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Nóbel da Literatura 2016 vai para o músico norte-americano Bob Dylan

Horas depois de a academia sueca lhe ter atribuído um surpreendente e polémico Nobel da Literatura, Bob Dylan subiu ao palco em Las Vegas para mais um concerto. A primeira aparição pública depois do prémio era aguardada com expectativa, mas sobre o Nobel houve zero comentários, conta o enviado a Las Vegas do jornal The Guardian.

 

 

No The Chelsea at The Cosmopolitan, em Las Vegas, Bob Dylan mal  falou com a audiência, conta o Guardian. E perante o pedido repetido de mais canções, o músico norte-americano fez apenas um breve encore, cantando Why Try To Change Me Now de Frank Sinatra.

 

 

Na passada sexta-feira à noite, Dylan esteve em Indio (Califórnia) para mais um concerto da sua Never Ending Tour [“Digressão Interminável”], iniciada em meados dos anos 1980.

 

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O silêncio de Dylan imperou também para a Academia Sueca. Em declarações à AFP, o director administrativo, Odd Zschiedrich, contou que a Academia Sueca falou com o agente e responsável pela digressão do músico, mas não conseguiu ainda falar com o vencedor do Nobel, como faz com todos os distinguidos.

 

 

De acordo com Bob Neuwirth, músico e amigo do cantor,  no que diz respeito a prémios e distinções, o novo Nobel da Literatura é discreto e “pode nem mesmo agradecer”, conta ao Washington Post.

 

 

Caso escolha não aceitar o prémio, Dylan não será o primeiro a fazê-lo. Em 1964, o filósofo francês Jean-Paul Sartre recusou o Nobel da Literatura, não recebendo, à época, as 273 mil coroas suecas de prémio.

 

 

Dylan tornou-se na quinta-feira o primeiro norte-americano a ganhar o prémio desde Toni Morrison, em 1993. Mais relevante, porém, é o facto de, depois de vários anos em que o seu nome foi avançado como possível vencedor, a atribuição do Nobel a Dylan servir como legimitação literária da canção popular, de que o cantor de Blowing in the wind é um dos maiores representantes. Não por acaso, Sara Danius, Secretária Permanente da Academia Sueca, reconhecendo que a distinção de alguém cujo ofício é o das canções pode ser controverso, manifestou a esperança de a Academia não ser criticada pela escolha.

 

 

Tecnicamente, esta não é a primeira vez que um músico é distinguido com o Nobel da Literatura. Em 1913, o indiano Rabindranath Tagore recebeu a distinção. Tagore, que, curiosamente, morreu no ano do nascimento de Dylan, foi não só um escritor destacado na literatura indiana, enquanto romancista, poeta e dramaturgo, mas também um pintor de reconhecido mérito e um compositor que assinou mais de duas mil canções nos seus 80 anos de vida. Bob Dylan, porém, é o primeiro Nobel da Literatura cujo ofício se centra num campo exterior ao literário. Isso explicará não só a surpresa com que o anúncio do prémio foi recebido, mas também a polémica que se desencadeou entre os que defendem e os que questionam a justiça da distinção.

 

 

 

Bob Dylan não merecia

 

 

 

Bruno Vieira Amaral escreve que este prémio é um manguito a todos os grandes escritores norte-americanos dos últimos 40 anos. Roth, McCarthy, DeLillo e Pynchon foram ultrapassados de moto por Dylan. De referir que Bruno Vieira Amaral é crítico literário, tradutor e autor do romance As Primeiras Coisas, vencedor do prémio José Saramago em 2015.

 

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Vi em direto o anúncio do vencedor do Prémio Nobel da Literatura: “strodmondstalet eigvarna literature prize vöng Bob Dylan…”. Quase caí da cadeira. “strodmondstalet eigvarna”????? Estes gajos só podem estar a gozar. Mas pronto. Quanto ao vencedor, acho bem. Também acho um bocado mal. Enfim, ainda não sei. Foi, sem dúvida, uma escolha corajosa. No ano em que pela segunda vez o prémio foi anunciado por uma mulher, a Academia mostrou ter tomates. Ou então que, lá dentro, estavam todos sob o efeito daquelas cenas que o Bob fumava.

 

 

Mais do que qualquer outra coisa – e o que, em menos de três horas, já se disse sobre o papel da Academia Sueca na destruição das barreiras da literatura daria para encher várias bibliotecas, ou discotecas – este prémio é um manguito a todos os grandes escritores norte-americanos dos últimos 40 anos. Philip Roth, Cormac McCarthy, Don DeLillo, Thomas Pynchon, geralmente apontados como possíveis galardoados foram ultrapassados pela direita, de moto, por Dylan. Há uns anos, um membro da academia criticava a literatura norte-americana por ser demasiado “insular”, umbiguista. Escolher Bob Dylan à frente de todos os outros é o mesmo que lhes dizer: “estão a ver o que é ser universal?” Recorde-se que Toni Morrison tinha sido a última norte-americana a receber o Nobel, há vinte e três anos.

 

 

Agora, a sério. Bob Dylan? É verdade que já tinha sido apontado várias vezes como um dos favoritos, mas era uma espécie de brincadeira paralela e secundária. Ninguém levava isso muito a sério até porque nenhum outro letrista, talvez à excepção de Leonard Cohen, era apontado como potencial nobelizado. E o que não falta são grandes letristas. A história do século XX está cheia deles. Claro que, sendo discutível, se pode dizer que Bob Dylan está noutro patamar. Tudo bem. Porém, repare-se nos nomes que o acompanham quando se trata de escolher os melhores autores de letras da música anglo-saxónica, de acordo com uma votação num site manhoso: John Lennon, Eminem, Roger Waters, Elliot Smith, Kurt Cobain, Neil Young, Tupac Shakur, Robert Plant e Freddie Mercury.

 

 

Pronto, talvez não seja a melhor lista, mas mesmo uma que inclua Bruce Springsteen, Nick Cave, Jarvis Cocker e Jay-Z, ou Joni Mitchell, Fiona Apple e Suzanne Vega, não fornece nenhum nome que possa algum dia vir a estar nas cogitações da Academia. Já para não falar que uma lista de potenciais letristas nobelizáveis seria ainda mais “ocidentalizada” do que é habitual: ou alguém consegue imaginar o Nobel ir para aquele grande letrista checo? Ou para um grande baladeiro turco? Ou para um tipo que renovou a grande tradição musical da África Ocidental? Ou para, por exemplo, Chico Buarque? E, na minha modesta opinião, a opinião de quem não faz parte da Academia, Chico Buarque é um letrista superior a Bob Dylan.

 

 

A Academia é muitas vezes criticada por atribuir o prémio a escritores desconhecidos, daqueles com nomes impronunciáveis, quando esse talvez seja o efeito mais positivo do Nobel: o de permitir que alguns grandes escritores com pouca ou nenhuma repercussão internacional vençam as barreiras de um mercado editorial cada vez mais dependente das “descobertas” recomendadas pelo mundo anglo-saxónico. Nesse sentido, atribuir o prémio a Bob Dylan é um desperdício, uma espécie de parênteses em que a Academia preferiu celebrar-se a si própria e à sua veia provocatória, naquele género de provocação passivo-agressiva em que o galardoado é um mero instrumento de agressão. Portanto, mais do que lhe atribuir o prémio, a academia atirou-lho à cabeça. E o grande Bob Dylan não merecia.

 

 

 

Bob Dylan está do lado certo da história

 

 

Telmo Rodrigues, autor das teses “Bob Dylan: Música com Poesia” e “For a Lark: The Poetry of Songs”, escreve sobre o novo Nobel da Literatura, “um dos escritores mais importantes das últimas décadas”, referiu o seguinte:

 

Bob Dylan acaba de ganhar o Nobel da Literatura e os livros que escreveu não o qualificariam para o prémio, com certeza: a qualidade deTarântula é, na melhor das hipóteses, dúbia e as Crónicas, excelentes como são, não constituem matéria suficiente para explicar o prémio literário. Seguir-se-ão nas próximas semanas, portanto, um conjunto de invectivas contra a Academia Sueca premiar um “não-escritor”, em detrimento de outros que realmente escrevem livros e que mereciam mais (um nome desconhecido da maioria das pessoas seria certamente menos polémico e deixaria muitos felizes). Contudo, se há uma virtude na atribuição deste prémio, que seja o facto de algumas pessoas se poderem hoje escandalizar com um assunto literário.

 

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Há muitos anos, num artigo de opinião de um crítico de música português, publicado em vésperas da atribuição do Nobel, argumentava-se que se Bob Dylan era candidato ao prémio, teríamos de abrir a possibilidade a outros cantores, muito mais próximos daquilo a que chamaríamos “poetas”; se era para dar o Nobel a um cantor, certamente que Leonard Cohen, com obra poética publicada, seria mais consensual. Nesse texto ecoavam os rumores de que Dylan seria um candidato forte ao Nobel desse ano, uma pretensão que tinha vindo a ganhar força desde a década de 90, quando o professor Gordon Ball começou a sua demanda por aquilo que achava ser o necessário reconhecimento do génio de Dylan (uma demanda a que se juntaram muitos mais nomes durante os anos seguintes, em particular o do eminente Christopher Ricks). Duas décadas depois a Academia reconhece que Dylan é um nome incontornável: mas será mesmo um escritor?

 

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Uma defesa rápida, mas desajeitada, de Dylan escritor seria incluí-lo numa história muito antiga de tradição oral, onde textos que circulavam apenas oralmente são hoje tratados por especialistas, que recolhem e conservam as várias versões de um mesmo poema. Esta tradição não esquece, obviamente, a relação de dependência que a poesia e a música mantiveram até pelo menos à altura do Renascimento, altura em que começaram a tornar-se independentes uma da outra. Defender Dylan como apenas mais um nome nesta linhagem é válido, como antologias poéticas têm feito nos últimos anos, incluindo-o ao lado do de Pete Seeger, por exemplo, em secções com títulos tão vagos quanto “Cultura Folk” (curiosamente, há uns anos, ignoravam-se estas distinções e na secção de poesia contemporânea apareciam textos de Dylan e de John Lennon e Paul McCartney). Mas pô-lo nessa lista parece pôr de lado a originalidade e alguma da produção lírica mais inventiva que se viu nas últimas décadas, seja no seu período áureo nos anos sessenta (Bringing it All Back Home, 1965;Highway 61 Revisited, 1965; Blonde on Blonde, 1966), seja com a obra-prima dos anos setenta (Blood on the Tracks, 1974), seja com as obras-primas posteriores, como, por exemplo, Oh Mercy (1989) e Time Out of Mind (1997).

 

 

Uma segunda defesa de Dylan escritor, mais técnica, seria notar que as canções estão cheias de referências literárias e que isso denota preocupações típicas de escritores; mas preocupações literárias não originam necessariamente textos literários, maus ou bons, e não é por isso que Dylan é mais interessante. Esta defesa não coloca questões sobre a natureza dos textos, considerando simplesmente que letras de canções têm validade enquanto poemas; muitos dos fãs mais acérrimos de Dylan acham que é assim que se deve tratar a obra do autor, na busca incessante de segundos sentidos e referências autobiográficas — criou-se até uma “ciência” dedicada ao estudo de tudo o que diz respeito à vida do cantor: a Dylanologia.

 

 

Para quem gosta apenas de ouvir Dylan, em sentido inverso, falar do cantor enquanto poeta não passa de heresia e pôr uma canção de Dylan no papel e tentar decifrá-la é diminuir toda a sua magia. Provavelmente estarão certos, como provam os milhares de versões de Dylan que circulam: por muito bom compositor que Dylan seja, e muitos ficaram famosos a cantar canções suas, uma canção de Dylan requer a voz de Dylan, as modelações vocais únicas que este lhes introduz (e que fazem da sua voz, ao contrário do que muitos detractores consideram, um portento de técnica). Para estas pessoas, poesia é uma coisa que fica apenas no papel e não pode capturar uma essência particular de Dylan que só pode ser apreendida pela audição; só num sentido muito abrangente de poesia, em que toda a arte sublime é um acto poético, é que Dylan poderia ser considerado poeta.

 

 

Em 1983, Dylan escreve “Blind Willie McTell”, uma canção que só seria editada em 1991 (The Bootleg Series Volumes 1–3, 1991) — provavelmente um dos momentos maiores da carreira. Aí, reproduzindo uma estrutura clássica de canção folk, Dylan cantava sobre um conjunto de lugares comuns nas canções da folk americana, coisas que está a ver e a ouvir e que incluem a toponímia e o ambiente que esperaríamos encontrar nesse tipo de canções. Depois, na última estrofe, Dylan menciona que vê e ouve estas coisas da janela do hotel St. James, numa referência à canção popular “St. James Infirmary”. Nesse movimento de se pôr à janela de um hotel que era simultaneamente uma referência a outra canção, Dylan inclui-se a ele próprio entre todas as coisas que fazem parte daquilo que é a tradição americana. Ora, esse movimento parece ganhar hoje, mais do que nunca, relevância, uma vez que com este prémio Dylan vê reconhecido o seu lugar numa tradição literária americana à qual, independentemente de o considerarmos escritor ou não, pertence indelevelmente.

 

 

Aquilo que este Nobel representa não pode ser visto, assim, como mais do que o reconhecimento de uma carreira que tem estado sempre ligada à literatura, quer pela relação que manteve desde cedo com a poesia Beat, quer pela relação que foi mantendo, e ampliando ao longo dos anos, com uma tradição popular americana que reproduziu nos vários discos que foi (e vai) editando. Essa relação de Dylan com a literatura torna claramente infundados os receios de que agora qualquer pessoa esteja apta a vencer um Nobel da Literatura; aliás, a relação entre música e poesia é demasiado evidente para aceitarmos esse tipo de cinismo.

 

 

O que se segue, então, a Dylan ter ganhado este prémio? Em primeiro lugar, justiça seja feita: se algum cantor merecia o prémio, Dylan era certamente o mais merecedor. Mas para quem gosta de Dylan, e acha que o prémio é justo, este não significa nada mais do que umas semanas de incómodo: pessoas que não gostam de Dylan farão piadas sobre o Nobel da Literatura não escrever livros ou sobre outros possíveis candidatos (e, conforme a qualidade humorística de quem se pronunciar, seguir-se-ão um conjunto de nomes distintos) que nos farão encolher os ombros e franzir o sobrolho. Depois regressará tudo ao normal: continuaremos a ouvir Dylan com a reverência que sabemos que merece e conservaremos a mágoa por não conseguirmos convencer mais pessoas de que este é um dos escritores mais importantes das últimas décadas.

 

 

 

E agora, o que será deste prémio depois de Bob Nobel?

 

 

 

De cada vez que alguém usa a frase “Times they are a changin’” para ilustrar os novos rumos da Academia Sueca, morre uma foca bebé de desnutrição.
Hoje fomos quase todos apanhados de surpresa com a atribuição do Prémio Nobel de Literatura a Bob Dylan mas convém não abusar dos paralelos entre realidade e êxitos do pop rock.

 

 

Comecemos pela nacionalidade. Dylan é norte-americano, o que reforça a perplexidade, sabendo-se que a Academia diz dos autores daquele país o que o Abu Bakr Al-Baghdadi não diz da entremeada. Mais. Dylan não é um escritor, é apenas um cantautor, poeta e sósia da Cate Blanchett, mas verdade seja dita, já andava há anos nas listas das casas de apostas que adoram especular com este galardão. Por alguma razão, a literatura é um dínamo de sedução mediática. Cria muitas expectativas, contribui para a sociedade do espectáculo, obriga as televisões à realização de directos a partir de livrarias e transforma anónimos em especialistas instantâneos. “O Dylan? Pffff, quem é o Dylan ao pé do Thiong’o?”

