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Comemorações dos 100 anos da Batalha de La Lys abre cíclo comemorativo no Mosteiro da Batalha sob o lema “Da Guerra e da Paz”

Teve lugar hoje (6 de Abril) no auditório do Mosteiro da Batalha o 1º colóquio sobre as comemorações dos cem anos da Primeira Guerra Mundial, sob o lema “Da Guerra e da Paz”, sendo convidada de honra a Srª Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Profª Doutora Maria Fernanda Rollo, que abriu este ciclo comemorativo com uma conferência sobre a 1ª Grande Guerra, seguida do Coronel Carlos Mendes Dias que falou sobre “Geopolítica/ Geostratégia e a origem da Guerra”.

 

 

No mesmo dia, foi inaugurada na Galeria Mouzinho de Albuquerque, localizada no antigo edifício da Câmara Municipal de Batalha, a exposição “A aviação militar portuguesa na 1ª Grande Guerra” – parceria com o Museu do Ar (Comissão histórico-Cultural da Força Aérea).

 

 

No contexto de um monumento que desde 1921 acolhe as homenagens nacionais ao Soldado Desconhecido, a Liga dos Combatentes, a Câmara Municipal da Batalha e o Mosteiro da Batalha/DGPC, programaram um conjunto de atividades que, apropriando-se da efeméride, visam sobretudo celebrar o espírito da PAZ e, igualmente, refletir sobre as causas e consequências da guerra, o papel de Portugal nesse conflito e o contexto da sua entrada.

 

 

Em Junho e Novembro, para além de colóquios, estão programados dois concertos pela PAZ

 

 

Do Programa Comemorativo constam os seguintes eventos:

 

08 de junho | Auditório do Mosteiro | 17h30

 

2º COLÓQUIO – PORTUGAL E A 1ª GRANDE GUERRA

 

– Coronel Luís Albuquerque – A Grande Guerra nas colónias portuguesas

 

– Prof. Doutor António José Telo – Os militares do CEP sacrificados pela má política

 

 

 

09 de junho | Capelas Imperfeitas | 21h30

 

1º  CONCERTO PELA PAZ

 

Banda Filarmónica das Cortes

 

Banda Sociedade Filarmónica Ouriense

 

Coro Essence Voices – Ourém

 

12 de outubro | Sala do Capítulo

 

 

VISITA GUIADA

 

Coronel Américo Henriques – O povo português e a 1ª Grande Guerra

 

 

09 de novembro | Auditório do Mosteiro | 17h30

 

3º COLÓQUIO – PORTUGAL E A 1ª GRANDE GUERRA

 

– Major-General Aníbal Flambó – A Guerra acabou. E agora?

– Prof. Doutor Luís Alves Fraga – Portugal na Grande Guerra: Uma visão geral e Panorâmica.

 

 

10 de novembro| Igreja do Mosteiro | 21h00

 

2º  CONCERTO PELA PAZ

 

Banda Sinfónica da Força Aérea

 

Organização: Liga dos Combatentes I Câmara Municipal da Batalha I Mosteiro da Batalha/DGPC.

 

Parcerias: Comissão Histórico-Cultural da Força Aérea I Direção de História e Cultura Militar (Exército).

 

Apoios: Museu do Ar, Banda Sinfónica da Força Aérea, Filarmónica das Cortes, Sociedade Filarmónica Ouriense, Coro Essence Voices e Caixa de Crédito Agrícola da Batalha.

 

 

Esta iniciativa conta com o Alto Patrocínio do Sr. Presidente da República e integra-se no Ano Europeu do Património Cultural.

 

 

 

100 anos do atoleiro da batalha de La Lys: a história de uma tragédia militar

 

 

 

 

A Primeira Guerra Mundial (também conhecida como Grande Guerra ou Guerra das Guerras até ao início da Segunda Guerra Mundial) foi uma guerra global centrada na Europa, que começou em 28 de julho de 1914 e durou até 11 de novembro de 1918.

 

O conflito envolveu as grandes potências de todo o mundo, que organizaram-se em duas alianças opostas: os aliados (com base na Tríplice Entente entre Reino Unido, França e Império Russo) e os Impérios Centrais, o Império Alemão e a Áustria-Hungria. Originalmente a Tríplice Aliança era formada pelo Império Alemão, pela Áustria-Hungria e o Reino da Itália; mas como a Áustria-Hungria tinha tomado a ofensiva, violando o acordo, a Itália não entrou na guerra pela Tríplice Aliança. Estas alianças reorganizaram-se (a Itália lutou pelos Aliados) e expandiram-se com mais nações que entraram na guerra. Em última análise, mais de setenta milhões de militares, incluindo sessenta milhões de europeus, foram mobilizados em uma das maiores guerras da história. Mais de nove milhões de combatentes foram mortos, em grande parte por causa de avanços tecnológicos que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas, mas sem melhorias correspondentes em proteção ou mobilidade. Foi o sexto conflito mais mortal na história da humanidade e que posteriormente abriu caminho para várias mudanças políticas, como revoluções em muitas das nações envolvidas.

 

 

Entre as causas da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a Terceira República Francesa e a Itália. Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip, em Sarajevo, na Bósnia, foi o gatilho imediato da guerra, o que resultou em um ultimato da Áustria-Hungria contra o Reino da Sérvia. Diversas alianças formadas ao longo das décadas anteriores foram invocadas, assim, dentro de algumas semanas, as grandes potências estavam em guerra; através das suas colónias, o conflito logo se espalhou ao redor do planeta.

 

 

Em 28 de julho, o conflito iniciou-se com a invasão austro-húngara da Sérvia, seguida pela invasão alemã da Bélgica, Luxemburgo e França, e um ataque russo contra a Alemanha. Depois da marcha alemã até Paris ter levado a um impasse, a Frente Ocidental se transformou em uma batalha de atrito estático com uma linha de trincheiras que pouco mudou até 1917. Na Frente Oriental, o exército russo lutou com sucesso contra as forças austro-húngaras, mas foi forçado a recuar da Prússia Oriental e da Polónia pelo exército alemão. Frentes de batalha adicionais abriram-se depois que o Império Otomano entrou na guerra em 1914, Itália e Bulgária em 1915 e a Roménia em 1916. Depois de uma ofensiva alemã em 1918 ao longo da Frente Ocidental, os Aliados forçaram o recuo dos exércitos alemães em uma série de ofensivas de sucesso e as forças dos Estados Unidos começaram a entrar nas trincheiras. A Alemanha, que teve o seu próprio problema com os revolucionários, neste ponto, concordou com um cessar-fogo em 11 de novembro de 1918, episódio mais tarde conhecido como Dia do Armistício. A guerra terminou com a vitória dos Aliados.

 

 

Os eventos nos conflitos locais eram tão tumultuosos quanto nas grandes frentes de batalha, tentando os participantes mobilizar a sua mão de obra e recursos económicos para lutar uma guerra total. Até o final da guerra, quatro grandes potências imperiais — os impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano — deixaram de existir. Os Estados sucessores dos dois primeiros perderam uma grande quantidade de seu território, enquanto os dois últimos foram completamente desmontados. O mapa da Europa central foi redesenhado em vários novos países menores.  A Liga das Nações, organização precursora das Nações Unidas, foi formada na esperança de evitar outro conflito dessa magnitude. Esses esforços falharam, exacerbando o nacionalismo nos vários países, a depressão econóómica, as repercussões da derrota da Alemanha e os problemas com o Tratado de Versalhes foram fatores que contribuíram para o início da Segunda Guerra Mundial.

 

 

 

Alemanha declara guerra a Portugal em 1916

 

 

Apresados os navios alemães nos portos portugueses, a Alemanha declara guerra a Portugal. O país unifica-se e mobiliza-se – são recrutados todos os portugueses entre os 20 e os 45 anos, sem exceção –, a prolífica imprensa da altura ora cria discursos inflamados, ora caricaturas a partir da atualidade.

 

 

 

Mobilização para a Guerra

 

 

 

A Primeira Guerra Mundial levou milhares de jovens portugueses até França, onde combateram as tropas alemãs e as do Império Austro-Húngaro.

 

 

As duas divisões formadas em Portugal combateram como força independente até Abril de 1918, quando foram surpreendidas por um intenso ataque às suas posições. Na batalha que ficaria conhecida em Portugal como a batalha de La Lys, os portugueses perderam mais de sete mil homens, mortos ou feitos prisioneiros do inimigo.

 

 

As tropas do Corpo Expedicionário Português (CEP) foram transportadas para França a partir de 30 de janeiro de 1917. O primeiro grupo seguiu quase em segredo, de forma a assegurar a “rapidez e boa ordem”, segundo o argumento do governo.

 

 

Tudo decorreu de noite, por conveniência do “serviço dos comboios”, explicava a revista “Ilustração Portuguesa”, que ao longo de meses iria documentar as sucessivas partidas e despedidas entre os que ficavam e os que partiam.

 

Ao longo de meses Lisboa fervilhou com milhares de homens a chegar de comboio, oriundos de vários pontos do país. Da estação de Santa Apolónia marchavam até Alcântara e depois, por mar, até Brest, em França.

 

 

Estas zonas eram também os locais onde os familiares deixavam um último abraço ou um último carinho. Antes de embarcar muitos soldados aproveitavam para escrever um derradeiro postal, ou comprar fruta às vendedoras que aproveitavam para fazer negócio.

 

As partidas começaram a 30 de janeiro de 1917 e duraram até outubro. Praticamente todas foram seguidas e fotografadas pelas revistas e jornais da época que foram contando e mostrando como quase 60 mil homens seguiram viagem até França.

 

Aníbal Augusto Milhais foi um dos jovens mobilizados para a Flandres na Primeira Guerra Mundial. Durante a batalha de La Lyz ficou sozinho atrás das linhas alemãs onde, armado de vontade e uma metralhadora, conquistou a mais alta condecoração do país.

 

 

Durante a batalha de La Liz, que a 9 de abril de 1918 desbaratou o Corpo Expedicionário Português (CEP), o soldado Milhais ficou para trás para dar cobertura à sua unidade com uma metralhadora.

 

 

Perdido dos camaradas foi recuando sozinho, cercado pelas tropas alemãs, ocupando posições e disparando sempre que podia ou precisava. Pelo caminho deu apoio a grupos de soldados portugueses ou aliados, e salvou um oficial escocês de morrer afogado.

 

 

Quando, várias dias depois, conseguiu chegar junto das tropas portuguesas foi baptizado de soldado Milhões, tendo em conta a valentia que demonstrara.

 

 

Foi na sequência das suas ações, nos dias que se seguiram a 9 de abril de 1918, que ficaria conhecido por Milhões, quando um dos seus comandantes fez um trocadilho com o seu nome: “Chamas-te Milhais, mas vales Milhões”.

 

 

TPT com: Joaquim Ruivo, Diretor do Mosteiro da Batalha//AFP//Wikipédia//Observador// 6 de Abril de 2018

 

 

 

 

 

 

Rússia responde aos EUA expulsando 60 diplomatas e encerrando o Consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo

A Rússia decidiu expulsar 60 diplomatas norte-americanos, anunciou esta quinta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. O país fez o que já tinha ameaçado e mandou embora exatamente o mesmo número de diplomatas que os Estados Unidos tinham expulsado na semana passada. Além disso, a Rússia decidiu também fechar o consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo.

