.

 

 

É docente universitário, com funções suspensas, na Universidade Lusíada e no Instituto de Ciências da Informação e Administração (Aveiro). Tem trabalhos publicados nas áreas da ciência política e relações internacionais, e no âmbito dos poderes locais e regionais.

 

 

JM//VR//CMM//The Portugal Times//26 de Novembro de 2016

 

 

 

 

 

 

 

François Hollande avisa Trump que compromissos para reduzir aquecimento global são “irreversíveis”

Donald Trump declarou diversas vezes durante a campanha considerar o aquecimento global “um embuste” e prometeu cancelar o acordo climático de Paris, destinado a fixar o aquecimento global em dois graus Celsius acima dos níveis da era pré-industrial.

 

 

Um dia depois de a Cimeira do Clima das Nações Unidas ter terminado, em Marraquexe, Marrocos, Hollande avisou o empresário de que não tem outra escolha a não ser respeitar os compromissos assumidos pelo seu antecessor na presidência dos Estados Unidos, Barack Obama.

 

 

“Este acordo de Paris é irreversível, ninguém pode abandoná-lo”, afirmou hoje Hollande num discurso no sudoeste de França, citado pela agência France Presse.

 

 

“E mesmo que ele se sinta tentado, haverá forças, entre estas a democracia norte-americana, que irão assegurar que tal é respeitado”, disse.

 

 

O Acordo de Paris, que entrou em vigor a 04 de novembro, pretende reduzir as emissões de gases com efeito de estufa responsáveis pelas alterações do clima, que podem provocar fenómenos extremos, como ondas de calor ou picos de chuva.

 

 

Mundo está empenhado em cumprir Acordo de Paris sobre Clima com ou sem EUA

 

 

O enviado norte-americano à cimeira da ONU sobre o clima declarou hoje que a China e outros países continuarão empenhados em cumprir o Acordo de Paris sobre alterações climáticas, independentemente do que o Governo Trump decidir fazer.

 

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Jonathan Pershing disse à imprensa, à margem da cimeira, a decorrer na cidade marroquina de Marraquexe, que não sabe qual será “a visão” do Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em matéria de política climática, mas que o seu interlocutor chinês na cimeira, Xie Zhenhua, lhe disse que a China “pretende avançar”.

 

 

“Estou a ouvir a mesma coisa dos europeus, dos brasileiros, do México e do Canadá, e de países mais pequenos, como a Costa Rica, e da Colômbia”, frisou Pershing.

 

 

Estados apelam para “compromisso político máximo” contra aquecimento global

 

 

Os Estados participantes na 22.ª conferência internacional da ONU sobre o clima (COP22) aprovaram hoje a “declaração de Marraquexe”, em que apelam para “o compromisso político máximo” contra o aquecimento global.

 

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Este apelo da comunidade internacional surge na véspera do encerramento de uma cimeira marcada pela eleição como Presidente dos Estados Unidos, a 8 de novembro, do magnata do imobiliário republicano Donald Trump, que declarou diversas vezes durante a campanha considerar o aquecimento global “um embuste”.

 

 

“Nós, chefes de Estado, de Governo, e delegações reunidos em Marraquexe, em solo africano (…) apelamos para o compromisso político máximo para combater as alterações climáticas, uma prioridade urgente”, lê-se na declaração, considerada uma proclamação pelo clima e pelo desenvolvimento sustentável.

 

 

“Apelamos para aumentarem urgentemente a determinação e para reforçarem a nossa cooperação para colmatar o fosso entre as atuais trajetórias das emissões de gases com efeito de estufa (fontes do aquecimento) e o caminho que é necessário tomar para cumprir os objetivos de temperatura definidos no acordo de Paris”, no final de 2015, acrescenta o texto.

 

 

Os Estados “saúdam o acordo de Paris, a sua rápida entrada em vigor” e “afirmam [a sua] adesão à respetiva aplicação plena e total”, vinca o documento.

 

 

A dinâmica em favor do combate contra o aquecimento global, constatada ao longo deste ano, “é irreversível: ela não é alimentada apenas pelos Governos, mas pela ciência, as empresas e as ações mundiais a todos os níveis”, sublinharam os Estados participantes.