 

 

A verdade é que está aberto um novo paradigma nesta categoria do prémio que concentra todas as atenções. Depois da escolha de Svetlana Alexievich, uma repórter, temos agora um, digamos, músico. Escreveu com fartura, de facto, fez rimas, que fez, mas aposto um dedo mindinho em como o CAE do IRS de Bob Dylan atesta isso mesmo. Músico. O que faz com que se abra toda uma Caixa de Pandora da história contrafactual. E se tivessem escolhido outro músico? Quem seria merecedor da distinção? Aqui deixo algumas sugestões:

 

 

Nick Cave

 

 

Seria a escolha acertada do zeitgeist, do espírito do tempo. Acabado de lançar um álbum nascido de um luto profundo, Cave conquista muitos corações, extravasando largamente o universo indie onde começou por fazer carreira. Se Dylan tem “Knockin on Heaven’s Door”, Cave já entrou por ele adentro. Foi capaz de transformar-se sucessivamente, tem espiritualidade e sensibilidade para dar e vender e até já publicou livros, imagine-se. “I had a dream, Joe”. Se era o Nobel, esquece.

 

 

Leonard Cohen

 

 

O poeta por excelência. O cúmulo do charme. O Kilimanjaro da elegância. Ainda por cima, nas palavras do próprio, está pronto para morrer, situação que normalmente favorece a atribuição dos melhores prémios de carreira. À semelhança de Cave, também escreveu romances, mas o novo mindset da Academia Sueca parece apontar noutra direcção. Vantagem que poderá brandir num futuro próximo: é norte-americano, mas do Canadá.

 

 

Chico Buarque

 

 

Quando se soube da atribuição do prémio a Bob Dylan, metade dos portugueses suspiraram “Oh pá, ainda se fosse o Chico”. A outra metade estava mais preocupada em manter-se afastada de Aguiar da Beira. Chico Buarque é, digamos, um génio das letras, agrupadas no formato canção ou em páginas umas a seguir às outras, como costuma acontecer nos romances. Que, assinale-se, Buarque está farto de publicar, o que à luz do novo paradigma, não lhe traz vantagem nenhuma. Enfim, se me perguntassem, eu diria que a odisseia de “Geni e o Zepelim” vale por qualquer livro do senhor Odysseas Elytis. Quem? Exacto.

 

 

Sérgio Godinho

 

 

Clássico puxar de brasa à nossa sardinha, a verdade é que Sérgio Godinho não fica a dever nada a Bob Dylan. Godinho canta há décadas a condição humana, o amor e os desencontros, a transgressão e o desamparo, a luz e as trevas. É um mestre com as palavras e, no ano em que se assinalam os 500 anos da Utopia de Thomas More, seria só justo atribuir o prémio ao autor de “Liberdade”. Afinal, haverá utopia maior do que conseguir manter a paz, o pão, a habitação, a saúde e a educação, num período de assalto fiscal? Uma nota: convém que a casa não tenha boas vistas. Caso contrário, não há Prémio Nobel que lhe sustente o IMI.

 

 

Marcelo sobre Bob Dylan: “The Times They Are a-Changin’”

 

 

O Presidente da República já comentou a atribuição do Nobel da Literatura a Bob Dylan considerando-a um “sinal claro de que os tempos estão a mudar”, numa referência à canção “The Times They Are a-Changin’”.

 

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Marcelo Rebelo de Sousa escolheu esta canção de Bob Dylan, que saiu num álbum com o mesmo nome em 1964, para título da mensagem que divulgou na página da Presidência da República na Internet, em reação à distinção do compositor e cantor norte-americano.

 

 

“O Presidente da República, evocando a sua juventude, não pode deixar de se associar a esta homenagem, inesperada mas significativa, com a atribuição do prémio Nobel a Bob Dylan, alguém que para além da riqueza das suas letras se notabilizou pelas sua músicas, sinal claro de que os tempos estão a mudar…”, lê-se na mensagem.

 

 

Dylan, de 75 anos, foi distinguido por “ter criado novas expressões poéticas no âmbito da música norte-americana”, de acordo com a secretária-geral da Academia Sueca, Sara Danius.

 

 

 

TPT com: AFP//CNN//Reuters//Lusa//Telmo Rodrigues//Público//Observador// 16 de Outubro de 2016

 

 

 

 

 

Amália Rodrigues foi mais uma vez evocada em New Jersey por duas gerações de fadistas

Eram mais de uma centena as pessoas que participaram na noite em homenagem a Amália Rodrigues que teve lugar no Salão Nobre da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Elizabeth, estado norte americano de New Jersey.

 

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Uma noite de fado e poesia que abriu uma janela, por onde o público presente pôde lançar um olhar, sobre a alma lusófona.

O empenho na realização desta noite fadista está a cargo dos membros da “Amália Foundation-USA” que celebraram no dia 1 de Outubro a sua 17ª edição.

 

 

 

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Na foto (esq/dir.), Glória de Melo, Mário Marques, Elília Silva, Maria João Ávila, Lídia Maio e Margareth de Jesus.

 

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Participaram neste convívio várias figuras ligadas ao associativismo e ao empresariado, das cidades de Newark e Elizabeth, New Jersey, e ainda o Conselheiro das Comunidades Portuguesas Bruno Machado e Fernando G. Rosa (na foto),  Director Executivo da Portuguese-American Leadership  Council of the United States (PALCUS), uma organização fundada em 1991 em Washington, DC, e que entre as suas várias missões intervém  junto dos órgãos do poder americano em assuntos de interesse para as comunidades luso-americanas.

 

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Este evento mostrou ser também mais uma forma de promover o desenvolvimento da auto-estima das pessoas presentes servindo para criar um vínculo de diálogo e aproximação saudável entre pessoas.

 

 

E não é por acaso que a “Amália Foundation-USA”, presidida pelo Monsenhor João Antão, continua a manter a força e o ânimo, de ano para ano.  E já lá vão dezassete!.

 

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A juventude começa a juntar-se e a mostrar  que são mais braços que se juntam na luta por uma sociedade nova e que dão esperança e confiança para o trabalho futuro, conscientes de que só com experiências partilhadas e a união de todos, é possível construir uma nova sociedade.

 

 

Bruno Machado (à esquerda na foto), Conselheiro das Comunidades Portuguesas de New Jersey, que também esteve presente nesta noite em homenagem a Amália Rodrigues, refere que “é importante auscutar a juventude”. Em conversa com o The Portugal Times, o conselheiro Bruno Machado fez questão de lembrar que “todos sabemos que o futuro do mundo está nas mãos da juventude de agora. Mas, poucos, porém, são aqueles que ajudam ou se dispõem a orientar a juventude na área da família, da cultura e do conhecimento. Assim, incentivar os nossos governantes para a construção de políticas de juventude é um dos grandes objetivos deste meu mandato”, referiu.

 

 

O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro.

O CCP é composto por um máximo de 80 membros, eleitos pelos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro que sejam eleitores para a Assembleia da República.

 

 

Apesar de reconhecer os esforços empreendidos pelo governo português na resolução das dificuldades apontadas, Bruno Machado considerou necessário melhorar os programas destinados à juventude, para que a mesma beneficie um maior número de cidadãos portugueses e luso-americanos.

 

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E como estava programado na noite fadista, os convidados para além de colocarem “a conversa em dia” participaram também no animado e tradicional jantar convívio, sempre presente em todas as manifestações fadistas levadas a efeito pela “Amália Foundation-USA”.

 

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A existência de um bom grupo de amigos e as relações que se cultivam entre eles são, sem dúvida, um meio excelente para aprofundar e desenvolver os factores de satisfação e de realização.

 

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E enquanto o convívo decorria e se esperava pelo espectáculo, fortaleciam-se os laços familiares e buscava-se uma reaproximação e melhor convívio.

 

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Este clima viveu-se, com maior ou menor intensidade, no Salão Nobre da Igreja de Nossa Senhora de Fátima de Elizabeth, fomentando o convívio entre as pessoas presentes.

 

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Nesta noite fadista estiveram também vários empresários conhecidos na comunidade, que tiveram a oportunidade de falar sobre a sua atividade profissional e decerto, de que tipo de clientes procuram.

 

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À volta da mesa e na escolha e degustação do que se come e do que se bebe iam-se cimentando amizades e o ambiente de camaradagem, e franco convívio, fortaleciam o bem-estar e a saúde de cada um.

 

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A comida de qualidade e trabalhada de forma especial pelo Restaurante Valença, de Elizabeth, com base em ingredientes típicos portugueses, onde não faltou o bom vinho e o indispensável caldo verde, a todos deixava satisfação.

 

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Depois do jantar, que foi abençoado pelo padre António Nuno Gonçalves Rocha, da Igreja de N.S. de Fátima de Elizabeth, as luzes escureceram. O silêncio inundou o salão e os músicos da noite ocuparam os seus lugares. José Silva, na guitarra, Viriato Ferreira, na viola  e Pedro Pimentel, no violoncelo, mostraram-se preparados para acompanhar duas gerações de “fadistas”. Faziam parte do elenco: Glória de Melo (que declamou poesia); Diana Mendes; David Couto; Sara Barcelos; Pedro Botas; Alexandra Marques; João Machado; Eduarda Gonçalves; José Ribeiro; Francisco Chuva e Emília Silva.

 

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E à hora marcada, os artistas estavam prontos para o início à 17ª Noite de Fados da “Amália Foundation-USA”. Um exemplo de que a comunidade portuguesa dos Estados Unidos, continua a homenagear Amália Rodrigues e a sua obra, bem como a preservar e a divulgar com carinho, as raízes culturais portuguesas do lado de cá do Atlântico.

 

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Mário Marques (na foto) e Maria João Ávila, deram as boas vindas a todos os presentes em nome da “Amália Foundation-USA” e para além de historiarem a criação desta Fundação, fizeram as apresentações “da praxe” e dos “artistas” da noite.

 

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Diana Mendes foi a primeira a cantar e iniciou a sua interpretação com “Fadinho Serrano” . Promete continuar a trabalhar nos temas que canta e agradece a todos os que acreditam com ela na intensidade dos seus sonhos e no Fado.

 

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David Couto, mostrou no seu canto que o  fado não é só a noção trágica da vastidão do universo.

Entregando-se por completo ao voo do espírito entre as asas da melodia, David Couto atinge com o seu timbre momentos de sublimes harmonias vocais cujo registo nos faz mergulhar na tristeza e na amargura, como nos enaltece num tema cheio de amor e alegria.

 

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Seguiu-se Sara Barcelos, uma jovem de 14 anos, que através de uma voz bonita, possante e afinada, fez um bom espectáculo e deixou antever o nascimento de um novo talento fadista na comunidade luso americana de New Jersey.

 

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Pedro Botas, mostrou no seu canto que o fado é, por excelência, o produto de um sentimento próprio, que não se explica, mas que se sente.

Para o jovem fadista Pedro Botas, foi graças à educação e ao ambiente familiar que aprendeu a amar o fado, desde cedo. Possuidor de uma voz de irrepetível sentimento esteve bem perante o público.

 

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Alexandra Marques, deu a entender que o seu universo musical aposta numa sonoridade influenciada pela matriz tradicional mas que avança, também, sobre um ambiente musical mais contemporâneo que transita pelo fado.

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A “veterana” Eduarda Gonçalves, que também cantou “Não Sou Fadista de Raça”, soube em cada verso vislumbrar os ângulos secretos da alma, pois que, mesmo estando “tristonha” devido às vississitudes da vida saiu a cantar. Com boa colocação de voz e afinada, Eduarda Gonçalves mostrou que está uma fadista diferente na interpretação e no sentimento dado às palavras dos poetas.

 

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José Ribeiro, veio do estado de Rhode Island. Têm como capital a cidade de Providence, e é um dos estados da Nova Inglaterra, Costa Leste.  Amante dos “serões fadistas”, tem actuado em vários lugares dos Estados Unidos, também acompanhado pelos músicos de hoje (José Silva, Viriato Ferreira e Pedro Pimentel). O seu gosto pelo fado, também pelo fado brejeiro e o respeito pela patrona da “Amália Foundatin-USA” trouxe-o até Elizabeth onde, com um gingar de palavras, conquistou gargalhada atrás de gargalhada!

 

 

Devido ao seu estilo musical, José Ribeiro tem conquistado uma relação de intimidade muito especial, com as comunidades portuguesas da Costa Leste, onde canta bem-humorado a relatividade dos seres e das coisas.

O fado na verdade, esta noite, não teve um só rosto! Também teve uma face cerimoniosa com João Machado no cumprir da tradição coimbrã!

 

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Mas não é menos verdade que também existe a face boémia do fado vadio…do fado castiço e das desgarradas de improviso.

Francisco Chuva, numa mistura de sinceridade e pureza interpretativa, fez questão de mostrar a energia do seu fado interpretado com emoção desgarrada e genuína entrega.

 

 

Perante uma sala bem composta de público, Francisco Chuva agigantou-se e proporcionou um interessante momento de fado numa noite repleta de emoção, alegria, sentimentalismo e não só…

 

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Uma noite que serviu também para os membros da “Amália Foundation-USA” prestarem homenagem à actriz e fadista Emília Silva pelo contributo que tem dado à cultura e à divulgação do fado em terras norte-americanas.

 

 

Emília Silva (na foto à esquerda, com Maria João Àvila), nasceu em Amiais de Baixo, Região do Ribatejo, no dia 11 de Novembro de 1939, e emigrou para os Estados Unidos em 1984. Começou por residir na cidade de Hartford, estado de Connecticut, mudando-se depois para Newark, estado de New Jersey, onde reside actualmente.

 

 

 

Ao longo da sua vivência nos Estados Unidos, Emília Silva que também conviveu com Amália Rodrigues nos Estados Unidos, participou em várias revistas e contracenou com artistas como: João Camacho; Joel Branco; João Rodrigo; Delfina Cruz; Maria Tavares; José Luís Assunção; Glória Pires; Pepita Cardinali; Zeca Santos e Mena Leandro, entre muitos outros.

 

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Emília Silva, aqui acompanhada por vários membros da sua família, colaborou em inúmeras festas sociais e humanitárias realizadas em clubes e associações nos Estados Unidos e Canadá, percorrendo um trajeto de que se orgulha e de que guarda essencialmente “a grande amizade dos colegas”.

 

Graças à sua maneira muito pessoal de interpretar e ao seu particular jeito de transmitir o amor e a casticidade do seu Ribatejo, Emília Silva leva o seu canto para o público apreciador, numa exuberância natural que continua a arrebatar gerações de admiradores.

 

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Emília Silva, que disse sentir-se honrada “por tão singela homenagem” agradeceu aos membros da “Amália Foundation-USA” por esta distinção e ainda aos seus familiares e amigos pelo carinho que sempre lhe dispensaram. Emília Silva agradeceu também a presença de todos os artistas, sem esquecer os guitarristas José Silva, Viriato Ferreira e Pedro Pimentel, que ajudam a divulgar o sentimento português desta lado do Atlântico.

 

 

Emília Silva, que não se cinge apenas ao fado, faz seu um repertório de influência popular, sempre marcado por uma contagiante alegria em palco que é a sua imagem de marca.

 

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Mas, para a “cantadeira ribatejana” que foi homenageada pela “Amália Foundation-USA” passados dois anos (27 de Novembro de 2014) de o Fado ser proclamado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), como Património Imaterial da Humanidade, “o fado é talvez a mais significativa forma de expressão artística em Portugal, e aquela que mais nos identificou internacionalmente e aquela que melhor define a alma do nosso povo”.

 

 

E o Fado continuou pela noite dentro na cidade de Elizabeth, com a “Amália Foundation-USA” a mostrar que esta organização quer o que a Amália Rodrigues queria quando no dia 8 de Dezembro de 1998, na cidade de Newark, anuiu à ideia de se criar a “Amália Foundation-USA”, com o principal objectivo de ajudar e incentivar os jovens a fazer mais pela cultura e pela comunidade.

