Encontrado caixão do escritor espanhol Miguel de Cervantes

Um caixão com as iniciais M. C., que podem ser as de Miguel de Cervantes, foi encontrado na cripta do convento das Trinitárias, em Madrid, local onde se procuravam, desde abril, os restos do autor de “D. Quixote de La Mancha”, que estavam extraviados naquele cenóbio feminino.

 

Encontrado caixão do escritor espanhol Miguel de Cervantes2

As iniciais MC são bem visíveis no que resta do caixão.
As iniciais, com cerca de uma polegada cada, são feitas com pregos e estavam numa das faces do caixão, descoberto no sábado, por volta do meio-dia, segundo noticia o diário espanhol “El País”.
Apesar de estar muito carcomido e com marcas de oxidação, o que resta do caixão permite aventar que se tratam dos restos mortais de Cervantes, que foi enterrado no convento das Trinitárias, a 23 de abril de 1616.

 

 

No entanto equipa de investigadores, liderada pelo perito forense Francisco Exeberria, não se atreve a assegurar de forma incontestável que os restos mortais pertencem ao autor de “D. Quixote”.

 
A descoberta causou “surpresa” e também “grande expectativa” na equipa, disseram à agência noticiosa EFE fontes próximas dos investigadores.

 
Os arqueólogos e os peritos forenses vão aprofundar agora os exames às ossadas encontradas, procurando detetar algumas lesões ósseas que caracterizavam Cervantes: uma atrofia do metacarpo da mão esquerda e marcas de balas de bacamarte, das feridas sofridas na batalha de Lepanto.

 
Há ainda outros indicadores que estão a ser estudados pelos peritos: os restos de fibras têxteis do sudário franciscano com que foi enterrado e a própria madeira do caixão, pois pode ser datada com grande grau de certeza.

 
Féretro com as iniciais M.C pode ter restos mortais do escritor

 

Um caixão com as iniciais do escritor espanhol Miguel de Cervantes foi encontrado na cripta do Convento das Trinitárias, em Madrid.

 

Segundo fontes da equipe de investigação, o féretro com as iniciais M.C pode conter os restos mortais do “pai da língua espanhola”.

 
As buscas pelo local exato de onde Cervantes está enterrado começaram em abril do ano passado. Durante este período, já foram analisados vários túmulos embaixo do terreno da Igreja madrilenha, onde registros apontam estar o corpo do criador de “Dom Quixote” desde 1616.

 

Para se certificar de que o caixão encontrado é do escritor, os restos mortais serão analisados.

 
Os peritos procuram por um corpo que tenha sido enterrado com cerca de 70 anos, com artrose na coluna vertebral, lesões no torso e no braço esquerdo e falta de dentes na boca.

 
O objetivo do projeto é encontrar o local do sepultamento de Cervantes até o ano que vem, quando será comemorado o aniversário de 450 anos da morte do escritor. (ANSA)

 

Encontrado caixão do escritor espanhol Miguel de Cervantes3

 
Encontrado caixão de escritor de “D. Quixote de La Mancha”

 

Foi descoberta, no sábado passado, na cripta do convento das Trinitárias, em Madrid, uma urna com as iniciais M.C., que podem ser as de Miguel Cervantes, autor de “D. Quixote de La Mancha”.

 

O que resta do caixão, apesar de estar muito desgastado e com marcas de oxidação sugere que se tratam dos restos mortais de Cervantes, que foi sepultado no convento das Trinitárias, a 23 de abril de 1616. As iniciais, com cerca de 2,5 cm cada, estão cravadas com pregos numa das faces do caixão.

 

O perito forense Francisco Exeberria, líder da equipa de investigação, não assegura que os restos mortais encontrados pertencem ao autor de “D. Quixote”, apesar de a descoberta ter causado uma grande expectativa na equipa que aguardam os exames dos peritos.

 

As ossadas encontradas na urna vão ser examinadas por arqueólogos e peritos forenses para se certificarem de que realmente pertencem a Miguel Cervantes. Um atrofio do metacarpo da mão esquerda e marcas de balas de espingarda, das feridas sofridas na batalha de Lepanto, são algumas das características procuradas que podem confirmar a identidade das ossadas.

 

Outros indicadores que estão a ser estudados pelos peritos são os restos de fibras têxteis do sudário franciscano com que foi enterrado e a própria madeira do caixão, pois pode ser datada com grande grau de certeza.

 

Foto: Município de Madrid/EPA
Foto retirada de: youtube.com

GAZETA DO ROSSIO

Fonte:  jn.pt

 

Cinco tesouros culturais e as tragédias que os destruiram

Hung-li, o sexto imperador da dinastia chinesa Qing

 
Quer tenha sido por força das circunstâncias ou pela ação do homem, são vários os tesouros culturais que foram destruídos e cuja existência chega mesmo a ser lendária.

 

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças alemãs foram responsáveis pela destruição de inúmeras obras de arte. Esta não foi, porém, a primeira vez que algo do género aconteceu. Ao longo dos séculos (e até milénios), foram vários os tesouros culturais que foram desaparecendo — uns por culpa do homem, outros por culpa das forças da natureza — e cuja existência chega mesmo a ser lendária.
A Listverse fez uma lista de dez tragédias que causaram a perda de importantes tesouros históricos, na qual incluiu a destruição dos códices maias e o terramoto em Lisboa de 1755. O Observador selecionou quatro e acrescentou ainda o incêndio da biblioteca de Alexandria, uma das maiores perdas culturais da antiguidade. Fique a conhecê-las:

 
A censura literária do imperador Hung-li

 
Hung-li foi o sexto imperador da dinastia Qing (1644-1912), a última dinastia imperial da China. Durante o seu governo, Hung-li levou estabeleceu uma inquisição literária, de modo a garantir que todos os livros que o criticavam a ele ou a sua família eram banidos. Apesar de a censura literária ter sido uma presença mais ou menos constante durante o império chinês, as medidas tomadas por Hung-li foram particularmente duras. Durante os 61 anos em que governou a china, Hung-li foi responsável pela destruição de milhares de livros e pela morte de dezenas de pessoas.