 

 

O envenenamento do ex-espião Russo Serguei Srkipal e da filha, no Reino Unido, tem inflamado as relações diplomáticas entre a Rússia e ocidente, com 27 países a já terem anunciado a expulsão de mais de 140 diplomatas russos. O Kremlin tem negado qualquer envolvimento no caso e acusa Londres de ainda não ter revelado qualquer prova do seu envolvimento.

 

 


EUA ameaça responder a expulsões injustificadas decididas pela Rússia

 

 

 

As expulsões dos diplomatas norte-americanos pela Federação Russa são injustificadas e os EUA reservam-se o direito de responder, afirmou esta quinta-feira a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert. A Federação Russa anunciou hoje a expulsão de 60 diplomatas dos EUA, depois de os EUA o terem feito ao mesmo número de “espiões russos”. Se se acrescentarem as medidas similares tomadas pelo Reino Unido, pela maioria dos Estados membros da União Europeia, bem como pela Ucrânia, Canadá e Austrália, já somam quase 230 os diplomatas que devem ser expulsos em consequência do caso do envenenamento no Reino Unido do ex-espião russo Serguei Skripal.

 

“Não há qualquer justificação para a reação russa”, destacou, durante um encontro com jornalistas. “Reservamo-nos o direito de responder”, continuou, acrescentando que “as opções estão a ser examinadas”. Estimou ainda que Moscovo tinha “decidido isolar-se ainda mais”, ao expulsar os diplomatas norte-americanos e encerrar o consulado dos EUA em São Petersburgo, depois de medidas idênticas tomadas por Washington. Até agora, a Federação Russa anunciou a expulsão de 83 diplomatas ocidentais, aqueles norte-americanos mais 23 britânicos, já expulsos.

 

 

“Quanto aos outros países, (a resposta de Moscovo) vai ser idêntica no que respeita ao número de pessoas que vão ter de abandonar a Rússia”, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov. Antes, os EUA e 18 Estados da União Europeia, além de outros Estados ocidentais, anunciaram, desde segunda-feira, 122 expulsões. Com os 23 russos já expulsos pelo Reino Unido, em 20 de março, são 145 os diplomatas russos que foram objeto de expulsão.

 

 

A estes, têm ainda de se acrescentar os sete membros da representação russa na sede da NATO, em Bruxelas, aos quais a Aliança Atlântica anunciou hoje ir retirar a acreditação. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, indicou que “medidas suplementares, incluindo novas expulsões, não estavam excluídas nos próximos dias e próximas semanas”. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, inquietou-se hoje por a tensão atual entre os EUA e a Federação Russa começar a assemelhar-se com a da Guerra Fria.

 

 

Reino Unido agradece “solidariedade” de Portugal por chamar embaixador em Moscovo

 

 

 

O chefe da diplomacia britânico, Boris Johnson, agradeceu esta quinta-feira a Portugal “a solidariedade” para com o Reino Unido, destacando “a seriedade” da decisão de chamar o embaixador português em Moscovo após o ataque ao ex-espião russo no Reino Unido. Numa mensagem enviada esta quinta-feira ao ministro dos Negócios Estrangeiros português, a que a agência Lusa teve acesso, Boris Johnson agradece “pessoalmente pela ação” de Portugal, ao ter chamado o embaixador português em Moscovo para consultas após o ataque com um agente químico em Salisbury (sudoeste de Inglaterra), a 04 de março, ao ex-espião Serguei Skripal, e à filha Yulia.

 

As autoridades britânicas afirmaram que os dois foram envenenados com um agente neurotóxico de tipo militar e responsabilizaram a Rússia pelo incidente que classificaram como um ataque. “Não subestimo nem por um momento a seriedade desta decisão. Aprecio profundamente as vossas ações e a vossa solidariedade para com o Reino Unido”, afirma o governante britânico, na mensagem ao homólogo português. Johnson refere que “apenas uma resposta coletiva internacional seria eficaz” após o “odioso ataque químico” em Salisbury.

 

 

“O padrão de comportamento disruptivo e imprudente do governo russo representa uma ameaça para todos nós. As expulsões coletivas sem precedentes que temos visto até agora representam um sinal poderoso da nossa determinação em respondermos juntos, de forma apropriada e firme, a esta ameaça”, considera. O ministro britânico apela a que os países ocidentais se mantenham unidos: ” É importante que (…) continuemos a desenvolver a nossa resiliência às ameaças russas à nossa segurança e desafios aos nossos valores”. “Espero poder contar com o seu apoio enquanto levamos este importante trabalho em diante”, afirma ainda na carta.

 

 

O caso Skripal já deu origem a uma ação concertada de 27 países, entre os quais dois terços dos Estados membros da União Europeia (UE), além de Estados Unidos, Canadá e também NATO, de expulsão de mais de 140 diplomatas russos. Portugal mantém-se entre os países que optou por não expulsar funcionários diplomáticos russos, argumentando que “a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”. Santos Silva anunciou na terça-feira que chamou o embaixador português em Moscovo, Paulo Vizeu Pinheiro, “para consultas”. Esta quinta-feira, Moscovo anunciou a expulsão de 60 diplomatas norte-americanos e o encerramento do consulado norte-americano em São Petersburgo.

 

 

Guterres: “Estamos a chegar a uma situação que é similar ao que experimentámos durante a Guerra Fria”

 

 

 

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou esta quinta-feira que a tensão entre os Estados Unidos e a Rússia começa a assemelhar-se à Guerra Fria, depois do anúncio da expulsão de dezenas de diplomatas russos devido ao caso Skripal. “Penso que estamos a chegar a uma situação que é similar, em grande medida, ao que experimentámos durante a Guerra Fria”, disse António Guterres.

 

No total, mais de 140 diplomatas russos na Europa, América do Norte, Ucrânia e Austrália são afetados por uma expulsão devido a uma ação coordenada de apoio a Londres, que acusou Moscovo de envenenamento de um ex-espião no Reino Unido O secretário-geral das Nações Unidas disse estar “muito preocupado” devido à inexistência de um mecanismo para aliviar as tensões, como os canais partilhados de informações entre Washington e Moscovo que foram desmantelados com o fim da Guerra Fria.

 

 

“Acredito que é a altura de serem tomadas precauções do mesmo tipo, garantindo uma comunicação eficaz, com capacidade para evitar uma escalada” acrescentou. O caso Skripal já deu origem a uma ação concertada de 27 países, entre os quais dois terços dos Estados membros da União Europeia (UE), além de Estados Unidos, Canadá e também NATO, de expulsão de mais de 140 diplomatas russos. Portugal mantém-se entre os países que optou por não expulsar funcionários diplomáticos russos, argumentando que “a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”. Santos Silva anunciou na terça-feira que chamou o embaixador português em Moscovo, Paulo Vizeu Pinheiro, “para consultas”.

 

 

Esta quinta-feira, Moscovo anunciou a expulsão de 60 diplomatas norte-americanos e o encerramento do consulado norte-americano em São Petersburgo. O ex-espião duplo de origem russa Serguei Skripal, de 66 anos, e a sua filha Yulia, de 33 anos, foram encontrados inconscientes a 4 de março em Salisbury, no sul de Inglaterra, após terem sido envenenados com um componente químico que ataca o sistema nervoso. O Reino Unido atribuiu o envenenamento à Rússia, que tem desmentido todas as acusações e exigido provas concretas sobre esta alegação.

 

 

TPT com: Reuters//AFP//Lusa// Mário Cruz//EPA// Zach Gibson// POOL/EPA//Olga Maltseva//AFP//29 de Março de 2018

 

 

 

 

 

Centenas de milhares de pessoas marcharam nos Estados Unidos, por maior controlo sobre a aquisição e posse de armas

A “Marcha pelas nossas vidas” é uma reação ao massacre de 14 de fevereiro numa escola de Parkland, na Florida, onde um jovem de 19 anos, com uma arma semiautomática, matou 14 estudantes e três adultos.

 

 

A mobilização nacional contra as armas de fogo reuniu mais de meio milhão de manifestantes na capital, Washington.

 

 

Este massacre, o último capítulo de um drama que periodicamente se repete no país, gerou uma onda de consternação e foram os próprios estudantes a assumir a frente dos protestos.

 

 

Mas o movimento que começou alavancado por adolescentes cansados dos banhos de sangue adquiriu força própria e várias personalidades se juntaram ao movimento.

 

O ator George Clooney e a sua esposa, Amal, doaram meio milhão de dólares (405 mil euros ao câmbio atual) ao movimento. Oprah Winfrey e Steven Spielberg também manifestaram o seu apoio, e o ator Bill Murray comparou as marchas deste sábado aos protestos contra a guerra do Vietname na década de 1960.

 

 

Para a concentração na Constitution Avenue, em Washington, figuras populares entre os jovens americanos como os músicos Ariana Grande, Jennifer Hudson, Demi Lovato, Justin Timberlake e Miley Cyrus também marcaram presença.

 

Em Fort Lauderdale, na Flórida, centenas de pessoas pedem endurecimento nas leis que permitem a compra de armas de cano longo nos EUA.

 

Mas as maiores estrelas do protesto são os adolescentes que sobreviveram ao ataque na escola de Parkland, na Flórida.

 

“Estas manifestações não teriam acontecido sem o massacre na minha escola. Por isso, será um momento difícil”, disse à AFP o estudante Carlos Rodríguez, que escapou ileso daquele fatídico 14 de fevereiro. “Sinto-me orgulhoso de ser um dos estudantes que começou com este movimento”, acrescentou.

 

Todavia, o dia em que os estudantes saem à rua, fica marcado pela morte, ontem, de Jaelynn Willey, de 16 anos, que foi ferida num tiroteio numa escola secundária em Maryland, ocorrido a 20 de março.

 

 

O lema: “agir”

 

 

Aalayah Eastmond já está em Washington para participar da grande manifestação e prestar homenagem aos seus companheiros de escola que não sobreviveram. “Perdi dois amigos da minha turma e outros seis foram feridos”, contou a jovem de 17 anos à AFP. “É necessário agir. Isto não pode acontecer de novo. Se passaram 36 dias e não foi feito nada, vamos lutar para que isso mude”, afirmou.

 

A revolta dos jovens tem um alvo preciso: a incapacidade dos poderes executivo e legislativo de agir em relação ao acesso às armas, que muitos americanos consideram um direito fundamental.

 

 

O dilema não é novo. Alcançou o que parecia um ponto de mudança depois da morte de 20 crianças numa escola em Sandy Hook, em 2012, mas o governo não conseguiu vencer a indústria de armas e a Associação Nacional de Espingardas (NRA, em inglês).

 

O ex-presidente Barack Obama chegou a reconhecer a derrota diante do multimilionário lobby da NRA, e agora, mesmo depois de ter deixado a Casa Branca, expressou o seu apoio à manifestação estudantil.

 

 

De acordo com o site do comité organizador, este sábado tiveram lugar 830 “marchas irmãs” em diversas cidades do país onde as armas de fogo deixam mais de 30.000 mortos a cada ano.

 

 

Ontem, sexta-feira, o governo de Donald Trump propôs formalmente a proibição completa dos dispositivos que permitem que armas semiautomáticas disparem rajadas.

 

 

A medida proposta pelo Departamento de Justiça ordena a entrega ou destruição de mais de meio milhão destes dispositivos que se estima terem sido vendidos na última década.

 

 

Estes dispositivos foram usados pelo atirador que massacrou a multidão que assistia a um espetáculo em Las Vegas, a 1 de outubro de 2017, deixando 58 mortos e mais de 850 feridos.