 

 

CMM/JM/The Portugal Times// 13 de Outubro de 2016

 

 

 

 

 

Marcelo condecorou em Belém o atual Secretário de Estado da Santa Sé com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou esta quarta-feira o cardeal italiano Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, numa cerimónia no Palácio de Belém, em Lisboa.

 

 

Num discurso de cerca de cinco minutos, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “Portugal deve à Santa Sé o primeiro e decisivo reconhecimento como Estado independente”, em 1179, e considerou que se construiu depois um “relacionamento fecundo e especial” que se manteve “praticamente sem ruturas ou descontinuidades”.

 

 

“É em evocação e homenagem ao que é constante e também ao prestígio pessoal e institucional de vossa eminência, personalidade intelectual e ética, governante perscrutante e incisivo, diplomata experiente e prospetivo, que tenho a honra de entregar as insígnias da Grã-Cruz da Ordem de Cristo, antiga ordem militar, repleta de história e de simbolismo nacional”, justificou.

 

 

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o Vaticano foi o primeiro destino que visitou depois de tomar posse como Presidente da República.

 

 

O secretário de Estado do Vaticano manifestou-se “muito contente e muito honrado” por receber esta condecoração, que disse entender não ser destinada à sua pessoa, “mas à pessoa do papa Francisco e à Santa Sé”.

 

 

O cardeal Pietro Parolin declarou que, a título pessoal, se sente agora “estreitamente ligado a Portugal”, apesar de não conhecer o país. “É a primeira vez que o visito, embora a realidade de Fátima sempre tenha suscitado em mim uma grande atração”, acrescentou.

 

 

Esta condecoração aconteceu na presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, do cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e do núncio apostólico em Portugal, Rino Passigato, após o Presidente da República ter recebido em audiência o secretário de Estado da Santa Sé.

 

 

TPT com: AFP//Observador//Andre Kosters//Lusa//12 de Outubro de 2016

 

 

 

 

Avelino Ferreira Torres acusado de apresentar documentos falsos à Justiça para extorquir um milhão a empreiteiro

Em novembro de 2012, Gaspar Silva, pai do afilhado de Avelino Ferreira Torres, ficou com as contas todas bloqueadas apesar de não ter dívidas. A ordem judicial era séria, mas por trás estaria um esquema de extorsão, alegadamente montado pelo antigo presidente da Câmara de Marco de Canaveses, que pretendia um milhão de euros. A teia estaria tão bem montada que enganou até o tribunal – que não teve dúvidas em proceder ao bloqueio das contas e sem citação prévia do executado (por ter sido invocado o perigo de desvio de património).

 

A investigação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto iniciou-se com uma queixa de Gaspar Silva, que dizia estar a ser vítima de uma fraude e alegava que nenhuma das provas apresentadas em tribunal – nomeadamente uma declaração de confissão de dívida do próprio – eram verdadeiras. O Ministério Público concluiu recentemente que o empreiteiro terá sido vítima de um golpe, acusando três pessoas: Avelino Ferreira Torres por um crime de falsificação e um de burla qualificada; Fernando Torres, filho de Avelino, por um crime de falsificação e um de burla qualificada; e Armando Teixeira, advogado conhecido de ambos, por um crime de falsificação de documentos.
Um «plano criminoso», diz MP

 

 

Segundo o Ministério Público, Avelino Ferreira Torres fabricou uma confissão de dívida falsa e assinou-a por Gaspar Silva. De  seguida, e para lhe conferir mais credibilidade, tratou de levar a tal declaração – muito provavelmente através do seu filho – a um advogado conhecido para que este fizesse um reconhecimento de assinatura por semelhança.

 

De seguida, e já com o documento, acreditam os investigadores, instaurou uma ação executiva, que culminou com o bloqueio das contas do velho amigo.

 

Os problemas entre o empreiteiro Gaspar Silva e Avelino Ferreira Torres vinham de 2004, altura em que se afastaram. O ex-autarca por diversas vezes falou de uma alegada dívida e as desavenças acabaram mesmo por entrar na justiça. Só no DIAP do Porto deram entrada, nos últimos anos, diversas queixas: denuncias feitas pelo irmão de Gaspar Silva, dando conta de que ambos tinham tido esperas de pessoas da confiança de Avelino; queixas de Avelino Ferreira Torres por ameaças de morte; e uma participação de Gaspar Silva por extorsão que visava o ex-presidente de Marco de Canaveses.

 

Acontece que apesar de o histórico de problemas se ter agravado quase sempre desde 2004, Avelino defendeu, quando interrogado pelos investigadores, que se tinha encontrado em 2012 com Gaspar Silva e que este se comprometeu a apresentar-lhe, à posteriori, uma declaração de confissão de dívidas. Disse ainda que o documento lhe apareceu no correio e que tem testemunhas que dão conta de que quem lá o deixou ia numa carrinha com o logótipo da empresa do pai do afilhado. Disse ainda que tal declaração já trazia a assinatura reconhecida.

 

A tese não bate certo, porém, com a de uma funcionária do escritório do advogado que reconheceu a assinatura e que garantiu ter sido o filho de Avelino a ir fazer o reconhecimento com o documento em mãos.

 

 

DIAP do Porto arrasa  Avelino

 

 
«A natureza e teor probatório supra mencionado, conjugados com as regras da experiência e da lógica permitem concluir que a versão do arguido Avelino, para além de solitária, não se conjuga minimamente com a normalidade das coisas, representando, por isso, a descrição absolutamente inverosímil duma suposta realidade», lê-se no despacho de acusação a que o SOL teve acesso.

 

O DIAP do Porto desmonta a tese do antigo autarca, lembrando que segundo a sua versão, Gaspar Silva desde 2004 que fugia de si por não querer saldar as dívidas que tinha, tendo acordado assumir as dívidas oito anos depois e numa altura em que ambos estavam já com grandes desavenças e em que tinham já entrado na justiça (as primeiras queixas dão entrada em 2011).

 

«É, neste contexto, ‘altamente improvável, que surge a denunciada atitude de assunção de uma dívida, cujos sinais, durante oito longos anos, se tinham resumido a uma esforçada tentativa de cobrança extrajudicial!», adianta o Ministério Público.

 

 

Mas a investigação arrasa mesmo a fundamentação de Avelino Ferreira Torres quando refere que «outros factos e/ou circunstâncias logram, igualmente, abalar a credibilidade da [sua] versão», dando para isso o exemplo de o arguido ter referido no âmbito de um dos outros processos em curso naquele departamento (em interrogatório 27/06/2012) que Gaspar tinha assumido uma dívida que rondava os 800 mil euros.

 

«Ou seja, cerca de vinte dias depois da dita reunião, o arguido Avelino apenas se recordava que a suposta dívida ascendia ‘a mais de 800 mil euros’, sendo que, passados dois anos, a sua memória lograra ditar a quantia exata que o denunciante, alegadamente reconhecera como devida naquela reunião! Coincidentemente, num montante muito aproximado ao que figura no documento de confissão de dívida em análise», refere a acusação.

 

Outra das descrições que não encaixa para o MP é a forma como a declaração de confissão de dívida foi parar às suas mãos, através de correio: uma «inaceitável inverosimilhança».

 

 

Versões do filho e do advogado

 

 
O filho de Avelino Ferreira Torres diz que nunca se deslocou ao escritório do advogado Armando Teixeira para reconhecer a assinatura falsa de Gaspar Silva, garantindo que a funcionária só pode estar a fazer confusão. Uma afirmação que não colhe junto dos investigadores, uma vez que a funcionária conhecia o arguido e seria muito difícil confundir os detalhes que apresentou durante o interrogatório.

 

Por outro lado, o advogado – que se escusa a comentar quem lhe levou o documento invocando o segredo profissional – garante que o reconhecimento foi feito mediante a apresentação de um cartão do cidadão que tinha uma assinatura igual à do documento, algo que não confere. Confrontado com o cartão de cidadão de Gaspar Silva e com as diferenças notórias entre a assinatura daquele documento de identificação e a da declaração, Armando Teixeira disse ao MP que só consegue arranjar uma explicação: foi-lhe exibido um cartão de cidadão falso.

 

Dadas as «características de segurança contra falsificação» do cartão de cidadão, o DIAP do Porto não hesita em considerar se trata de uma conjetura «altamente improvável para não dizer praticamente impossível de se verificar». Até porque, refere a acusação, «a falsificação [de um documento como o cartão de cidadão] implicaria uma disponibilidade de meios que o presente caso não deixa sequer antever».

 

 

Quis enganar Gaspar e…o juiz

 

 
Por tudo o que foi desconstruído, o MP garante mesmo que a versão apresentada pelos arguidos não «se apresenta minimamente credível sendo, por isso, suscetível de abalar a ‘explicação natural’ do conjunto de factos e circunstâncias relatados na queixa apresentada pelo queixoso Gaspar Ferreira da Silva».

 

E é já a terminar a acusação que o MP destaca a intenção de enganar a Justiça com todo o plano montado. «Pretendia e pretende o arguido Avelino Torres fazer acreditar a terceiros, nomeadamente ao Mm.º Juiz a quem a execução foi distribuída, e ao agente de execução aí designado, que o ofendido Gaspar Ferreira da Silva reconhecera ter uma dívida no montante de 1.050.000 euros de que ele, Avelino, era credor e que o referido Gaspar tinha elaborado e subscrito o documento ali dado como título executivo, o que bem sabia não corresponder à verdade», assegura.

 

O DIAP do Porto considerou, porém, que a medida de coação mais leve, Termo de Identidade e Residência, seria suficiente nesta fase, não tendo aplicado qualquer medida privativa de liberdade aos arguidos, que esperam agora o desenrolar do processo.

 

O jornal SOL contactou a defesa de Avelino Ferreira Torres, a cargo da advogada Luísa Loureiro, a qual preferiu não fazer qualquer comentário sobre o caso. Já o advogado Pedro Araújo Barros, que representa o arguido Armando Teixeira, disse estar ainda a ponderar quais serão os próximos passos, não adiantando para já se pedirão abertura de instrução.

 

 

TPT com: AFP//Carlos Diogo Santos//Jornal i// O Sol//11 de Outubro de 2016

 

 

 

 

Presidente da Colômbia conquista o Prémio Nobel da Paz 2016

Comité norueguês decidiu premiar o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, com o Nobel da Paz 2016 pelos seus “esforços para pôr fim aos mais de 50 anos de guerra civil no país”.

 

 

De fora de um prémio que foi também “para o povo colombiano” ficou o líder das FARC, Rodrigo Londono, aliás Timochenko, que no dia 26 de setembro assinou com Santos o acordo de paz negociado durante quatro anos em Cuba.

 

 

Em Oslo, Kaci Kullmann Five, a presidente do Comité Nobel sublinhou que o resultado do referendo torna ainda mais importante que Santos e as FARC respeitem o cessar-fogo. E garantiu que “o facto de a maioria do povo ter dito não ao acordo não significa que o processo de paz esteja morto”.

 

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O acordo veio pôr fim a mais de meio século de uma guerra que deixou mais de 220 mil mortos. E fez dos seus protagonistas os favoritos ao Nobel, mas a vitória do Não no referendo de dia 2 na Colômbia veio pôr em causa esta vitória.

 

 

Santos torna-se assim no 26.º chefe do Estado a receber um Nobel. E América Latina volta a receber o galrdão da Paz depois da vitória de Rigoberta Menchu em 1992, pela sua defesa das mulheres indígenas.

 

 

Premiar os dois lados em conflito depois de terem chegado a um consenso não poderia estar mais no espírito dos prémios criados em 1895 pelo sueco Alfred Nobel. A última vez que o comité o fez foi em 1998, quando atribuiu o galardão da Paz (o único entregue na Noruega, todos os outros Nobel são entregues na Suécia) a John Hume e a David Trimble “pelos seus esforços para encontrar uma solução pacífica para o conflito na Irlanda no Norte”. Mas o passado também já provou que esta pode ser uma escolha arriscada. Em 1994, na sequência dos acordos de Oslo entre israelitas e palestinianos, o recém-falecido Shimon Peres, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat receberam o prémio. Mas passados 22 anos, com todos os protagonistas mortos, a paz no Médio Oriente ainda é uma miragem.

 

 

Entre os favoritos este ano estavam ainda os negociadores do acordo sobre o nuclear iraniano – entre eles os chefes da diplomacia americana, John Kerry, iraniana, Mohammad Javad Zarif, e europeia, Federica Mogherini. Mas também os habitantes das ilhas gregas, um coletivo para designar todos os voluntários que ajudaram os refugiados – sobretudo sírios, mas também iraquianos, afegãos, etc. – que nos últimos meses chegaram às costas da Grécia em busca de uma vida melhor na Europa.

 

 

Em termos coletivos, os Capacetes Brancos , antigos padeiros, professores, alfaiates ou outros profissionais que decidiram dedicar a vida a salvar as vítimas dos bombardeamentos e da guerra na Síria, tinham subido nas apostas nos últimos dias. Em termos individuais, a ativista russa pelos direitos humanos Svetlana Gannushkina era uma das favoritas. Tal como Denis Mukwege, o ginecologista congolês que já ganhou o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu por desafiar a morte para ajudar as mulheres violadas durante a guerra civil no seu país. Na lista não falta outro vencedor do Sakharov, o blogger saudita Raif Badawi, detido e condenado a mil chicotadas pela sua defesa da liberdade de expressão.

 

 

Nos últimos anos, as instituições dominaram o Nobel da Paz, tendo arrecadado três dos últimos cinco galardões: em 2012 foi a vez da União Europeia, em 2013 da Organização para a Proibição das Armas Químicas e em 2015 do Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia. Neste ano havia 148 instituições entre os nomeados e a Save the Children era uma das favoritas à vitória. Sobretudo pelo seu trabalho com as crianças nos campos de refugiados na Síria e nos países vizinhos

 

 

Com milhares de pessoas, inclusive todos os membros dos parlamentos nacionais, professores universitários ou antigos vencedores, a poderem nomear candidatos ao Nobel, não espanta que da lista constem nomes menos consensuais. Entre os favoritos neste ano voltou a estar Edward Snowden, o ex-analista da NSA que em 2013 divulgou os programas de vigilância secreto dos EUA. Mas também Donald Trump, o candidato republicano às presidenciais de 8 de novembro nos EUA, mais conhecido por querer construir um muro na fronteira com o México ou banir os muçulmanos de entrar na América do que pelos atos a favor da paz.

 

 

O Papa Francisco e a chanceler alemã Angela Merkel também voltaram à lista, já sem o favoritismo claro de outros anos.

 

 

Os prémios Nobel nasceram da vontade do químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em doar a sua imensa fortuna para o reconhecimento de personalidades que prestassem serviços à humanidade.

 

 

O inventor da dinamite expôs este desejo num testamento redigido em Paris em 1895, um ano antes da sua morte. Os prémios foram atribuídos pela primeira vez em 1901.

 

 

Nobel para “esforço de paz” fortalece Santos diante de rivais

 

 

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, começou a semana com uma derrota que não esperava e acabou com uma vitória que tinha deixado de esperar. No domingo, o acordo que assinou com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para pôr fim a 52 anos de guerra foi recusado num referendo, quando as sondagens davam a vitória ao “sim”. O sonho de ganhar o Nobel da Paz (era apontado como favorito e acusado pelos críticos de ter marcado o voto a pensar no prémio) caiu por terra. Pior, o processo ficou em risco. O anúncio do Comité Nobel norueguês veio dar a Santos um novo poder, longe das intrigas políticas internas, para renegociar o acordo e salvar a paz.

 

presidente-da-colombia-conquista-o-premio-nobel-da-paz-2016-3Juan Manuel Santos e a mulher, Maria Clemencia Rodriguez

 

O presidente aceitou “com grande humildade” o reconhecimento, dizendo que o vê “como um mandato para continuar a trabalhar sem descanso pela paz para todos os colombianos”. E deixou claro: “Vou dedicar todos os meus esforços a esta causa para o resto dos meus dias.” Em relação ao prémio, diz que o recebe “não em nome próprio, mas de todos os colombianos, em especial das vítimas” do conflito. Em 52 anos, foram mais de 220 mil mortos.