 
Um homem em particular, Wang Hsi-hou, foi acusado de ter escrito um texto que criticava o avô do imperador. Wang Hsi-hou foi condenado à morte e a sua família, os seus filhos e os seus avós, vendidos como escravos.

 
O incêndio do palácio de Lauso

 
Lauso era um eunuco e camareiro da corte de Teodósio II, imperador do império romano do oriente. Conhecido por adquirir uma grande coleção peças de arte, diz-se que o seu enorme palácio continha algumas das obras mais importantes do mundo antigo. De acordo com um historiador do século VI, Lauso tinha em sua posse a estátua da Afrodite de Cnido, uma das mais famosas criações do escultor ático Praxíteles, que ficou conhecida pela sua grande beleza.

 
Para além disso, o palácio de Lauco guardava uma das obras de arte mais lendárias da antiguidade — a estátua de 13 metros de Zeus que se encontrava em Olímpia, na Grécia, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas, infelizmente, as obras de Lauso perderam-se quando um grande incêndio destruiu o palácio..

 

 
A destruição da biblioteca de Alexandria

 
Fundada na cidade de Alexandria, capital do antigo Egito, a biblioteca de Alexandria é considerada uma das maiores e mais importantes bibliotecas do mundo antigo. Construída em honra das nove musas, patronas das artes, atingiu o seu apogeu durante a dinastia ptolemaica, a última dinastia de faraós do Egito. A biblioteca albergava alguns dos mais importantes textos da antiguidade, que incluíam manuscritos originais de autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípides, os três grandes dramaturgos gregos. A sua destruição no século III a.C. constitui uma das maiores perdas culturais de toda a antiguidade.
Vários autores, como Plutarco, referem que a biblioteca foi destruída por um grande incêndio, causado por Júlio César. Porém, é possível que o edifício tenha sido alvo de vários ataques, que progressivamente causaram a completa destruição da biblioteca.

 
A queima dos códices maias

 
Diego de Landa, um missionário espanhol do século XVI encarregado de levar a fé cristã ao povo maia, acreditava que a melhor forma de converter o povo sul-americano era através da destruição da sua própria cultura. Durante o tempo que passou na América do Sul, Landa foi responsável pela destruição de centenas de manuscritos, obras de arte e ícones religiosos. Para além disso, mandou queimar os códices maias, uma importante fonte de informação sobre as práticas e rituais do povo sul-americano, e dos quais apenas sobreviveram três.

 

 
O terramoto de Lisboa de 1755

 
Em novembro de 1755, a cidade de Lisboa foi atingida por um violento terramoto. Acompanhado por um maremoto e por um devastador incêndio que, de acordo com algumas fontes, lavrou durante dias, o terramoto provocou a destruição de grande parte da cidade. A zona da Baixa foi a mais atingida e especula-se que a maioria das igrejas e conventos tenham sido destruídos, como é o caso do convento do Carmo, do qual apenas sobraram algumas ruínas. Alguns dos edifícios mais importantes da cidade, como a câmara municipal e o palácio real, sofreram também com a força do terramoto.

 
O palácio do marquês de Louriçal foi também fortemente atingido. No seu interior, encontravam-se cerca de 18 mil livros e mil manuscritos, que incluíam importantes documentos históricos. Calcula-se que entre dez e trinta mil pessoas tenham perdido a vida como consequência do terramoto de 1755.

 

 

15/1/2015

 

Foto: Wikimedia Commons

Autor: Rita Cipriano

 

Livraria Lello é uma das mais “cool” do mundo para a Time

A Lello fica na Rua das Carmelitas, no Porto.

 

A revista Time escolheu as 15 livrarias mais “cool” do mundo e a portuense Lello & Irmão é a primeira da lista. Veja o top completo.

 

“Diz-se que J. K. Rowling se inspirou na Livraria Lello enquanto escrevia Harry Potter (e ensinava inglês) em Portugal. Não é preciso muito tempo para se perceber todo o potencial da Lello como musa inspiradora”. Assim começa o artigo em que a revista Time partilha com o mundo as 15 livrarias mais “cool” do globo terrestre, com a portuense Lello e Irmão no topo. Se por cada distinção a Lello ganhasse um galardão, seria precisa uma vitrina espaçosa.

 
Fundada em 1906, com a explosão de turistas que tem chegado ao Porto é frequente encontrar filas para entrar na livraria de aspecto neogótico. Mas a espera compensa. “Uma claraboia com um vitral põe no centro das atenções a escadaria da livraria, de um vermelho intenso, espetacular o suficiente para o forçar a uma paragem”, pode ler-se no artigo.

 

 

“A fachada neogótica desta livraria antiga não transparece a opulência interior: madeira talhada, colunas douradas, tetos ornamentados, e uma escada vermelha deslumbrante iluminada por um vitral. A livraria centenária apresenta mais de 100 mil títulos diferentes em várias línguas, incluindo traduções para inglês de talentos portugueses como Fernando Pessoa e José Saramago. Também vai encontrar revistas, CD’s, livros antigos, e uma grande variedade de publicações sobre o próprio Porto”.

 

 

Se por cada distinção a Lello ganhasse um galardão, seria precisa uma vitrina espaçosa. Em 2010, a livraria portuense foi eleita pelo guia Lonely Planet como a terceira mais bonita do mundo. Dois anos antes, o britânico Guardian tinha dado a mesma honra à livraria portuguesa. Mais recentemente, a secção de viagens da CNN também elegeu as livrarias mais “cool” do mundo e não esqueceu a Lello, mas descreveu-a como “a mais bela livraria do mundo”.