 

 

 

Testemunhas diretas

 

 

 

A geração que sai à rua este fim de semana é geralmente identificada como “geração Columbine”, numa referência ao ataque numa escola no Colorado, em 1999, onde dois estudantes mataram a tiro 12 alunos e um professor.

 

Essa geração passou quase a totalidade da sua vida escolar sob o medo de que suas escolas fossem cenário do mais recente assassinato em massa.

 

 

Todos os estudantes americanos habituaram-se aos exercícios de emergência nas suas escolas para casos de tiroteios e ataques com armas de fogo.

 

 

Segundo o jornal Washington Post, desde o massacre de Columbine, em 1999, mais de 187.000 estudantes americanos foram testemunhas diretas de ataques em massa e tiroteios nas escolas do país.

Na capital, Washington, os jovens ocuparam todo o espaço que vai desde a Casa Branca até o Capitólio, sede do Congresso.

 

 

Vai mudar alguma coisa? “Olhem à volta. Nós somos a mudança”

Guardian convidou dois estudantes da escola de Parkland para serem correspondentes do jornal britânico durante a marcha. Ambos convidaram George Clooney para uma entrevista.

 

 

O actor recusou o convite e justificou a decisão através de uma carta: “Esta é a vossa marcha. O vosso momento (…) O facto de nenhum adulto ir discursar ao palco em Washington é uma mensagem poderosa para o mundo. Se nós não conseguimos fazer alguma coisa acerca da violência com armas, então vocês vão conseguir”, escreveu o actor. “Vocês fazem-me sentir orgulhoso no meu país outra vez. Obrigado”.

 

No palco montado em frente ao Capitólio, o centro da iniciativa que se tornou global, Cameron Kasky, estudante da escola de Parkland atingida pelo tiroteio no mês passado, leu o nome de todos os 17 mortos. Terminou com Nicholas Dworet: “Guardei o Nicholas para o fim porque é o aniversário dele”. “Nicholas, estamos aqui todos por ti. Parabéns”.

 

 

“Desde que o movimento começou, as pessoas perguntam-me: ‘Pensas que isto vai provocar alguma mudança?”, referiu Kasky. “Olhem à vossa volta. Nós somos a mudança”.

 

 

Milhares de pessoas juntaram-se à iniciativa e marcharam em centenas de cidades por todos os EUA. Mas a marcha ultrapassou as fronteiras norte-americanas. Reino Unido, Espanha, Austrália, Índia ou Israel são apenas alguns países onde se organizaram manifestações semelhantes.

 

 

Em Tóquio, falaram os pais de Yoshi Hattori, estudante de 16 anos que, em 1992, foi morta a tiro no Louisiana a caminho de uma festa de Halloween. “Sinto que alguma coisa está a mudar. Espero que os adultos que têm senso comum tomem medidas com os jovens para que os EUA sejam um país mais seguro. O futuro é dos mais jovens”, disseram ao Guardian.

 

 

Em Los Angeles, um dos jovens a subir ao palco foi Edna Chavez, estudante de 17 anos. “Sou uma sobrevivente. Vivi no centro de Los Angeles a minha vida toda e perdi muitos dos meus entes queridos por causa da violência. Isto é o normal”. Referindo-se à morte do irmão durante um tiroteio na cidade californiana, afirmou: “Eu perdi mais do que o meu irmão naquele dia, perdi o meu herói. Também perdi a minha mãe, a minha irmã e a mim mesma para o trauma e ansiedade”.

 

 

Christopher Underwood, de apenas 11 anos, também subiu ao palco na capital norte-americana, para falar no irmão que morreu em 2012, baleado com 14 anos. “Na altura, tinha apenas cinco anos. Transformei a minha dor e raiva em acção”, disse. “As nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecermos em silêncio sobre as coisas que importam”, afirmou ainda, citando Martin Luther King.

 

Donald Trump não assistiu à marcha. Deixou Washington na noite de sexta-feira para o seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida. Durante o dia, o Presidente não fez declarações sobre a iniciativa mas a Casa Branca emitiu um comunicado a elogiar a “coragem de muitos jovens americanos” e a afirmar que “garantir a segurança das nossas crianças é uma prioridade do Presidente”. O comunicado acrescenta que será aprovada legislação para enfrentar o problema da violência das armas, incluindo a proibição de venda dos chamados bump stocks (um mecanismo que aumenta o poder das armas semiautomáticas, que são legalmente comercializadas nos EUA).

 

 

Nos Estados Unidos, país do “fogo e fúria”, ocorreram nos últimos dois anos dois dos maiores massacres jamais observados. As armas de fogo já são mais numerosas do que os habitantes. Enquanto se tenta desencorajar o crime com a pena capital, a promoção das armas continua.

 

 

“Estou aqui a representar as centenas de milhares de estudantes que vivem diariamente com a paranóia e medo no seu caminho de e para a escola”, disse a estudante Zion Kelly no palco em Washington, cujo irmão foi morto em Setembro durante um assalto. “O meu nome é Zion Kelly e tal como muitos de vocês, estou farta”.

 

 

TPT com: AFP//Reuters//Washington Post//Shawn Thew//EPA// Washington Post // AFP//Rhona Wise//Guardian// 24 de Março de 2018

 

 

 

 

 

Nicolas Sarkozy e Kadhafi: uma história de negócios obscuros, alianças e traições

 Sarkozy é suspeito de ter recebido dinheiro de Kadhafi para financiar a sua campanha de 2007. Conheça a sombria história entre ambos, marcada por alianças, negócios e uma traição que matou o ditador.

 

 

A detenção para interrogatório de Nicolas Sarkozy esta terça-feira de manhã é o mais recente episódio de uma história que envolve malas cheias de notas de €500, viagens misteriosas entre a Líbia e França e a venda de quadros e de mansões a preços suspeitos.

 

 

Depois de ter feito uma carreira política que começou na militância de base e culminou na presidência de França, o perfil público do político de centro-direita tem sido marcado por suspeitas nalguns dos casos mais sonantes da justiça francesa. Seis anos depois de ter deixado o poder, Nicolas Sarkozy é um político que vive debaixo de uma constante nuvem carregada de dúvidas.

 

 

Porém, antes de todos esses casos onde Nicolas Sarkozy é suspeito, já tinham sido levantadas suspeitas em torno do possível financiamento da sua campanha eleitoral de 2007 com dinheiro da Líbia de Muhammar Kadhafi. Ao longo de vários anos, Nicolas Sarkozy e pessoas da sua confiança viajaram até àquele país do norte de África, anunciando ao mundo os acordos e os contratos alcançados entre as duas partes.

 

 

Mas será que, entre a pompa e circunstância com que era anunciado o sucesso das relações entre a França e Líbia, Nicolas Sarkozy terá acordado com Muhammar Kadhafi um esquema ilícito de financiamento da sua campanha eleitoral de 2007, com valores entre os 5 e os 50 milhões de euros?

 

 

Esta pergunta voltou à ordem do dia na manhã desta terça-feira, depois de o ex-presidente francês ter sido detido pelas autoridades francesas para depor perante os juízes de instrução pela primeira vez a propósito deste caso. Nicolas Sarkozy poderá ficar sob custódia até 48 horas — ao longo das quais os juízes de instrução procurarão passar a pente fino a relação entre Nicolas Sarkozy e Muhammar Kadhafi, repleta de alianças, traições e esquemas.

 

 

 

Quando a Líbia de Muhammar Kadhafi era um pária

 

 

 

Na Europa e nos EUA, havia razões de sobra para considerar a Líbia de Muhammar Kadhafi um Estado pária.

 

 

O primeiro sinal foi em 1985, quando, em simultâneo, terroristas árabes dispararam e atiraram granadas no aeroporto de Roma e de Viena, matando 19 pessoas. Os EUA apontaram o dedo à Líbia, acusando o regime de Muhammar Kadhafi de financiar aquele ataque. Em 1986, aquele país do Norte de África voltou a ser acusado de estar por trás de um atentado bombista numa discoteca em Berlim Ocidental, onde morreram três pessoas, entre os quais dois militares norte-americanos.

 

 

O golpe mais mortífero aconteceu em 1988, com o atentado contra o voo Pan Am 103. Partiu de Frankfurt, com escala prevista em Londres e destino final nos EUA, mas acabou por explodir enquanto sobrevoava Lockerbie, na Escócia. Morreram as 270 pessoas que estavam a bordo, entre as quais 179 tinham nacionalidade norte-americana. Abdeldaset al-Megrahi e Lamin Khalifah Fhimah, dois funcionários da companhia estatal líbia, sendo que o primeiro tinha ligações aos serviços secretos de Muhammar Kadhafi, foram anunciados como suspeitos de preparar o atentado.

 

 

Em 1989, um novo atentado. Desta vez, o voo UTA 772 explodiu enquanto sobrevoava o Níger, matando cada uma das 170 pessoas que seguiam a bordo. Entre as vítimas, a nacionalidade mais comum era a francesa, com um total de 54 mortos. Mais tarde, as autoridades de Paris viriam a identificar seis suspeitos, todos de nacionalidade líbia. Entre eles, destacava-se Abdallah Senoussi, cunhado de Muhammar Kadhafi e então número dois das secretas líbias.

 

 

Além disso, a Líbia era também suspeita de ajudar o terrorismo um pouco por todo o mundo. Grupos terroristas na Palestina, o IRA na Irlanda, a ETA no País Basco, a Frente Revolucionária Unida na Serra Leoa ou o Abu Sayyaf nas Filipinas fazem parte da lista de organizações que terão recebido apoio financeiro, logístico ou militar de Muhammar Khadafi.

 

 

Tudo isto levou a um isolamento internacional da Líbia.Primeiro, foi submetida a um embargo norte-americano em 1986. Depois, em 1992, juntaram-se as sanções das Nações Unidas, que proibiram a venda de armas à Líbia e também as ligações aéreas àquele país.

 

 

As sanções tiveram o resultado desejado. Isolado e a braços com uma crise económica por não conseguir vender petróleo aos principais compradores mundiais, Muhammar Kadhafi e a Líbia não voltaram a ser acusados de ligações a atentados terroristas. A travessia no deserto que durou grande parte da década de 1990 terminou em 1999, quando o ditador líbio decidiu cooperar com as autoridades europeias que investigavam os atentados de Lockerbie e do voo da UTA. Um a um, Muhammar Kadhafi entregou às autoridades britânicas e francesas os principais suspeitos, para serem julgados. Além disso, a Líbia indemnizou as famílias de cada uma das vítimas destes dois atentados.

 

Não por acaso, no maior atentado com aviões que aconteceu após o volte-face de Muammar Kadhafi, o ataque ao World Trade Center de 11 de setembro de 2001, o ditador não só lamentou o sucedido como partilhou com os EUA informações que acreditava serem úteis para investigar o caso.

 

 

À altura, as palavras de Muhammar Kadhafi de reação ao 11 de setembro apanharam meio mundo de surpresa.“Independentemente do conflito com a América, enquanto seres humanos temos o dever de demonstrar compaixão com o povo americano e de estar ao lado deles depois deste incidente horroroso, que deve alertar a consciência humana”, disse o ditador líbio.

 

 

Tudo isto, dito pela boca do homem que menos de duas décadas antes tinha sido acusado de estar por trás da morte de centenas de civis europeus e norte-americanos, não era menos do que um desesperado grito de ajuda. E, em França, ele foi bem ouvido. À escuta, entre outros, estava Nicolas Sarkozy.

