É entre o verde de diferentes tonalidades da floresta e o azul do mar, também com tons distintos, que se faz uma paisagem inesquecível de tão opulenta que é.
Este destino tem praias paradisíacas, cascatas imponentes, florestas virgens e vive num ritmo leve leve que contagia quem visita a ilha.
Quando penso em São Tomé e Príncipe, o primeiro pensamento que me vem à cabeça é que é o país, em estado natural, mais bonito que conheço e este é já um namoro antigo. A floresta densa de um verde opulento, as praias paradisíacas pintadas pelo quente mar em diferentes tons de azul, as cascatas no meio do nada e a fruta suculenta que nasce em qualquer canto arrebataram-me.
Mas nesta terra em que tudo parece ter mão divina, encontrei também um povo hospitaleiro, de sorriso e conversa fácil que acentua ainda mais a beleza natural do país, preservada pela ausência de turismo de massas, apesar da CNN o ter considerado recentemente um dos locais a visitar durante os próximos meses. São Tomé e Príncipe é um arquipélago de origem vulcânica, situado no Golfo da Guiné ao largo da costa do Gabão, no Oceano Atlântico, constituído por duas ilhas principais, São Tomé e o Príncipe.
A essas, juntam-se pequenas ilhotas. A seguir às Seicheles, é o país mais pequeno de África, por isso não é de admirar que a ilha principal tenha apenas 65 quilómetros de comprimento e 35 quilómetros de largura. Talvez seja a sua pequena dimensão que o torna tão especial, porque o que lhe falta em tamanho, sobra-lhe na diversidade de paisagem, aquela que capta a minha atenção mesmo antes de aterrar em solo são tomense, que visto do alto é uma impactante e densa mancha verde.
Mergulhos acrobáticos para um mar sublime
A cidade de São Tomé é muito segura e pequena o suficiente para ser percorrida a pé. Um dos seus pontos de interesse é a Baía Ana Chaves, que separa a cidade do mar e que muitos escolhem para descansar e observar os jovens a aventurarem-se em mergulhos acrobáticos para o mar. A Praça da Independência, o Palácio Presidencial, a Igreja de Santa Sé e o Forte de São Sebastião são exemplos da arquitectura colonial que ainda caracteriza a pacata cidade. O último alberga o museu nacional, que conta a história do país.
Este é liderado pelas estátuas dos navegadores lusos, João Santarém, Pêro Escobar e João Paiva, que descobriram o arquipélago no século XV. No museu, não falta sequer uma réplica de uma roça, as infraestruturas construídas pelos portugueses para o cultivo do cacau e do café, o ouro de São Tomé. Hoje, muitas dessas propriedades estão abandonadas, mas outras foram recuperadas e merecem ser visitadas. Um bom exemplo disso é a Roça Agostinho Neto, a maior do país e que ainda produz café, cacau e óleo de palma.
Mas, voltando à cidade, há outros lugares marcantes, como o Mercado do Ponto e o Mercado Grande. É nestes dois lugares que melhor se sente África por estas paragens. São uma autêntica explosão de cheiros, cores e sons que vêm da afamada fruta, das malaguetas (existe aqui uma das mais picantes do mundo a que se chama fura-cueca), dos panos garridos e dos pregões dos vendedores. Continuando, à procura do que é autêntico, descubro a CACAU, as siglas da Casa das Artes Criação Ambiente Utopias de João Carlos Silva, o famoso cozinheiro do programa televisivo «Na Roça com os Tachos», onde é possível assistir a peças de teatro, concertos e ciclos de cinema, bem como ver exposições de arte contemporânea e, claro, provar a sua comida.
O que pode ver mais a sul
Da capital parto à descoberta do resto da ilha (é possível fazê-lo alugando um jipe ou contratando um guia), primeiro para sul, depois para norte, por estradas estreitas e esburacadas (na verdade, em São Tomé só existem duas estradas, uma para sul e outra para norte, o que deixa muita área da ilha intacta), pelas quais se avistam aldeias com casas de madeira construídas sobre estacas para que a água corra livremente por baixo das habitações. As crianças brincam à beira das estradas e correm atrás de cada carro que passa a pedir doces.
As mulheres lavam calmamente a roupa (esburacada de tanto uso) nos riachos e estendem- na à beira da estrada, num colorido que me fica na memória visual. Os animais passeiam-se descansadamente. Ouve-se música que sai das casas.
Aqui não há quem não siga o lema do leve leve, não há pressas para nada e é neste ritmo lento que uma viagem a São Tomé deve ser feita. O sul é a parte da ilha mais selvagem. Em muitos locais o verde da paisagem é denso e a vegetação só é cortada pelo Pico Cão Grande.