 

 

“O nosso papel agora é beneficiar rapidamente dessa dinâmica”, acrescentaram.

 

 

O texto apela também para maiores financiamentos para apoiar as medidas contra o aquecimento do planeta Terra.

 

 

“Nós, países desenvolvidos, reafirmamos o nosso objetivo de mobilizar 100 mil milhões de dólares” por ano para os países em desenvolvimento até 2020, refere a declaração, retomando uma promessa feita em 2009, na conferência de Copenhaga sobre o clima e reafirmada na Cimeira de Paris.

 

 

 

Grandes empresas pedem a Trump para não desistir do acordo de Paris

 

 

Mais de 360 empresas, maioritariamente norte-americanas, incluindo Gap, Hewlett Packard, Kellog, Hilton ou Nike, escreveram uma carta ao Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para respeitar o acordo sobre o clima aprovado em 2015.

 

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“Nós, membros da comunidade empresarial e investidores nos Estados Unidos, reafirmamos o nosso firme compromisso de responder às alterações climáticas com a aplicação do histórico acordo de Paris”, referem no apelo público divulgado à margem da conferência do clima promovida pela ONU em Marraquexe.

 

 

“Apelamos aos eleitos norte-americanos para apoiarem firmemente a continuação das políticas (de redução de emissões de gases com efeitos de estufa) para permitir aos Estados Unidos cumprirem os seus compromissos” nesta matéria, diz o texto também dirigido aos parlamentares norte-americanos.

 

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Os signatários pedem que a economia norte-americana seja eficiente no plano energético e baseada numa energia baixa em carbono e com “soluções inovadoras”.

 

 

“Mantemos o compromisso de fazer a nossa parte para cumprir o objetivo de Paris para uma economia mundial que mantenha o aquecimento global abaixo dos 2°C”, afirmam as empresas signatárias, onde figuram também a General Mills, Levi Strauss, L’Oréal USA, Schneider Electric e Unilever.

 

 

TPT com: Reuters//AFP//The New York Times// Washington Post//Observador// 20 de Novembro de 2016

 

 

 

 

Pentágono fez questão de pedir o afastamento do chefe da NSA considerado por Trump para mandar nas secretas

Os líderes do Pentágono e da comunidade de inteligência dos Estados Unidos recomendaram ao presidente Barack Obama que afastasse o diretor da National Security Agency (NSA), o admirante Michael Rogers, um nome que tem sido falado para assumir a coordenação de todas os serviços de inteligência na administração Trump, ou seja, para ser o czar das secretas.

 

 

A notícia está a ser avançada pela agência Reuters, citando fontes anónimas, que dizem que o secretário da Defesa Ash Carter e o diretor de inteligência nacional James Clapper, que manda em todas as agências de segurança dos EUA – da CIA ao FBI -, terão pedido pediram a Obama que afastasse Michael Rogers.

 

 

O motivo serão as alegadas falhas na gestão da NSA e na incapacidade de Michael Rogers de parar as brechas na segurança da NSA. A insatisfação terá chegado ao limite quando um Harold Martin, subcontratado pela NSA, foi detido ao tentar retirar informação da agência para a vender.

 

 

Michael Rogers foi nomeado para a NSA em 2014, precisamente para reparar estas falhas depois dos danos causados pelas revelações na sequência do caso Snowden. Mas Donald Trump chamou Rogers para o considerar para o posto de DNI, que lhe daria a supervisão das 17 agências de segurança.

 

 

 

“KKK is ok”, as frases racistas e as desculpas do próximo procurador-geral escolhido por Trump

 

 

 

O ministro da Justiça nomeado por Donald Trump ainda tem de ser aprovado pelo congresso. Em 1986 Jeff Sessions foi chumbado pelo Senado para ser juiz federal devido a posições racistas e xenófobas.