 

 

 

Quando Chirac e Sarkozy abriram França ao dinheiro da Líbia

 

 

 

Não havia tempo a perder. As sanções internacionais contra a Líbia foram totalmente levantadas em 2004 e, precisamente nesse ano, Jacques Chirac foi o primeiro Presidente francês a fazer uma visita oficial àquele país desde a declaração de independência, em 1951. E, antes do chefe de Estado francês, já lá tinham estado Tony Blair (primeiro-ministro doReino Unido), José Maria Aznar (presidente de governo de Espanha), Silvio Berlusconi (primeiro-ministro de Itália), Gerhard Schröder (chanceler da Alemanha) e William Burns (então responsável pela  Médio Oriente do Departamento de Estado dos EUA). Em 2005, também Portugal se estreou naquelas andanças, com o então primeiro-ministro José Sócrates a ser recebido em Tripoli por Muhammar Kadhafi.

 

Quando chegou à Líbia, Jacques Chirac tinha ao seu lado vários empresários franceses prontos a investir na Líbia, sobretudo na área do petróleo e da construção.

 

 

Além disso, também a Líbia investiu nos países que, até há pouco tempo, o tinham como um Estado-pária. Segundo um relatório de setembro de 2010 da Autoridade Líbia para o Investimento, um fundo soberano público, a Líbia tinha 64 milhões de dólares em ações nalgumas das empresas mais conhecidas em todo o mundo: Coca-Cola, McDonald’s, Exxon Mobil, Bayer ou Siemens. No caso particular da França, a Líbia investiu nalgumas das empresas mais importantes do país: empresas de telecomunicações (France Telecom e Vivendi), energéticas (GDF e EDF), o Grupo Danone ou a farmacêutica Roche.

 

 

A aproximação económica entre os dois países é preparada por dois homens, que o Le Monde descreve como “rivais”. De um lado, está Ziad Takieddine, logo em 2004. Do outro, está Alexandre Djouhri, que chegou mais tarde, em 2005.

 

 

Ainda como ministro do Interior, Nicolas Sarkozy fez uma visita à Líbia em 2005. Nessa ocasião, terá estado reunido com aqueles dois homens — e o alegado conteúdo, e também resultado, dessas conversações estão por trás desta sua detenção, 13 anos depois.

 

 

Pouco depois do início da sua presidência, Nicolas Sarkozy viajou em visita oficial para a Líbia. Na primeira vez que o fez, em agosto de 2007, conseguiu a libertação de um médico palestiniano e de cinco enfermeiras búlgaros, presos na Líbia por alegadamente terem contaminado centenas de crianças com o vírus VIH de forma deliberada. Este feito foi uma espécie de coroa de louros para o Presidente francês.

 

 

Mas a sua relação com a Líbia também foi alvo de críticas logo no início — sobretudo por ter fechado contratos de vendas de armas ao regime de Muhammar Kadhafi. Sobre este último caso, Nicolas Sarkozy, já quando era Presidente, responderia assim aos ataques que lhe dirigiram: “Criticam-me porquê? Por conseguir contratos? Por criar empregos para os trabalhadores franceses?”. Ziad Takiedinne, o primeiro intermediário dos franceses na Líbia, terá estado por trás do negócio da venda de armas.

 

 

 

E quando Sarkozy ajudou a derrubar Kadhafi

 

 

 

A polémica levou quatro anos até estalar — e numa altura em que, depois de um breve interregno, a Líbia de Muhammar Kadhafi voltou a ser considerada um país inimigo. Em 2011, o ano da Primavera Árabe, depois da Tunísia e do Egito, tornou-se evidente que a Líbia seria a próxima peça do dominó a cair. Ou, em concreto, o regime de Muhammar Kadhafi, que durou 42 anos.

 

A queda de Muhammar Kadhafi deixou de ser uma questão de “se” para passar a ser uma questão de “quando” no momento em que a coligação da NATO decidiu fazer bombardeamentos aéreos contra posições militares do regime líbio. A ideia foi apoiada por vários países (Reino Unido, EUA, entre outros), mas surgiu de um país e de uma pessoa em particular: a França de Nicolas Sarkozy.

 

 

“Os bombardeamentos serão feitos apenas numa perspetiva defensiva, caso Kadhafi utilize armas químicas ou faça ataques aéreos contra manifestantes pacíficos”, propôs, em março de 2011. “Kadhafi tem de sair”, sublinhou Nicolas Sarkozy. No mesmo mês, a França foi o primeiro país a reconhecer a legitimidade dos rebeldes líbios, pedindo-lhes que destacassem diplomatas da sua escolha para França, ao mesmo tempo que deixou de reconhecer os diplomatas de Muhammar Kadhafi.

 

 

Aos poucos, Nicolas Sarkozy recolheu apoio por toda a Europa e nos EUA para ajudarem neste esforço. Até a Itália de Silvio Berlusconi, que ainda hoje sublinha que era amigo de Muhammar Kadhafi, participou nos bombardeamentos — apesar de o então primeiro-ministro dizer que foi o parlamento que o deixou de “mãos e pés atados”, sem meios para impedir essa via.

 

 

É neste contexto que a polémica finalmente estala, quando o filho mais velho de Muhammar Kadhafi, Saïf Al-Islam Kadhafi, dá uma entrevista à Euronews. Nela, acusa Nicolas Sarkozy de receber dinheiro líbio para financiar a sua campanha presidencial de 2007. “Para já, Sarkozy tem devolver todo o dinheiro que aceitou da Líbia para financiar a sua campanha eleitoral”, disse o filho de Muhammar Kadhafi. “Fomos nós que financiámos essa campanha, temos todos os detalhes e estamos prontos para torná-los públicos. Por isso, a primeira coisa que pedimos a esse palhaço do Sarkozy é que devolva o seu dinheiro ao povo líbio. Ajudámo-lo a chegar a Presidente porque achámos que isso ia ajudar o povo líbio, mas ele desiludiu-nos.”

 

 

A entrevista de Saïf Al-Islam Kadhafi foi para o ar a 16 de março de 2011. Três dias mais tarde, começavam os bombardeamentos da NATO, idealizados por Nicolas Sarkozy. Só viriam a terminar no dia 31 de outubro — um dia depois de o regime de Muhammar Kadhafi ser deposto, facto consumado pelo seu assassinato em plena rua, em Sirte. Desde então, a Líbia nunca mais voltou a ter um governo nacional e continua a ser o palco de uma guerra civil e de uma crise humanitária sem fim à vista.

 

 

 

As malas de dinheiro, os quadros sobrevalorizados e as mansões ao quintuplo do preço

 

 

 

A partir da entrevista de Saïf Al-Islam Kadhafi, as dúvidas formaram um imenso burburinho que veio a explodir em março de 2012, menos de dois meses depois das eleições que Nicolas Sarkozy viria a perder para François Hollande. Nessa altura, o jornal Mediapart deu conta de um documento oficial sírio onde era referido um acordo de financiamento de 50 milhões para a campanha de Nicolas Sarkozy em 2007. Os detalhes teriam sido acertados com Brice Hortefeux, amigo pessoal de Nicolas Sarkozy, de quem chegou mais tarde a ser ministro da Imigração (2007 a 2009) e do Interior (2009 a 2011).

 

 

Brice Hortefeux negou as acusações. Reconhecendo que teve uma reunião com Ziad Takieddine, desmentiu ainda assim ter sido discutido o financiamento da campanha de Sarkozy em 2007. “Nunca falámos de questões de financiamento político, nem de perto nem de longe”, reagiu, em 2012. E o porta-voz de Nicolas Sarkozy também negou rotundamente as acusações: “Há anos que uns e outros tentam fazer declarações deste tipo, mas nunca acabam por demonstrar provas, ficando-se pela tentativa de ligar o chefe de Estado a um caso que não lhe diz respeito”.

 

 

O próprio Nicolas Sarkozy tem desmentido todas as suspeitas levantadas em seu torno neste caso, acusando o filho de Muhammar Kadhafi de ser um “fala-barato”.

 

 

Porém, ao longo dos anos que se seguiram, Ziad Takieddine — que está em França depois de ter sido detido com uma mala de 1,5 milhões, cujo fim não é conhecido — falou várias vezes sobre o caso. A primeira vez que o fez em maior detalhe foi numa entrevista ao jornal online Mediapart, onde contava ter ele mesmo feito a passagem de três malas cheias de dinheiro desde a Líbia até a próximos de Nicolas Sarkozy ou ao próprio.

 

 

No relato feito ao jornal online Mediapart, Ziad Takieddine detalhou que as malas continham notas de €500, “totalmente novas”. Em duas ocasiões em que entregou o dinheiro, o empresário libanês e francês conta que encontrou o próprio Nicolas Sarkozy. “Acredito que ele soubesse muito bem o que é que eu estava a fazer ali”, disse ao Mediapart o homem que disse haver um “sistema mafioso” com o ex-Presidente “à cabeça”.

 

 

A seguir às revelações feitas ao Mediapart, Ziad Takieddine foi constituído arguido pelas autoridades francesas, com as quais tem colaborado com depoimentos que podem ajudar a incriminar Nicolas Sarkozy e alguns dos homens mais próximos do ex-Presidente. Os depoimentos do empresário libanês-francês levaram as autoridades francesas a abrir oficialmente a investigação do caso Sarkozy-Líbia em 2013.

 

 

Segundo os relatos do empresário de dupla nacionalidade libanesa e francesa, houve três envios de dinheiro. Dois foram feitos para o chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy no ministério, Claude Guéant — homem que, mais tarde, viria a ser chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy no Eliseu e também ministro do Interior. O outro foi feito diretamente com o então candidato a Presidente.

 

 

A primeira mala com dinheiro a partir da Líbia em direção a Paris terá chegado em 2006. Teria 1,5 milhões de euros. Dez dias depois, uma nova mala transportaria outros 2 milhões de euros. Por fim, um novo carregamento de notas no valor 1,5 milhões de euros seria entregue “diretamente a Nicolas Sarkozy”, de acordo com Ziad Takieddine. Enquanto isso, Claude Guéant alugou um cofre de grandes dimensões na agência do banco BNP na zona de Opéra, em Paris — sendo que o próprio dizia que ali guardavam discursos e arquivos.

 

 

Estas alegadas trocas também foram corroboradas por Abdallah Senoussi, o cunhado de Muhammar Kadhafi suspeito de ter estado por trás dos atentados aos aviões de Lockerbie e do Niger, e que está atualmente preso na Líbia.

 

 

“Para estender o apoio [da Líbia] a personalidades ocidentais de modo a que estas chegassem ao poder, um total de 5 milhões de euros foi canalizado para a campanha do Presidente francês Nicolas Sarkozy em 2006 e 2007”, disse Abdallah Senoussi, num depoimento possível através de um protocolo de cooperação judicial entre França e as autoridades líbias. “Da minha parte, supervisionei pessoalmente a transferência dessa soma através de um intermediário francês, o chefe de gabinete do ministro do Interior. Sarkozy era então ministro do Interior”, disse. E depois acrescentou: “Confirmo que aquela soma foi recebida com sucesso por Sarkozy”.