 

 

FARC

 

 

Santos não esqueceu também “todas aquelas pessoas que contribuíram” para que a Colômbia esteja prestes a conseguir “essa paz tão desejada”, desde os “negociadores de ambas as partes” às pessoas e instituições que apoiaram o processo. Ao contrário do que previam as apostas (até ao “não” no referendo), o comité norueguês não distingui também o líder das FARC, Rodrigo Londoño, mais conhecido como Timoleón Jiménez ou Timochenko.

 

 

Já o principal negociador das FARC, Iván Márquez, usou a mesma rede social para uma crítica velada: “Sem outra parte não há Nobel da Paz; por isso a nossa satisfação de ter contribuído com um grãozinho de areia ao alcançar de tão alta distinção”. Mesmo aquela que foi uma das mais famosas reféns da guerrilha, Ingrid Betancourt, admitiu que esta também deveria ter sido distinguida com o prémio.

 

 

Divisões internas

 

 

Um dos principais adversários do acordo de paz, principalmente do facto de permitir a participação política das FARC e imunidade aos líderes guerrilheiros, é o ex-presidente Álvaro Uribe. Depois de ter faltado a uma primeira reunião de todos os partidos políticos com Santos, no rescaldo do referendo, esteve na quarta-feira na Casa de Nariño disposto a negociar com o presidente e chegar a acordo em relação ao processo de paz. “Felicito o Nobel para o presidente Santos, desejo que permita mudar os acordos daninhos para a democracia”, escreveu ontem no Twitter.

 

 

Agora, segundo os analistas, o prémio dá uma nova força a Santos no meio da disputa com Uribe. “O Nobel recorda-nos que o mundo olha esperançado para os esforços pela paz e que um novo acordo não pode depender do regatear entre políticos”, escreveu no Twitter César Rodriguez Garavito, diretor do Dejusticia , centro de estudos de Direito, Justiça e Sociedade. “O prémio não vai romper a polarização, nem vai convencer os adversários do acordo de paz sobre as suas virtudes. Mas pode ajudar a ampliar a base política de apoio (…) e permite que uma grande parte do país que se absteve de ir votar se sensibilize para a necessidade de apoiar o processo de paz nos próximos meses”, escreveu o jornal La Semana.

 

 

De falcão a pomba

 

 

O Nobel da Paz será entregue a 10 de dezembro a um homem que, há menos de uma década, combatia a guerrilha – daí que a BBC tenha usado a imagem do falcão que se transformou numa pomba. Juan Manuel Santos, de 65 anos, foi ministro da Defesa de Uribe e deve a sua eleição ao sucesso da política militar do ex-presidente contra as FARC.

 

 

Eleito em 2010 com a promessa de continuar com mão de ferro contra a guerrilha, acabaria contudo por optar pelo diálogo (daí o corte de relações com Uribe). Foi reeleito em 2014, após perder na primeira volta para o candidato apoiado pelo ex-presidente, já com a promessa de negociar com as FARC.

 

 

Economista de formação, Santos pertence a uma das famílias mais ricas e influentes da Colômbia. O seu tio-avô Eduardo Santos Montejo foi presidente entre 1938 e 1942, tendo comprado o jornal El Tiempo – do qual Santos viria a ser subdiretor antes de entrar para o governo. Foi ministro do Comércio Externo, antes de passar pelas Finanças e pela Defesa. Agora, torna-se no segundo colombiano a vencer um Nobel, depois de Gabriel García Márquez ter ganho o da Literatura em 1982.

 

 

Antiga refém das FARC diz que Nobel da Paz

 

 

A antiga refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) Ingrid Betancourt considerou hoje que o prémio Nobel da Paz, atribuído ao presidente colombiano Juan Manuel Santos, devia ter sido partilhado com o movimento de guerrilha.

 

 

“As pessoas que a sequestraram também mereciam o Nobel da Paz?”, perguntou o jornalista, num contacto telefónico da cadeia francesa I-Télé.

 

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“Sim. É muito difícil dizer sim, mas penso que sim”, respondeu, muito comovida, Ingrid Betancourt, que esteve sequestrada pelas FARC entre 2002 e 2008.

 

 

O prémio Nobel da Paz foi atribuído ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelos seus esforços para pôr fim à guerra civil no país.

 

 

Assinado a 26 de setembro em Cartagena das Índias entre o governo da Colômbia e as FARC, o acordo de paz foi rejeitado pela população num referendo realizado em 02 de outubro.

 

 

“Estou muito, muito, muito feliz” pela atribuição do prémio a Juan Manuel Santos, acrescentou Betancourt.

 

 

“Não só penso que o merece, mas também por se tratar de um momento de reflexão para a Colômbia, de esperança de paz, de alegria, de se dizer que efetivamente a paz não fez marcha-atrás”, disse.

 

 

Juan Manuel Santos “lutou praticamente só para conseguir este resultado, mudou a história do país, deu à nova geração colombiana a possibilidade de conhecer um país diferente. É um momento imenso para a Colômbia”, afirmou a antiga refém da guerrilha.

 

 

Em declarações à rádio colombiana Blu Radio, Ingrid Betancourt saudou a atribuição do Nobel como “um impulso extraordinário” que “cimenta a paz na Colômbia, e diminui as vozes daqueles que queriam ver abortar o processo de paz”.

 

 

“Estamos perante a possibilidade de crescer, de amadurecer democraticamente e de poder dizer à geração que chega que fomos capazes, todos juntos, de acreditar na paz (…) de deixar para trás as nossas vinganças, os nossos ódios”, acrescentou.

 

 

Ingrid Betancourt saudou o Nobel como um reconhecimento “desta transformação extraordinária das FARC, que passaram de um grupo terrorista ligado à droga para um verdadeiro grupo de seres humanos convencidos de que podem contribuir para a paz”.

 

 

A antiga refém, que vive atualmente entre a França, Reino Unido e Estados Unidos, foi candidata às eleições presidenciais colombianas pelo partido ecologista, antes do rapto pelas FARC.

 

 

Uribe deseja que o Nóbel da Paz permita a Juan Manuel Santos “mudar acordo daninho”

 

 

Através do Twitter, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, felicitou o seu antigo ministro da Defesa pelo Nobel da Paz, mas disse esperar que este prémio possa permitir alterar o acordo de paz que foi assinado e recusado pelos colombianos num referendo.

 

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“Felicito o Nobel para o presidente Santos, desejo que permita mudar os acordos daninhos para a democracia”, escreveu Uribe no Twitter.

 

 

Uribe, líder do partido Centro Democrático, foi um dos principais defensores do “não” no referendo ao acordo de paz assinado entre Santos e as FARC. O ex-presidente reuniu-se na quarta-feira com o sucessor dizendo estar disponível para trabalhar num novo acordo de paz.

 

 

Uribe tornou-se no principal adversário e opositor de Santos, seu antigo delfim, no momento em que este resolveu pôr de lado a política de mão de ferro contra a guerrilha (que tinha mantido ao longo dos seus dois mandatos) e sentar-se a negociar a paz.

 

 

Juan Manuel Santos dedica Nobel aos colombianos “que sofreram tanto”

 

 

“Obrigado, do fundo do meu coração e em nome de todos os colombianos, especialmente as vítimas. Milhões de vítimas sofreram com esta guerra”, disse Juan Manuel Santos no telefonema com o Comité Nobel norueguês, que hoje anunciou que o presidente colombiano é o vencedor do Nobel da Paz.

 

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Distinguido pelos seus esforços em conseguir a paz e pôr fim a um conflito com mais de meio século, Santos indicou que “é simplesmente questão de acreditar numa causa e não há melhor motivo para qualquer sociedade, para qualquer país, que viver em paz. Estamos muito, muito próximo de alcançar a paz”, indicou Santos, citado pelo El Tiempo.

 

 

Segundo o Comité Nobel, Santos estava “muito agradecido” quando recebeu a notícia, considerando o prémio “inestimável e importantíssimo para a evolução do processo de paz na Colômbia”.

 

 

O prémio deve ser visto “como um tributo ao povo colombiano, que apesar de grandes dificuldades e abusos, não perdeu a esperança de uma paz justa”, assim como a todas as partes que contribuíram para o processo de paz, pode ler-se no comunicado do comité.

 

 

Dragões felicitam Juan Manuel Santos

 

 

 

O FC Porto endereçou, via Twitter, os parabéns a Juan Manuel Mantos pelo Prémio Nobel da Paz que lhe foi atribuído.

 

presidente-da-colombia-conquista-o-premio-nobel-da-paz-2016-7Juan Manuel dos Santos com um cachecol do FC Porto, em 2013

 

Os dragões publicaram uma foto do presidente da Colômbia com uma camisola do FC Porto que lhe foi oferecida em 2013, autografada por Héctor Quiñones, James Rodríguez e Jackson Martínez.

 

 

No mesmo ano, no âmbito de uma visita oficial de Cavaco Silva à Colômbia, Juan Manuel Santos recebeu também um cachecol do FC Porto e mostrou apreço pela forma como os colombianos vinham tendo sucesso no Dragão.

 

 

Em 2014, quando Falcao esteve no Porto a recuperar de uma cirurgia ao joelho, o presidente da Colômbia também esteve à conversa com Pinto da Costa, com quem mantém boas relações.

 

 

A FARC afirma que “o único prémio a que aspiramos é a paz com justiça social”

 

 

O comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Timoleón Jiménez, conhecido como Timochenko, que assinou o acordo de paz com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, reagiu no Twitter ao anúncio da entrega do prémio Nobel da Paz apenas para o chefe de Estado pelos seus esforços para pôr fim ao conflito de 52 anos.

 

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O prémio surge como uma surpresa já que os colombianos votaram no referendo do último domingo, por uma margem mínima, contra o acordo de paz que foi negociado durante os últimos quatro anos em Havana.

 

 

Marcelo felicita Santos por “merecida atribuição” do Nobel

 

 

Na carta dirigida a Juan Manuel Santos, divulgada na página da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa considera que esta foi uma “merecida atribuição” do Nobel da Paz, “pela sua iniciativa e êxito no histórico acordo de paz alcançado na Colômbia, destinado a pôr termo a um conflito que durou mais de cinco décadas e que tanto sofrimento trouxe ao povo colombiano”.

 

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O Presidente da República Portuguesa manifesta a esperança de que o acordo de paz entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), entretanto rejeitado em referendo, “se concretize o mais rapidamente possível”.

 

 

Marcelo Rebelo de Sousa reafirma nesta carta que Portugal quer “trabalhar lado a lado com a Colômbia na fase, não menos importante, que é a da implementação da paz” e “contribuirá com meios humanos e financeiros, tanto para a força de estabilização como para o fundo fiduciário, criados para o efeito”.

 

 

O chefe de Estado escreve que Portugal “partilha com a Colômbia laços fraternos, quer a nível bilateral, quer no seio da Comunidade Ibero-Americana” e diz aguardar com “grata expectativa” o próximo encontro com Juan Manuel Santos, por ocasião da Cimeira Ibero-Americana de Cartagena das Índias, na Colômbia, marcada para 28 e 29 deste mês.

 

 

Juan Manuel Santos: O homem que fez a guerra para chegar à paz

 

 

Juan Manuel Santos, 65 anos, com origem numa família da alta sociedade de Bogotá, iniciou-se na política em 1991.

 

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Começou por ser jornalista, tendo recebido o prémio Rei de Espanha pelas suas crónicas sobre a revolução sandinista na Nicarágua. Esse trabalho “marcou-nos profundamente”, chegou a dizer a propósito dessa investigação conduzida com o seu irmão Enrique, outro autor-chave do processo de paz iniciado oficialmente com as FARC em 2012, mas de forma secreta desde a subida ao poder de Santos, em 2010.

 

 

Antes de fazer a sua entrada no palácio presidencial Casa de Nariño, este político, que se define como de “centrista extremo”, já tinha perseguido a guerrilha, durante uma cruzada implacável levada a cabo enquanto era ministro da Defesa do seu antecessor de direita, Álvaro Uribe. O objectivo: enfraquecer as FARC para obrigá-las a negociar.

 

 

Desta forma, ele fez a guerra para alcançar a paz, observam os analistas. “Irei continuar a procurar a paz até ao último minuto do meu mandato porque esse é o caminho a seguir para deixar um país melhor às nossas crianças”, dizia Santos, já depois de ser conhecido o resultado do referendo que ditou a derrota nas urnas do processo de paz.

 

 

Na Colômbia, só o perdão pode acabar com a paz

 

 

“Não procuro aplausos. Quero fazer o que está correcto”, dizia durante uma entrevista à AFP este homem descrito como muito racional e frequentemente criticado pela sua aparente frieza.

 

 

A atribuição do Nobel esta sexta-feira fornece-lhe um apoio pessoal de primeiro plano para que continue os seus esforços.

 

 

Admirador de Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Nelson Mandela, leitor voraz e cinéfilo, Santos sempre disse que a sua força vinha da sua família, começada em 1988 com Maria Clemencia Rodríguez, a quem chama “Tutina”, mãe dos seus três filhos.

 

 

Presidente da Colômbia doa dinheiro do Nobel da Paz às vítimas do conflito

 

O Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, anunciou publicamente que vai doar às vítimas do conflito os oito milhões de coroas suecas (847 mil euros) que vai receber como parte do prémio Nobel da Paz que obteve.

 

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“Vamos doar oito milhões de coroas suecas para que as vítimas sejam compensadas”, disse numa cerimónia religiosa na localidade de Bojayá, noroeste do país, e cenário de um dos mais graves ataques da guerrilha das FARC, com um balanço de dezenas de mortos.

 

 

O Comité Nobel Noruega anunciou na sexta-feira que o prémio constitui um claro apoio à decisão de Santos de convidar todas as partes a participar num amplo diálogo nacional para que o processo de paz entre Governo e FARC não esmoreça, após o “não” se ter imposto no plebiscito.

 

 

O prémio que Santos vai receber  em 10 de dezembro em Oslo consiste numa medalha de ouro, num diploma e num cheque de oito milhões de coroas suecas.

 

 

A cerimónia religiosa, o primeiro ato público com a presença do Presidente após o anúncio do Nobel, decorreu na igreja de Bojayá com a participação de vários sobreviventes do ataque.

 

 

Em 2 de maio de 2002 um comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) lançou uma bomba de gás contra uma igreja dessa povoação onde também se encontravam locais, que se protegiam de um confronto entre a guerrilha e um grupo paramilitar de extrema-direita, provocando 79 mortos.

 

 

TPT com: Andrea Comas//Reuters//Leonardo Munoz//Mauricio Duenas Castaneda/EPA//John Vizcaino// REUTERS// 11 de Outubro de 2016

 

 

 

 

Nobel da Química para as máquinas mais pequenas do mundo

Um elástico, um elevador, um motor e um carro são algumas das máquinas moleculares desenvolvidas por Jean-Pierre Sauvage, Fraser Stoddart e Bernard Feringa. Pensa-se que estas nanotecnologias vão ser tão importantes como é hoje o motor eléctrico.

 

 

As palavras podiam entrar numa conversa de oficina: motores, rotores, elevadores, chassis. Este léxico, cujo imaginário remonta ao início da revolução industrial, traz imagens de óleo, fumo, barulho e trabalho. Mas nesta quarta-feira o mundo associou-as a uma realidade completamente diferente, onde impera a escala dos átomos. O Prémio Nobel da Química de 2016 foi para os três cientistas que desenvolveram máquinas moleculares: o francês Jean-Pierre Sauvage, o escocês Fraser Stoddart e o holandês Bernard Feringa. Em menos de 20 anos, eles puseram moléculas a mexer e a trabalhar, com pouca energia.