 

Eis o top completo da Time:

 
Livraria Lello e Irmão, Porto
Barter Books, Inglaterra
Powerhouse Arena, Brooklin
Cafebrería El Péndulo, Cidade do México
Shakespeare and Co., Paris
Books for Cooks, Melbourne
Bart’s Books, Ojai, Califórnia
Dominicanen Bookstore, Maastricht, Holanda
Book Lounge, Cidade do Cabo
El Ateneo Grand Splendid, Buenos Aires
The Last Bookstore, Los Angeles
Libreria Acqua Alta, Veneza
Librairie Avant-Garde, Nanjing, China
The Academic Bookstore, Helsínquia, Finlândia
Stanfords, Londres

 

 

21/03/2015
Foto:  ©Wikimedia Commons
Autor:  Sara Otto Coelho

 

 

 

A cultura não é um luxo nem uma despesa

Rivoli regressa em força ao mundo da cultura com nova programação já concebida por Tiago Guedes.

 

 

“Quando o Rivoli foi entregue a uma determinada companhia (La Féria), fui um dos que estive à porta do teatro em protesto”, disse Rui Moreira

 

 
No renovado palco do Teatro Municipal Rivoli, o novo diretor artístico, Tiago Guedes, apresentou hoje a programação até março e desde logo sobressai a vontade, pelas opções tomadas, de voltar a colocar o Rivoli no mapa dos grandes eventos culturais, com projeção nacional e internacional.

 
Pela primeira vez concebida na íntegra pela nova direção artística, a proposta do Rivoli abre-se a múltiplas artes, com destaque natural para a dança, mas com espaço para a performance,o teatro, o cinema, o pensamento, a música, a literatura, as exposições, workshops, marionetas, residências artísticas ou o novo circo.

 

 
É todo um mundo novo em relação ao que foram os anos de vida do teatro durante os mandatos de Rui Rio e é, sobretudo, o expressar de uma outra filosofia e um outro entendimento do papel da cultura nas sociedades contemporâneas. Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, presente nesta sessão de apresentação, resumiu bem a diferença de atitude em relação ao passado ao afirmar que “a cultura não é um luxo, nem uma despesa”. A cidade, como todas as cidades, tem muitos problemas sociais a que urge atender, mas, sublinhou o presidente da autarquia, “acreditamos que a cultura é um fator de desenvolvimento da cidade, cria emprego, fomenta o empreendedorismo e gera riqueza”.

 
Depois de frisar não estar de acordo com a ideia de que a cultura tem de ser “de plástico ou subsidiodependente”, Rui Moreira recordou que “quando o Rivoli foi entregue a uma determinada companhia (La Féria), fui um dos que estive à porta do teatro em protesto”.
Já antes, Paulo Cunha e Silva, vereador da cultura,realçara o facto de estarmos perante uma programação com vocação internacional ,”mas também disponível para a cidade”.

 

 
Num programa recheado de novidades, um dos destaques vai para o dia 24 de janeiro. Além de assinalar o início oficial da programação, inclui as comemorações do 83º aniversário do teatro. Será uma jornada completa preenchida com iniciativas, que vão desde a apresentação de peças de teatro, eventos musicais, uma exposição dedicada a Álvaro Siza e Giovanni Chiaramonte, um espaço para a poesia ou a estreia nacional de “Tarab”, dos coreógrafos Laurence Yadi e Nicolas Cantillon.

 
Outras novidades passam pela extensão das “Quintas de Leitura” ao Rivoli, onde o cinema passará a ter uma presença regular às terças-feiras com diferentes ciclos temáticos.

 

 
Nos próximos três meses haverá vários focos. Um é dedicado ao cinema do Brasil, outro vai para as marionetas. Mas há também um conjunto de novas propostas Às quias vale a pena prestar atenção, como o programa de residências artísticas Campo Aberto, ou o Paralelo, programa de aproximação às artes performativas.
A programação agora divulgada inclui também o Teatro do Campo Alegre.

 

Foto: Rui Duarte Silva

 

Valdemar Cruz
14 /01/2015

 

Descendente de Eça de Queiroz conquista prêmio literário

Afonso Reis Cabral cativou o júri com o romance “O Meu Irmão”. O tataraneto do escritor Eça de Queiroz, autor de “O Primo Basílio”, conquistou o prêmio literário Leya. Afonso Reis Cabral, de 24 anos, recebeu R$ 300 mil pela premiação.

 

Ele foi o autor mais jovem a ganhar o prêmio, que foi instituído em 2008. Cabral venceu 361 publicações de 14 países com o romance “O Meu Irmão”. O livro conta a história sobre a relação de dois irmãos, um deles com Síndrome de Down.

 
Cabral é formado em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Em seu nome, ele já tinha publicado uma coleção de poemas chamado “Condensação”, com textos que escreveu entre os 10 e 15 anos.

 

 

Afonso Reis Cabral. Eça árvore genealógica não explica tudo

 

Tem nome de conquistador e conquista mesmo. Com apenas 24 anos, Afonso Reis Cabral arrecadou o Prémio Leya, com o romance “O Meu Irmão”. É verdade que é trineto de Eça de Queiroz, mas a genética, por si só, não dita as regras do jogo. Será que o autor de “Os Maias” sabia traduzir grego antigo? É que o trineto sabe.

 

 
Em 1990, Lisboa viu-o nascer. Depois disso, o Porto viu-o crescer. Até ao 9º ano, Afonso Reis Cabral frequentou o Colégio dos Cedros. Do 10º ao 12º, foi aluno na Escola Secundária Rodrigues de Freitas. Nestes três anos letivos, a professora Alexandra Azevedo introduziu-o aos Estudos Clássicos. Foram dois anos a aprender Latim e um a aprender Grego. Mas, pelos vistos, em 2008, Afonso não se viu assim tão grego no European Student Competition in Ancient Greek Language and Literature. Em 3552 concorrentes, era o único português e ficou na oitava posição.