 

 

Terá sido o próprio cunhado de Khadafi a interpelar Ziad Takkiedine, no sentido de ser encontrado um esquema de financiamento da campanha de Nicolas Sarkozy. Num dos seus depoimentos perante a justiça francesa, contou a conversa que o cunhado do ditador teve consigo. “O senhor Senoussi perguntou-me diretamente se sabia qual seria o custo de uma campanha presidencial em França. Eu perguntei-lhe porque é que queria saber e eu dei-lhe uma ideia, dentro dos meus poucos conhecimentos do tema, que seria cerca de 20 milhões de euros”, contou. “Ele respondeu-me: ‘O teu amigo pediu uma ajuda para o financiamento da sua campanha ao Líder’.”

 

 

Por “teu amigo”, entenda-se Nicolas Sarkozy. Por “Líder”, leia-se Muhammar Kadhafi.

 

 

Há ainda outro eixo do alegado esquema de financiamento da campanha de Nicolas Sarkozy: Alexandre Djouhri, o segundo intermediário dos franceses na Líbia de Muhammar Kadhafi. Detido em Londres desde janeiro deste ano, Alexandre Djohri (originalmente Ahmed), mudou o nome para homenagear Alexandre o Grande.

 

 

Descrito frequentemente pela imprensa francesa como um homem “excêntrico”, Alexandre Djouhri terá estado por trás de um pagamento no valor de 500 mil euros a Claude Guéant do artista flamenco Andries van Eertvelt a Sivajothi Rajendram, advogado residente da Malásia. A venda daqueles dois quadros, que terão sido comprados pela mulher de Claude Guéant, entretanto falecida, em 1993, despertou a atenção das autoridades francesas, pelo seu elevado valor — poderia aquele meio milhão de euros ter tido outro destino?

 

 

Os investigadores perceberam que, dois dias antes da compra dos dois quadros, o advogado malaio tinha recebido duas transferências cuja soma era próxima de 500 milhões de dólares. O depositante era o empresário saudita Khaled Bugshan que, por sua vez, tinha participações no fundo da Autoridade Líbia para o Investimento.

 

 

As autoridades suspeitam que aqueles 500 milhões de euros tenham sido transferidos para financiar a campanha eleitoral de Nicolas Sarkozy em 2007 — e chegaram a colocar em causa que Claude Guéant alguma vez tenha sido proprietário dos dois quadros de Andries van Eertvelt.

 

 

As suspeitas em torno de Alexandre Djouhri também contemplam a venda de uma casa em Mouguins, localidade a 15 minutos de Cannes, ao fundo da Autoridade Líbia para o Investimento por 10 milhões de euros — um valor cinco vezes superior ao valor real daquela casa.

 

Poucos apostam numa conclusão rápida deste caso que começou com as declarações do filho mais velho de Muhammar Kadhafi. Este, por sua vez, já reagiu à notícia da detenção para interrogatório de Nicolas Sarkozy. “É uma pena que a detenção aconteça com atraso e depois de sete anos de guerra. É uma pena, porque eu já apresentei as provas deste caso, mas nem a justiça francesa nem a justiça internacional se mexeram na altura”, disse.

 

 

Saïf Al-Islam Kadhafi falou esta terça-feira, um dia depois de ter anunciado que é candidato às eleições presidenciais líbias, previstas para antes de setembro deste ano. E lançou um apelo ao atual Presidente francês, Emmanuel Macron. “Peço ao Presidente Macron que tome as medidas necessárias para apoiar as eleições na Líbia, para que estas possam corrigir aquilo que o seu antecessor fez”, disse. Estará à vista uma nova aliança entre um Presidente francês e um Kadhafi?

 

 

 

TPT com: AFP//Reuters//Observador// Roy Letkey//Imed Lamloum//AFP// 20 de Março de 2018

 

 

 

 

 

 

Vereador morto a tiro no Brasil uma semana depois da morte da vereadora Marielle Franco

Paulo Teixeira, um vereador suplente foi hoje morto em Magé, município da região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil, uma semana depois da morte da vereadora Marielle Franco num tiroteio, anunciaram hoje fontes oficiais.

 

 

De acordo com a Polícia Militar, Paulo Henrique Dourado Teixeira estava no seu carro quando foi atingido por vários tiros que causaram a sua morte. Uma outra pessoa que o acompanhava no carro sofreu ferimentos ligeiros.

 

 

O Comissário Evaristo Magalhães, da divisão de homicídios da Baixada Fluminense, disse que, embora a informação ainda seja preliminar, uma das linhas de investigação é crime político.

 

 

Paulo Teixeira foi nomeado para o Conselho em 2016 pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTB) na lista do deputado regional Renato Cozzolino. Ele recebeu 536 votos e era vereador suplente, no Conselho de Magé.

 

 

O crime ocorreu uma semana após a morte, no centro do Rio de Janeiro, da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, situação que causou uma forte contestação no Brasil e em vários países, com manifestações a apelar ao fim da violência.

 

 

Marielle Franco, uma crítica da intervenção militar na segurança no Rio de Janeiro e caracterizada pelo seu ativismo como defensora dos direitos humanos, tinha condenado a violência policial um dia antes do crime.

 

 

O Estado do Rio de Janeiro está desde há um mês sob intervenção federal (por decisão do Presidente Michel Temer) por questões de segurança. Esta decisão implica a mobilização e destacamento de militares nas ruas da cidade como forma de manter a ordem pública.

 

 

O eurodeputado português Francisco Assis condena morte de vereador brasileiro Paulo Teixeira

 

 

Uma semana depois da vereadora e ativista Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes terem sido mortos a tiro no Rio de Janeiro, é assassinado na mesma situação o vereador suplente Paulo Texeira.

 

 

De acordo com a Polícia Militar, Paulo Henrique Dourado Teixeira estava de carro quando foi atingido por vários tiros que lhe tiraram a vida. Uma outra pessoa que o acompanhava sofreu ferimentos ligeiros.

 

Franciso Assis, eurodeputado do PS e presidente da Delegação para as relações com o Mercosul, já condenou mais esta morte, apontando o dedo em nome do Parlamento Europeu à escalada de violência que tem assolado o Brasil.

 

 

“Não conhecia o vereador, mas aqui no Parlamento Europeu estamos a seguir com atenção esta violência terrível que vem a aumentar desde o ano passado”, disse ao DN.

 

 

Preocupado com o facto de serem “os direitos humanos os mais afetados”, Francisco Assis reconhece que, principalmente o Rio de Janeiro está a sofrer com “o narcotráfico” e com a “incapacidade das forças de segurança e do governo”.

 

 

Recorde-se que há uma mês que o estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal (por decisão do Presidente Michel Temer) por questões de segurança. Esta decisão implica a mobilização e destacamento de militares nas ruas da cidade como forma de manter a ordem pública.

 

 

A União Europeia não está indiferente à situação e promete ficar atenta. “A União Europeia demostra o seu descontentamento e toma uma posição quer na perseguição dos culpados, como na persecução da segurança das populações”.

 

 

Assim, recebida a notícia deste novo assassinato, Francisco Assis promete falar com ativistas brasileiros e políticos procurando articular uma posição conjunta que expresse a insatisfação contra a política brasileira, tal como as muitas manifestações que têm ocorrido um pouco por tudo o Brasil e por Portugal.

 

 

Quem era o vereador brasileiro assassinado

 

 

Paulo Teixeira foi nomeado para o Conselho em 2016 pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTB) na lista do deputado regional Renato Cozzolino. Ele recebeu 536 votos e era vereador suplente no Conselho de Magé.

 

 

O crime ocorreu uma semana após a morte, no centro do Rio de Janeiro, da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

 

 

Marielle Franco, uma crítica da intervenção militar na segurança no Rio de Janeiro e caracterizada pelo seu ativismo como defensora dos direitos humanos, tinha condenado a violência policial um dia antes do crime.

 

 

 

Ex-Presidente do Brasil espera que morte de Marielle seja início do fim da violência

 

O ex-Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso mostrou-se esta segunda-feira expectante de que a morte da vereadora e ativista dos direitos humanos do Rio de Janeiro Marielle Franco seja o começo de uma sociedade em que a violência possa ser contida.

 

 

“Violência inaceitável. Uma execução”, foi assim que Fernando Henrique Cardoso classificou a morte de Marielle Franco, numa declaração aos jornalistas em Lisboa, no final de uma reunião do conselho de curadores da Fundação Champalimaud, de que faz parte.

 

Fernando Henrique Cardoso, que foi Presidente do Brasil entre 1995 e 2003, considerou “lamentável” que todos os dias ocorram muitas mortes no país e de várias origens: “Em função da violência, do crime organizado e às vezes da própria incompetência das administrações de fazerem frente a isso”.

 

 

“Desta vez, acho que houve uma repulsa tão grande da sociedade que o tema vai passar a ser tomado mais rotineiramente em consideração”, afirmou, revelando ser essa a sua expetativa. “Que não seja só a manifestação da república — que já é importante — mas que seja o começo da sociedade em que a violência possa ser contida”, adiantou.

 

 

Para o ex-Presidente, “a violência está nas ruas, mas tem ligação com a corrupção, da polícia, do poder político”. “Tudo isso criou um clima político de desorganização, de anomia e esse clima tem de ser terminado e o término dele depende de muitas ações e decisões que dependem de todos nós que têm algum peso na liderança do Brasil”.

 

 

O assassínio de Marielle Franco gerou grande comoção no Brasil e também no exterior. No Rio de Janeiro, centenas de pessoas acompanharam o velório e enterro de Marielle Franco na quinta-feira. A cidade também foi palco de manifestações que reuniram milhares de pessoas na região central, que foram organizadas em homenagem a ela e ao condutor.

 

 

Houve também protestos em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e noutras capitais do país. Em Portugal, realizam-se esta segunda-feira manifestações em Lisboa, Braga e Porto com o objetivo de prestar homenagem a Marielle Franco e denunciar a violência policial, racista e misógina que marca o dia a dia do Brasil, sobretudo nas favelas, segundo a organização.

 

 

O caso também gerou comentários de repúdio de membros do Governo brasileiro e da ONU e de organizações ligadas à defesa dos direitos humanos como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch.

 

 

TPT com: AFP// Reuters//DN//Artur Machado/ Global Imagens//Agência Lusa//Observador// 20 de Março de 2018

 

 

 

 

 

 

Morreu Stephen Hawking, o físico que desafiou os limites do Cosmos e da doença

O físico britânico Stephen Hawking, cujo trabalho se destacou na área da relatividade e dos buracos negros, morreu hoje aos 76 anos de idade, na sua casa em Cambridge, anunciou a sua família em comunicado.

 

 

“Estamos profundamente tristes com a morte, hoje, do nosso adorado pai. Foi um grande cientista e um homem extraordinário, cujo trabalho e legado permanecerão por muitos anos”, escreveram os filhos do cientista, Lucy, Robert e Tim, num texto divulgado pela agência britânica Press Association.

 

 

No texto, os filhos de Stephen Hawking acrescentam que a sua coragem e persistência, assim como a sua inteligência e humor inspiraram pessoas por todo o mundo.

 

 

“Ele disse um dia que ‘este não seria um grande universo se não fosse a casa das pessoas que amamos’”, acrescentam os filhos.

 

 

Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) aos 21 anos, doença que causa a morte dos neurónios responsáveis pelos movimentos voluntários, Hawking desafiou as previsões dos médicos, que lhe tinham dado uma expectativa de vida de apenas alguns anos, e prosseguiu como professor e astrofísico ao longo de mais cinco décadas, apesar de confinado a uma cadeira de rodas.

 

 

“A sua valentia e persistência, aliadas ao seu brilhantismo e humor, inspiraram pessoas em todo o mundo”, destacaram os filhos. 