Esse é o nome do cume vulcânico que parece querer tocar no céu em pleno Parque Nacional do Ôbo e contrasta com o azul das praias de beleza avassaladora, como a de Micondó, a da Piscina (assim chamada porque as rochas negras formam piscinas naturais), a das Sete Ondas, a de Jalé (conhecida pela desova das tartarugas nas noites de dezembro) e a de Inhame.
Qualquer uma delas vale bem a pena o desvio da estrada. Se não fizer, está a perder metade do encanto do arquipélago.
A pujança do oceano num ponto de passagem obrigatório
Outro ponto de paragem obrigatório é a Boca do Inferno, onde o Oceano Atlântico mostra toda a sua pujança ao embater nas rochas, contrastando com a calma que demonstra na maior parte das praias e que convida a banhos também eles demorados.
Já em São João dos Angolares, as atenções viram-se para a Roça de São João.
Mesmo quem não fica por lá a pernoitar, tem de ir experimentar as iguarias. O proprietário é o já citado João Carlos Silva e a sua criativa gastronomia é por si só um chamariz, uma vez que ele próprio cozinha para os convidados.
Mas, quando descobrir a vista do alpendre ficará simplesmente rendido. Pelo menos, comigo foi assim. Um vale verde é recortado pela praia e pode-se passar ali horas na tal cadência leve leve. Além da Casa Grande, na qual se situa o restaurante e a pousada, o antigo hospital é uma oficina de artes, ou seja, nesta roça reúne-se gastronomia, cultura e agricultura.
Por aqui pode-se aprender muito sobre os usos e costumes da ilha. Ainda na parte sul, situa-se o Ilhéu das Rolas, um dos locais que mais turistas atrai em São Tomé.
Está à distância de uma viagem de barco de 15 minutos de Porto Baleia e quando lá se chega entra-se num resort, situado às portas da pequena aldeia do ilhéu. Esta proximidade faz com que seja comum ver-se as crianças a brincarem alegremente perto do cais, onde também existe uma pequena capela. Os dias podem ser serenamente divididos entre idas à praia privada e mergulhos na enorme piscina do hotel. Mas aconselho a descobrir este pedaço de terra, onde passa a linha imaginária do Equador assinalada devidamente por um marco e por um mapa-mundo.
As belezas que pode descobrir na linha do Equador
Basta dar um passo para entrar no hemisfério norte e outro para pisar o hemisfério sul . Não deixe de tirar a fotografia da praxe com um pé em cada hemisfério. A paisagem, essa, mantém-se inalterada.
Por aqui, não há nada que diferencie estes dois lados do mundo. Além desta brincadeira entre o norte e o sul, a vista também é deslumbrante. Mas por falar em vista, recomendo também a subida ao farol e dar a volta à ilha para descobrir mais umas quantas praias fascinantes e quase sempre vazias.
Fixe os nomes delas. Tambor, Furnas e Café! E é nesta que vejo uma criança a sair do mar com um pau a fazer de cana de pesca bem recheado de peixe. Esta é uma das magias de São Tomé, terra de natureza generosa que dá o que comer a uma população muito pobre mas serenamente feliz. Para o fim, deixei o batismo de mergulho, que aconselho a toda a gente. Por estas paragens a água é quente e o fundo do mar tem tanta cor e vida, oferecidas pela rica flora e pelos inúmeros peixes que ali vivem, que transforma um simples mergulho numa experiência de vida.
Outro espetáculo proporcionado pela natureza no Ilhéu é o pôr do sol. Sentada na praia do Hotel Pestana Equador, observei o céu a ser pincelado em tons de laranja e rosa, cores que são destituídas pelo negro da noite, que vai adquirindo o tom prateado das estrelas, impossíveis de contar por serem tantas. É impossível não nos deixarmos deslumbrar com um momento de intensa beleza como este, que muitos turistas se vão esforçando por imortalizar com as suas máquinas digitais.
Floresta densa para um cenário perfeito
Está na hora de rumar a norte e ao interior da ilha, a zona de floresta cerrada e o paraíso das caminhadas no Parque Nacional de Ôbo, onde se situa o ponto mais alto da ilha, o Pico de São Tomé, com uma altura de 2.024 metros.
É possível subi-lo em excursão, embora se tenha de ter alguma preparação física, já que são necessários dois dias de caminhada com pernoita no caminho. Esta subida é feita sobretudo durante a estação seca, porque na altura das chuvas é quase impossível lá chegar.