 

 

Estas são as máquinas mais pequenas de sempre fabricadas pelo homem, mil vezes mais pequenas do que a espessura de um fio de cabelo. Onde irá parar o mundo movimentado (e fascinante) das máquinas moleculares? A Real Academia Sueca das Ciências, que atribui os Prémios Nobel, explica que estamos na alvorada de uma nova tecnologia. As próximas décadas trarão novidades, mas da informática à medicina, muitas áreas serão transformadas.

 

 

“Em termos de desenvolvimento, o motor molecular está no mesmo estado de desenvolvimento do que o motor eléctrico na década de 1830, quando os cientistas exibiam máquinas eléctricas capazes de mover pedais e rodas, mas não sabiam que essas máquinas se iriam tornar comboios, máquinas de lavar, ventoinhas”, lê-se no comunicado. “Estas máquinas moleculares podem vir a ser usadas no desenvolvimento de coisas como novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia.”

 

 

Por isso, “pela concepção e síntese de máquinas moleculares”, nas palavras do comité que atribuiu esta quarta-feira o Nobel, Jean-Pierre Sauvage (Universidade de Estrasburgo, em França), Fraser Stoddart (Universidade Northwestern em Evanston, nos Estados Unidos) e Bernard Feringa (Universidade de Groningen, na Holanda) irão dividir o prémio de oito milhões de coroas suecas (833 mil euros).

 

 

“Não soube o que dizer e fiquei um pouco chocado. Foi uma surpresa”, disse ao telefone Bernard Feringa, durante uma breve sessão de perguntas de jornalistas no anúncio do prémio, em Estocolmo, lembrando o que sentiu quando lhe deram a notícia. Bernard Feringa acredita que estas máquinas moleculares poderão vir a estar na origem de robôs (que viajarão até células cancerosas para administrarem medicamentos que as matem) ou de novos materiais (que recebem estímulos químicos para fazerem uma qualquer tarefa), entre muitas outras possibilidades.

 

 

Um avanço em três passos

 

 

“Para uma máquina ser capaz de executar uma tarefa tem de ser composta por partes que se movem umas em relação às outras”, explica-se no comunicado. Ao longo da evolução, a natureza já criou mecanismos moleculares que produzem movimento. Os flagelos das bactérias, com forma em espiral como os saca-rolhas, giram e permitem que elas se movam. No entanto, apesar de a ideia de máquinas microscópicas construídas pelo homem já ser antiga, o seu desenvolvimento a sério começou há menos de 35 anos.

 

 

Em 1983, Jean-Pierre Sauvage conseguiu ligar moléculas em forma de anel, formando uma “corrente” com elas. Nas décadas anteriores, outros químicos tinham conseguido fazer estas correntes moleculares, mas a muito custo e este ramo da química estava praticamente esgotado. Jean-Pierre Sauvage usou um truque com um ião de cobre para obter a estrutura dos elos que formam a corrente. Depois de os anéis estarem presos um ao outro com ajuda do ião, ele é removido. Com esta nova técnica, a produção destes elos moleculares subiu de 10% para 42%. “De repente, as correntes de moléculas eram mais do que uma mera curiosidade científica”, explica o comunicado.

 

 

Oito anos depois, Fraser Stoddart desenvolveu o rotaxano: uma estrutura de duas moléculas em que uma se parece com um pequeno eixo, com rodas na extremidade, e a outra com uma argola. A argola está presa ao eixo e é capaz de se movimentar, de uma forma que os cientistas conseguem controlar, entre as suas extremidades.

 

 

Finalmente, Bernard Feringa produziu em 1999 o primeiro motor molecular. O cientista construiu um rotor molecular, estrutura que se movimenta circularmente sob o seu próprio eixo, com ajuda da energia dos raios ultravioletas e um sistema de pás que permite que o movimento se faça num só sentido. A equipa de Feringa aperfeiçoou depois o sistema, transformando-o num motor capaz de fazer algo como 12 milhões de revoluções por segundo. Com estes motores, a equipa conseguiu rodar um cilindro de vidro 10.000 vezes maior do que os próprios motores.

 

 

Entretanto, já se produziram “carros” moleculares, elevadores moleculares, sistemas semelhantes aos músculos que se esticam e se contraem e um robô molecular capaz de ligar aminoácidos (os tijolos das proteínas). Já foi produzida uma malha de polímeros em cima de motores moleculares que são accionados quando expostos à luz, enrolando a malha. “Desta forma, a energia solar é armazenada nas moléculas e, se os cientistas descobrirem uma técnica para retirar esta energia [acumulada na malha de polímeros], poderá desenvolver-se um novo tipo de bateria”, adianta o comunicado.

 

 

Durante a conversa entre Bernard Feringa e os jornalistas, o cientista holandês explicou como nasceu o seu motor molecular: “Comecei por construir interruptores moleculares, que davam informação [no sistema binário] de zeros e uns. O objectivo era ter uma alternativa para armazenar informação.”

 

 

Mas rapidamente o cientista percebeu que tinha à sua frente um rotor molecular, capaz de criar movimento. “Quando se consegue controlar o movimento, então é possível pensar em todo o tipo de funções mecânicas, como caminhar e transportar coisas, e ter pequeníssimas máquinas”, disse. “Mas tudo começou a partir de interruptores, de uma ideia muito simples.” E assim nasceu um mundo novo de possibilidades.

 

 

TPT com: Reuters//Observador// Bernard Feringa//Jeroen Van Kooten//APF//11 de Outubro de 2016

 

 

 

 

 

São vários os senadores republicanos que pedem a Trump para que desista da corrida à Casa Branca

Vários senadores republicanos pediram este sábado ao candidato presidencial do partido, Donald Trump, para abandonar a corrida presidencial, depois de ter sido divulgado um vídeo em que se ouve o magnata a fazer comentários considerados vulgares sobre mulheres.

 

 

Trump já fez entretanto saber que não pretende afastar-se da corrida à Casa Branca, segundo declarações que fez ao The Wall Street Journal nas quais diz haver “zero hipóteses de desistir”.

 

 

“O caráter importa. Donald Trump obviamente não vai ganhar. Mas pode fazer algo honroso. Sair e deixar entrar Pence”, afirmou na sua conta oficial do Twitter o senador Ben Sasse, do Nebrasca, aludindo ao governador do Indiana e aspirante republicado à vice-presidência, Mike Pence.

 

 

Também no Twitter, o senador republicano Mike Crapo manifestou opinião semelhante: “Não nos equivoquemos. Precisamos de uma liderança na Casa Branca. Isto Donald Trump a permitir ao Partido Republicano propor um candidato conservador como Mike Pence, que pode derrotar Hillary Clinton”.

 

 

O mesmo senador pelo Idaho condenou as “repetidas ações e comentários sobre mulheres” por parte de Trump.

 

 

Pedidos semelhantes foram feitos por Mike Lee, senador pelo Utah, e por Mark Kirk, do Illinois.

 

 

A nova polémica em torno de Trump surgiu por causa de um vídeo gravado em 2005 e divulgado na sexta-feira pelo jornal The Washington Post em que o empresário fala sobre as mulheres em termos considerados vulgares e machistas.

 

 

Entretanto, Trump já disse que o vídeo divulga uma conversa privada com anos e desculpou-se: “se alguém se sentiu ofendido”.

 

 

“Era uma conversa de vestuário, privada, que teve lugar há anos. [O ex-presidente] Bill Clinton disse-me coisas muito piores num campo de golfe”, disse ainda, num breve comunicado.

 

 

 

Mulheres bonitas? Donald Trump diz que as “agarra pela ****”

 

 

 

Donald Trump pediu desculpa ao eleitorado norte-americano e ao seu Partido Republicano pelos conteúdos de um vídeo gravado em 2005, que foi tornado público na sexta-feira, em que o candidato presidencial aparece a fazer comentários sexistas em relação às mulheres e, em particular, a uma atriz de novelas casada. Trump aparece a gabar-se, numa conversa com um primo de George W. Bush, que não consegue evitar beijar mulheres bonitas e que, sendo “uma estrela“, pode fazer o que quiser com elas e abordá-las da forma que lhe apetecer.

 

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“Grab them by the pussy” é uma expressão que poderá ficar para a história desta campanha eleitoral. A expressão, que significa como agarrar as mulheres pelas partes íntimas, foi utilizada por Donald Trump para descrever a forma como o magnata gostava de lidar com as mulheres bonitas que encontrava.

 

 

O vídeo, que foi publicado pelo The Washington Post na noite de sexta-feira, foi registado quando Donald Trump chegava a um estúdio onde iria ser gravado um talk show em que Trump iria ter a companhia de uma atriz, como convidados.

 

 

Donald Trump está a conversar com Billy Bush, o anfitrião do programa televisivo onde Trump iria aparecer. O magnata diz que tentou cortejar essa mesma mulher, uns anos antes, e que a levou “às compras de mobília” numa altura em que era casada. “Tentei ter sexo com ela, tentei muito, mas falhei, admito”.

 

 

Na aproximação da mulher, que os vai receber ao autocarro em que se deslocavam Trump e Billy Bush, Trump aparece a dizer que tem de usar rebuçados para o hálito porque tem uma tendência para começar a beijar as mulheres atraentes quando as vê.

 

 

Sou automaticamente atraído por mulheres bonitas. Desato a beijá-las, é como um íman. E quando se é uma estrela elas deixam-te fazê-lo. Podes fazer o que quiseres, até agarrá-las pela ****”.

 

 

A adversária de Donald Trump, a democrata Hillary Clinton, reagiu no Twitter às palavras do republicano. “Isto é horroroso. Não podemos permitir que este homem seja Presidente”, escreveu.

 

 

 

Donald Trump pede desculpa…

 

 

O candidato presidencial, que este domingo volta a enfrentar Hillary Clinton em debate, apareceu rapidamente na televisão a conter a chuva de críticas — vindas de Republicanos e Democratas. “Toda a gente que me conhece sabe que estas palavras não refletem aquilo que sou. Eu disse aquilo. Estava errado. Peço desculpa”.

 

 

Eu nunca disse que sou uma pessoa perfeita, nem finjo ser alguém que não sou. Já disse e fiz coisas das quais me arrependo e as palavras hoje divulgadas, que dizem respeito a um vídeo feito há mais de uma década, são algo de que me arrependo”.

 

 

Pouco depois de pedir desculpa, Trump aproveitou para relativizar os seus comentários e virou as atenções para as desventuras de Bill Clinton enquanto este estava na Casa Branca.

 

 

“Já disse coisas muito idiotas, mas há uma grande diferença entre palavras e ações. Bill Clinton abusou, efetivamente, de mulheres e a mulher dele, Hillary, ameaçou, intimidou e envergonhou as suas vítimas [de Bill]”, afirmou Donald Trump, acrescentando que “Bill Clinton disse coisas bem piores no campo de golfe”.

 

 

… e vários republicanos já o criticaram

 

 

Apesar de ser o candidato republicano das eleições deste ano, Donald Trump nunca foi unanimemente amado dentro do Partido Republicano. Se há alguns que o aceitaram com aparente facilidade (Chris Christie, governador de New Jersey, à cabeça deles todos), há outros que sempre demonstraram dificuldades em lidar com o controverso magnata nova-iorquino. Na sexta-feira, depois de o Washington Post ter tornado pública a polémica gravação de áudio de Donald Trump, estes últimos voltaram a repudiá-lo.

 

 

Entre estes, está Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes, e o republicano que atualmente ocupa o cargo político mais alto dos EUA, entre aqueles que são sujeitos a eleições. “Estou enojado pelo que ouvi hoje. As mulheres devem ser defendidas e admiradas, não objetificadas. Espero que o senhor Trump trate desta situação com a seriedade que ela merece que que trabalhe para demonstrar ao país que ele respeita mais as mulheres do que aquela gravação sugere”, comentou na sexta-feira.

 

 

Em junho, quando a nomeação de Donald Trump ficou garantida após uma primárias concorridas (chegaram a ser 17 candidatos só no Partido Republicano), Paul Ryan apenas aceitou apoiar o empresário nova-iorquino depois de duas reuniões mediadas pelo presidente do Comité Nacional Republicano (na prática, o presidente do Partido Republicano), Reince Priebus.

 

 

Ora, Reince Priebus também esteve entre aqueles que falaram contra Donald Trump após a revelação deste áudio. “Nenhuma mulher deve ser descrita naqueles termos ou ser referida daquela maneira. Nunca”, disse num comunicado. Enquanto presidente do Comité Nacional Republicano, Reince Priebus foi a primeira figura de relevo dentro da estrutura do partido a abrir os braços a Donald Trump, assim que ficou claro que era ele quem iria ganhar as primárias.

 

 

Quem nunca abriu os braços a Donald Trump foi o candidato presidencial dos republicanos de 2012, o ex-governador do Massachusetts Mitt Romney. Eis o que escreveu no Twitter: “A fazer-se a mulheres casadas? A defender um ataque [sexual]? Degradações vis como estas desrespeitam as nossas mulheres e as nossas filhas e corrompem a cara da América para o mundo“.

 

 

A lista de ilustres figuras do Partido Republicano que criticaram Trump continua. Mitch McConnell, líder dos republicanos no Senado, onde têm maioria, disse: “Como pai de três filhas, eu acredito convictamente que Trump precisa de pedir desculpa diretamente a todas mulheres e raparigas e assumir toda a responsabilidade pela completa falta de respeito pelas mulheres que ele demonstrou nos comentários daquela gravação”.

 

 

Alguns dos adversários de Donald Trump nas primárias deste ano também aproveitaram a ocasião para criticá-lo mais uma vez. Jeb Bush, o ex-governador da Florida que desistiu precocemente das primárias logo no primeiro mês, reagiu no Twitter: “Como o avô de duas preciosas meninas, eu acredito que nenhum pedido de desculpas pode justificar os comentários repreensíveis de Donald Trump, que denigrem as mulheres”.

 

 

Outro ex-adversário que se fez ouvir foi John Kasich, govenador do Ohio. “Que não haja margem para erro: os comentários são errados e ofensivos. São indefensíveis”.

 

 

 

Trump pede a doentes terminais que se aguentem até ao dia das eleições

 

 

É a mais recente polémica de Donald Trump. Num discurso esta quinta-feira em Reno, no Nevada, o candidato republicano à Casa Branca apelou ao voto de doentes terminais, dizendo não querer saber se as pessoas estavam doentes ou se tinham apenas duas semanas de perspetivas de vida, desde que se aguentassem até dia 8 de novembro e fossem votar.

 

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“Não quero saber se vieram do médico e ele vos deu a pior notícia possível, aguentem-se até dia 8 de novembro, saiam e vão votar”, disse, numa declaração já muito contestada.

 

 

“Não quero saber o quão doentes estão”, afirmou Trump. “Não me importa que tenham acabado de voltar do médico e que ele vos tenha dado o pior prognóstico possível. Mesmo que achem que só vão durar mais duas semanas. Não importa. Aguentem-se até ao dia oito de novembro, saiam e vão votar”, disse, Trump, afirmando depois que disse em tom de brincadeira mas que estava “a falar a sério”.

 

 

As sondagem continuam a indicar uma quebra de popularidade do candidato republicano, especialmente desde o último debate presidencial. A última sondagem da Reuters/Ipsos, divulgada na quarta-feira, dava conta de que a candidata democrata Hillary Clinton se encontra já a seis pontos percentuais acima do candidato republicano. O próximo debate presidencial entre Clinton e Trump realiza-se na madrugada de domingo para segunda.