 
Mas recuemos um pouco – até aos 15 anos de Afonso. Bom, com 15 anos era altura mais do que certa para andar em namoricos ou a colecionar cromos em cadernetas. Quem diz isso, diz publicar um livro de poesia. Afonso carregou as nuvens de poemas e depois choveu o resultado: “Condensação”. Apesar de chovido, este livro, publicado pela Corpos Editora, não foi caído do céu. Afonso entregou-se à escrita durante cinco anos (dos 10 aos 15).

 
Invicto e convicto, Afonso Reis Cabral deixou o Porto para regressar ao berço. Licenciou-se e amestrou-se na Universidade Nova de Lisboa, primeiro em Estudos Portugueses e Lusófonos e depois em Estudos Portugueses.

 
“Fernando Pessoa e Nietzsche: O Pensamento da Pluralidade”, “O teatro da Vacuidade ou a Impossibilidade de Ser Eu: Estudos e Ensaios Pessoanos”, “Teoria Geral e Previsional dos Ciclos Económicos e Galileu na Prisão: e Outros Mitos Sobre a Ciência”. O que é que estas obras têm comum? Foram todas revistas por Afonso. Mas não são as únicas. Aliás, o jovem português já se deu ao luxo de ‘corrigir’ a nonagenária Agustina Bessa-Luís. Foi em 2012, quando fez a revisão de “Cividade”. Afonso já foi revisor em várias editoras e trabalha atualmente na Alêtheia.

 

 

Uma inspiração

 

Os rascunhos de “O Meu Irmão”, obra que mereceu o galardão Leya, já remontam pelo menos a 2006. Na altura, Afonso Reis Cabral publicava um texto onde manifestava a sua indignação para com a prática do aborto. O seu irmão Martim nasceu um ano depois de Afonso. Antes ainda de conhecer a luz, Martim foi diagnosticado com Síndrome de Down. Neste texto, Afonso perguntava: “Com que direito é que a lei diz que se podem matar bebés deficientes, ainda não nascidos, até aos seis meses de gestação? E se tivessem tocado a campainha ao meu irmão Martim?”.

 
No relato pormenorizado sobre os comportamentos – afetados pela condição – do seu irmão, Afonso escreveu as seguintes palavras: “Umas vezes, quando volta do colégio, vem todo irritado, outras falador, outras macambúzio, outras indiferente, outras gracejando, outras saltitando. Vem sempre feliz. Tem uma rotina muito certa, o meu irmão Martim. Colégio, pão, televisão, banho, jantar, cama. No meio disto tudo, decide chatear-me um pouco, mas enfim… E depois, quando se deita, antes mesmo de fechar os olhos e de cair nos braços de Morfeu, diz, abafado pelos lençóis: ‘Bo noite, mano'”.

 
Oito anos depois, a afeição de Afonso Reis Cabral ao irmão é premiada com 100 mil euros. Talento, trabalho e muito humanismo.

 
17/10/2014
CRÉDITOS: http://www.leya.com/pt/

 

 

 

 

 

Meditemos sobre a criança

A todo o escritor cumpre debruçar-se um pouco sobre a criança. Esta exige-o. A sociedade do amanhã vai pedir contas se não contribuirmos para melhor servir esse maravilhoso ser.
Professores, pais e todos aqueles que têm a seu cargo a educação de infantes, deveriam insuflar aos educandos um ardente amor a nobres ideais. Fazer-lhes ver que a vida é uma escola de preparação; que viemos ao mundo para sermos elementos activos nesta máquina tão harmoniosa do Universo de Deus. E todos viemos à terra para cumprir uma bela e esplendorosa missão – alentando os outros, amando a Humanidade.

 

O grande educador norte-americano Orison Marden dizia que “as guerras acabarão quando o nosso amor for tão grande que se possa dizer: a minha pátria é o mundo inteiro”. Na realidade, as guerras resultam geralmente daquele “patriotismo” mesquinho a procurar o seu bem à custa do sacrifício de outra ou outras nações.

 

É deveras lamentável que não incutam à criança um amplo amor a todas as Pátrias, e que não importa a cor, a raça, a língua ou a política. Importa, sim, o coração de cada um.

 

É triste constatar que há jovens de capacidade que não sobressaiem pelo facto de não receberem estímulo da parte dos pais e professores que, em lugar de lhes levantarem o moral, de fazerem com que eles não percam a visão do Ideal, de lhes inocularem fé e confiança no futuro, muitas vezes só têm dichotes e censuras cruéis para os flagelar. E nem ao de leve avaliam o veneno que lhes destilam no carácter.

 

Temos de meditar sobre a criança. Meditar acerca dos variados problemas ligados à educação infantil para que os homens e mulheres do amanhã possam viver num mundo mais saudável e fraterno…

 

 

João Machado
22/03/2015

 

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial

Embora não tenha sido a mais mortífera, a guerra colonial foi cronologicamente o mais longo conflito militar em que Portugal se viu envolvido desde as guerras da Restauração, iniciadas em 1640 e concluídas em 1668 (para Angola e Moçambique, porém, as guerras de libertação nacional – treze anos no primeiro caso e dez no segundo –, foram mais curtas do que as guerras civis iniciadas, respectivamente, em 1975 e em 1977). Num conjunto de curtos ensaios a publicar a partir deste mês de Agosto, procurarei analisar alguns episódios que considero relevantes, mesmo quando aparentemente menos óbvios, da história das guerras coloniais ocorridas em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique entre 1961 e 1975, embora aqui e ali tanto as fronteiras geográficas como as cronológicas sejam desrespeitadas.

 
Estes pequenos estudos tratarão temas de história militar num sentido amplo. Ou seja, abordarão questões militares do ponto de vista das suas origens e significado político, cultural, económico ou social. Por outro lado, não se centrarão apenas numa análise da guerra colonial na perspectiva do confronto político-militar entre o estado colonial português e os movimentos de libertação. A guerra colonial, como se verá e é minha convicção, foi, também, uma disputa política interna ao estado colonial e aos movimentos de libertação — com outros protagonistas estatais, não estatais, regionais, nacionais ou internacionais. Por outro lado, a guerra só pôde ser feita, tanto do lado português, como do lado africano, porque ambos os beligerantes contaram com apoios externos — umas vezes óbvios, outras vezes inesperados, aqui e ali ostensivos, mas muitas vezes repetidamente ocultos ou dissimulados. Por fim, a guerra não ocorreu apenas em Portugal e no seu império africano; aconteceu em vários pontos do globo.

