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Breve história dos cardeais portugueses

Colégio cardinalício.

 

No fim de semana em que D. Manuel Clemente se torna cardeal, revisitamos alguns dos 43 cardeais portugueses desde o século XIII.

 
Manuel Clemente, de 66 anos, torna-se este sábado cardeal depois de ter sido um dos 15 escolhidos com capacidade eleitoral (com menos de 80 anos) pelo papa Francisco.

 
Sobre esta decisão, considerada importante pela Igreja portuguesa, o cardeal José Saraiva Martins disse à Agência Ecclesia que a cerimónia de sábado será um “momento histórico” para a Igreja Católica em Portugal. Também o cardeal D. Manuel Monteiro de Castro deu conta de uma “grande alegria” por acolher D. Manuel Clemente.

 
A partir deste sábado, Portugal estará representado neste órgão da Santa Sé por três cardeais, sendo que apenas dois (a partir deste sábado, Manuel Clemente, e Monteiro de Castro) têm direito de voto na escolha do líder da Igreja Católica.

 
Na sua história, o país teve, até hoje e contando com a eleição de D. Manuel Clemente, 43 cardeais. É tradição que o patriarca de Lisboa seja indicado para um lugar de cardeal desde que o papa Clemente XII emitiu, em 1737, uma bula que assim o estabelecia.

 

Habitualmente, os patriarcas de Lisboa são feitos cardeais no primeiro consistório após a tomada de posse como líderes da diocese. No momento do primeiro consistório de Manuel Clemente, o patriarca José Policarpo era ainda vivo. Essa é uma das razões apontadas para Manuel Clemente não ter constado da lista de 19 cardeais que o papa Francisco apresentou há um ano, em janeiro de 2014.

 
Para lhe contar a história portuguesa no Vaticano, selecionámos alguns dos 43 cardeais portugueses e apresentamos-lhe um breve perfil destes. Na fotogaleria pode consultar gravuras, fotografias e o nome destes 32 cardeais.

 
Manuel Clemente

 
Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu em Torres Vedras em julho de 1948. Licenciou-se em História na Universidade de Lisboa, tendo ingressado, em 1973, no Seminário Maior dos Olivais em 1973. Licenciou-se em Teologia seis anos depois, pela Universidade Católica. Em 1992 completou o doutoramento em Teologia Histórica em 1992. Foi ordenado sacerdote em 1979 e nomeado bispo titular de Pinhel, auxiliar do Patriarcado de Lisboa e bispo do Porto.

 
Atualmente, é presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e membro do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Com diversos livros e estudos publicados sobre História e Teologia, foi “Prémio Pessoa 2009”.

 
José Policarpo

 
José da Cruz Policarpo nasceu nas Caldas da Rainha a 26 de fevereiro de 1936. Licenciou-se em Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Cristo-Rei, dos Olivais.

 
Depois da morte do cardeal-patriarca D. António Ribeiro, D. José da Cruz Policarpo sucedeu como 16º patriarca de Lisboa em 24 de março de 1998. Até 2001 foi referido como D. José IV, patriarca de Lisboa. Nesse ano foi eleito cardeal, passando a ser cardeal-patriarca de Lisboa.

 
Em 2011 enviou uma carta ao Papa Bento XVI, renunciando ao patriarcado, uma vez que a 26 de fevereiro completaria 75 anos, idade limite para o exercício do cargo.

 
Manuel Monteiro de Castro

 
Nasceu em Guimarães a 29 de março de 1938.

 
Foi eleito Cardeal em 2012 e nomeado como do Colégio Cardinalício com o lugar de Penitenciário-Mor da Penitenciaria Apostólica. É membro da Congregação para a Causa dos Santos e do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes.

 
José Saraiva Martins

 
Nasceu na Guarda, a 6 de janeiro de 1932. Entrou no seminário das Termas de São Vicente em 1944. Licenciou-se em Teologia na Universidade Gregoriana em Roma. Foi nessa cidade – na Universidade de S. Tomás de Aquino – que depois concluiu o doutoramento. Foi ordenado bispo a 2 de julho de 1988, em Roma. A 21 de fevereiro de 2001 é feito Cardeal.

 
António Ribeiro

 
Nascido em Celorico de Basto em 1928, foi nomeado auxiliar do Arcebispo de Braga em 1967 e patriarca de Lisboa em 1971. Tornou-se cardeal no consistório de 5 de março de 1973, do Papa Paulo VI. Foi o cardeal-patriarca que acompanhou o 25 de abril, fazendo a transição entre a ditadura e a democracia.

 
Manuel Gonçalves Cerejeira

 
O cardeal cujo nome ficará para sempre associado à Concordata que o Governo de Salazar realizou com a Santa Sé, em 1940, nasceu em 1888, tendo-se tornado patriarca de Lisboa em 1929. No mesmo ano foi feito cardeal da Ordem dos Presbíteros. Criou a Universidade Católica.

 
António Mendes Belo

 
Nascido em 1842, António Mendes Belo assumiu a diocese do Algarve em 1884 e o patriarcado de Lisboa em 1907. Em 1911 foi expulso de Lisboa, na sequência da turbulência política e do anticlericalismo que se seguiu à implantação da República, em 1910. Exilou-se em Gouveia durante dois anos. Tornou-se cardeal em 1914, no mesmo Conclave em que foi eleito o Papa Bento XV.

 
Paulo de Carvalho e Mendonça

 
O irmão do Marquês de Pombal foi feito cardeal pelo Papa Clemente XIV em 29 de janeiro de 1770, mas faleceu antes de o anúncio da nomeação ter chegado a Lisboa.

 
Infante D. Afonso

 
O Infante era filho de D. Manuel I, que, quando o seu filho tinha apenas três anos, tentou fazê-lo cardeal, um cargo vedado a menores de 30 anos. Em 1525, no Papado de Leão X, o infante, com apenas 26 anos, foi feito cardeal.

 
Henrique

 
D. Henrique era filho do rei D. Manuel I. Nasceu em Lisboa em 1512 e 22 anos depois era eleito Arcebispo de Braga pelo Papa Clemente VII. Foi feito cardeal em 16 de dezembro de 1545. Ocupou o trono português em 1578, depois da morte de D. Sebastião. Tentando resolver o problema de sucessão, propôs anular os seus votos religiosos, de modo a casar com a rainha-mãe de França, assegurando assim descendência. Morreu dois anos depois, sem descendência. Para ocupar o seu lugar havia nomeado uma regência, mas Portugal acabaria por perder a independência.