 

 

Hawking, que tinha o estatuto de uma estrela rock, era o cientista mais popular desde Albert Einstein. É unanimemente considerado um génio tendo desvendado vários segredos do universo numa vida marcada pela luta contra uma doença degenerativa à qual nunca se rendeu. Vida essa que foi retratada no filme “A Teoria de Tudo”, de 2014, que valeu o óscar de melhor ator a Eddie Redmayne.

 

 

Nasceu a 8 de janeiro de 1942 em Oxford, na Inglaterra, 300 anos após a morte de Galileu. Aos oito anos mudou-se para St. Albans, cidade localizada a cerca de 30 km de Londres.

 

Estudou na University College, de Oxford – pretendia dedicar-se à Matemática, mas acabou por escolher Física, área em que se licenciou em 1962. Será, contudo, no campus rival de Cambridge que estuda astrofísica, área em que faz doutoramento.

 

Foi professor de Matemática em Cambridge, professor lucasiano emérito – posição também ocupada por cientistas como Charles Babbage, Isaac Newton e Paul Dirac, e dirigiu o departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica da mesma universidade.

 

Em 1974 tornou-se num dos mais jovens membros da Royal Society, com apenas 32 anos.

 

As suas principais áreas de estudo foram a astrofísica teórica e a gravidade quântica.

 

 

 

“O meu objetivo é simples. Entender completamente o Universo, por que é, como é, e simplesmente o seu motivo de existir”.

 

 

 

Muitos dos seus trabalhos concentraram-se em alinhar a relatividade à teoriaquântica para explicar a criação e o funcionamento do Universo. Hawking testou as teorias de Newton em 2007, quando aos 65 anos realizou um voo em gravidade zero nos Estados Unidos, e esperava ainda fazer um voo sub-orbital.

 

 

“Penso que a raça humana não tem futuro senão no espaço”, defendia. “Acredito que a vida na Terra está perante um risco cada vez maior de ser destruída por um desastre, como uma guerra nuclear repentina, um vírus geneticamente criado ou outros perigos”.

 

 

Hawking foi autor de 14 livros, como “O universo numa casca de noz” e “Uma nova história do tempo”.

 

 

“Tratei de levar a vida mais normal possível e de não pensar na minha doença ou lamentar as coisas que não posso fazer, que não são tantas”

 

 

Aos 21 anos foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e foi perdendo progressivamente a capacidade de se mover, falar, engolir e até respirar. Acabou assim confinado a uma cadeira de rodas e dependente de um sistema de voz computadorizado para comunicar, mas derrubou todos os prognósticos médicos sobre sua expectativa de vida.

 

 

“Tratei de levar a vida mais normal possível e de não pensar na minha doença ou lamentar as coisas que não posso fazer, que não são tantas”, escreveu certa vez.

 

 

Casou-se em 1965 com Jane Hawking, com quem teve os seus três filhos, separando-se em 1991. Quatro anos depois, casou-se com a enfermeira Elaine Mason, de quem se divorciou em 2006. Disse uma vez disse que o único enigma que não conseguiu desvendar foram “as mulheres”. “Um mistério total”.

 

 

O cientista britânico tornou-se um nome reconhecido pelo grande público pelo seu trabalho científico, coragem de vida, best-sellers e até pela participação em séries televisivas como Os Simpsons ou A Teoria do Big Bang.  O astrofísico trabalhou até ao final da vida, sem perder a curiosidade e a humildade perante os mistérios da ciência. “Parece que acabo de perder 100 dólares”, admitiu em 2012 após a descoberta do bosão de Higgs, a partícula proposta Peter Higgs e considerada como o Santo Graal da astrofísica.

 

 

 

“Sou um otimista e acredito que podemos criar inteligência artificial para o bem do mundo”

 

 

A importância da ética no mundo da tecnologia, nomeadamente no caso da Inteligência Artificial, foi um dos debates fundamentais da edição de 2017 da Web Summit e contou com Stephen Hawking no evento de inauguração.

 

Recordando a sua própria experiência de uso de tecnologia, nomeadamente na luta contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA), o cientista, que ajudou a compreender nomeadamente o papel dos buracos negros, referiu que esta nova revolução tecnológica talvez possa fazer anular os danos infligidos no mundo natural pela industrialização.

 

 

“Não conseguimos prever o que podemos alcançar quando as nossas mentes são ampliadas pela Inteligência Artificial (IA). Talvez com as ferramentas desta nova revolução tecnológica nós consigamos corrigir algum do dano causado ao mundo mundo pela industrialização. Vamos finalmente erradicar doenças e a pobreza. Todos os aspetos da nossa vida mudarão”, afirmou Hawking.

 

 

“Sou um otimista e acredito que podemos criar Inteligência Artificial para o bem do mundo. Que isso pode funcionar em harmonia connosco. Nós simplesmente temos de estar conscientes dos perigos, identificá-los. Talvez alguns dos que me ouvem hoje já têm solução ou respostas para questões relacionadas com IA”, disse o professor  antes de sublinhar que um mau uso desta tecnologia também pode ter um mau fim: “podemos ser destruídos por ela”. Todos temos um papel a cumprir “para que possamos atingir o nosso potencial e criar um mundo melhor para toda a raça humana”, observou.

 

 

O cientista enumerou algumas eventuais consequências pelo mau uso, como armas autónomas, que podem destruir seres humanos, para resumir que a AI pode ser o “melhor ou o pior que acontece à humanidade”.

 

 

O vídeo da intervenção do cientista foi lançado pelo português Nuno Sebastião, fundador e dirigente da Feedzai, que opera na área da Inteligência Artificial para prevenir fraudes.

 

 

TPT com: Reuters//AEP//Madre Media//Press Association// 14 de Março de 2018

 

 

 

 

Directora de comunicação de Donald Trump optou por demitir-se depois de admitir que mentiu

A directora de comunicações de Donald Trump, Hope Hicks, e uma das mais antigas colaboradoras do Presidente, demitiu-se hoje. A decisão surgiu horas depois de Hicks admitir que tem usado “mentiras piedosas” na Casa Branca, durante uma audição que se prolongou durante oito horas no comité de inteligência dos EUA.

 

 

Hicks afirma ter sido levada a recorrer a “mentiras piedosas”, mas sublinhou que em nenhum momento mentiu sobre algo relacionado com uma possível interferência russa nas eleições norte-americanas que deram a vitória a Trump. A confissão de Hicks foi revelada por uma das pessoas presentes na audição, mas que não foi identificada.

 

 

“Não existem palavras adequadas para exprimir a minha gratidão ao Presidente Trump. Desejo ao Presidente e à sua administração o melhor para que continue a conduzir o nosso país”, declarou a directora de comunicação demissionária num comunicado citado pela Reuters.

 

“A Hope é excepcional e fez um excelente trabalho nos últimos três anos. Ela é esperta e anteciosa, é verdadeiramente uma excelente pessoa”, afirmou Trump numa reacção divulgada pela Casa Branca. “Vou sentir a falta dela ao meu lado, mas quando falou comigo sobre procurar novas oportunidades eu compreendi perfeitamente. Tenho a certeza que no futuro iremos trabalhar novamente”, declarou o Presidente norte-americano.

Hicks, de 29 anos, é uma antiga modelo sem experiência política que se juntou à campanha presidencial de Trump em 2016, descreve o New York Times. Tornou-se rapidamente uma das mais próximas aliadas do actual Presidente norte-americano e, segundo o mesmo jornal, é uma das poucas pessoas que “compreendem a personalidade e o estilo de Trump e que o conseguem levar a mudar de ideias”.

 

Hope Hicks demite-se menos de um mês depois de o namorado, Rob Porter, ter sido também obrigado a deixar o gabinete de Donald Trump na Casa Branca, na sequência de revelações de que teria submetido duas mulheres a violência doméstica. Rob Porter demitiu-se a 7 de Fevereiro.

 

De acordo com fontes citadas pela BBC, Hicks já terá sido ouvida por Robert Mueller, o procurador especial que está a conduzir a investigação à alegada interferência russa nas eleições norte-americanas e o possível conluio com a campanha do agora Presidente. A directora de comunicações de Donald Trump é considerada uma testemunha-chave.

 

 

 

TPT com: AFP//BBC//Público//New York Times// Reuters/Jonathan Ernst// 28 de Fevereiro de 2018

 

 

 

 

 

Em Espanha mina de urânio contamina água de um afluente do rio Douro

 

Passa-se a meia dúzia de casas de Retortillo e, uns quilómetros à frente, mesmo antes de chegar às termas nas margens do rio Yeltes, lá está a Berkeley Minera: uns quantos pavilhões brancos onde parece reinar o silêncio, azinheiras a perder de vista num terreno vedado e, do outro lado da estrada, terras remexidas e máquinas pesadas imobilizadas. É a face visível da mina de urânio a céu aberto que a empresa australiana quer abrir já no próximo ano, nesta região de Salamanca que fica colada a Portugal, e que tem sido contestada ali por vários autarcas e cidadãos, por movimentos ambientalistas e, claro, por quem vive das termas.

 

 

Já depois da visita de um grupo de parlamentares portugueses ao local, recentemente, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, admitiu estar preocupado, e este sábado anunciou uma reunião com a sua homóloga espanhola para a terceira semana de março, em que se vai debater a questão.

 

Os deputados portugueses quiseram inteirar-se no local dos problemas ambientais que a futura mina pode representar para o território português, que fica apenas a 40 quilómetros de distância dali. Em linha reta, a vila de Almeida é a mais próxima, logo acima fica Figueira de Castelo Rodrigo e, mais a norte, Freixo de Espada à Cinta, e toda a região do Douro Internacional, do parque natural e da paisagem protegida, onde se vive da agropecuária e da atividade vinícola.

 

 

Daí a preocupação, até porque o rio Yeltes, que atravessa o perímetro da mina e que vai fornecer água à exploração e ao processamento do urânio, é um afluente do Huebra, que no Douro, poucos quilómetros a sul de Freixo de Espada à Cinta (ver mapa).

 

 

Tal como fez em relação ao novo armazém de resíduos nucleares para a central de Almaraz, porém, Espanha passou ao lado da obrigação legal de informar Portugal dos detalhes do projeto e de promover o necessário estudo de impacto ambiental transfronteiriço em colaboração com as autoridades portuguesas. E essa foi, justamente, uma das questões que os deputados portugueses procuraram esclarecer no local, quando Manuel Frexes, do PSD, e a socialista Maria da Luz Rosinha, ambos vice-presidentes da comissão de ambiente, perguntaram ao diretor-geral da empresa, Francisco Bellón, se Portugal tinha sido informado dos eventuais impactos transfronteiriços.

 

 

O responsável garantiu que “tudo foi feito de acordo com as regras do Estado espanhol, com um estudo de impacto ambiental aprovado pelas autoridades do país” – para os deputados, uma resposta “insatisfatória”, como ambos afirmaram. “Continuamos com as mesmas dúvidas”, disse Manuel Frexes. “Nenhum de nós tem informação sobre os impactos no rio Douro e, como vimos aqui, haverá impactos.”

 

 

A realização de um estudo de impacto ambiental transfronteiriço é por isso “obrigatória”, ouviu-se a muitas vozes. É isso que defende também António Machado, presidente da Câmara Municipal de Almeida, que teme que a contaminação chegue ao território português, e que não perdeu a oportunidade de acompanhar os deputados a Retortillo.