 

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O senador do Alabama Jeff Sessions prepara-se para ser o próximo procurador-geral da Administração Donald Trump, cargo equivalente ao de ministro da Justiça em Portugal. O advogado foi um apoiante do Presidente-eleito desde o primeiro minuto e é um dos maiores representantes da linha dura do discurso de Trump, nomeadamente no que diz respeito à política externa e de imigração. O nome aparece sempre associado a comentários racistas e xenófobos, estando longe de ser consensual. São muitas as polémicas que envolvem Jeff Sessions, sendo que algumas já remontam ao tempo em que, em 1986, foi nomeado juiz federal pelo então Presidente Ronald Reagan e acabou chumbado pelos republicanos devido, precisamente, a comentários racistas e favoráveis a movimentos como o Klu Klux Klan (KKK). Agora, a sua nomeação para o cargo dependerá também da aprovação pelo Congresso – de maioria republicana.

 

 

Conservador, anti-casamento homossexual, anti-legalização do comércio, anti-legalização do consumo de canábis, Sessions, 69 anos, tem sido uma das vozes mais ativas contra a imigração ilegal, um dos principais temas da campanha eleitoral de Trump, que prometeu expulsar os cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem em território norte-americano. Sessions representa o estado do Alabama no Senado (câmara alta do Congresso norte-americano) desde 1997 e assumiu protagonismo quando se opôs, durante as administrações de George W. Bush (republicano) e de Barack Obama (democrata), a vários projetos para a regularização de imigrantes ilegais.

 

 

Depois de, enquanto jovem procurador do estado do Alabama, na década de 80, ter sido rejeitado pelo Comité de Assuntos Judiciais norte-americano, que supervisiona o Departamento de Justiça e o FBI, para assumir o cargo de juiz federal, Jeff Sessions acabou por conseguir ser eleito pelo partido republicano para o Senado e acabou mesmo por tornar-se um membro daquele mesmo Comité dos Assuntos Judiciais. Para a história, contudo, ficam os seus sucessivos comentários racistas e xenófobos e as consequentes tentativas de retificação, transformação em “piada” ou alegações de esquecimento. Eis as principais polémicas daquele que deverá ser o próximo procurador-geral norte-americano:

 

 

 

O elogio ao Klu Klux Klan e a nomeação falhada para juiz

 

 

 

Enquanto servia como procurador do estado do Alabama, Jeff Sessions foi nomeado, em 1986, pelo Presidente Ronald Reagon para o cargo de juiz federal. Mas a sua nomeação acabaria rejeitada pelos senadores do Comité de Assuntos Judiciais (de maioria republicana) por causa das suas declarações racistas. Na altura, os oficiais do departamento de justiça foram chamados a testemunhar sobre as alegas visões racistas de Sessions e os testemunhos não lhe foram nada favoráveis.

 

 

Um dos testemunhos terá dito que, em audiências perante os senadores do Comité, Sessions referiu-se à Conferência da Liderança Cristã do Sul, que é uma organização não governamental focada nas questões que envolvem os direitos civis dos afro-americanos, ou à União Americana pelas Liberdades Civis, ou ainda à Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor como organizações “não americanas” e “de inspiração comunista” por “tentarem impingir direitos civis pela garganta das pessoas”.

 

 

 

À boleia disto, um dos procuradores federais de então, afro-americano, testemunhou para dizer que Jeff Sessions o tinha chamado “boy” e ter dito para “ter cuidado com o que diz aos colegas brancos”. Paralelamente, um outro oficial de justiça testemunhou a dizer que Sessions tinha elogiado o Klu Klux Klan, movimento reacionário e extremista norte-americano que defende a supremacia da raça branca e o antissemitismo: Sessions terá dito que sempre achou o Klu Klux Klan um movimento “ok”, aceitável, até ao dia em que descobriu que “fumavam erva”. Pior a emenda do que o soneto. Mas afinal “foi apenas uma piada”, diria depois.

 

 

O senador do Alabama viria a negar ter chamado “boy” ao advogado mas não negou nenhum dos restantes comentários. Quando questionado sobre as declarações que teria feito sobre a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, preferiu dizer que não se recordava ter dito que aquela associação “odiava pessoas brancas”, como lhe atribuíam. “Posso ter dito isso, ou algo parecido que tenha levado alguém a interpretar isso”, limitou-se a explicar, sublinhando que nunca disse que a União Americana pelas Liberdades Civis era “uma organização não-americana”.