 
Pedro Hispano

 
Pedro Hispano ou D. Pedro Julião é o único Papa português até agora. Nasceu em Lisboa em 1215 e foi uma figura importante da ciência, sendo apontado como filósofo, teólogo, médico e autor de obras científicas. Dante refere-se a ele na Divina Comédia. Na sua estadia em Roma, tratou o Papa Gregório X. Foi feito cardeal em 1274 e tornou-se Papa com o nome de João XXI entre 1276 e 1277.

 
Mestre Gil

 
Aquele que também aparece com o nome de Egídio foi o primeiro Cardeal português, eleito pelo Papa Urbano IV (1378 – 1389).

 

 

13/02/2015

Autor: Catarina Fernandes Martins

 

 

 

Ataque de corsários a navio com vinho do Porto cria tradição no Canadá

Um ataque de corsários no século XVII a um barco com Vinho do Porto terá criado um novo circuito de distribuição da produção nacional utilizando o Canadá, disse à Lusa um historiador e investigador vinícola.

 
O navio fugiu de corsários franceses e, depois de o vinho ter repousado no frio da Terra Nova, foi considerado de melhor qualidade no mercado britânico, explica António Magalhães.

 
“No ano de 1679, um navio pertencente à família Newman, proveniente do Porto, carregado de vinho, dirigia-se para Inglaterra, mas ao chegar ao golfo da Biscaia, foi atacado por corsários franceses que o obrigaram a rumar para oeste”, salienta o responsável pela produção de uvas da Fladgate Partership, empresa que adquiriu em 2007 a Quinta da Eira Velha à família inglesa Newman.

 
“Por causa dos ventos já não foi possível voltar para trás. Como era um navio dos Newman, seguiu em direção da Terra Nova, onde eles tinham armazéns. Ficou lá todo o inverno, carregado de vinho. Na primavera seguinte, regressou a Inglaterra. Como foi considerado no mercado de inglês como um vinho melhor, passaram a fazer regularmente esse triângulo entre Portugal, Terra Nova, e Inglaterra”, conta.

 
Sempre que o vinho do porto recebia um estágio nas condições climáticas da Terra Nova, melhorava “incrivelmente”, e depois era exportado para Inglaterra.

 
No entanto, António Magalhães, diz que também há uma “versão menos fantástica do vinho do Porto estagiado na Terra Nova (Matured in Newfoundland), escrita por Edouard S. Gallop, no Ensaio “Vinho do Porto e Bacalhau” e que a Canadian Geographical Journal publicou em 1932.

 
“Em certa ocasião, um dos navios propriedade dos Hunt, Newman e Christopher carregou sal em Cádis (Espanha) e completou a carga com vinho no Porto (Portugal). O vinho foi descarregado em Darthmouth, Devon, mas, na pressa de partir, para aproveitar os ventos favoráveis ou para obter proteção da escolta, algumas pipas de vinho do Porto ficaram esquecidas, cobertas pelo sal, e só foram descobertas quando finalmente o navio atracou na Terra Nova”, frisou.

 
O vinho foi mandado de volta para Inglaterra no ano seguinte, mas, ao fim de duas viagens pelo Atlântico e um Inverno inteiro num clima mais frio, “melhorou tanto” que se tornou uma “prática comum” o envio de Vinho do Porto em tonéis para “estagiar na Terra Nova”.

 
Com o passar do tempo, os Newman, após 300 anos de troca de bacalhau e vinho do Porto, em 1907, desistiram do negócio do bacalhau, dedicando-se inteiramente ao setor vinícola.

 
Contudo, a exportação do vinho do Porto era um marco histórico para a região canadiana. Segundo dados revelados pelos responsáveis da empresa, a Terra Nova recebia em 1830 cerca de 140 pipas.

 
Em 2007, a propriedade da Quinta da Eira Velha, no Pinhão, com cerca de 50 hectares, foi adquirida pela Fladgate Partership, empresa familiar proprietária das de Vinho do Porto Taylor´s, Fonseca, Croft e Delaforce.

 
Atualmente, os “herdeiros” do património da família inglesa continua ainda a produzir o Newman Celebrated Port e o Vintage Port Quinta da Eira Velha, um “verdadeiro tributo à história que persegue”, afirma Magalhães.

 

 

Toronto , Canadá 27/01/2015
SEYM // PJA
Lusa/Fim

 

 

 

Encontrado caixão do escritor espanhol Miguel de Cervantes

Um caixão com as iniciais M. C., que podem ser as de Miguel de Cervantes, foi encontrado na cripta do convento das Trinitárias, em Madrid, local onde se procuravam, desde abril, os restos do autor de “D. Quixote de La Mancha”, que estavam extraviados naquele cenóbio feminino.

 

Encontrado caixão do escritor espanhol Miguel de Cervantes2

As iniciais MC são bem visíveis no que resta do caixão.
As iniciais, com cerca de uma polegada cada, são feitas com pregos e estavam numa das faces do caixão, descoberto no sábado, por volta do meio-dia, segundo noticia o diário espanhol “El País”.
Apesar de estar muito carcomido e com marcas de oxidação, o que resta do caixão permite aventar que se tratam dos restos mortais de Cervantes, que foi enterrado no convento das Trinitárias, a 23 de abril de 1616.

 

 

No entanto equipa de investigadores, liderada pelo perito forense Francisco Exeberria, não se atreve a assegurar de forma incontestável que os restos mortais pertencem ao autor de “D. Quixote”.

 
A descoberta causou “surpresa” e também “grande expectativa” na equipa, disseram à agência noticiosa EFE fontes próximas dos investigadores.

 
Os arqueólogos e os peritos forenses vão aprofundar agora os exames às ossadas encontradas, procurando detetar algumas lesões ósseas que caracterizavam Cervantes: uma atrofia do metacarpo da mão esquerda e marcas de balas de bacamarte, das feridas sofridas na batalha de Lepanto.

 
Há ainda outros indicadores que estão a ser estudados pelos peritos: os restos de fibras têxteis do sudário franciscano com que foi enterrado e a própria madeira do caixão, pois pode ser datada com grande grau de certeza.

 
Féretro com as iniciais M.C pode ter restos mortais do escritor

 

Um caixão com as iniciais do escritor espanhol Miguel de Cervantes foi encontrado na cripta do Convento das Trinitárias, em Madrid.

 

Segundo fontes da equipe de investigação, o féretro com as iniciais M.C pode conter os restos mortais do “pai da língua espanhola”.

 
As buscas pelo local exato de onde Cervantes está enterrado começaram em abril do ano passado. Durante este período, já foram analisados vários túmulos embaixo do terreno da Igreja madrilenha, onde registros apontam estar o corpo do criador de “Dom Quixote” desde 1616.

 

Para se certificar de que o caixão encontrado é do escritor, os restos mortais serão analisados.