 

 

“As autoridades portuguesas não acompanharam devidamente a questão”, afirma António Machado. E ele sabe do que fala. “Começámos a ouvir falar da mina em 2013 pela comunicação social espanhola e através dos contactos que temos com os autarcas desta zona de Espanha.” Em janeiro de 2016, a Câmara de Almeida decidiu questionar o governo sobre o assunto. “Nunca nos responderam”, garante António Machado.

 

 

A preocupação, no entanto, mantém-se, já que “continua a não haver informação” sobre o projeto. “Tem de ser feito um estudo sobre os impactos da mina em Portugal. Temos de preservar a nossa paisagem e a qualidade dos nossos produtos agrícolas, que são o nosso modo de vida”, sublinha o autarca.

 

 

De ambos os lados da fronteira, os receios são os mesmos. A economia que sustenta a vida das populações locais é a agropecuária e, lá como cá, se houver contaminação de terrenos por poeiras radioativas, ou pela sua deposição na água do rio, ou infiltração nos lençóis freáticos, “o nosso modo de vida morre”, repetiram aos deputados portugueses os autarcas de Villavieja de Yeltes e de Boada. Rejeitam, por isso, liminarmente a mina, tal como os movimentos ambientalistas de cá e de lá – as espanholas plataforma No a la Mina de Uranio e a associação Stop Uranio, ou o MIA – Movimento Ibérico Antinuclear, que integra várias associações dos dois países, e que este sábado se manifestaram em Salamanca.

 

 

A presidente da Stop Uranio, Raquel Romo, foi uma das ativistas que acompanharam na segunda-feira a visita dos deputados portugueses, que foram recebidos pelos autarcas de Boada e de Villavieja de Yeltes e por deputados provinciais e de Madrid, incluindo Ricardo Sixto, presidente da comissão de energia do Parlamento espanhol. “Vemos este encontro com emoção, porque já não nos sentimos tão sós”, admite a ambientalista, que tem uma loja de regalos junto às termas. Se a mina for para frente, “terei de mudar de vida”, lamenta. Mas não será apenas ela. “As termas têm 60 trabalhadores, 85% dos quais são mulheres”, diz. “Ficarão sem emprego, porque as termas fecham. Ninguém quer ir para umas termas que ficam ao pé de uma mina de urânio.”

 

 

Questionado pelo jornal DN (Diário de Notícias) sobre a utilização da água do rio Yeltes na exploração mineira e no processamento do urânio, e sobre o tratamento e o despejo dos efluentes, o diretor-geral da empresa, Francisco Bellón, garantiu que “a água usada vai ser toda tratada para remoção dos metais pesados e depois reutilizada na própria exploração”. Afirmou ainda que “não haverá despejo de efluentes no rio”. Mas os autarcas locais e os ambientalistas contradizem esta última afirmação. “O estudo de impacto ambiental prevê a descarga de efluentes no rio”, garante Jorge Rodríguez, alcaide de Villavieja de Yeltes, que no auditório do seu ayuntamiento fez uma apresentação sobre a mina, em que usou “as informações da própria empresa e do estudo de impacto ambiental”, aprovado em setembro 2013 pelas autoridades de Castela e Leão, e que tem validade de cinco anos.

 

 

A empresa, entretanto, quer iniciar a exploração em 2019, embora a construção da fábrica de processamento do minério esteja ainda pendente de uma autorização do Conselho de Segurança Nuclear espanhol. No entanto, já foram realizados outros trabalhos no terreno, como o abate de um número indeterminado de árvores (a empresa não revelou quantas) e a construção de pelo menos uma lagoa artificial.

 

 

Já depois da visita a Retortillo, a comissão parlamentar de ambiente questionou o ministro Matos Fernandes, que admitiu estar preocupado com a questão e que garantiu que se reunirá com a sua homóloga espanhola. Essa reunião, soube-se hoje, ocorrerá na terceira semana de março, durante o Fórum Mundial da Água, em Brasília, e servirá para debater o “cumprimento insuficiente”, nas palavras do próprio ministro, do acordo sobre questões de impacto ambiental. Leia-se: a mina de urânio.

 

 

 

Manifestação em Salamanca

 

 

 

As organizações ambientalistas de Portugal e de Espanha estiveram juntas em Salamanca para participar numa manifestação contra a mina de urânio que a empresa australiana Berkeley tenciona explorar a partir do próximo ano em Retortillo, a 40 quilómetros da fronteira com Portugal. O deputado Pedro Soares (BE), presidente da comissão parlamentar de ambiente, também esteve presente no protesto.

 

 

Nuno Sequeira, dirigente da Quercus, associação que integra o MIA, Movimento Ibérico Antinuclear, uma das organizações que convocaram a manifestação, juntamente a plataforma espanhola No a la Mina de Uranio, foi um dos que fizeram questão de participar na concentração e na marcha através da cidade, depois de ter marcado presença, também, em Retortillo, na segunda-feira, a acompanhar a visita dos deputados da comissão de ambiente. “Esta é uma questão que nos preocupa, pelos problemas ambientais que acarreta, como bem sabemos em Portugal, pela contaminação e os problemas de saúde nas populações locais, causados pela exploração das minas de urânio da Urgeiriça, que ainda hoje não estão resolvidos”, afirma o dirigente ambientalista. “O que a Quercus espera”, sublinha, é que o “envolvimento político ao mais alto nível que foi a visita dos deputados a Retortillo”, e o que se segue, “ainda vá a tempo de travar a mina”.

 

 

António Eloy, dirigente do MIA para Portugal, concorda. “Ficou claro que haverá um impacto transfronteiriço desta atividade mineira a céu aberto, que vai gerar poluentes atmosféricos que podem atingir o território nacional e que vai causar contaminação do rio, que é um afluente do Douro.”

 

 

Fazendo o paralelo com o que sucedeu com a construção de um novo armazém de resíduos nucleares na central de Almaraz, em que o governo português “só demasiado tarde pediu explicações ao governo espanhol, quando já não havia nada a fazer”, os ambientalistas criticam “a passividade” do governo português também neste caso, e esperam que o desfecho seja agora muito diferente.

 

 

 

Ministro admite preocupação com mina de urânio e foi à Comissão de Ambiente da AR

 

 

 

O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, admitiu na Assembleia da República que o acordo entre Portugal e Espanha tem funcionado de forma “deficiente”, referindo-se à falta de informação prestada por Espanha a Portugal sobre os impactos da mina de urânio que a empresa australiana Berkeley pretende implantar na zona de Salamanca, a cerca de 40 quilómetros de Portugal. E garantiu que “tudo fará” para evitar impactos negativos em Portugal.

 

Em audiência, na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, Matos Fernandes afirmou que o executivo português pediu informações ao governo espanhol sobre a questão, em 2016, e garantiu que vai abordá-la de novo com a sua homóloga espanhola, numa reunião que solicitará para “tão breve quanto possível”.

 

 

“O governo português tem uma preocupação grande [com a questão da mina de urânio] e tudo fará para evitar impactos negativos [no território português]”, sublinhou o governante, ressalvando, no entanto, “que não está nas mãos de Portugal construir ou não a mina”.

 

 

Para o ministro Matos Fernandes, a situação de Retortillo é diferente da questão que se colocou no ano passado com a construção de um armazém de resíduos radioativos na central de Almaraz, a cem quilómetros da fronteira portuguesa, uma vez que as autoridades espanholas informaram Portugal de que, “para a mina ser licenciada, faltam ainda alguns passos”.

 

 

Uma delegação de deputados da comissão de Ambiente deslocou-se na segunda-feira a Retortillo, na região de Salamanca, ao local onde a Berkeley vai instalar a mina de urânio a céu aberto, para se inteirar da situação no terreno.

 

 

Um dos deputados que esteve em Retortillo, o socialista Santinho Pacheco, estranhou por isso que o governo espanhol refira que “nenhuma decisão foi tomada”, já que os parlamentares tiveram oportunidade de verificar a existência de uma série de trabalhos no terreno.

 

 

Ao anúncio de Matos Fernandes de que a Agência Portuguesa do Ambiente adquiriu uma sonda para instalar no Douro no segundo trimestre, para medição radiológica, o deputado Pedro Soares (BE), presidente da comissão de ambiente, alertou que isso “não resolverá o problema dos impactos ambientais da mina em Portugal”, e defendeu uma oposição enérgica à exploração da mina.

 

 

O rio Yeltes, que faz parte da bacia hidrográfica do Douro – é um afluente do rio Huebra, que desagua no Douro a escassos quilómetros de Freixo de Espada à Cinta -, atravessa o perímetro da mina e a sua água será captada para servir ao processo de exploração.

 

 

Heloísa Apolónia, de Os Verdes, anunciou na mesma audição que o seu partido vai apresentar na Assembleia da República um projeto de resolução contra a mina de urânio, e que espera ter o apoio das restantes forças partidárias.

 

 

 

TPT com: DN//Manuel Almeida//Lusa// 25 de Fevereiro de 2018

 

 

 

 

 

Michel Temer diz que não é nem será candidato às presidenciais de outubro no Brasil

Numa entrevista à rádio Bandeirantes, Temer esclareceu dúvidas surgidas nos últimos dias sobre a sua possível candidatura e, além de negá-la de forma contundente, declarou que já se sente “muito feliz” pelo fato de ter exercido o cargo.

 

 

Michel Temer chegou ao poder em maio de 2016, quando, na qualidade de vice-Presidente, substituiu a então Presidente Dilma Rousseff, destituída pelo parlamento devido a irregularidades fiscais.

 

 

Apesar de sua popularidade está atualmente em 6%, o publicitário Elsinho Mouco, responsável pela propaganda do Governo, anunciou esta semana que Temer aspiraria à Presidência e ganharia a aceitação dos brasileiros na sequência da intervenção do exército na área da segurança pública do Rio de Janeiro.

 

 

Essa decisão, que coloca toda a liderança da segurança no Rio de Janeiro nas mãos das Forças Armadas, foi adotada após as recentes festividades de Carnaval no Rio de Janeiro quando as taxas de violência dispararam e as autoridades locais admitiram que não conseguiam controlar o crime organizado.

 

 

Na entrevista, Temer disse categoricamente que a decisão de intervir no Rio de Janeiro não foi guiada por qualquer intenção “eleitoral” e argumentou que a própria situação de insegurança no Estado foi o que o “levou à conclusão de que era necessário” chamar os militares.

 

 

Temer também admitiu que a possibilidade de decretar uma intervenção federal “total” no Rio de Janeiro foi considerada, o que implicaria no afastamento do governador Luiz Fernando Pezão.

 

 

“Foi pensado no início, mas depois deixei de lado a ideia porque teria sido algo muito radical e chegamos à conclusão de que devemos intervir apenas na área de segurança”, disse o chefe de Estado.

 

 

O modelo da intervenção será definido na próxima semana pelo general Walter Souza Braga Netto, designado pelo Governo como “interventor” e agora responsável pela segurança pública no Rio de Janeiro.

 

 

Embora a intervenção seja administrativa, Temer admitiu que as Forças Armadas, que participam das operações de vigilância e controlo, poderiam ter “confrontos” com criminosos se fossem atacadas.

 

 

“Não sei se haverá confrontos, mas, se houvesse os militares não se deixariam matar”, disse ele.

 

 

O reforço militar na segurança pública tem sido quase constante no Rio de Janeiro desde 2013, quando o Exército foi empregado para garantir a ordem durante a Taça das Confederações da FIFA.