 

 

Na longa história (ou evolução) desta guerra global, não importava apenas a qualidade e a quantidade do armamento, no sentido convencional do termo, de que as partes dispunham. Particularmente importante foi o uso que se fez de recursos políticos dos mais variados e que se destacavam por terem como objectivo não apenas vencer um confronto militar no terreno mas, também, conseguir a conquista dos “corações e das mentes” das populações africanas residentes nas colónias portuguesas, da opinião pública portuguesa, das elites políticas, sociais e militares portuguesas, e ainda da opinião pública internacional e de decisores políticos ou actores económicos espalhados pelo mundo. Ou seja, devemos preparar-nos para ver um conflito como a guerra colonial enquanto um acontecimento em que as questões militares são necessárias para perceber aquilo que esteve em causa, mas não suficientes para explicar a sua natureza, desenvolvimento e desenlace. Os principais actores do conflito perceberam muito bem esta realidade e agiram em conformidade. Os historiadores e o público que se interessa pela história da guerra colonial nem por isso.

 

 

A questão da preparação portuguesa para a guerra (1961) – Que guerra e quando?

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial7

“Não são as sublevações que hão-de definir os resultados finais.” Oliveira Salazar, 30 de Agosto de 1960

 
Numa reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional realizada a 30 de Agosto de 1960 no Palácio de São Bento, e no decurso da qual se trataram “assuntos relacionados com a defesa do Ultramar”, Oliveira Salazar iniciou os trabalhos com uma exposição que dava mostras da sua preocupação com os desenvolvimentos registados recentemente na situação política da África subsaariana. O presidente do Conselho reconheceu que desde Julho de 1959, quando se tinha realizado a última reunião entre os conselheiros da defesa nacional, a situação naquela região sofrera alterações profundas tornando-se “mais difícil para nós”.

 
Salazar percebeu que povos e territórios “subordinados a países amigos”, no presente ou num futuro mais ou menos próximo, tornar-se-iam independentes e, portanto, teriam para com Portugal, e o seu estatuto de estado colonial, uma atitude certamente hostil, ainda que com gradações distintas.

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial8

 

A causa era simples: se em Julho de 1959 a independência da Guiné francesa (ocorrida em Outubro de 1958) e a do Congo belga (que teria lugar em Junho de 1960), pareciam ser as únicas ameaças sérias ao status quo prevalecente na chamada África negra e à estabilidade e segurança relativas existentes nas colónias da Guiné, de Angola e de Moçambique, um ano mais tarde era evidente que o “desmoronamento dos territórios” que rodeavam as províncias ultramarinas portuguesas iria ter repercussões tanto na sua segurança externa como interna. Povos e territórios “subordinados a países amigos”, no presente ou num futuro mais ou menos próximo, tornar-se-iam independentes e, portanto, teriam para com Portugal, e o seu estatuto de estado colonial, uma atitude certamente hostil, ainda que com gradações distintas.

 
Definido o quadro geral, Salazar enunciou depois outro tipo de consequências para a segurança e integridade dos territórios portugueses em África, que decorreriam desta nova realidade. Entre aquelas, a principal relacionava-se com a planificação política e militar que vinha sendo feita e que devia ser revista. Ou seja, era imperioso que se preparassem as Forças Armadas para fazerem face não já à forte probabilidade mas à inevitabilidade de uma “sublevação da população negra.” Ora, é sobre esta questão política e militar e o seu significado que este primeiro texto sobre a guerra colonial se debruça.

 

Dilemas militares e confrontação política.

 

A formação e consolidação de uma nova realidade política africana no final da década de 1950 e no início da década de 1960 significava que, a par do reconhecimento da existência de outras potenciais ou reais ameaças à política colonial portuguesa, medidas extraordinárias deviam ser tomadas pelas autoridades coloniais. No domínio da acção político-militar que pretendia prevenir, adiar e, finalmente, limitar os custos de uma inevitável sublevação ou insurgência armada nos territórios coloniais, as autoridades portuguesas procuraram definir e pôr em prática uma nova estratégia. Ou melhor, uma estratégia que complementasse aquela que até meados do ano de 1960 considerou que a situação política em África, e a questão global da descolonização, não se alterariam nem substancial nem rapidamente.

 

Como Salazar preparou a guerra colonial2

Salazar foi acusado de não ter preparado as forças armadas para a guerra que se aproximava.

 

 

Note-se, porém, que modificado o ritmo e o alcance das transformações ocorridas no espaço africano, tal não significou que se tivesse tornado irrelevante a existência de outras ameaças ou riscos para os interesses portugueses. Era o caso, por exemplo, e ainda segundo Salazar, de ter prosseguido e ter sido aprofundada uma “modificação geral” na “política das Nações Unidas em relação à África”; ou o facto dos “Americanos” desconhecerem “completamente os problemas Asiáticos e Africanos”.

 
Isto indica que em Lisboa se percebia que os EUA estavam já a desinvestir, ou em vias de desinvestir mais ainda, na sua política de apoio ao colonialismo europeu como forma de travar a formação de vazios de poder na Ásia e em África resultantes de descolonizações precipitadas — facto que, segundo Washington, e durante cerca de uma década, proporcionara oportunidades para a afirmação da presença e do poder da União Soviética e de seus aliados naqueles dois continentes.