 
Os peritos procuram por um corpo que tenha sido enterrado com cerca de 70 anos, com artrose na coluna vertebral, lesões no torso e no braço esquerdo e falta de dentes na boca.

 
O objetivo do projeto é encontrar o local do sepultamento de Cervantes até o ano que vem, quando será comemorado o aniversário de 450 anos da morte do escritor. (ANSA)

 

Encontrado caixão do escritor espanhol Miguel de Cervantes3

 
Encontrado caixão de escritor de “D. Quixote de La Mancha”

 

Foi descoberta, no sábado passado, na cripta do convento das Trinitárias, em Madrid, uma urna com as iniciais M.C., que podem ser as de Miguel Cervantes, autor de “D. Quixote de La Mancha”.

 

O que resta do caixão, apesar de estar muito desgastado e com marcas de oxidação sugere que se tratam dos restos mortais de Cervantes, que foi sepultado no convento das Trinitárias, a 23 de abril de 1616. As iniciais, com cerca de 2,5 cm cada, estão cravadas com pregos numa das faces do caixão.

 

O perito forense Francisco Exeberria, líder da equipa de investigação, não assegura que os restos mortais encontrados pertencem ao autor de “D. Quixote”, apesar de a descoberta ter causado uma grande expectativa na equipa que aguardam os exames dos peritos.

 

As ossadas encontradas na urna vão ser examinadas por arqueólogos e peritos forenses para se certificarem de que realmente pertencem a Miguel Cervantes. Um atrofio do metacarpo da mão esquerda e marcas de balas de espingarda, das feridas sofridas na batalha de Lepanto, são algumas das características procuradas que podem confirmar a identidade das ossadas.

 

Outros indicadores que estão a ser estudados pelos peritos são os restos de fibras têxteis do sudário franciscano com que foi enterrado e a própria madeira do caixão, pois pode ser datada com grande grau de certeza.

 

Foto: Município de Madrid/EPA
Foto retirada de: youtube.com

GAZETA DO ROSSIO

Fonte:  jn.pt

 

Cinco tesouros culturais e as tragédias que os destruiram

Hung-li, o sexto imperador da dinastia chinesa Qing

 
Quer tenha sido por força das circunstâncias ou pela ação do homem, são vários os tesouros culturais que foram destruídos e cuja existência chega mesmo a ser lendária.

 

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças alemãs foram responsáveis pela destruição de inúmeras obras de arte. Esta não foi, porém, a primeira vez que algo do género aconteceu. Ao longo dos séculos (e até milénios), foram vários os tesouros culturais que foram desaparecendo — uns por culpa do homem, outros por culpa das forças da natureza — e cuja existência chega mesmo a ser lendária.
A Listverse fez uma lista de dez tragédias que causaram a perda de importantes tesouros históricos, na qual incluiu a destruição dos códices maias e o terramoto em Lisboa de 1755. O Observador selecionou quatro e acrescentou ainda o incêndio da biblioteca de Alexandria, uma das maiores perdas culturais da antiguidade. Fique a conhecê-las:

 
A censura literária do imperador Hung-li

 
Hung-li foi o sexto imperador da dinastia Qing (1644-1912), a última dinastia imperial da China. Durante o seu governo, Hung-li levou estabeleceu uma inquisição literária, de modo a garantir que todos os livros que o criticavam a ele ou a sua família eram banidos. Apesar de a censura literária ter sido uma presença mais ou menos constante durante o império chinês, as medidas tomadas por Hung-li foram particularmente duras. Durante os 61 anos em que governou a china, Hung-li foi responsável pela destruição de milhares de livros e pela morte de dezenas de pessoas.

 
Um homem em particular, Wang Hsi-hou, foi acusado de ter escrito um texto que criticava o avô do imperador. Wang Hsi-hou foi condenado à morte e a sua família, os seus filhos e os seus avós, vendidos como escravos.

 
O incêndio do palácio de Lauso

 
Lauso era um eunuco e camareiro da corte de Teodósio II, imperador do império romano do oriente. Conhecido por adquirir uma grande coleção peças de arte, diz-se que o seu enorme palácio continha algumas das obras mais importantes do mundo antigo. De acordo com um historiador do século VI, Lauso tinha em sua posse a estátua da Afrodite de Cnido, uma das mais famosas criações do escultor ático Praxíteles, que ficou conhecida pela sua grande beleza.

 
Para além disso, o palácio de Lauco guardava uma das obras de arte mais lendárias da antiguidade — a estátua de 13 metros de Zeus que se encontrava em Olímpia, na Grécia, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas, infelizmente, as obras de Lauso perderam-se quando um grande incêndio destruiu o palácio..

 

 
A destruição da biblioteca de Alexandria

 
Fundada na cidade de Alexandria, capital do antigo Egito, a biblioteca de Alexandria é considerada uma das maiores e mais importantes bibliotecas do mundo antigo. Construída em honra das nove musas, patronas das artes, atingiu o seu apogeu durante a dinastia ptolemaica, a última dinastia de faraós do Egito. A biblioteca albergava alguns dos mais importantes textos da antiguidade, que incluíam manuscritos originais de autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípides, os três grandes dramaturgos gregos. A sua destruição no século III a.C. constitui uma das maiores perdas culturais de toda a antiguidade.
Vários autores, como Plutarco, referem que a biblioteca foi destruída por um grande incêndio, causado por Júlio César. Porém, é possível que o edifício tenha sido alvo de vários ataques, que progressivamente causaram a completa destruição da biblioteca.

 
A queima dos códices maias

 
Diego de Landa, um missionário espanhol do século XVI encarregado de levar a fé cristã ao povo maia, acreditava que a melhor forma de converter o povo sul-americano era através da destruição da sua própria cultura. Durante o tempo que passou na América do Sul, Landa foi responsável pela destruição de centenas de manuscritos, obras de arte e ícones religiosos. Para além disso, mandou queimar os códices maias, uma importante fonte de informação sobre as práticas e rituais do povo sul-americano, e dos quais apenas sobreviveram três.

 

 
O terramoto de Lisboa de 1755

 
Em novembro de 1755, a cidade de Lisboa foi atingida por um violento terramoto. Acompanhado por um maremoto e por um devastador incêndio que, de acordo com algumas fontes, lavrou durante dias, o terramoto provocou a destruição de grande parte da cidade. A zona da Baixa foi a mais atingida e especula-se que a maioria das igrejas e conventos tenham sido destruídos, como é o caso do convento do Carmo, do qual apenas sobraram algumas ruínas. Alguns dos edifícios mais importantes da cidade, como a câmara municipal e o palácio real, sofreram também com a força do terramoto.