 

 

 

TPT com: AFP//Washington Post// Jim Lo Scalzo//EPA//Lusa// João de Almeida Dias//Edgar Caetano//Observador// 8 de Outubro de 2016

 

 

 

 

 

O Prémio Nóbel da Física 2016 vai levar-nos numa “viagem” até aos estados exóticos da matéria

O Prémio Nobel da Física de 2016, leva-nos numa viagem até aos estados exóticos da matéria. Até ao mundo das temperaturas muito baixas (muito para lá dos zeros graus Celsius) e de átomos em películas tão finas que estão quase só numa ou em duas dimensões. Neste mundo da matéria fria, o que acontece? Será que a matéria muda de estado ou, como dizem os físicos, há transição de fases?

 

 

No mundo que todos conhecemos, vemos que as moléculas da água, por exemplo, podem estar no estado gasoso, líquido ou sólido. E que, às temperaturas que nós próprios podemos suportar, as moléculas de água passam de um estado para o outro. Ou seja, ocorre a tal transição de fases. Mas os três premiados com o Nobel da Física deste ano – os britânicos David Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz, todos físicos teóricos a trabalhar nos EUA – ajudaram-nos a compreender o que se passa com a matéria a temperaturas muito baixas, perto do chamado “zero absoluto” (que é de 273 graus Celsius negativos), e em sistemas com uma ou duas dimensões.

 

 

Até às suas investigações, nas décadas de 70 e 80, achava-se que nada acontecia nesses mundos da matéria fria com menos de três dimensões (comprimento, altura e largura). Que não havia transição de fases. David Thouless (da Universidade de Washington em Seattle), Duncan Haldane (da Universidade de Princeton) e Michael Kosterlitz (da Universidade de Brown) viram que sim, que a matéria mudava de estado. E que tinha propriedades físicas bizarras. Esta mudança chama-se “transição de fase topológica”.

 

 

“Ninguém tinha considerado essa possibilidade”, explica-nos Pedro Sacramento, físico da matéria condensada no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. “Essa ideia nova não estava em desacordo com a teoria anterior. O que adicionou foi mais uma via”, acrescenta.

 

 

“Pelas descobertas teóricas das transições de fase topológicas e fases topológicas da matéria”, a Real Academia Sueca das Ciências atribui-lhes agora o Nobel da Física. Os três cientistas vão receber ao todo 833.000 euros. Metade irá para David Thouless e a outra metade para Michael Kosterlitz e Duncan Haldane.

 

premio-nobel-da-fisica-2016-leva-nos-ate-aos-estados-exoticos-da-materia-2David James Thouless, da Universidade de Washington, EUA

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John Michael Kosterlitz, da Brown Universidade

 

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Duncan Haldane, da Universidade de Princeton, EUA

 

“Fiquei muito surpreendido e satisfeito. Só agora é que há um número tremendo de novas descobertas com base no trabalho inicial. Isto ensinou-nos que a mecânica quântica se pode comportar de uma forma muito mais estranha do que poderíamos adivinhar”, disse Duncan Haldane ao telefone durante o anúncio do prémio, citado pelo site Physics World. “Era apenas um modelo que demonstrava algo… E como muitas descobertas, tropeça-se nelas e é preciso perceber que há uma coisa interessante ali.”

 

 

Regressando um pouco atrás, as mudanças de estado da matéria no nosso quotidiano são bem conhecidas. Os físicos sabem que as moléculas da água, por exemplo, estão organizadas de formas diferentes consoante a temperatura (e a pressão). No estado sólido, as moléculas de água encontram-se ligadas umas às outras, enquanto no líquido estão aos trambolhões. E que no estado gasoso ficam ainda mais soltas. Estes saltos entre fases ocorrem de forma brusca, quando a temperatura muda (basta pensar numa panela com água a ferver).

 

 

Também já se sabia que, perante temperaturas muito baixas, a matéria podia ganhar propriedades físicas invulgares. É o caso do hélio-4, que a 271 graus Celsius negativos se comporta como um superfluido, perdendo a viscosidade. Há vídeos incríveis que mostram que hélio líquido num frasco, quando arrefecido até àquela temperatura extrema, começa a subir pelas paredes do recipiente. As experiências da superfluidez do hélio-4 foram realizadas nos 30 pelo russo Pyotr Kapitsa e valeram-lhe o Nobel da Física em 1978, década em que David Thouless e Michael Kosterlitz começaram os seus trabalhos.

 

 

Os dois físicos teóricos começaram a trabalhar juntos em Birmingham, no Reino Unido. “O que fizeram, através do pensamento, usando a matemática, foi ver como é que a matéria se comportava em situações extremas”, diz o físico Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra. Mais concretamente, pensaram nas mudanças das propriedades da matéria não só quando ela é submetida a temperaturas muito baixas, próximas do zero absoluto, mas também quando está a duas dimensões. Por outras palavras ainda, num mundo plano. E o que acontece então?

 

 

“A transição de fase topológica não é uma transição de fase vulgar, como entre o gelo e a água líquida. Num material plano, o papel principal na transição topológica é desempenhado por pequenos vórtices”, lê-se no comunicado da Real Academia Sueca das Ciências. Pode-se dizer que estes vórtices são formados por pequenos ímanes dos átomos que estão orientados de determinadas formas. “A temperaturas baixas os vórtices estão juntos aos pares. Quando a temperatura aumenta, ocorre a transição de fase: subitamente, os vórtices afastam-se um do outro e navegam pelo material”, acrescenta o comunicado. Esta proposta teórica foi demonstrada mais tarde, em experiências.

 

 

Mas se esta parte do trabalho de David Thouless e Michael Kosterlitz foi teórica, a investigação que se seguiu também premiada pelo Nobel teve origem em observações. Em 1980, o físico alemão Klaus von Klitzing descobriu (em experiências numa fina camada condutora de electricidade entre dois materiais semicondutores) que os electrões têm um comportamento também estranho a baixas temperaturas. Esta camada fininha é submetida a um campo magnético. Ao variar este campo magnético, a sua condutância eléctrica sofre alterações em “degraus” e não gradualmente, como seria esperado.

 

 

Na altura, a física teórica não tinha explicação para o que Klaus von Klitzing tinha observado. Mas David Thouless e Duncan Haldane conseguiram explicar fenómeno a nível teórico, socorrendo-se de um ramo da matemática, a topologia – que estuda as propriedades que permanecem intactas de um objecto quando é esticado, dobrado e deformado. E aplicaram esses métodos para descrever os saltos, ou degraus, que tinham sido observados nos valores da condutância eléctrica.

 

 

Que aplicações pode ter esta área da física, evoluiu bastante nas últimas décadas? Pode ter em novos materiais, novos supercondutores ou na criação de computadores quânticos com capacidades de cálculo imensas. Os cientistas designam estas tecnologias do futuro como “novos materiais topológicos”.

 

 

“A mente vai primeiro e depois lá vai o corpo atrás”, diz Carlos Fiolhais, resumindo o caminho desta e de outras descobertas que começam com cientistas teóricos, são comprovadas em experiências nos laboratórios e acabam no nosso quotidiano em diversas tecnologias, mesmo que isso demore. “Muitas vezes, surgem aplicações ao fim de 40 ou 50 anos.

 

 

O Nobel da Física explicado com donuts e bolas de Berlim

 

 

No fundo o que estes cientistas fizeram foi “abrir as portas para um mundo desconhecido onde a matéria pode assumir estados estranhos”, referiu um comunicado de imprensa do Prémio Nobel.

 

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Para perceber exatamente o que significa esta descoberta e que importância teve, não só para a comunidade científica, mas para a sociedade em geral, o Observador falou com Eduardo Castro, investigador na área da Física da Matéria Condensada, no Instituto Superior Técnico (Lisboa). Aqui apresentamos quatro conceitos básicos sobre esta área da Ciência.

 

 

Matéria condensada

 

 

Eduardo Castro explica de uma forma muito simples o que é a matéria condensada: “Quase tudo o que nos rodeia”. “Praticamente todos os materiais que nos rodeiam estão num estado condensado.”

 

 

E o que a Física Teórica da Matéria Condensada faz é criar modelos dos processos físicos, generalizar as soluções desses modelos e fazer previsões experimentais, explica o site de um grupo de trabalho nesta área na Universidade de Cambridge.

 

 

A exceção, refere Eduardo Castro, são os gases, por exemplo. Enquanto nos gases se podem usar as características de uma molécula para descrever o gás que a contém, na matéria condensada não se pode usar apenas uma parte para descrever o todo, as características são definidas pelo conjunto do material.

 

 

Fases da matéria

 

 

O exemplo mais simples será o da água. Quem não conhece os seus três estados: sólido, líquido e gasoso? Neste caso, o simples aumento ou diminuição da temperatura pode representar a transição de um estado para o outro. Do gelo ao vapor de água pouco mais precisamos do que aumentar a temperatura em 100 graus Celsius.

 

 

Mas Eduardo Castro lembra que existem outras fases da matéria, como a capacidade ou não de conduzir a corrente elétrica. O fio de cobre, nos fios elétricos, é um metal que está numa fase da matéria em que é capaz de conduzir a corrente. Já os materiais isolantes, que envolvem este fio de cobre, estão noutra fase: não são condutores de corrente.

 

 

Estes são os exemplos mais simples, mas para entender a atribuição do Prémio Nobel da Física deste ano precisamos das fases topológicas da matéria.

 

 

Fases topológicas da matéria

 

 

O estado topológico da matéria é caracterizado por ter várias fases topológicas, sendo uma delas os isoladores topológicos. Se os isoladores convencionais se caracterizam exatamente por não conduzir corrente elétrica, o isolador topológico tem um comportamento “misto”: no interior é equivalente a um isolador convencional (não condutor), mas à superfície comporta-se mais como um metal (capaz de transportar corrente).

 

 

Estes isoladores topológicos nem são verdadeiros isoladores porque conduzem corrente, mas também não podem ser chamados de metais, porque os metais conduzem a corrente como um todo. Um exemplo de isoladores topológicos são os cristais à base de bismuto e telúrio, que estão disponíveis na natureza.

 

 

Mas o mais importante destes materiais em fases topológicas é que são muito robustos às perturbações externas. Os isoladores topológicos, por exemplo, podem funcionar tão bem no Polo Norte como no deserto do Saara. E mostram-se melhores do que os metais, porque não perdem energia. Uma das limitações dos processadores convencionais é que há dissipação de energia — há aquecimento dos materiais, que obriga a um arrefecimento. Nos isoladores topológicos não há perdas de energia, nem aquecimento.

 

 

Topologia

 

 

Estas fases topológicas não são fáceis de explicar com os conceitos normalmente utilizados em Física, por isso os físicos teóricos agora laureados usaram uma abordagem mais arrojada: socorreram-se de ferramentas matemáticas, nomeadamente da Topologia.

 

 

 

“[David Thouless e Michael Kosterlitz] levaram o problema das transições de fase para campos planos (o primeiro por curiosidade, o segundo por ignorância, como os próprios afirmam)”, refere o comunicado do Prémio Nobel. E assim conseguiram descrever propriedades que de outra forma não podiam ser explicadas.

 

 

Mas o que é isto da Topologia? O comunicado do Prémio Nobel diz que a “Topologia descreve as propriedades que permanecem intactas quando um objeto é esticado, torcido ou deformado, desde que não seja rasgado ao meio”. Mas Eduardo Castro opta por uma explicação mais “doce”, que inclui donuts e bolas de Berlim.

 

 

Claro que, para um consumidor, um donut e uma bola de Berlim são duas coisas completamente diferentes: o formato, a quantidade de açúcar ou a presença de recheio. E também são topologicamente diferentes, mas para o topólogo só uma característica tem importância: tem ou não tem um buraco? Esta analogia é simples de entender: a topologia só lida com números inteiros e, como se sabe, não existem meios buracos.

 

 

Imaginando que o donut está numa fase topológica, ele pode ser achatado, puxado até ficar oval ou comprimido até ficar com um formato mais quadrado, e desde que não perca o buraco, continuará a estar na mesma fase topológica. Agora, se tentarmos transformar um donut numa bola de Berlim (ou vice-versa) a transformação é tão drástica que o material deixa de estar na fase topológica.

 

 

Conclusão: os materiais topológicos são tão robustos aos efeitos do ambiente que só mudanças drásticas os podem fazer sair dessa fase — como perder (ou ganhar) um buraco no bolo.

 

 

E qual é o quarto estado da matéria?

 

 

 

O quarto estado natural da matéria é o plasma (um gás que em vez de um comportamento neutro tem cargas positivas e negativas e propriedades distintas dos outros estados da matéria).

 

 

Aprendemos, desde o ensino básico, que a matéria pode aparecer em três estados – gasoso, líquido e sólido – e que estes estados podem mudar de um para o outro consoante as condições do ambiente, como temperatura e pressão. Pensemos no vapor de água, na água líquida ou no gelo, que são todos estados da matéria (água) e que facilmente podemos fazer variar recorrendo apenas a alterações da temperatura. São três estados que podem existir na natureza – pelo menos, na Terra – e em três dimensões.

 

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Mas as descobertas destes cientistas foram muito além disto, entraram no campo das transições da matéria que não acontecem naturalmente na natureza. Mais, como trabalham com camadas muito finas de materiais, as demonstrações feitas pelos cientistas aconteceram a duas dimensões.

 

 

Para conseguirem chegar a estes resultados, estes laureados recorreram a conceitos de topologia, uma área da Matemática que descreve as propriedades que apenas mudam passo a passo. A topologia descreve as propriedades que se mantém intactas mesmo depois de um objeto ser esticado ou deformado (mas não se este for “quebrado”).

 

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Os quatro estados da matéria que acontecem na natureza (e a três dimensões): plasma, gasoso, líquido e sólido (do que requer maior temperatura, para o que requer menos). A estes adiciona-se os estados exóticos da matéria, como os condensados quânticos – Joahn Jarnestad/The Royal Swedish Academiy of Sciences

 

 

Nos anos 1970, Michael Kosterlitz e David Thouless conseguiram demonstrar que a supercondutividade e a superfluidez podiam acontecer em camadas muito finas, ao contrário do que se sabia até à altura, refere o comunicado de imprensa do Prémio Nobel. Estes dois cientistas mostraram como a supercondutividade podia acontecer a baixas temperaturas e explicaram porque é que a altas temperaturas a supercondutividade desaparece.

 

 

Nos anos 1980, David Thouless demonstrou que a condutividade, nestes materiais, poderia ser medida em passos integrais e que a sua natureza era topológica. Pela mesma altura, Duncan Haldane estudou matéria que forma filamentos tão finos que podem ser considerados unidimensionais. Mais, este investigador foi o primeiro a fazer uma previsão do que poderia ser um isolador topológico, abrindo portas à exploração destes materiais (fosse pela descoberta na natureza, fosse pela síntese).

 

 

O que David Thouless descreveu teoricamente usando a topologia, foi na verdade descoberto por Klaus von Klitzing, em 1980. Esta descoberta foi feita usando uma camada de condutor fina onde os eletrões eram arrefecidos quase até ao zero absoluto e sujeitos a um campo magnético forte e valeu ao físico alemão o Prémio Nobel da Física 1985.

 

 

[David Thouless e Michael Kosterlitz] levaram o problema das transições de fase para campos planos (o primeiro por curiosidade, o segundo por ignorância, como os próprios afirmam”, refere o comunicado do Prémio Nobel.

 

 

Vistas as coisas, é expectável que o que acontece a duas dimensões seja muito diferente do que acontece a três dimensões (como o mundo em que vivemos). Claro que os átomos em camada única (ainda que aos milhões) têm comportamentos diferentes dos átomos arranjados tridimensionalmente e só podem ser estudados pela Física Quântica. Mas, “no fundo, toda a matéria é governada pelas leis da Física Quântica”, lê-se num comunicado do Prémio Nobel. Ainda que a Física Quântica só se “veja” à micro-escala, torna-se visível perto do zero absoluto.

 

 

Os materiais topológicos e os computadores quânticos

 

 

Se tudo isto lhe parece muito confuso, retenha apenas que estas descobertas permitiram um grande avanço na investigação, nomeadamente nas novas gerações de eletrónicas e de supercondutores e – esperam os investigadores – na criação de computadores quânticos.