 
Durante décadas, fruto dos testemunhos deixados sobretudo por militares que nos meses de Março e Abril de 1961 conspiraram frustrada mas intensamente com o intuito de afastarem Salazar da chefia do governo, foi voz corrente a ideia de que o ditador ignorou as ameaças políticas e militares que pairavam sobre o império africano português como consequência da resistência do Estado Novo aos ventos de mudança que teriam tornado mais ou menos inevitável a descolonização dos impérios ultramarinos europeus.

 
Paralelamente, Oliveira Salazar foi acusado de ter recusado aceitar a inevitabilidade do deflagrar de uma guerra contra movimentos de guerrilha na Guiné, em Angola e em Moçambique, à imagem das guerras revolucionárias de libertação nacional, anticoloniais ou não, que enxamearam a Ásia, a África e a América Latina no decurso da Guerra Fria. Essa recusa teria impedido as chefias militares de apetrecharem as Forças Armadas com meios materiais, humanos e a doutrina que poderiam possibilitar que se travasse com êxito uma guerra de contra-insurgência.

 

Como Salazar preparou a guerra colonial3

 Botelho Moniz, o ministro da Defesa que quis derrubar Salazar.

 

No entanto tal acusação está longe de corresponder à verdade, sendo desmentida por factos que demonstram ter Salazar percebido, como toda a cúpula política e militar do Estado Novo, que a guerra — provável primeiro, e inevitável depois — com que Portugal se confrontaria, não só ocorreria em África como teria uma natureza “subversiva” (é verdade que Salazar temeu em 1959, 1960 e 1961 que se pudesse reunir na Guiné-Conacri um exército internacional, cujo intuito seria invadir e ocupar o território da Guiné portuguesa).

 
Sendo assim, que razão terá levado militares próximos de Botelho Moniz a difundiram a imagem, hoje genericamente aceite, de um Oliveira Salazar incapaz de reconhecer que a guerra que iria ocorrer na África portuguesa seria combatida segundo o paradigma da contra-insurgência, por um lado, e que o ditador tudo teria feito para travar, pelo menos em parte, uma preparação adequada das Forças Armadas portuguesas para um conflito com aquelas características?

 

 

A ideia de que a um Salazar “reaccionário” ou “ultraconservador” se opunha um Botelho Moniz liberal, não passa de uma mistificação construída posteriormente por defensores da “Abrilada”.

 
Na verdade a resposta é simples e pouco ou nada tem que ver com questões natureza militar. As divergências que se instalaram no topo do Estado Novo e do Governo sobre como preparar a guerra que aí vinha eram exclusivamente políticas, pelo que a questão da forma como a guerra de contra-insurgência seria planeada e executada foi um elemento lateral naquilo que era uma rivalidade e uma desconfiança profunda entre membros do Governo desde Agosto de 1958 – data em que uma importante remodelação governamental fez substituir Fernando Santos Costa por Júlio Botelho Moniz na condução da pasta da Defesa Nacional.

 
Note-se, porém, que essas rivalidades não tinham por trás quaisquer divergências político-ideológicas inconciliáveis sobre a forma como Portugal devia ser governado. Eram essencialmente pessoais e andavam em torno da mais pura luta pelo acesso ao poder e seu uso. A ideia de que a um Salazar “reaccionário” ou “ultraconservador” se opunha um Botelho Moniz liberal, não passa de uma mistificação construída posteriormente por defensores da “Abrilada” (qualquer biografia política do general Botelho Moniz mostra à saciedade as suas credenciais autoritárias e salazaristas).

 

Como Salazar preparou a guerra colonial4

 

Botelho Moniz fez parte de uma missão militar que visitou a frente leste durante a II Guerra, acompanhando o exército alemão.

 

 

Deixemos agora de lado a discussão sobre a natureza da política colonial, e do próprio regime político, que conduziu à opção pelo uso da força militar como forma de preservar a integridade do império ultramarino português.

 
Como Salazar preparou a guerra

 

No que diz respeito à preparação portuguesa para uma guerra colonial, Salazar criou uma equipa em vários ministérios e subsecretarias de Estado com o objectivo de preparar as Forças Armadas, e especialmente o Exército, para um conflito com aquelas características. Fê-lo, porém, tendo em conta, pelo menos, três condicionantes que os seus adversários de então no Governo e no regime, nomeadamente os ministros da Defesa Nacional e do Exército (além do subsecretário de Estado do Exército, Francisco da Costa Gomes), combateram na altura e ignoraram depois em grande parte dos testemunhos produzidos sobre os acontecimentos que precederam a “abrilada”.

 

A primeira condicionante reconhecia e aceitava que os meios financeiros e humanos à disposição do estado português eram limitados e, por isso, deveriam ser usados criteriosamente. Por exemplo, a preparação financeira para uma guerra colonial implicava, segundo Salazar, um desinvestimento do empenhamento político, militar e também financeiro por parte das Forças Armadas Portuguesas e do estado português na NATO e na cooperação militar com a Espanha ao abrigo dos acordos político-diplomáticos e militares celebrados em 1939 e depois várias vezes revistos e reafirmados.

 

Como Salazar preparou a guerra colonial5

Desfile militar em Luanda, no início da guerra

 

Em segundo lugar, o reforço moderado do investimento no dispositivo militar colonial – criado no império, para lá deslocado ou a deslocar – deveria ser rigoroso e realista tanto política como financeiramente. Isto é, não devia pôr em perigo o equilíbrio orçamental, a distribuição justa e necessária de recursos entre ministérios, mas também não devia nem podia criar desequilíbrios excessivos – quanto às dotações financeiras, prontidão operacional ou aquisição de armamento – no seio das próprias Forças Armadas, uma vez que tal eventualidade poderia ter consequências políticas imprevisíveis.

 
Finalmente (terceira “condicionante”), o calculismo de Salazar relativamente à questão do investimento numas Forças Armadas que deviam estar mais apetrechadas para prevenirem e/ou enfrentarem com êxito uma guerra colonial decorria da desconfiança que o presidente do Conselho sistematicamente nutriu relativamente aos chefes militares, com especial destaque para aqueles que não conhecia bem e/ou em quem não confiava.