 
O palácio do marquês de Louriçal foi também fortemente atingido. No seu interior, encontravam-se cerca de 18 mil livros e mil manuscritos, que incluíam importantes documentos históricos. Calcula-se que entre dez e trinta mil pessoas tenham perdido a vida como consequência do terramoto de 1755.

 

 

15/1/2015

 

Foto: Wikimedia Commons

Autor: Rita Cipriano

 

Livraria Lello é uma das mais “cool” do mundo para a Time

A Lello fica na Rua das Carmelitas, no Porto.

 

A revista Time escolheu as 15 livrarias mais “cool” do mundo e a portuense Lello & Irmão é a primeira da lista. Veja o top completo.

 

“Diz-se que J. K. Rowling se inspirou na Livraria Lello enquanto escrevia Harry Potter (e ensinava inglês) em Portugal. Não é preciso muito tempo para se perceber todo o potencial da Lello como musa inspiradora”. Assim começa o artigo em que a revista Time partilha com o mundo as 15 livrarias mais “cool” do globo terrestre, com a portuense Lello e Irmão no topo. Se por cada distinção a Lello ganhasse um galardão, seria precisa uma vitrina espaçosa.

 
Fundada em 1906, com a explosão de turistas que tem chegado ao Porto é frequente encontrar filas para entrar na livraria de aspecto neogótico. Mas a espera compensa. “Uma claraboia com um vitral põe no centro das atenções a escadaria da livraria, de um vermelho intenso, espetacular o suficiente para o forçar a uma paragem”, pode ler-se no artigo.

 

 

“A fachada neogótica desta livraria antiga não transparece a opulência interior: madeira talhada, colunas douradas, tetos ornamentados, e uma escada vermelha deslumbrante iluminada por um vitral. A livraria centenária apresenta mais de 100 mil títulos diferentes em várias línguas, incluindo traduções para inglês de talentos portugueses como Fernando Pessoa e José Saramago. Também vai encontrar revistas, CD’s, livros antigos, e uma grande variedade de publicações sobre o próprio Porto”.

 

 

Se por cada distinção a Lello ganhasse um galardão, seria precisa uma vitrina espaçosa. Em 2010, a livraria portuense foi eleita pelo guia Lonely Planet como a terceira mais bonita do mundo. Dois anos antes, o britânico Guardian tinha dado a mesma honra à livraria portuguesa. Mais recentemente, a secção de viagens da CNN também elegeu as livrarias mais “cool” do mundo e não esqueceu a Lello, mas descreveu-a como “a mais bela livraria do mundo”.

 

Eis o top completo da Time:

 
Livraria Lello e Irmão, Porto
Barter Books, Inglaterra
Powerhouse Arena, Brooklin
Cafebrería El Péndulo, Cidade do México
Shakespeare and Co., Paris
Books for Cooks, Melbourne
Bart’s Books, Ojai, Califórnia
Dominicanen Bookstore, Maastricht, Holanda
Book Lounge, Cidade do Cabo
El Ateneo Grand Splendid, Buenos Aires
The Last Bookstore, Los Angeles
Libreria Acqua Alta, Veneza
Librairie Avant-Garde, Nanjing, China
The Academic Bookstore, Helsínquia, Finlândia
Stanfords, Londres

 

 

21/03/2015
Foto:  ©Wikimedia Commons
Autor:  Sara Otto Coelho

 

 

 

A cultura não é um luxo nem uma despesa

Rivoli regressa em força ao mundo da cultura com nova programação já concebida por Tiago Guedes.

 

 

“Quando o Rivoli foi entregue a uma determinada companhia (La Féria), fui um dos que estive à porta do teatro em protesto”, disse Rui Moreira

 

 
No renovado palco do Teatro Municipal Rivoli, o novo diretor artístico, Tiago Guedes, apresentou hoje a programação até março e desde logo sobressai a vontade, pelas opções tomadas, de voltar a colocar o Rivoli no mapa dos grandes eventos culturais, com projeção nacional e internacional.

 
Pela primeira vez concebida na íntegra pela nova direção artística, a proposta do Rivoli abre-se a múltiplas artes, com destaque natural para a dança, mas com espaço para a performance,o teatro, o cinema, o pensamento, a música, a literatura, as exposições, workshops, marionetas, residências artísticas ou o novo circo.

 

 
É todo um mundo novo em relação ao que foram os anos de vida do teatro durante os mandatos de Rui Rio e é, sobretudo, o expressar de uma outra filosofia e um outro entendimento do papel da cultura nas sociedades contemporâneas. Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, presente nesta sessão de apresentação, resumiu bem a diferença de atitude em relação ao passado ao afirmar que “a cultura não é um luxo, nem uma despesa”. A cidade, como todas as cidades, tem muitos problemas sociais a que urge atender, mas, sublinhou o presidente da autarquia, “acreditamos que a cultura é um fator de desenvolvimento da cidade, cria emprego, fomenta o empreendedorismo e gera riqueza”.

 
Depois de frisar não estar de acordo com a ideia de que a cultura tem de ser “de plástico ou subsidiodependente”, Rui Moreira recordou que “quando o Rivoli foi entregue a uma determinada companhia (La Féria), fui um dos que estive à porta do teatro em protesto”.
Já antes, Paulo Cunha e Silva, vereador da cultura,realçara o facto de estarmos perante uma programação com vocação internacional ,”mas também disponível para a cidade”.

 

 
Num programa recheado de novidades, um dos destaques vai para o dia 24 de janeiro. Além de assinalar o início oficial da programação, inclui as comemorações do 83º aniversário do teatro. Será uma jornada completa preenchida com iniciativas, que vão desde a apresentação de peças de teatro, eventos musicais, uma exposição dedicada a Álvaro Siza e Giovanni Chiaramonte, um espaço para a poesia ou a estreia nacional de “Tarab”, dos coreógrafos Laurence Yadi e Nicolas Cantillon.

 
Outras novidades passam pela extensão das “Quintas de Leitura” ao Rivoli, onde o cinema passará a ter uma presença regular às terças-feiras com diferentes ciclos temáticos.

 

 
Nos próximos três meses haverá vários focos. Um é dedicado ao cinema do Brasil, outro vai para as marionetas. Mas há também um conjunto de novas propostas Às quias vale a pena prestar atenção, como o programa de residências artísticas Campo Aberto, ou o Paralelo, programa de aproximação às artes performativas.
A programação agora divulgada inclui também o Teatro do Campo Alegre.