 

 

Esta é também a expectativa de Yasser Omar, coordenador do grupo de Física da Informação e Tecnologias Quânticas do Instituto Superior Técnico, que trabalha em computação quântica, e revela um interesse profundo pela “física fundamental associada a este prémio, que é muito bonita”.

 

 

Os materiais quânticos são assim chamados porque a temperaturas muito baixas têm um comportamento quântico. Mas, como vimos, próximo do zero absoluto, qualquer material tem o potencial de apresentar estas propriedades. A vantagem é que os materiais com propriedades topológicas são muito mais robustos aos efeitos do ambiente, ou seja, mesmo que as condições ambientais se alterem, as propriedades quânticas não são perdidas.

 

 

Encontrar materiais com propriedades topológicas apresenta um grande potencial para a construção de computadores quânticos. Espera-se que os computadores quânticos tenham processadores muito mais rápidos que os computadores convencionais, mas se os materiais usados nestes sistemas perderem as propriedades quânticastransformam-se num computador clássico, e perde-se toda a vantagem.

 

 

A existência destes materiais mais robustos em termos quânticos foi descoberta teoricamente pelos cientistas agora laureados e este tipo de materiais já foram observados em termos experimentais, refere Yasser Omar ao Observador. Talvez isso tenha valido para revalidar a importância deste Prémio Nobel.

 

 

“[Neste momento, e] já há vários anos que se estão a usar estes materiais supercondutores para protótipos quânticos”, reforça Yasser Omar. Para o investigador as aplicações, sobretudo “na área das tecnologias quânticas da informação, são promissoras, não só em termos de computadores, mas também de memórias quânticas, cruciais para o desenvolvimento de comunicações quânticas a longa distância.”

 

 

Curiosidades sobre o Nobel da Física:

 

 

109  Prémios Nobel da Física atribuídos entre 1901 e 2015
47 vezes o prémio foi atribuído a um único laureado
 

2 mulheres, apenas, foram galardoadas com este prémio – Marie Curie (1903) e Maria Goeppert-Mayer (1963)

 

1 única pessoa recebeu o Prémio Nobel da Física duas vezes – John Bardeen. Marie Curie também recebeu dois, mas um deles era da Química (1911)

25 anos era a idade do mais jovem laureado da Física de sempre; Lawrence Bragg (1915)
 88 anos era a idade do mais mais velho laureado da Física – Raymond Davis Jr. (2002)
 55 anos é a idade média dos laureados até ao momento
 6 vezes ficaram por atribuir os Nobel da Física por não existirem trabalhos sob avaliação que cumprissem os parâmetros exigidos

 

Os Prémios Nobel, seja em que área for, são sempre alvo de especulação, expectativa e um certo sentido de justiça pelo trabalho desenvolvido. Duas das apostas deste ano recaíam sobre as ondas gravitações e a matéria escura. Os exoplanetas também eram uma possibilidade, mas os estados invulgares da matéria acabaram por ganhar este lugar de distinção.

 

 

TPT com: AFP//Reuters//Vera Novais//Observador// Jonathan Nackstrand//AFP//Nicolau Ferreira e Teresa Firmino//Público// 7 de Outubro de 2016

 

 

 

 

 

 

António Guterres eleito sem cedências para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas

“O Conselho de Segurança considerou recomendar à Assembleia Geral que o sr. António Guterres fosse apontado para [o cargo de] secretário-geral”, afirmou o embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, esta quinta-feira, em conferência de imprensa.

 

 

Recorde-se que quem nomeia oficialmente o sucessor ao cargo de Ban Ki-moon é a Assembleia Geral da ONU, que à partida irá aceitar a recomendação do Conselho.

 

 

Questionado pelos jornalistas sobre o que tinha a dizer às mulheres do mundo que estariam à espera da nomeação de uma mulher, Churkin considerou que “o mais importante é ter o melhor candidato possível”, realçando que se tratou de um “processo justo” e onde se encorajou a candidatura de mulheres para a corrida ao cargo – tanto que 50% das candidaturas eram de mulheres.

 

 

O russo afirmou que o português tinha “o apoio do Conselho de Segurança”. Explicou ainda que houve uma união em torno do nome de Guterres e que esperava que essa união se traduzisse na decisão da Assembleia Geral.

 

 

Em resposta a uma pergunta de uma jornalista, Churkin enunciou várias qualidades de Guterres e que terão feito a diferença na sua nomeação: ter um vasto currículo nas Nações Unidas, isto é, ter sido Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados durante 10 anos, o que implicou “viajar pelo mundo” e testemunhar cenários difíceis; ter uma elevada experiência política, nomeadamente ter sido primeiro-ministro de Portugal. O embaixador disse ainda que Guterres era uma pessoa que “diz o que pensa” e “extrovertida”.

 

 

Relativamente a Kristalina Georgieva, considerada a rival do candidato português, o russo disse que a escolha de entrar tão tarde na corrida tinha sido dela e do governo da Bulgária

 

 

Já ontem Churkin tinha dito que o ex-primeiro-ministro português era “o candidato favorito” ao cargo, mas que só hoje iriam avançar formalmente com o seu nome. “Desejamos boa sorte ao sr. Guterres no cumprimento dos seus deveres como secretário-geral das Nações Unidas nos próximos cinco anos”, afirmou o russo.

 

 

Momentos antes de entrar para a votação, esta quinta-feira, o embaixador francês, François Delattre, disse que o português “era o líder certo para unir as nações”.

 

 

Conselho de Segurança unido em torno de Guterres

 

 

O presidente do Conselho de Segurança das ONU disse aos jornalistas, no final da sexta votação do Conselho de Segurança para secretário-geral, que o organismo iria  recomendar “por aclamação” o nome de António Guterres,  na quinta-feira.

 

 

“Hoje, depois da nossa sexta votação, temos um favorito claro e o seu nome é António Guterres. Decidimos avançar para um voto formal e esperamos fazê-lo por aclamação”, disse aos jornalistas Vitaly Churkin.

 

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Depois de uma hora e meia de encontro, pela primeira vez na história da organização os 15 embaixadores dos países com assento no Conselho de Segurança vieram falar aos jornalistas para anunciar o nome do português.

 

 

“Senhoras e senhores, estão a testemunhar uma cena histórica. Nunca foi feito desta forma. Este foi um processo de seleção muito importante”, disse o embaixador russo.

 

 

Momentos depois, a embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU disse que os 15 países membros do Conselho de Segurança decidiram unir-se em volta de António Guterres devido às provas que deu na sua carreira e durante a campanha.

 

 

“As pessoas queriam unir-se em volta de uma pessoa que impressionou ao longo de todo o processo e impressionou a vários níveis de serviço”, disse Samantha Powell aos jornalistas.

 

 

António Guterres ficou à frente desta última votação com 13 “encoraja” e não recolheu nenhum veto.

 

 

Depois de cinco votações em que os votos dos 15 membros eram indiscriminados, os votos dos membros permanentes (China, Rússia, França, Reino Unido e Estados Unidos) foram destacados pela primeira vez, sendo assim possível perceber se havia algum veto.

 

 

António Guterres venceu as cinco primeiras votações para o cargo, que aconteceram a 21 de julho, 05 de agosto, 29 de agosto, 09 de setembro e 26 de setembro.

 

 

Depois de a resolução ser aprovada na quinta-feira pelo Conselho de Segurança, o nome de Guterres foi aprovado na Assembleia Geral da ONU.

 

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O novo secretário-geral da organização substitui Ban Ki-moon e entra em funções a 01 de janeiro de 2017.

 

 

António Guterres vai encarar o seu mandato de cinco anos na ONU na linha do seu antigo slogan: razão e coração.

 

 

O António Guterres futuro secretário-geral das Nações Unidas é igual ao António Guterres político. Num discurso de três minutos, o antigo primeiro-ministro demonstrou que vai encarar o seu mandato na ONU na linha de um antigo slogan seu: razão e coração.

 

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Foi em bom português, que no Palácio das Necessidades, lançou um “boas tardes”, para logo depois começar o primeiro discurso desde que foi aclamado como candidato a secretário-geral da ONU. “Para descrever aquilo que sinto neste momento só tenho duas palavras: humildade e gratidão“.

 

 

Guterres sabe ao que vai. Sabe dos “enormes desafios” que o esperam e da “terrível complexidade” do mundo que vai encontrar. Católico e socialista, não abdicou da gravata rosa nesta declaração e assumiu que vai para o cargo “para servir os mais vulneráveis, as vítimas dos conflitos, do terrorismo, das violações dos direitos, da pobreza, das injustiças deste mundo.”

 

 

Mas para isso é preciso poder. E o apoio dos mais fortes. Não foi ao acaso que começou o discurso pela “humildade“, dando a primeira palavra ao topo da ONU, onde moram os poderosos P5. Humildade em relação aos membros do Conselho de Segurança pela confiança que em mim exprimiram, mas também em relação à Assembleia-Geral das Nações Unidas e a todos os Estados-membros por ter decidido um processo de exemplar transparência e abertura”,disse o futuro secretário-geral. Foi a primeira vez que o secretário-geral passou por um processo tão democrático para ser eleito e Guterres, com racionalidade, quer capitalizar essa vitória.

 

 

Mas, pacificador, também quis enterrar um machado de uma guerra tardia e desleal que lhe podia ter custado o cargo: a entrada de Kristalina Georgieva na corrida quase na fase final do processo. E fê-lo ao manifestar igual humildade perante os “colegas candidatos pela inteligência, pela dedicação e cujo empenhamento na campanha muito contribuiu para o prestígio das Nações Unidas.”

 

 

Guterres já está a trabalhar no futuro. E é por isso que disse no discurso que foi “com muita emoção” que verificou que “o Conselho de Segurança pôde decidir pelo diálogo, com consenso, de forma atempada” a sua nomeação como secretário-geral. E deixou logo um desejo/aviso à mesa que manda na ONU“Gostaria de exprimir o sincero voto de que tal facto seja simbólico, que represente uma capacidade acrescida do Conselho de Segurança para a unidade e o consenso [que permitam] tomar a tempo as decisões que o mundo conturbado em que vivemos exigem.” Guterres já está a trabalhar.

 

 

Na mesma linha, manda um sinal para dentro da própria ONU. Mais uma vez manifestando “humildade para saber reconhecer a inspiração, a coragem e a generosidade de tantos e tantos trabalhadores das Nações Unidas e dos seus parceiros que afrontam os maiores perigos ao serviço da comunidade internacional.”

 

 

Racional, Guterres demonstra respeito pelo seu antecessor ao revelar que não quer que Ban Ki-moon seja visto como um secretário-geral cessante, sem poder. E por isso avisa: “Estou neste momento recomendado, mas não sou secretário-geral.” O português lembra que as Nações Unidas têm um secretário-geral. “Ele chama-se Ban Ki-moon. Quero aqui prestar-lhe homenagem e quero apelar a todos os Estados-membros para que colaborem ativamente, apoiem ativamente Ban Ki-moon na sua ação, nas suas iniciativas até ao final do seu mandato, para que este possa ser concluído com o maior êxito.”

 

 

Guterres falou sempre com as mãos no palanque e com uma pose muito estática, quase sem se movimentar. Primeiro em português, depois em inglês, francês e espanhol. Entrou sozinho numa sala cheia (havia dezenas de jornalistas portugueses e estrangeiros) e saiu ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, com quem esteve mais de uma hora antes da intervenção. À sua declaração assistiram também o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, e embaixador e presidente do Instituto Diplomático, Freitas Ferraz.

 

 

Apesar de saber que iria falar para todo o mundo, António Guterres optou por fazer a primeira intervenção em português. Dedicou também uma parte do discurso ao seu país. “Permitam-me uma palavra especialmente dirigida aos portugueses para exprimir o profundo reconhecimento“, disse o futuro secretário-geral da ONU, nomeando depois quem o ajudou: “Ao Presidente da República, ao Governo, ao ministro dos Negócios Estrangeiros, ao primeiro-ministro, aos partidos políticos, à Assembleia da República, aos diplomatas portugueses, àqueles que, em Nova Iorque, como o embaixador Mendonça Moura, conduziram uma campanha extremamente eficaz. A todos eles quero transmitir também uma palavra de profunda gratidão.”

 

 

Toda a história de António Guterres, de Donas para o mundo

 

 

 Com a sexta vitória consecutiva nas votações para definir o futuro secretário-geral da ONU, António Guterres está sentado na cadeira mais importante entre as instituições internacionais. Como conseguiu o antigo primeiro-ministro construir a lenda do génio diplomático e o que fez ele para querer ser “o árbitro do mundo”. Das leituras da Bíblia na igreja da aldeia, em Donas, aos corredores das Nações Unidas, em Nova Iorque.

 

 

O ambiente é tenso: o primeiro-ministro novato e desconhecido do distante e minúsculo Portugal não pode estar a falar a sério. Como se atreveria este tal Guterres dirigir-se, desta forma, completamente ao arrepio de todas as regras do protocolo, ao poderoso chefe de Estado e ditador da Indonésia, Hadji Mohamed Suharto? António Manuel de Oliveira Guterres, então com 46 anos, tinha sido há pouco eleito chefe do Governo português.

 

 

Naquele ano de 1996, o futuro homem-forte do importante organismo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) era ainda um ilustre desconhecido. Estamos em Banguecoque, capital da Tailândia, país anfitrião da importante cimeira Europa-Ásia. Os indonésios ameaçavam que se Portugal levantasse a questão de Timor-Leste (ex-colónia portuguesa que a Indonésia ocupava a ferro e fogo desde 1975), eles se retirariam imediatamente. John Major, primeiro–ministro conservador britânico, propõe que se algum problema político bilateral for levantado, a palavra deve ser cortada ao prevaricador. Guterres sente-se o bardo da aldeia de Astérix: ninguém o quer ouvir. E o inglês é o ferreiro da aldeia, pronto a desferir o maço sobre a cabeça do pobre bardo: “Não falarás, não falarás, não falarás!” Mas Guterres resiste. Não pode perder a oportunidade.

 

 

Tem um problema: a saída de cena daquele tigre asiático provocaria o fracasso da cimeira, sem que Timor ganhasse nada. Pior, podia ser contraproducente.

 

 

O que fazer? Numa reunião informal, em que todos estão presentes, tomado de uma inspiração, Guterres arrisca tudo, dirigindo-se diretamente a Suharto: “Liberte Xanana Gusmão [líder da resistência timorense, prisioneiro em Jacarta] e Portugal aceitará a abertura de secções de interesses dos nossos países em embaixadas amigas em Jacarta e Lisboa!” Ninguém estava à espera: nem os asiáticos, nem os europeus, nem a diplomacia portuguesa. Mas também ninguém podia acusar Guterres de ter levantado um problema: pelo contrário, ele estava “de boa-fé”, a contribuir “para uma solução”. Suharto nada disse -mas também não se retirou.

 

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Na abertura dos trabalhos, no dia seguinte, Guterres provoca alguns calafrios. Mostrando-se completamente de acordo com a decisão de serem excluídas da cimeira questões bilaterais entre os países presentes, avisa, porém, que no caso de Portugal, havia uma. Depois de um pequeno suspense, esclareceu: “É com a China, e trata-se da transferência de Macau. Mas isso está a decorrer pacificamente”. Parou um pouco. E depois rematou: “Já quanto à questão de Timor, não se trata de um caso bilateral, mas sim multilateral, no âmbito da ONU. Ora, já tive oportunidade de propor ao presidente Suharto uma saída para o problema, de forma a chegarmos a uma solução por etapas”.

 

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Sem que a cimeira sofresse danos nos seus objetivos comerciais, o caso de Timor passou a ser o tema dos media internacionais. A habilidade diplomática de Guterres iniciava a sua lenda.