 

 

“Eu disse apenas que eles tomam posições que são consideradas não-americanas. Magoam-se a si próprios, perdem a credibilidade. E muitas pessoas pensam que algumas dessas posições são tomadas contra os interesses dos EUA”, afirmou, referindo-se às políticas de liberalização da imigração.

 

 

Na altura, as desculpas não lhe serviram de nada e o nome não passou no crivo dos senadores e dos congressistas. Mas, de acordo com o New York Times, a história pode não se repetir: com uma experiência de 20 anos no Senado norte-americano, o republicano tem agora mais aliados para enfrentar a confirmação de que precisa caso seja mesmo nomeado pelo Presidente norte-americano para o cargo de procurador-geral. Além de que, atualmente goza de um estatuto especial por ter sido o primeiro senador a declarar o seu apoio à campanha presidencial de Donald Trump.

Enquanto procurador-geral Jeff Sessions terá a seu cargo a responsabilidade de defender os direitos civis.

 

 

General com posições radicais na luta contra o ISIS vai ser conselheiro de segurança de Trump

 

 

Michael Flynn, antigo líder do serviço de inteligência das forças armadas norte-americanas, deverá ser o novo conselheiro de segurança de Trump, pouco habituado a lidar com estratégias militares.

 

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Donald Trump deverá nomear como Conselheiro para a Segurança Nacional o General Michael Flynn, conhecido pelas suas posições muito críticas dos muçulmanos, de acordo com a imprensa norte-americana. Flynn, um antigo líder dos serviços de inteligência militares, é filiado no Partido Democrata, mas tem sido um dos principais conselheiros de Trump ao longo da campanha, no que toca a assuntos de segurança nacional. A nomeação para o cargo, atualmente ocupado pela democrata Susan Rice, chegou a estar praticamente garantida para Mike Rogers, que se demitiu na última terça-feira.

 

 

Apesar de o convite já ter sido confirmado pela equipa de Trump, ainda não se sabe se o militar o irá aceitar. O que se conhece, para já, são as posições controversas do general, que, tal como Trump, tem vindo a utilizar as redes sociais para divulgar mensagens polémicas. No Twitter, Flynn chegou a escrever que “o medo dos muçulmanos é racional”, e que a Sharia (lei islâmica) se estaria a espalhar cada vez mais pelos EUA. Segundo o The New York Times, os factos muitas vezes exagerados usados pelo general motivaram até a criação de um nome para o fenómeno, os Flynn facts [os factos de Flynn].

 

 

O mesmo jornal escreve que Flynn já tem usado da sua influência sobre Trump para convencer o futuro presidente de que os Estados Unidos estão em guerra com o extremismo islâmico, pelo que se devem aliar com todos os países que queiram colaborar, incluindo a Rússia. A confirmar-se a ida de Flynn para a Casa Branca como Conselheiro para a Segurança Nacional, o antigo líder das secretas militares terá acesso à documentação confidencial do presidente e será responsável por decidir muitas das ações de Trump — especialmente porque o republicano não tem nenhuma experiência na gestão de estratégia militar.

 

 

Tal como Trump, Flynn também levará para a Casa Branca alguns conflitos de interesses, especialmente com o Flynn Intel Group, uma consultora de serviços de inteligência criada pelo general, e que tem negócios pouco claros com países do Médio Oriente. Além disso, Flynn tem ainda relações pouco conhecidas com a Rússia, chegando a ser pago para participar num programa da televisão oficial do regime de Putin, a RT. Mais tarde, veio assegurar que não estava a ajudar na propaganda russa, imagem de que não se livrou.