 

Botelho Moniz pretendia manter e até reforçar os compromissos com a NATO, ao mesmo tempo que defendia acirradamente um reforço da presença militar em África. Ora a persecução destes dois objectivos teria como consequência inevitável provocar a rotura das finanças do estado português.

 

Ora a falta de confiança política nas chefias militares, tanto ou mais do que a falta de recursos e a necessidade de os usar de forma quantitativa e qualitativamente equilibrada, foi a causa do imobilismo aparente que teria norteado a acção de Salazar nos anos que precederam o início da guerra em Angola em Março de 1961. Ou seja, embora se pudesse argumentar em 1960-61, como se pode argumentar hoje, que havia algo no domínio da definição e da organização da política de defesa que poderia separar Salazar de Botelho Moniz, tal não radicava na forma como um e outro antecipavam a evolução da situação militar nas colónias e a melhor forma para responder à guerra que se adivinhava. Ela radicava, em primeiro lugar, no facto de Botelho Moniz pretender manter e até reforçar os compromissos com a NATO, ao mesmo tempo que defendia acirradamente um reforço da presença militar em África. Ora a persecução destes dois objectivos teria como consequência inevitável provocar a rotura das finanças do estado português.
A preparação portuguesa para a guerra denotou, pois, a existência de um regime politicamente dividido, embora essa divisão fosse mais circunstancial do que estrutural. Superadas essas divisões, o governo e o regime, com as Forças Armadas, puderam então centrar-se no essencial.

 
Uma outra diferença importante, a segunda, manifestava-se na circunstância de, aparentemente, Botelho Moniz não valorizar o impacto que, no conjunto das Forças Armadas, nomeadamente na sua coerência e coesão interna, teria uma mudança demasiado rápida nas suas estruturas como resultado da atribuição de dotações orçamentais generosas para cumprir os compromissos NATO e os compromissos africanos. Aliás, uma qualquer subida substancial dos gastos com a defesa, ainda antes dos acontecimentos ocorridos em Angola em 1961, teria tido como resultado, caso Salazar a aceitasse, provocar mal-estar não só entre membros do governo, mas certamente entre outros círculos mais afastados mas necessariamente não menos importantes no apoio ao regime e ao seu líder.

 

 

Como Salazar preparou a guerra colonial6

A sublevação político-militar começou a 15 de Março de 1961 no “norte” de Angola

 

 

A preparação portuguesa para a guerra denotou, pois, a existência de um regime politicamente dividido, embora essa divisão fosse mais circunstancial do que estrutural. Superadas essas divisões, o governo e o regime, com as Forças Armadas, puderam então centrar-se no essencial. E o essencial era enfrentar a sublevação político-militar lançada a 15 de Março de 1961 no “norte” de Angola, sublevação que, independentemente daqueles que foram os seus mentores e perpetradores, acabaria por ser reivindicada pela UPA liderada por Holden Roberto.

 
Próximo ensaio.

 
Se o estado colonial português se preparou, dentro das suas limitações, para uma guerra que sabia inevitável, qual era a o grau de prontidão do lado dos movimentos políticos e militares que reivindicaram a partir de Fevereiro e Março de 1961 o início da luta armada contra o estado colonial português? A esta pergunta tentarei responder no próximo ensaio, sendo certo que o maior ou menor grau de preparação militar para dar início e continuidade a acções de insurgência política e militar dependia de três variáveis.
Primeiro, da capacidade demonstrada pelas lideranças destes movimentos para agregarem a constelação de sensibilidades e personalidades que pretenderam ao longo das décadas de 1950 e 1960 ocupar o espaço político, ideológico, cultural e social do nacionalismo na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, em Angola e em Moçambique.

 

 

Segundo, do nível de coesão interna existente em maior, menor ou nenhum grau nos movimentos nacionalistas que tinham a luta armada como desígnio.

 

 

Finalmente, da capacidade de mobilizar apoios políticos, militares ou financeiros internacionais e de os usar de forma eficaz, não apenas no combate ao colonialismo mas ainda, e sobretudo, na mobilização e sensibilização de franjas tão largas quanto possível da opinião pública internacional, alertando-a para a legitimidade e a bondade do anticolonialismo em geral e do nacionalismo que se opunha ao estado colonial português em particular.

 

 

 

09/08/2014 – Observador

Por: Fernando Martins

 

 

 

 

O dia em que Spínola, o Presidente da República, anunciou a Descolonização

No dia 27 de Julho de 1974, o general António de Spínola anunciou ao país que tinha início o processo de descolonização e garantiu que não havia nada a recear.

 

Spínola dirigiu-se aos portugueses faz hoje 40 anos para anunciar a descolonização.

 
Há 40 anos, o general António de Spínola dirigia-se ao “povo português de aquém e além-mar” para, “com a mais viva emoção”, reconhecer o direito das colónias à auto-determinação e independência.

 
Para Spínola, o anúncio da descolonização correspondeu a uma “hora grande na vida e na história de um Povo” ao permitir o “reencontro” do país “com a vocação, a fisionomia e a forma de ser e de estar no mundo que lhe são próprias”. Até porque Portugal, disse o general no discurso, não foi “um povo de vocação imperialista”.

 
Nessa hora grande, Spínola declarou que havia “chegado o momento de reconhecer às populações dos nossos territórios ultramarinos o direito de tomarem em suas mãos os próprios destinos, concretizando-se, desse modo, o desenvolvimento da política de autenticidade que sempre defendemos”.

 
Ao longo do discurso, o general Spínola refere o “sofrimento” vivido durante os 13 anos da guerra colonial , dizendo que o esforço militar que no início procurou “evitar o genocídio e criar as conduções para uma solução política”, acabou por “perder todo o sentido”.

 
Depois de reconhecer que essa guerra conduziu a “posições de irreconciliação, que estão na base do ambiente de desconfiança criado”, Spínola anuncia por fim a lei constitucional nº7/74, promulgada na véspera e que dá início ao processo de descolonização.