 

 

O mesmo se repetiu no Mundo-2014, também de futebol e durante os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

 

 

No ano passado o Governo brasileiro deslocou 10 mil soldados para ajudar nas operações de segurança da cidade na tentativa de controlar as taxas de violência que, apesar disso, continuaram a subir e atingiram níveis críticos no início deste ano.

 

 

 

Deputados aprovam decreto para segurança do Rio de Janeiro passar para o Exército

 

 

Após a aprovação, com 340 votos a favor, 72 contra e uma abstenção, que se seguiu a um debate de mais de sete horas, o decreto foi submetido no dia 20 deste mês ao Senado, do qual necessitou também de “luz verde” para entrar em vigor.

 

A medida, decretada pelo Presidente do país, Michel Temer, mas que exigiu a aprovação pelo órgão legislativo, estabelece uma intervenção na área da segurança no estado do Rio de Janeiro, que enfrenta um crescente aumento da violência desde há vários meses.

 

 

O decreto entrega aos militares a tarefa de acabar com a onda de violência que atinge este estado e que só o ano passado fez 6.731 mortos, entre os quais se encontram mais de 100 polícias e dez crianças, estas atingidas pelas designadas balas perdidas.

 

 

A maioria dos deputados atendeu ao pedido do presidente da Câmara baixa, Rodrigo Maia, do estado do Rio de Janeiro, que considerou o decreto como “a maior das ferramentas para combater o crime organizado”.

 

 

Ao apresentar o projecto no plenário, Rodrigo Maia garantiu, contudo, que “não se trata de intervenção militar”.

 

 

“Se o fosse, seria rejeitada por esta casa com toda a razão e com todo o meu apoio e energia”, referiu, desafiando os parlamentares a “superar as diferenças ideológicas para mostrar união contra um inimigo comum”, o crime organizado.

 

 

O deputado lembrou ainda que esta é a primeira vez que o Governo intervém num estado desde a Constituinte, em 1988.

 

 

“Infelizmente, esta intervenção é urgente e necessária porque o poder estatal esgotou a sua capacidade para impor autoridade”, referiu Rodrigo Maia, do partido Democratas.

 

 

Já Laura Carneiro, do Partido Movimento Democrático Brasileiro e relatora do projecto, pediu que o Governo central transfira os recursos necessários para que a iniciativa possa alcançar os seus objectivos.

 

 

“É evidente que sem a contribuição significativa de recursos federais a intenção federal não conseguirá alcançar minimamente os seus objectivos”, alertou a deputada.

 

 

De acordo com os dados apresentados por Laura Carneiro, o orçamento para a segurança pública no estão do Rio de Janeiro em 2018 é de 8.000 milhões de reais (cerca de 2.500 milhões de de dólares), sendo que 96% correspondem a gastos com pessoal.

 

 

 

Presidente do Brasil diz que crime organizado no Rio de Janeiro justifica medidas extremas

 

 

 

Michel Temer passou o controlo da segurança pública do estado do Rio de Janeiro para o Governo Federal até 31 de dezembro de 2018, com um decreto que assinou no dia 16 de Fevereiro durante uma cerimónia em Brasília.

 

No documento, o Governo federal destaca que o objetivo da intervenção é “pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública no estado do Rio de Janeiro”.

 

 

Após a assinatura, o Presidente fez uma breve intervenção na qual declarou que “o crime organizado quase assumiu o Estado do Rio de Janeiro” e que os criminosos são uma “metástase que se espalha por todo o país e ameaça a tranquilidade do povo”.

 

 

Michel Temer também confirmou o General Walter Souza Braga Netto como interventor militar, quem a partir de agora organizará e comandará as forças de segurança no Rio de Janeiro.

 

 

Temer salientou também que editou o decreto de intervenção porque o momento pedia uma medida “extrema”.

 

 

“Vamos remeter ainda hoje [o decreto] esta intervenção que tem vigência imediata, mas deve ser depois apreciada pelo Congresso Nacional. Sei tratar-se de uma medida extrema, mas muitas e muitas vezes o Brasil está a demandar medidas extremas para pôr ordem nas coisas”, afirmou.

 

 

O chefe de Estado brasileiro estava ao lado do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, que agradeceu a ajuda do Governo federal e declarou que o seu Estado “tem pressa e tem urgência” em combater o crime organizado.

 

 

“Nós [governo estadual] com a polícia militar e com a polícia civil não estamos a conseguir deter a guerra entre fações criminosas e a ação das milícias”, disse.

 

 

“Se não contarmos com este auxilio das Forças Armadas, da polícia federal e, principalmente, da policia rodoviária federal, será impossível combater a entrada de armas, munições, e drogas”, acrescentou.

 

 

A decisão de decretar uma intervenção federal e deixar a segurança do Rio de Janeiro nas mãos do Exército, que a partir de agora comanda também a polícia civil e militar, foi adotada três dias após o fim do Carnaval, que este ano foi marcado por numerosos e sérios episódios de violência.

 

 

O Rio de Janeiro, principalmente a sua capital e região metropolitana, tem sofrido com a escalada do crime desde o final das Olimpíadas de 2016, com o problema na segurança pública agravado por uma grave crise económica, que fez com que o governo local declarasse o estado de emergência financeira e tivesse dificuldade em pagar os salários dos agentes das policias.

 

 

 

TPT com: EPA//AFP//Joédson Alves// Lusa//Sapo// 23 de Fevereiro de 2018

 

 

 

 

 

Membro da direção de Rui Rio qualifica de “golpe palaciano” votação na bancada do PSD

O vogal da comissão política do PSD André Coelho Lima qualificou esta sexta-feira de “golpe palaciano” o resultado das eleições para a liderança da bancada parlamentar social-democrata, em que Fernando Negrão foi eleito por menos de 40% dos deputados.

 

 

“É muito estranho que se pretenda agora reverter na secretaria a posição clara dos militantes [nas eleições diretas] e dos congressistas. Dá um pouco a ideia, que nos leva para os episódios históricos, de um golpe palaciano”, afirmou à agência Lusa André Coelho Lima, eleito vogal na direção de Rui Rio, no Congresso do PSD que decorreu no fim de semana, em Lisboa.

 

 

A título pessoal e não em nome da comissão política de Rui Rio, André Coelho Lima afirmou que o resultado da eleição para a bancada parlamentar, “no fundo, tenta reverter uma posição muito clara da democracia” interna e é “um desrespeito por aquilo que foi a pronunciamento dos militantes do PSD”, nas diretas e no congresso.

Logo na quinta-feira, Fernando Negrão disse ter o apoio de Rui Rio e considerou ter condições para assumir o cargo de líder parlamentar, “com sentido de responsabilidade”.

 

 

O dirigente nacional do PSD relativizou os efeitos deste episódio, quer no grupo parlamentar, quer para Rui Rio, eleito nas diretas de 13 de janeiro, invocando o exemplo de Francisco Sá Carneiro, “aclamado como líder de todos os sociais-democratas”. “Teve mais de metade do grupo parlamentar contra si. E isso não foi impedimento para afirmar-se como líder forte, determinado e que sabia aquilo que queria”, afirmou, dizendo que Rui Rio “sabe o que quer para o país”.

 

 

André Coelho Lima fez ainda a defesa do sentido de Estado e de responsabilidade dos deputados que, sublinhou, “deviam imperar sobre os estados de alma, por muitos respeitáveis que sejam”.

 

 

Pois, acrescentou, “os portugueses”, que querem que os seus “programas sejam resolvidos”, estão a “olhar com estranheza” este tipo de ‘fait divers’” protagonizado pelos deputados. André Coelho Lima tentou também desdramatizar os efeitos de fragilização da votação de quinta-feira, considerando que “não há fragilidade, embora exista uma questão incomum”.

 

 

Esta é, segundo descreveu, uma “oportunidade para o doutor Rui Rio demonstrar a sua determinação de fazer aquilo que é preciso para o país”.

 

 

Fernando Negrão foi o único candidato à sucessão de Hugo Soares, que convocou eleições antecipadas para a liderança parlamentar depois de o novo presidente do PSD, Rui Rio, lhe ter transmitido a vontade de trabalhar com outra direção de bancada. Na votação, conseguiu 35 votos favoráveis, 32 brancos e 21 nulos, tendo votado 88 dos 89 deputados.

 

 

Rui Rio falha primeiro teste e entra em guerra com    os deputados

 

 

 

Fernando Negrão diz que se demite se tiver uma “rebelião” na bancada. Deputados furiosos dizem-se “incrédulos” e falam em “princípio do fim”. Teixeira da Cruz diz que Negrão não tem legitimidade.

 

A bancada do PSD revoltou-se contra Fernando Negrão, mas Rui Rio não fez caso do “politicamente correto” e abriu uma guerra com o grupo parlamentar na primeira semana de liderança. “Inacreditável”, “incrédulo”, “mau demais para ser verdade”. Ou então: “É o princípio do fim”. Todas estas palavras foram ouvidas pelo Observador, ditas por vários deputados do PSD — que não se quiseram identificar –, mas que reagiram “chocados” com a atitude de Fernando Negrão ao aceitar um mandato como líder parlamentar, mesmo rejeitado por 60% de votos nulos ou brancos. Paula Teixeira da Cruz foi a única deputada que assumiu o que outros diziam em surdina. Em declarações ao Observador, alegou que “a liderança da bancada não está legitimada” nem do ponto de vista político nem jurídico. E foi mais longe, criticando as referências à “ética” de Rui Rio e de Fernando Negrão. A ex-ministra da Justiça fala até em “linha próxima do estalinismo”. Fernando Negrão diria, à noite, numa entrevista à SIC, que estas são “opiniões minoritárias”, mas também admitiu demitir-se se houvesse uma “rebelião” na bancada.

 

 

Abandonarei as funções se houver uma rebelião na bancada, mas estamos a falar de pessoas adultas e presumo que não esteja em curso uma rebelião”, disse Fernando Negrão.

 

 

Quase tão longe nas críticas quanto Teixeira da Cruz foi o deputado Sérgio Azevedo, que apoiou Pedro Santana Lopes nas diretas. Este ex-vice-presidente da bancada foi recuperar a memória do fascismo para escrever no facebook que é preciso voltar ao plebiscito para a aprovação da Constituição de 1933, “para se admitir o ‘voto branco’ como um voto favorável ou, se quisermos, de não rejeição”. O deputado social-democrata refere ainda no seu post que a doutrina no Parlamento era considerar os votos em branco como uma “rejeição ativa”. Na SIC, Fernando Negrão classificou esta apreciação como “ridícula”.

 

 

Perante estas reações, um apoiante de Rui Rio comentava que as apreciações dos deputados revoltados “são normais na interpretação do politicamente correto”. Mas Rui Rio não raciocina em termos daquilo que é politicamente correto e, possivelmente, não dará grande importância a esta rebelião da bancada contra o candidato a líder parlamentar. Perante a imposição do presidente ao grupo, há deputados que protestam, e alguns dizem mesmo que, embora nada esteja concertado, “isto terá consequências”. Outros preferem remeter-se ao silêncio e sugerir que Negrão podia ter ultrapassado a derrota de outra maneira: “Não vamos ser nós a causar uma revolta popular. Mas Negrão não percebeu que há derrotas que se ultrapassam assumindo-as”.

 

 

 

TPT com: AFP//SIC//Lusa//Observador//Rui Pedro Antunes//Rita Dinis//Vitor Matos//António Pedro Santos// 24 de Fevereiro de 2018