 

 

Flynn deixou a liderança dos serviços secretos militares em 2014, e tem sido um forte crítico de Barack Obama e do Pentágono, discordando do atual presidente no que diz respeito, por exemplo, à luta contra o Estado Islâmico. O general acusa Obama de não assumir que o extremismo islâmico é o inimigo dos EUA, e de nem saber como o derrotar. Se Flynn aceitar o convite, é o terceiro nome a entrar na administração de Trump, depois de Steve Bannon ter sido escolhido para estratega e conselheiro sénior do executivo, e Reince Priebus ter sido nomeado chefe de gabinete da Casa Branca.

 

 

 

Trump convida Mike Pompeo, membro do Tea Party, para dirigir a CIA

 

 

 

Donald Trump já convidou o republicano Mike Pompeo para diretor da CIA, uma das mais importantes agências de informação e segurança dos Estados Unidos. A informação está a ser avançada pelo Washington Post que cita fontes próximas da equipa de transição. De acordo com as mesmas fontes, Pompeu aceitou o cargo onde irá suceder a James Clapper que apresentou na quinta-feira a sua carta de demissão.

 

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Pompeo, de 52 anos, foi eleito para o congresso pelo estado do Kansas e está associado ao Tea Party, um movimento conservador dentro do Partido Republicano. A sua entrada para o congresso em 2010 representou a primeira leva de legisladores oriundos do Tea Party. Formado na academia militar de West Point e na Universidade de Direito de Harvard, é membro da comissão do congresso sobre serviços de informação. Foi nesta qualidade que participou na investigação aos incidentes que mataram vários americanos, incluindo o embaixador, em Benghazi, durante a revolta na Líbia em 2012. Este episódio marcou de forma negativa o mandato de Hillary Clinton como secretária de Estado de Obama.

 

 

O republicano foi um dos grandes atacantes de Hillary e é um aliado próximo do vice-presidente eleito, Mike Pence.

 

 

Apesar de ter sido escolhido para um dos cargos mais poderosos futura administração de Donald Trump, Pompeu começou por ser apoiante de Marco Rubio, o senador que disputou as primárias com o milionário. Em maio, o seu porta-voz tornou público um apoio pouco entusiasta ao candidato nomeado pelo Partido Republicano com o argumento de que Hillary Clinton não podia tornar-se presidente dos Estados Unidos.

 

 

Segundo avançam vários órgãos de informação americanos, Donald Trump terá ainda convidado o senador do Alabama, Jeff Sessions, para a pasta da Justiça (attorney general) da sua administração. O advogado foi um dos primeiros apoiantes de Trump e é um dos representantes da linha dura sobretudo em temas sensíveis da campanha, como o controlo da imigração e o comércio internacional.

 

 

De acordo com a Bloomberg, Trump terá telefonado ao senador Ted Cruz, o seu principal opositor nas primárias do Partido Republicano, a comunicar-lhe a escolha de Sessions para o cargo de procurador. Cruz terá chegado a ser considerado para esta posição.

 

 

 

Trump reúne-se com Romney em processo de escolhas para área da Segurança

 

 

 

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, encontrou-se este sábado com Mitt Romney, um dos seus principais críticos dentro do Partido Republicano e uma hipótese longínqua de ser escolhido para secretário de Estado.

 

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O senador Jeff Sessions, uma das vozes mais proeminentes contra a imigração e apoiante de Trump desde a primeira hora, foi nomeado Procurador-geral na passada sexta-feira num sinal de que Trump se prepara para seguir em frente com a linha dura contra a imigração assumida durante a campanha.

 

 

Para dirigir a CIA, Trump sugeriu o nome de Mike Pompeo, um dos “falcões” republicanos do Congresso, opositor estridente ao programa nuclear iraniano assinado pela Administração Obama e crítico destacado de Hillary Clinton durante as audições da líder democrata no seguimento do ataque à missão norte-americana em Bengasi, na Líbia, em 2012.

 

 

Michael Flynn, ex-diretor do Departamento Nacional de Informações Militares, assessor de Trump para as questões de defesa durante a campanha para a Casa Branca, será o seu conselheiro para a segurança nacional.

 

 

Horas depois do anúncio destas escolhas, o procurador-geral de Nova Iorque anunciou que Donald Trump vai pagar 25 milhões de dólares para encerrar três processos judiciais contra uma escola que criou para investidores no imobiliário.