 

Foto: Rui Duarte Silva

 

Valdemar Cruz
14 /01/2015

 

Descendente de Eça de Queiroz conquista prêmio literário

Afonso Reis Cabral cativou o júri com o romance “O Meu Irmão”. O tataraneto do escritor Eça de Queiroz, autor de “O Primo Basílio”, conquistou o prêmio literário Leya. Afonso Reis Cabral, de 24 anos, recebeu R$ 300 mil pela premiação.

 

Ele foi o autor mais jovem a ganhar o prêmio, que foi instituído em 2008. Cabral venceu 361 publicações de 14 países com o romance “O Meu Irmão”. O livro conta a história sobre a relação de dois irmãos, um deles com Síndrome de Down.

 
Cabral é formado em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Em seu nome, ele já tinha publicado uma coleção de poemas chamado “Condensação”, com textos que escreveu entre os 10 e 15 anos.

 

 

Afonso Reis Cabral. Eça árvore genealógica não explica tudo

 

Tem nome de conquistador e conquista mesmo. Com apenas 24 anos, Afonso Reis Cabral arrecadou o Prémio Leya, com o romance “O Meu Irmão”. É verdade que é trineto de Eça de Queiroz, mas a genética, por si só, não dita as regras do jogo. Será que o autor de “Os Maias” sabia traduzir grego antigo? É que o trineto sabe.

 

 
Em 1990, Lisboa viu-o nascer. Depois disso, o Porto viu-o crescer. Até ao 9º ano, Afonso Reis Cabral frequentou o Colégio dos Cedros. Do 10º ao 12º, foi aluno na Escola Secundária Rodrigues de Freitas. Nestes três anos letivos, a professora Alexandra Azevedo introduziu-o aos Estudos Clássicos. Foram dois anos a aprender Latim e um a aprender Grego. Mas, pelos vistos, em 2008, Afonso não se viu assim tão grego no European Student Competition in Ancient Greek Language and Literature. Em 3552 concorrentes, era o único português e ficou na oitava posição.

 
Mas recuemos um pouco – até aos 15 anos de Afonso. Bom, com 15 anos era altura mais do que certa para andar em namoricos ou a colecionar cromos em cadernetas. Quem diz isso, diz publicar um livro de poesia. Afonso carregou as nuvens de poemas e depois choveu o resultado: “Condensação”. Apesar de chovido, este livro, publicado pela Corpos Editora, não foi caído do céu. Afonso entregou-se à escrita durante cinco anos (dos 10 aos 15).

 
Invicto e convicto, Afonso Reis Cabral deixou o Porto para regressar ao berço. Licenciou-se e amestrou-se na Universidade Nova de Lisboa, primeiro em Estudos Portugueses e Lusófonos e depois em Estudos Portugueses.

 
“Fernando Pessoa e Nietzsche: O Pensamento da Pluralidade”, “O teatro da Vacuidade ou a Impossibilidade de Ser Eu: Estudos e Ensaios Pessoanos”, “Teoria Geral e Previsional dos Ciclos Económicos e Galileu na Prisão: e Outros Mitos Sobre a Ciência”. O que é que estas obras têm comum? Foram todas revistas por Afonso. Mas não são as únicas. Aliás, o jovem português já se deu ao luxo de ‘corrigir’ a nonagenária Agustina Bessa-Luís. Foi em 2012, quando fez a revisão de “Cividade”. Afonso já foi revisor em várias editoras e trabalha atualmente na Alêtheia.

 

 

Uma inspiração

 

Os rascunhos de “O Meu Irmão”, obra que mereceu o galardão Leya, já remontam pelo menos a 2006. Na altura, Afonso Reis Cabral publicava um texto onde manifestava a sua indignação para com a prática do aborto. O seu irmão Martim nasceu um ano depois de Afonso. Antes ainda de conhecer a luz, Martim foi diagnosticado com Síndrome de Down. Neste texto, Afonso perguntava: “Com que direito é que a lei diz que se podem matar bebés deficientes, ainda não nascidos, até aos seis meses de gestação? E se tivessem tocado a campainha ao meu irmão Martim?”.

 
No relato pormenorizado sobre os comportamentos – afetados pela condição – do seu irmão, Afonso escreveu as seguintes palavras: “Umas vezes, quando volta do colégio, vem todo irritado, outras falador, outras macambúzio, outras indiferente, outras gracejando, outras saltitando. Vem sempre feliz. Tem uma rotina muito certa, o meu irmão Martim. Colégio, pão, televisão, banho, jantar, cama. No meio disto tudo, decide chatear-me um pouco, mas enfim… E depois, quando se deita, antes mesmo de fechar os olhos e de cair nos braços de Morfeu, diz, abafado pelos lençóis: ‘Bo noite, mano'”.

 
Oito anos depois, a afeição de Afonso Reis Cabral ao irmão é premiada com 100 mil euros. Talento, trabalho e muito humanismo.

 
17/10/2014
CRÉDITOS: http://www.leya.com/pt/

 

 

 

 

 

Meditemos sobre a criança

A todo o escritor cumpre debruçar-se um pouco sobre a criança. Esta exige-o. A sociedade do amanhã vai pedir contas se não contribuirmos para melhor servir esse maravilhoso ser.
Professores, pais e todos aqueles que têm a seu cargo a educação de infantes, deveriam insuflar aos educandos um ardente amor a nobres ideais. Fazer-lhes ver que a vida é uma escola de preparação; que viemos ao mundo para sermos elementos activos nesta máquina tão harmoniosa do Universo de Deus. E todos viemos à terra para cumprir uma bela e esplendorosa missão – alentando os outros, amando a Humanidade.

 

O grande educador norte-americano Orison Marden dizia que “as guerras acabarão quando o nosso amor for tão grande que se possa dizer: a minha pátria é o mundo inteiro”. Na realidade, as guerras resultam geralmente daquele “patriotismo” mesquinho a procurar o seu bem à custa do sacrifício de outra ou outras nações.

 

É deveras lamentável que não incutam à criança um amplo amor a todas as Pátrias, e que não importa a cor, a raça, a língua ou a política. Importa, sim, o coração de cada um.

 

É triste constatar que há jovens de capacidade que não sobressaiem pelo facto de não receberem estímulo da parte dos pais e professores que, em lugar de lhes levantarem o moral, de fazerem com que eles não percam a visão do Ideal, de lhes inocularem fé e confiança no futuro, muitas vezes só têm dichotes e censuras cruéis para os flagelar. E nem ao de leve avaliam o veneno que lhes destilam no carácter.