Mas este é só um dos trilhos que podem ser seguidos, há outros como o que leva à Lagoa Amélia, o lugar onde antigamente existia o vulcão que, dizem, deu origem à ilha. O parque cobre quase 60% do território de São Tomé e nele pode-se ver desfilar o colorido das muitas das 150 espécies de aves que vivem no arquipélago (28 das quais são endémicas) e da sua flora intensa. Existem lá mais de 700 espécies nativas, entre as quais 100 só de orquídeas.
O Parque tem várias cascatas, mas é fora dele que se encontra uma das mais deslumbrantes, a de São Nicolau, que se anuncia pelo barulho muito antes da chegada. Depois desta incursão pelo interior, voltei à costa para conhecer as praias do norte.
Dizem que são menos bonitas que as do sul, mas tenho dificuldade em afirmá-lo. São diferentes mas igualmente deslumbrantes. A Lagoa Azul, circundada por embondeiros, é o local ideal para a prática de snorkling, mas há mais, como a das Conchas e do Tamarindo, esta com um extenso areal branco e coqueiros na sua orla. Para outras núpcias ficará a outra ilha do arquipélago, o Príncipe, que dizem ser ainda mais bela e pura e, se assim for, então em terra esculpida por deuses parece que a realeza tem ainda mais força que os santos.
A gastronomia local que importa saborear
Em mar onde se mete a mão e sai peixe, como costumam dizer os são-tomenses, não é de estranhar que o pescado e os mariscos sejam a base da alimentação, tal como a fruta que nasce em qualquer terreno.
Só de banana há sete variedades distintas, mas há também a fruta-pão, cajamanga, ananás, coco, carambola e papaia. A gastronomia do país tem uma forte influência angolana, cabo-verdiana e portuguesa, pois foram estas as nacionalidades que povoaram o território.
O prato típico é o calulu, um ensopado de peixe seco (também pode ser feito com carne) com legumes e óleo de palma. Além dos restaurantes dos hotéis, deve experimentar o Celvas em Guadalupe, o Santola em Neves, a Roça de São João em Angolares e a Casa da Dona Tête, que serve refeições no seu quintal, além do Filomar, na cidade. Na fábrica de Claudio Corallo, um italiano radicado em São Tomé e Príncipe, pode provar o cacau puro, com 100% chocolate sem adição de açúcares ou outras substâncias, uma das matérias-primas do arquipélago.
Nas plantações Nova Moca e Terreiro Velho, Claudio Corallo, que também tem uma loja especializada em Lisboa, localizada numa das ruas da zona do Príncipe Real, tem plantas de cacau que descendem das primeiras que chegaram ao arquipélago e diz que é esse o segredo para fazer o melhor chocolate do mundo. Se as visitar, aproveite para degustar o suculento fruto da planta de cacau. Se não tiver oportunidade de ir a São Tomé e Príncipe tão cedo, não deixe de dar lá um salto.
Guia de viagem
A Tap e a STP Airways voam de Lisboa para São Tomé a partir de 900 €. Existem duas estações, a seca e a das chuvas. A primeira decorre de junho a agosto e a segunda de setembro a maio. A temperatura média varia entre os 21º C e os 29º C e o ar é húmido. Qualquer altura é boa para visitar o país. No que se refere à saúde, é obrigatória a vacina da febre amarela e a profilaxia da malária. O ideal é marcar uma consulta do viajante. A moeda local é o dobra e um euro equivale a 24 dobras.
São Tomé e Princípe está longe do turismo de massas e, como tal, não tem uma grande oferta de alojamentos. No entanto, há alguma variedade de categorias.
Por isso, pode escolher entre hotéis de quatro e cinco estrelas, eco-lodges construídos a pensar na defesa da exuberante natureza do país e as roças, onde antigamente se trabalhava o cacau e o café. Estas são algumas das nossas sugestões:
– Hotel Pestana Equador
Situado no Ilhéu das Rolas, é um resort com bungalows de madeira que não ferem a paisagem envolvente. Tem uma enorme piscina de água salgada e um spa. Preços a partir de 118 € por noite com meia pensão.
– Hotel Pestana São Tomé
É um hotel moderno na cidade de São Tomé mesmo em frente ao mar. Possui spa, centro náutico, discoteca, casino, piscina e praia privada, entre outras facilidades. Preços a partir de 172 € por noite com pequeno-almoço.
– Hotel Praia Inhame
Este eco resort tem 16 bungalows de madeira e situa-se mesmo à beira do mar, na praia Inhame. Há oportunidade de fazer cursos de cozinha local, entre muitas outras atividades. Preços a partir de 60 € por noite com pequeno-almoço.
Texto: Rita Caetano
SABER VIVER – SAPO VIAGENS E TURISMO