 

 

As queixas sugeriam a existência de fraude, alegando que a qualidade da formação em investimento imobiliário disponibilizada pela dita Universidade Trump ficou sempre muito aquém do prometido. O processo perseguiu o candidato durante meses ao longo da sua campanha e o acordo agora anunciado evita a Trump embaraços futuros na escolha da sua administração.

 

 

Se as suas escolhas mostram que está trazer para a próxima administração várias figuras saídas da ala mais conservadora do Partido Republicano, Trump tem feito alguns esforços para transmitir à comunidade internacional e dar alguns sinais de estabilidade e de manutenção do papel dos Estados Unidos no mundo.

 

 

Alguns aliados têm-se mostrado inquietos sobre a intenção de Trump se manter fiel aos acordos de segurança e de livre comércio assinados pelos Estados Unidos durante a atual administração.

 

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Romney — um republicano moderado, derrotado em 2012 na corrida à Casa Branca — é uma hipótese remota para a pasta de secretário de Estado, a par do antigo mayor de Nova Iorque, Rudy Giuliani.

 

 

Se escolhido, porém, Romney trará para a Casa Branca uma visão republicana da política externa norte-americana consideravelmente mais ortodoxa do que a defendida por Trump ao longo da campanha. Por exemplo, em 2012, Romney elegeu a Rússia como uma ameaça geopolítica de topo, num claro contraste com “namoro” entre Trump e Putin ao longo da campanha deste ano.

 

 

Não é, no entanto, evidente que possa vir a ser anunciada esta escolha. Muitos apoiantes de Trump não esquecem que Romney considerou o próximo Presidente como uma “fraude”, nomeadamente ao prometer banir a entrada nos Estados Unidos a todos os muçulmanos estrangeiros.

 

 

Vice-presidente eleito dos EUA vaiado em teatro nova-iorquino

 

 

Não foi uma noite típica no teatro, sobretudo para Mike Pence, escolhido por Donald Trump para ser o vice-presidente da nova administração norte-americana.

 

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Em vez de uma ovação em pé — particularmente habitual em musicais da Broadway –, Pence foi vaiado pelo público e teve direito a uma declaração dirigida a si, lida por um dos atores. O episódio aconteceu esta sexta-feira à noite, quando o republicano se deslocou ao Richard Rogers Theatre, em Nova Iorque, para ver a peça “Hamilton“. Entretanto, Trump já reagiu no Twitter e exigiu um pedido de desculpas da equipa de “Hamilton” para Mike Pence.

 

 

“Nós, senhor, nós somos a América diversificada que está alarmada e ansiosa [com a possibilidade] de que a nova administração não nos proteja, ao nosso planeta, às nossas crianças, aos nossos pais”, declamou o ator Brandon Dixon, rodeado pelo resto do elenco, no final no espetáculo. A mensagem foi dirigida a Pence, de tal forma que o ator pediu-lhe uns minutos da sua atenção quando o vice-presidente eleito já se preparava para abandonar o teatro: “Desejamos que este espetáculo o inspire a defender os valores americanos e a trabalhar em nome de todos nós. De todos nós”, continuou.

 

 

Antes desta intervenção, registada em vídeo pelos muitos smartphonesdos presentes, Mike Pence foi vaiado quando entrou no teatro à procura do seu lugar. Foi só no final da peça que o mesmo ator chamou a atenção do restante público: “Não há aqui nada para vaiar”, disse.

 

 

No Twitter, Donald Trump afirmou que Mike Pence tinha sido assediado: “O nosso maravilhoso futuro vice-presidente foi assediado ontem à noite no teatro pelo elenco de ‘Hamilton’, com as câmaras a disparar. Isto não devia de acontecer! O teatro tem de ser sempre um sítio seguro e especial. O elenco de ‘Hamilton’ foi muito rude ontem à noite para um homem muito bom, Mike Pence. Peçam desculpa!”.