 

Temos de meditar sobre a criança. Meditar acerca dos variados problemas ligados à educação infantil para que os homens e mulheres do amanhã possam viver num mundo mais saudável e fraterno…

 

 

João Machado
22/03/2015

 

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial

Embora não tenha sido a mais mortífera, a guerra colonial foi cronologicamente o mais longo conflito militar em que Portugal se viu envolvido desde as guerras da Restauração, iniciadas em 1640 e concluídas em 1668 (para Angola e Moçambique, porém, as guerras de libertação nacional – treze anos no primeiro caso e dez no segundo –, foram mais curtas do que as guerras civis iniciadas, respectivamente, em 1975 e em 1977). Num conjunto de curtos ensaios a publicar a partir deste mês de Agosto, procurarei analisar alguns episódios que considero relevantes, mesmo quando aparentemente menos óbvios, da história das guerras coloniais ocorridas em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique entre 1961 e 1975, embora aqui e ali tanto as fronteiras geográficas como as cronológicas sejam desrespeitadas.

 
Estes pequenos estudos tratarão temas de história militar num sentido amplo. Ou seja, abordarão questões militares do ponto de vista das suas origens e significado político, cultural, económico ou social. Por outro lado, não se centrarão apenas numa análise da guerra colonial na perspectiva do confronto político-militar entre o estado colonial português e os movimentos de libertação. A guerra colonial, como se verá e é minha convicção, foi, também, uma disputa política interna ao estado colonial e aos movimentos de libertação — com outros protagonistas estatais, não estatais, regionais, nacionais ou internacionais. Por outro lado, a guerra só pôde ser feita, tanto do lado português, como do lado africano, porque ambos os beligerantes contaram com apoios externos — umas vezes óbvios, outras vezes inesperados, aqui e ali ostensivos, mas muitas vezes repetidamente ocultos ou dissimulados. Por fim, a guerra não ocorreu apenas em Portugal e no seu império africano; aconteceu em vários pontos do globo.

 

 

Na longa história (ou evolução) desta guerra global, não importava apenas a qualidade e a quantidade do armamento, no sentido convencional do termo, de que as partes dispunham. Particularmente importante foi o uso que se fez de recursos políticos dos mais variados e que se destacavam por terem como objectivo não apenas vencer um confronto militar no terreno mas, também, conseguir a conquista dos “corações e das mentes” das populações africanas residentes nas colónias portuguesas, da opinião pública portuguesa, das elites políticas, sociais e militares portuguesas, e ainda da opinião pública internacional e de decisores políticos ou actores económicos espalhados pelo mundo. Ou seja, devemos preparar-nos para ver um conflito como a guerra colonial enquanto um acontecimento em que as questões militares são necessárias para perceber aquilo que esteve em causa, mas não suficientes para explicar a sua natureza, desenvolvimento e desenlace. Os principais actores do conflito perceberam muito bem esta realidade e agiram em conformidade. Os historiadores e o público que se interessa pela história da guerra colonial nem por isso.

 

 

A questão da preparação portuguesa para a guerra (1961) – Que guerra e quando?

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial7

“Não são as sublevações que hão-de definir os resultados finais.” Oliveira Salazar, 30 de Agosto de 1960

 
Numa reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional realizada a 30 de Agosto de 1960 no Palácio de São Bento, e no decurso da qual se trataram “assuntos relacionados com a defesa do Ultramar”, Oliveira Salazar iniciou os trabalhos com uma exposição que dava mostras da sua preocupação com os desenvolvimentos registados recentemente na situação política da África subsaariana. O presidente do Conselho reconheceu que desde Julho de 1959, quando se tinha realizado a última reunião entre os conselheiros da defesa nacional, a situação naquela região sofrera alterações profundas tornando-se “mais difícil para nós”.

 
Salazar percebeu que povos e territórios “subordinados a países amigos”, no presente ou num futuro mais ou menos próximo, tornar-se-iam independentes e, portanto, teriam para com Portugal, e o seu estatuto de estado colonial, uma atitude certamente hostil, ainda que com gradações distintas.

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial8

 

A causa era simples: se em Julho de 1959 a independência da Guiné francesa (ocorrida em Outubro de 1958) e a do Congo belga (que teria lugar em Junho de 1960), pareciam ser as únicas ameaças sérias ao status quo prevalecente na chamada África negra e à estabilidade e segurança relativas existentes nas colónias da Guiné, de Angola e de Moçambique, um ano mais tarde era evidente que o “desmoronamento dos territórios” que rodeavam as províncias ultramarinas portuguesas iria ter repercussões tanto na sua segurança externa como interna. Povos e territórios “subordinados a países amigos”, no presente ou num futuro mais ou menos próximo, tornar-se-iam independentes e, portanto, teriam para com Portugal, e o seu estatuto de estado colonial, uma atitude certamente hostil, ainda que com gradações distintas.

 
Definido o quadro geral, Salazar enunciou depois outro tipo de consequências para a segurança e integridade dos territórios portugueses em África, que decorreriam desta nova realidade. Entre aquelas, a principal relacionava-se com a planificação política e militar que vinha sendo feita e que devia ser revista. Ou seja, era imperioso que se preparassem as Forças Armadas para fazerem face não já à forte probabilidade mas à inevitabilidade de uma “sublevação da população negra.” Ora, é sobre esta questão política e militar e o seu significado que este primeiro texto sobre a guerra colonial se debruça.

 

Dilemas militares e confrontação política.

 

A formação e consolidação de uma nova realidade política africana no final da década de 1950 e no início da década de 1960 significava que, a par do reconhecimento da existência de outras potenciais ou reais ameaças à política colonial portuguesa, medidas extraordinárias deviam ser tomadas pelas autoridades coloniais. No domínio da acção político-militar que pretendia prevenir, adiar e, finalmente, limitar os custos de uma inevitável sublevação ou insurgência armada nos territórios coloniais, as autoridades portuguesas procuraram definir e pôr em prática uma nova estratégia. Ou melhor, uma estratégia que complementasse aquela que até meados do ano de 1960 considerou que a situação política em África, e a questão global da descolonização, não se alterariam nem substancial nem rapidamente.

 

Como Salazar preparou a guerra colonial2

Salazar foi acusado de não ter preparado as forças armadas para a guerra que se aproximava.

 

 

Note-se, porém, que modificado o ritmo e o alcance das transformações ocorridas no espaço africano, tal não significou que se tivesse tornado irrelevante a existência de outras ameaças ou riscos para os interesses portugueses. Era o caso, por exemplo, e ainda segundo Salazar, de ter prosseguido e ter sido aprofundada uma “modificação geral” na “política das Nações Unidas em relação à África”; ou o facto dos “Americanos” desconhecerem “completamente os problemas Asiáticos e Africanos”.