 
“Assim, e na mais perfeita coerência com a linha de ação do meu governo na Guiné, chegou o momento de o Presidente da República reiterar solenemente o reconhecimento do direito dos povos dos territórios ultramarinos portugueses à autodeterminação, incluindo o imediato reconhecimento do seu direito à independência”, disse o general.

 
No final do discurso, Spínola dirige-se aqueles que “sonharam, honestamente, com uma África lusa” para lhes dizer que “nada terão a recear” pois “as autoridades dos novos países honrarão o sentido de justiça decorrente do seu estatuto de nações plurirraciais de expressão portuguesa”.

 

 

António de Spínola, antigo governador da Guiné e primeiro Presidente da República não eleito, após o 25 de abril de 1974, defendia um projeto de descolonização diferente daquele pretendido pelo MFA e falou várias vezes da possibilidade de consultar a população dos territórios coloniais. O plano do general passava por um processo de independência faseado em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau, que poderia durar cinco anos.

 
27/07/2014
Autor: Catarina Fernandes Martins

 

 

 

 

Quem matou César, o Imperador? Nem Bruto, nem Cássio

A morte de Júlio César mereceu a atenção dos cientistas, investigadores e historiadores ao longo do tempo. Acreditava-se que os autores do crime eram Cássio e Bruto. Mas afinal houve um terceiro homem na conspiração.

 
O apunhalamento de Júlio César continua envolto em grande mistério. A uma distância de cerca de dois mil anos, a linha que separa a lenda da História torna-se progressivamente mais ténue. Mas ainda persistem muitas dúvidas.

 
Afinal quem matou o influente romano a 15 de março de 44 a.C., no pórtico da Cúria de Pompeu (em Roma)? Esta é uma interrogação de difícil resolução. Em primeiro lugar, porque o simbolismo do acontecimento o exige e, além disso, porque Shakespeare se “apoderou” da História e criou grande influência na perceção da realidade.

 
Barry Strauss, Professor de Clássicas na Universidade de Cornell, acaba de chegar com uma novidade: nem Bruto, político romano, nem Cássio, político grego, foram os únicos responsáveis pela morte de Júlio César. Segundo o livro “The Death of Caesar”, houve um terceiro homem envolvido no assassinato.

 
“Décimo foi a chave. Os conspiradores não eram aficionados nem políticos civis. Eram antes generais que organizaram o magnicídio com uma precisão militar. Os gladiadores e várias mulheres da elite romana também tiveram um papel importante”, explica Strauss ao El País.

 
Décimo Junio Bruto Albino era companheiro de armas de Júlio César e surge em todos os relatos do assassinato do general romano. Esta é a primeira vez que aparece enquanto protagonista. Algumas versões da História dizem mesmo que as palavras de César, “Também tu, meu filho?”, se dirigem ao seu amigo e não a “Brutus” mais famoso.

 
Nos relatos clássicos, Décimo é a pessoa que segue para casa de César para convencê-lo de que, apesar dos maus presságios e do sonho premonitório de Calpúrnia – esposa de Júlio – o Senado necessitava da sua presença.

 
O companheiro de César terá tanta importância na morte do conquistador da Gália como Cássio, um dos líderes da conspiração que convenceu Bruto a quebrar a sua lealdade face ao crescente poder do político. Strauss acredita que Bruto passou para o outro lado da barricada em busca de poder, funcionando como espião.

 
Para a maioria dos autores, a missão não era defender a democracia, mas antes proteger os privilégios da sua classe. Ronald Syme, investigador da história de Roma, escreveu que “as tragédias da história não surgem do conflito entre o bem e o mal convencionais. São mais imponentes e complexas. César e Bruto tinham ambos a razão do seu lado”.

 
O enredo emotivo carregado da morte de Júlio César e o facto de marcar um momento crucial na História, quando Roma se debatia entre permanecer uma República ou converter-se num Império, torna este acontecimento bastante significativo.

 
Há três anos, um grupo de arqueólogos do Conselho Superior de Investigações Científicas descobriu o local onde foi assassinado o ídolo romano da era anterior a Cristo. E, nas palavras dos historiadores, ainda há muito para apurar sobre o apunhalamento que marcou a História da humanidade.

 

 

9/3/2015 – Observador

Foto: Getty Images

 

 

 

UNESCO condena destruição da cidade milenar de Hatra por ‘jihadistas’

A UNESCO condenou hoje a “destruição” da antiga cidade de Hatra, situada no norte do Iraque, pelo movimento extremista Estado Islâmico (EI), que nas últimas semanas destruiu valioso património arqueológico iraquiano.

 
A UNESCO condenou hoje a “destruição” da antiga cidade de Hatra, situada no norte do Iraque, pelo movimento extremista Estado Islâmico (EI), que nas últimas semanas destruiu valioso património arqueológico iraquiano. “A destruição de Hatra é um ponto de viragem na assustadora estratégia de limpeza cultural que está em curso no Iraque”, disse em comunicado a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, referindo-se à destruição do património cultural do Iraque por parte dos ‘jihadistas’ do IE.

 
Classificadas como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO, as ruínas de Hatra, com cerca de 2.300 anos, foram destruídas pelo EI, que recentemente também devastou Nimrud, um dos principais sítios arqueológicos do país e uma das cidades mais importantes da antiga Mesopotâmia, assim como o Museu da Civilização de Mossul.

 
Em Bagdad, o Ministério do Turismo e Antiguidades também já condenou a destruição da cidade de Hatra, localizada cem quilómetros a sudoeste de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, que se encontra sob controlo do IE. O secretário-geral da ONU já tinha condenado veementemente os atos do EI: “A destruição deliberada da nossa herança cultural comum constitui um crime de guerra e um ataque contra a humanidade como um todo”, disse Ban Ki-moon.

 

 

07/03/2015 – LUSA

SHAWN BALDWIN/EPA