 

 

De referir que a peça “Hamilton” conta a história de Alexander Hamilton, imigrante e um dos “pais fundadores” dos Estados Unidos, sendo que o musical é composto por um elenco propositadamente diversificado, com homens e mulheres de todas as cores, crenças e orientações sexuais.

 

 

 

TPT com: Reuters// Aaron P. Bernstein// AFP// New York Times// Washington Post//Nuno André Martins//Rita Dinis//Observador// 20 de Novembro de 2016

 

 

 

 

 

Chineses compram “patente” de Miss América e noite da passagem de ano em Nova Iorque

O Wanda Group, a empresa de Wang Jianlin, o homem mais rico da China, e uma das maiores e mais importantes no país e cada vez mais em todo o mundo, comprou a norte-americana Dick Clark Productions, empresa produtora dos Globos de Ouro, dos concursos Miss América e ainda da festa da passagem de ano na Times Square, em Nova Iorque.

 

 

O negócio foi fechado por mil milhões de dólares (pouco mais de 900 milhões de euros), mas é o mais pequeno que o grupo chinês fez nos EUA, na área do cinema e televisão, nos últimos cinco anos. Em 2012, comprou a AMC Theatres, uma das maiores proprietárias de salas de cinema do país por 2500 milhões de dólares (2200 milhões de euros ao câmbio atual) e em janeiro deste ano gastou mais 3500 milhões de dólares (3100 milhões de euros) a comprar a Legendary Entertainment, uma produtora de cinema que, em parceria com a Warner, foi responsável pelos filmes mais recentes da saga “Batman” ou ainda a trilogia da “Ressaca”.

 

 

Com esta nova aquisição, o Wanda Group reforça ainda mais a sua presença na indústria do entertenimento nos EUA, o que tem vindo a levantar algumas questões no país, com receio de que limite a liberdade criativa ou que estes meios sejam usados para divulgar propaganda chinesa, noticia a Associated Press. Aliás, um grupo de legisladores terá mesmo pedido ao governo norte-americano para rever todas estas aquisições por parte do Wanda Group e ainda de outras empresas chinesas em Hollywood.

 

 

De 2000 a 2015, o investimento direto da China na indústria do entertenimento dos EUA ascendeu a 4000 milhões de dólares (3699 milhões de euros), de acordo com o Rhodium Group, citado pela Associated Press. Mas logo em janeiro de 2016, com a compra da Legendary pelo Wanda Group pelos já referidos 3500 milhões de euros, esse montante quase duplicou.

 

 

Apesar dos receios de algumas autoridades norte-americanas, tal como nas aquisições anteriores o Wanda Group fez questão de garantir, em comunicado, que iria manter a gestão da empresa tal como estava e que queria crescer e até estabelecer parcerias e sinergias com as outras empresas que comprou, não só de cinema e televisão mas também de turismo e desporto.

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É que o Wanda Group não está focado apenas em salas de cinema e produtoras de filmes e de televisão. Na China, esse é agora um dos seus principais negócios, mas tudo começou no imobiliário, nomeadamente centros comerciais e escritórios. Mas quando o imobiliário começou a perder força no país, o Wanda Group decidiu diversificar e escolheu o resto do mundo para o fazer. Comprou a maior proprietária de salas de cinema da Austrália (Hoyts), comprou hotéis, a Sunseeker International, a fabricante britânica de iates de luxo (os que são usados nos filmes do James Bond) e investiu muito em desporto.

 

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Em janeiro de 2015, comprou 20% do Atlético de Madrid e no mês seguinte adquiriu a Infront Sports & Media, uma distribuidora de direitos televisivos de alguns dos maiores eventos desportivos do mundo e que detém, entre outros, os direitos de transmissão de todos os eventos da FIFA entre 2015 e 2022, incluindo os Campeonatos do Mundo de futebol de 2018 e 2022.

 

 

Não é por isso de admirar que o “Financial Times” tenha considerado o Wanda Group como uma das empresas chinesas mais agressivas na sua estratégia de internacionanalização.

 

 

TPT com: AFP//Michael Loccisano//Reuters//Ana Baptista//Expresso//Observador// Associated Press// 5 de Novembro de 2016