 
Isto indica que em Lisboa se percebia que os EUA estavam já a desinvestir, ou em vias de desinvestir mais ainda, na sua política de apoio ao colonialismo europeu como forma de travar a formação de vazios de poder na Ásia e em África resultantes de descolonizações precipitadas — facto que, segundo Washington, e durante cerca de uma década, proporcionara oportunidades para a afirmação da presença e do poder da União Soviética e de seus aliados naqueles dois continentes.

 
Durante décadas, fruto dos testemunhos deixados sobretudo por militares que nos meses de Março e Abril de 1961 conspiraram frustrada mas intensamente com o intuito de afastarem Salazar da chefia do governo, foi voz corrente a ideia de que o ditador ignorou as ameaças políticas e militares que pairavam sobre o império africano português como consequência da resistência do Estado Novo aos ventos de mudança que teriam tornado mais ou menos inevitável a descolonização dos impérios ultramarinos europeus.

 
Paralelamente, Oliveira Salazar foi acusado de ter recusado aceitar a inevitabilidade do deflagrar de uma guerra contra movimentos de guerrilha na Guiné, em Angola e em Moçambique, à imagem das guerras revolucionárias de libertação nacional, anticoloniais ou não, que enxamearam a Ásia, a África e a América Latina no decurso da Guerra Fria. Essa recusa teria impedido as chefias militares de apetrecharem as Forças Armadas com meios materiais, humanos e a doutrina que poderiam possibilitar que se travasse com êxito uma guerra de contra-insurgência.

 

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 Botelho Moniz, o ministro da Defesa que quis derrubar Salazar.

 

No entanto tal acusação está longe de corresponder à verdade, sendo desmentida por factos que demonstram ter Salazar percebido, como toda a cúpula política e militar do Estado Novo, que a guerra — provável primeiro, e inevitável depois — com que Portugal se confrontaria, não só ocorreria em África como teria uma natureza “subversiva” (é verdade que Salazar temeu em 1959, 1960 e 1961 que se pudesse reunir na Guiné-Conacri um exército internacional, cujo intuito seria invadir e ocupar o território da Guiné portuguesa).

 
Sendo assim, que razão terá levado militares próximos de Botelho Moniz a difundiram a imagem, hoje genericamente aceite, de um Oliveira Salazar incapaz de reconhecer que a guerra que iria ocorrer na África portuguesa seria combatida segundo o paradigma da contra-insurgência, por um lado, e que o ditador tudo teria feito para travar, pelo menos em parte, uma preparação adequada das Forças Armadas portuguesas para um conflito com aquelas características?

 

 

A ideia de que a um Salazar “reaccionário” ou “ultraconservador” se opunha um Botelho Moniz liberal, não passa de uma mistificação construída posteriormente por defensores da “Abrilada”.

 
Na verdade a resposta é simples e pouco ou nada tem que ver com questões natureza militar. As divergências que se instalaram no topo do Estado Novo e do Governo sobre como preparar a guerra que aí vinha eram exclusivamente políticas, pelo que a questão da forma como a guerra de contra-insurgência seria planeada e executada foi um elemento lateral naquilo que era uma rivalidade e uma desconfiança profunda entre membros do Governo desde Agosto de 1958 – data em que uma importante remodelação governamental fez substituir Fernando Santos Costa por Júlio Botelho Moniz na condução da pasta da Defesa Nacional.

 
Note-se, porém, que essas rivalidades não tinham por trás quaisquer divergências político-ideológicas inconciliáveis sobre a forma como Portugal devia ser governado. Eram essencialmente pessoais e andavam em torno da mais pura luta pelo acesso ao poder e seu uso. A ideia de que a um Salazar “reaccionário” ou “ultraconservador” se opunha um Botelho Moniz liberal, não passa de uma mistificação construída posteriormente por defensores da “Abrilada” (qualquer biografia política do general Botelho Moniz mostra à saciedade as suas credenciais autoritárias e salazaristas).

 

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Botelho Moniz fez parte de uma missão militar que visitou a frente leste durante a II Guerra, acompanhando o exército alemão.

 

 

Deixemos agora de lado a discussão sobre a natureza da política colonial, e do próprio regime político, que conduziu à opção pelo uso da força militar como forma de preservar a integridade do império ultramarino português.

 
Como Salazar preparou a guerra

 

No que diz respeito à preparação portuguesa para uma guerra colonial, Salazar criou uma equipa em vários ministérios e subsecretarias de Estado com o objectivo de preparar as Forças Armadas, e especialmente o Exército, para um conflito com aquelas características. Fê-lo, porém, tendo em conta, pelo menos, três condicionantes que os seus adversários de então no Governo e no regime, nomeadamente os ministros da Defesa Nacional e do Exército (além do subsecretário de Estado do Exército, Francisco da Costa Gomes), combateram na altura e ignoraram depois em grande parte dos testemunhos produzidos sobre os acontecimentos que precederam a “abrilada”.

 

A primeira condicionante reconhecia e aceitava que os meios financeiros e humanos à disposição do estado português eram limitados e, por isso, deveriam ser usados criteriosamente. Por exemplo, a preparação financeira para uma guerra colonial implicava, segundo Salazar, um desinvestimento do empenhamento político, militar e também financeiro por parte das Forças Armadas Portuguesas e do estado português na NATO e na cooperação militar com a Espanha ao abrigo dos acordos político-diplomáticos e militares celebrados em 1939 e depois várias vezes revistos e reafirmados.

 

Como Salazar preparou a guerra colonial5

Desfile militar em Luanda, no início da guerra

 

Em segundo lugar, o reforço moderado do investimento no dispositivo militar colonial – criado no império, para lá deslocado ou a deslocar – deveria ser rigoroso e realista tanto política como financeiramente. Isto é, não devia pôr em perigo o equilíbrio orçamental, a distribuição justa e necessária de recursos entre ministérios, mas também não devia nem podia criar desequilíbrios excessivos – quanto às dotações financeiras, prontidão operacional ou aquisição de armamento – no seio das próprias Forças Armadas, uma vez que tal eventualidade poderia ter consequências políticas imprevisíveis.

 
Finalmente (terceira “condicionante”), o calculismo de Salazar relativamente à questão do investimento numas Forças Armadas que deviam estar mais apetrechadas para prevenirem e/ou enfrentarem com êxito uma guerra colonial decorria da desconfiança que o presidente do Conselho sistematicamente nutriu relativamente aos chefes militares, com especial destaque para aqueles que não conhecia bem e/ou em quem não confiava.

 

Botelho Moniz pretendia manter e até reforçar os compromissos com a NATO, ao mesmo tempo que defendia acirradamente um reforço da presença militar em África. Ora a persecução destes dois objectivos teria como consequência inevitável provocar a rotura das finanças do estado português.

 

Ora a falta de confiança política nas chefias militares, tanto ou mais do que a falta de recursos e a necessidade de os usar de forma quantitativa e qualitativamente equilibrada, foi a causa do imobilismo aparente que teria norteado a acção de Salazar nos anos que precederam o início da guerra em Angola em Março de 1961. Ou seja, embora se pudesse argumentar em 1960-61, como se pode argumentar hoje, que havia algo no domínio da definição e da organização da política de defesa que poderia separar Salazar de Botelho Moniz, tal não radicava na forma como um e outro antecipavam a evolução da situação militar nas colónias e a melhor forma para responder à guerra que se adivinhava. Ela radicava, em primeiro lugar, no facto de Botelho Moniz pretender manter e até reforçar os compromissos com a NATO, ao mesmo tempo que defendia acirradamente um reforço da presença militar em África. Ora a persecução destes dois objectivos teria como consequência inevitável provocar a rotura das finanças do estado português.
A preparação portuguesa para a guerra denotou, pois, a existência de um regime politicamente dividido, embora essa divisão fosse mais circunstancial do que estrutural. Superadas essas divisões, o governo e o regime, com as Forças Armadas, puderam então centrar-se no essencial.

 
Uma outra diferença importante, a segunda, manifestava-se na circunstância de, aparentemente, Botelho Moniz não valorizar o impacto que, no conjunto das Forças Armadas, nomeadamente na sua coerência e coesão interna, teria uma mudança demasiado rápida nas suas estruturas como resultado da atribuição de dotações orçamentais generosas para cumprir os compromissos NATO e os compromissos africanos. Aliás, uma qualquer subida substancial dos gastos com a defesa, ainda antes dos acontecimentos ocorridos em Angola em 1961, teria tido como resultado, caso Salazar a aceitasse, provocar mal-estar não só entre membros do governo, mas certamente entre outros círculos mais afastados mas necessariamente não menos importantes no apoio ao regime e ao seu líder.

 

 

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A sublevação político-militar começou a 15 de Março de 1961 no “norte” de Angola

 

 

A preparação portuguesa para a guerra denotou, pois, a existência de um regime politicamente dividido, embora essa divisão fosse mais circunstancial do que estrutural. Superadas essas divisões, o governo e o regime, com as Forças Armadas, puderam então centrar-se no essencial. E o essencial era enfrentar a sublevação político-militar lançada a 15 de Março de 1961 no “norte” de Angola, sublevação que, independentemente daqueles que foram os seus mentores e perpetradores, acabaria por ser reivindicada pela UPA liderada por Holden Roberto.

 
Próximo ensaio.

 
Se o estado colonial português se preparou, dentro das suas limitações, para uma guerra que sabia inevitável, qual era a o grau de prontidão do lado dos movimentos políticos e militares que reivindicaram a partir de Fevereiro e Março de 1961 o início da luta armada contra o estado colonial português? A esta pergunta tentarei responder no próximo ensaio, sendo certo que o maior ou menor grau de preparação militar para dar início e continuidade a acções de insurgência política e militar dependia de três variáveis.
Primeiro, da capacidade demonstrada pelas lideranças destes movimentos para agregarem a constelação de sensibilidades e personalidades que pretenderam ao longo das décadas de 1950 e 1960 ocupar o espaço político, ideológico, cultural e social do nacionalismo na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, em Angola e em Moçambique.

 

 

Segundo, do nível de coesão interna existente em maior, menor ou nenhum grau nos movimentos nacionalistas que tinham a luta armada como desígnio.

 

 

Finalmente, da capacidade de mobilizar apoios políticos, militares ou financeiros internacionais e de os usar de forma eficaz, não apenas no combate ao colonialismo mas ainda, e sobretudo, na mobilização e sensibilização de franjas tão largas quanto possível da opinião pública internacional, alertando-a para a legitimidade e a bondade do anticolonialismo em geral e do nacionalismo que se opunha ao estado colonial português em particular.

 

 

 

09/08/2014 – Observador

Por: Fernando Martins

 

 

 

 

O dia em que Spínola, o Presidente da República, anunciou a Descolonização

No dia 27 de Julho de 1974, o general António de Spínola anunciou ao país que tinha início o processo de descolonização e garantiu que não havia nada a recear.

 

Spínola dirigiu-se aos portugueses faz hoje 40 anos para anunciar a descolonização.

 
Há 40 anos, o general António de Spínola dirigia-se ao “povo português de aquém e além-mar” para, “com a mais viva emoção”, reconhecer o direito das colónias à auto-determinação e independência.

 
Para Spínola, o anúncio da descolonização correspondeu a uma “hora grande na vida e na história de um Povo” ao permitir o “reencontro” do país “com a vocação, a fisionomia e a forma de ser e de estar no mundo que lhe são próprias”. Até porque Portugal, disse o general no discurso, não foi “um povo de vocação imperialista”.

 
Nessa hora grande, Spínola declarou que havia “chegado o momento de reconhecer às populações dos nossos territórios ultramarinos o direito de tomarem em suas mãos os próprios destinos, concretizando-se, desse modo, o desenvolvimento da política de autenticidade que sempre defendemos”.

 
Ao longo do discurso, o general Spínola refere o “sofrimento” vivido durante os 13 anos da guerra colonial , dizendo que o esforço militar que no início procurou “evitar o genocídio e criar as conduções para uma solução política”, acabou por “perder todo o sentido”.

 
Depois de reconhecer que essa guerra conduziu a “posições de irreconciliação, que estão na base do ambiente de desconfiança criado”, Spínola anuncia por fim a lei constitucional nº7/74, promulgada na véspera e que dá início ao processo de descolonização.

 
“Assim, e na mais perfeita coerência com a linha de ação do meu governo na Guiné, chegou o momento de o Presidente da República reiterar solenemente o reconhecimento do direito dos povos dos territórios ultramarinos portugueses à autodeterminação, incluindo o imediato reconhecimento do seu direito à independência”, disse o general.

 
No final do discurso, Spínola dirige-se aqueles que “sonharam, honestamente, com uma África lusa” para lhes dizer que “nada terão a recear” pois “as autoridades dos novos países honrarão o sentido de justiça decorrente do seu estatuto de nações plurirraciais de expressão portuguesa”.

 

 

António de Spínola, antigo governador da Guiné e primeiro Presidente da República não eleito, após o 25 de abril de 1974, defendia um projeto de descolonização diferente daquele pretendido pelo MFA e falou várias vezes da possibilidade de consultar a população dos territórios coloniais. O plano do general passava por um processo de independência faseado em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau, que poderia durar cinco anos.

 
27/07/2014
Autor: Catarina Fernandes Martins