 

 

Não é normal que um português que foi primeiro-ministro durante escassos seis anos e acabou da pior maneira, seja, agora, aos 67 anos, eleito por aclamação ao cargo de secretário-geral da ONU, depois de, na passada segunda-feira, ter vencido a terceira votação das audições aos candidatos. Para se impor assim, é porque tem qualquer coisa. É disso que tratamos aqui.

 

 

OS PADRES DA VIDA DELE

 

 

Mas não antecipemos. Enquanto saboreamos esta história de one night in Bangkok, para citar um popular tema dos anos 80, recuemos seis décadas, e mergulhemos no Portugal profundo, na igreja matriz da Donas, pequena aldeia do concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco. Vamos encontrar velhinhas extasiadas com as leituras brilhantes das passagens da Bíblia, nas missas modorrentas desses domingos de verão. O pequeno acólito, conhecido por Tonico, filho do Virgílio Dias Guterres e da Ilda Cândida de Oliveira, neto de um avô pouco tolerante para com ratos de sacristia, começa a brilhar para a sua primeira audiência. Embevecido, o pachorento pároco Alfredo Fernandes de Brito sabe que pode ter ali uma vocação. O pequeno Tonico pode, se quiser, ter uma carreira eclesiástica brilhante. Talvez hoje, se as orações do bom cura tivessem sido ouvidas, Guterres disputasse, não a secretaria-geral da ONU, mas a cadeira de São Pedro, em Roma…

 

 

Na verdade, as memórias do futuro secretário-geral da ONU estão mais no seleto bairro de São Miguel, em Lisboa. Frequentou o Liceu Camões, onde conheceu, entre outros, Carlos Santos Ferreira, amigo de uma vida. Carlos seria um importante quadro no futuro PS, ocupando elevados cargos de gestão em grandes empresas. Foi em casa do amigo, futuro colega de curso de Marcelo Rebelo de Sousa, que Guterres conheceu o atual Presidente da República. Percorreram juntos um percurso comum, durante a juventude, sob a batuta do mais influente personagem na formação da personalidade de Guterres, o padre franciscano Vítor Melícias. O “Frei Tuck” do guterrismo, conhecido por “confessor do regime”, seria recentemente chamado por Marcelo para participar na reunião ecuménica que promoveu na mesquita de Lisboa, no dia da sua tomada de posse.

 

 

A chave da génese da formação cívica de Guterres pode ser encontrada no “esquema 13”, documento saído do Concílio Vaticano II. A sua formação política dispersa-se entre leituras de Trotsky, ensinamentos de São Paulo e…, numa conferência “maçónica”, através da palestra de um importante membro do Grande Oriente Lusitano, que muito o marcou. Detamo-nos um pouco nestes dois momentos. Primeiro momento: o esquema 13 exorta à intervenção dos cristãos na política, dando testemunho do seu cristianismo.

 

 

Ao biógrafo de Guterres, Adelino Cunha, o antigo presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins, que foi seu ministro e o conheceu desde jovem, revela: “Há uma geração inteira de cristãos tocados pelo Concílio. Guterres era um dos mais brilhantes” (in António Guterres, Os Segredos do Poder, edições Aletheia, 2013). Marcelo Rebelo de Sousa disse, recentemente, num fórum internacional, e já em campanha por Guterres: “É a figura mais brilhante da minha geração”.

 

 

Segundo momento: pelos inícios de 70, Guterres assiste à palestra do colunista da Seara Nova e candidato às eleições pela CDE, em 1969, António Reis. E o que é que este maçon (cofundador do PS) tem a ver com a mensagem do Concílio? A palestra trata disso mesmo. António Reis desafia os católicos: sobretudo no quadro da ditadura portuguesa, não bastava seguir a mensagem de Cristo no recato dos altares. Era preciso agir.

 

 

UMA REVELAÇÃO DE JORGE COELHO

 

 

Vocação para ação, reconhece-lhe o seu amigo e colega de curso José Tribolet, que com ele competiu (e perdeu) para o título de melhor aluno do curso (Guterres vinha com média de 18 do liceu e saiu com média de 19 do Instituto Superior Técnico, como engenheiro eletrotécnico…).

 

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Ainda que reconheça que “de todos os cargos, o de primeiro-ministro era aquele para o qual estava menos talhado”. No entanto, Tribolet confessa: “Só depois da licenciatura, quando cheguei ao MIT, onde estão os melhores estudantes do mundo, é que percebi o tipo de inteligência do Guterres”. Tribolet recorda um colega inquieto: “Nas sessões de estudo, em casa dos pais, tínhamos o giradiscos a tocar música clássica, e enquanto resolvíamos problemas, o António girava a caneta, conduzindo a orquestra. Não parava quieto”. O signo Touro (nasceu a 30 de abril) prende-o à terra, mas abre-lhe o espírito para as artes… Tribolet reforça: “Não era o mais excelente a construir, a levar uma solução até ao fim. Só que, a partir do enunciado de um problema, via primeiro a sua solução: lia, percebia, intuía, e partia para outro problema”.

 

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Vasco Pulido Valente, esmagado pela retórica fluente, chamou-lhe “picareta falante”. Jaime Gama, nos tempos em que estavam afastados no PS, apontou-lhe uma espécie de “frenesim”. Nos primeiros tempos de Governo chegou a ser internado com um diagnóstico de síndroma vertiginoso. No Técnico, em estudante, provocara um enorme bug (como agora se diz) ou curto-circuito, como preferiam dizer os antigos, numa experiência eletrotécnica que correu mal. No Governo, preferiu os grandes palcos internacionais proporcionados pela presidência europeia e pela Agenda de Lisboa (onde foi percursor na aposta na inovação, no conhecimento e na educação como alavancas do desenvolvimento da União Europeia…) às chatices da política nacional e ao fardo da governação. Delegou poderes em superministros (Pina Moura, João Cravinho, Ferro Rodrigues, Jorge Coelho) e não contou com a kriptonite do pântano que já fervilhava. Em 1999, recebeu a notícia da maioria relativa (um empate 115-115 em número de deputados) como uma pesada derrota. Afinal, tinha feito tudo bem: foi o primeiro -e único -a completar uma legislatura com um governo minoritário (1995-1999). Manteve o estado de graça durante todo o mandato. Criou o rendimento mínimo garantido. Resolveu o problema de Timor. E até enviuvou perante a comoção nacional. Já que falamos nisso, talvez tenha sido esse, o fator humano, que o derrubou: Guterres demorou demasiado tempo a recompor-se, depois de perder Luísa Guterres (Zizas), psiquiatra, amor da sua vida, companheira de duas décadas e meia, mãe dos seus filhos (Pedro, 39 anos, e Mariana, 30), aquela a que o primeiro-ministro chamava o seu “conselho de estado privativo”.

 

 

Chega, neste momento, a hora do fracasso. Guterres, o homem que está em campanha pela secretaria-geral da ONU e que a maior parte dos portugueses gostaria de ver eleito, é, até agora, mesmo neste texto, demasiado perfeito para ser verdade. O que é que há de errado nele? Há muito. Para o País, o que houve de errado foi não ter percebido, a tempo e horas, que era preciso travar o curso do modelo económico, com base em endividamento e défice. Para a opinião pública, o que esteve errado foram trapalhadas como a do totonegócio, a coincineração ou a falta de autoridade no caso dos touros de morte, em Barrancos. Para os inimigos internos no PS, o errado foi a forma calculista como construiu a sua carreira, o modo esquivo como recusou ser general de Vítor Constâncio, de Jorge Sampaio e, até, de Mário Soares, quando solicitaram a sua competência para ocupar cargos ou candidatar-se a outros -ministro da Saúde, com Soares, ou presidente da Câmara de Lisboa, com Constâncio ou Sampaio. Para alguns dos seus amigos no partido, como Fernando Gomes, o que retiveram de errado foi a ilusão, seguida de amargura e a desilusão. Para os seus ministros, o que estava errado era a falta de frontalidade na hora das remodelações, com o expoente máximo no dia em que a sua ministra da Saúde, Manuela Arcanjo, soube, num debate parlamentar, pela oposição, que já estava demitida.

 

 

Quando anunciou, no Parlamento, que preferiria a espada à parede, não se revelou sincero, preferindo a parede, por exemplo, na elaboração de dois orçamentos limianos. E isso também foi um erro (que, aliás, reconhece hoje). O errado foi confundir autoridade com diálogo. O errado foi o azar de uma ponte caída (Entre-os-Rios) em que se exibe não com a energia de um Marquês de Pombal mas com os olhos tristes de um desistente.

 

 

No transe, perde o segundo pilar do guterrismo, depois de já ter perdido António Vitorino, demitido por uma questão menor. Jorge Coelho bateu com a porta, clamando que “a culpa não podia morrer solteira”. Coelho faz-nos hoje uma revelação: “Foi muito duro. Saí contra ele, contra a opinião dele e contra as ordens dele. Pediu-me por tudo para ficar. Tínhamos um projeto comum que, assim, ia ao fundo. Como foi”.

 

 

Tem, por ele, algumas atenuantes: aqueles em quem confiou terão apostado no seu desgaste, pensando na sucessão. Assumiu culpas, arcou com responsabilidades, e encaixou impropérios que não eram dele nem para ele. Brotaram-lhe lágrimas nos olhos quando o seu filho Pedro, ainda criança, o confrontou com um cartoon onde apunhalava pelas costas um camarada de partido.

 

 

E a própria gaffe do PIB, onde se enganou nas contas em direto, surge num momento de forte comoção, à saída da Unidade de Transplantes Hepáticos dos Hospitais Universitários de Coimbra, no momento em que já tinha percebido que a mulher precisava de um transplante. Ficou viúvo aos 50 anos e, no ano seguinte, quando precisava de uma maioria para respirar e tomar medidas difíceis, o eleitorado negou-lha. Zangou-se com o País, desinteressou-se. Depois da pesada derrota autárquica de 2001, demitiu-se.

 

 

Na hora do “pântano”, Guterres tinha, no seu íntimo, um favorito para a sucessão: chamava-se José Sócrates.

 

 

O OPUS DEI E A MOCIDADE PORTUGUESA

 

 

António Guterres voltava à vida civil, 28 anos depois. Estava de novo casado, agora com Catarina Vaz Pinto, e queria refazer a sua vida em moldes diferentes. Primeiro passo, limpar a cabeça, regressando ao voluntariado, numa iniciativa que nunca quis ver mediatizada. No bairro problemático da Quinta do Mocho, dava agora explicações de Matemática a alunos candidatos ao ingresso na universidade. Para isso, teve, ele próprio, de atualizar os seus conhecimentos.

 

 

Há muito, muito tempo, tinha sido pioneiro, ainda nos anos 60, no âmbito da Juventude Universitária Católica (JUC), no assistencialismo social e na denúncia da miséria. As barracas, os bairros degradados, o convívio com os miseráveis, como membro do CASU (Centro de Assistência Social Universitária). Em 1967, enormes cheias em Lisboa põem a nu a realidade do país: a falta de condições nos bairros pobres fazem centenas de vítimas.

 

 

A JUC edita um “caderno de reflexão” sobre as inundações. Entre os signatários está Lenicha Salema (hoje conhecida por Helena Roseta). António Guterres integra-se no grande movimento de assistência às vítimas e de denúncia das situações que a censura e o regime querem esconder da opinião pública nacional e internacional. Os jovens da JUC ficam debaixo de olho das autoridades, que os consideram “ativistas políticos subversivos”.

O seu mentor eclesiástico não é ainda Melícias, mas sim o padre Miguel Ponces de Carvalho.

 

 

O padre coordena as ações do CASU, no âmbito da JUC, e dá responsabilidades e autonomia a Guterres. O jovem não desilude: consegue de organismos da administração pública financiamento para iniciativas sociais.

 

 

Católico praticante e empenhado, Guterres dá nas vistas e sofre uma primeira abordagem por parte do Opus Dei.

 

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O recrutador é Adelino Amaro da Costa, futuro fundador, com Freitas do Amaral, do CDS. Guterres resiste. “Participei numa palestra do Opus”, conta a Adelino Cunha na obra já citada. Ele e o colega e amigo José Tribolet chegam a participar num retiro do Opus no Alentejo.

 

 

Três anos depois das cheias, em 1970, aceita colaborar numa ação da Mocidade Portuguesa, coordenada pelo padre António Alves de Campos.

 

 

Vive-se a primavera marcelista e as coisas estão mais distendidas. Para Guterres, a intenção era boa: recrutar jovens para causas de âmbito cristão e formação moral. Guterres é nomeado monitor do Curso Anual de Formação Moral e Religiosa. Não pertence à Mocidade, mas é compagnont de route.

 

 

O leitor um pouco mais jacobino já murmura: “Ele nunca me enganou…” Mas ainda é cedo para tirar conclusões. Num retiro nos Açores, um armador local, Câmara de Medeiros, conhecido por visconde do Botelho, encarrega-se de uma intervenção, no anfiteatro da universidadade.

 

 

Com fama de explorador de trabalhadores, é marcado homem a homem por Guterres, que o bombardeia com perguntas incómodas e um killer instinct que nem sempre revelaria, na política.

 

 

Agendada uma missa na capela particular da quinta do visconde, Guterres organiza o boicote geral: ninguém vai. Pouco depois, terminava a aventura na Mocidade Portuguesa.

 

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O padre Alves de Campos reconheceria, já depois do 25 de abril, o sentido prático de Guterres, quando reencontrou o seu antigo colaborador. “No PS?! Eu esperava que o meu amigo se tivesse inscrito no CDS, no máximo, no PSD… Mas o PS não é um comunismo adocicado?”. Guterres revelou o mesmo instinto utilitário que o levara a colaborar com a Mocidade, respondendo mais ou menos assim: “O PS é o partido que me dá mais possibilidades de pôr em prática as minhas ideias sociais”.

 

 

FUNDADOR DA DECO

 

 

Guterres irá completar a sua formação moral no Grupo da Luz, dinamizado por Vítor Melícias. Um fórum onde se refletia sobre o Concílio e sobre a vida social e política do País. Com Roberto Carneiro, Guterres já brinca aos governos, sobraçando sempre as pastas económicas. Fervilham ideias, projetos, maquinações… Na sequência do choque petrolífero de 1972, começa a conceber uma associação de defesa do consumidor, no âmbito da SEDES, grupo de reflexão de que o Grupo da Luz já fazia parte. Ora, se a SEDES produzia, sobretudo, documentos, Guterres funda a DECO, em parceria com Francisco da Mota Veiga. E é na sua casa, em Lisboa, que toma forma a criação da revista ProTeste, ainda hoje publicada pela associação.

 

 

A sua entrada no PS faz-se sem grande estrondo, pela mão de António Reis. Nessa altura, já deixou crescer um bigodinho em homenagem a Salvador Allende. Rapidamente dá nas vistas, pelo bigode, pelo ativismo e até pela coragem física, nos confrontos do PREC. Salgado Zenha, amigo e compadre de Mário Soares, tem ali um delfim -e um amigo. O casal Zenha e o casal Guterres serão viajantes incansáveis, seguindo roteiros minuciosamente preparados pelo futuro líder socialista. Em 1999, Guterres confessa à VISÃO que ficou a faltar a viagem de sonho a Angkor, no Camboja. Guterres, o viajante, Guterres, o especialista em História, Guterres, o cinéfilo (tem uma celebrada coleção de DVD e VHS com grandes filmes e se tivesse de escolher dois, seriam Casablanca e Citizen Kane). Guterres, o melómano, que obrigava os motoristas a usar algodão nos ouvidos para aguentarem viagens pelo País, ao som de árias de ópera aos berros, nos carros oficiais… Guterres, o guloso, que não dispensava os pastéis de nata no Falcon onde se deslocava pelos céus da Europa a negociar cimeiras e a tratar meia dúzia de primeiros-ministros por tu… Guterres, o “tuga” atípico que odeia bacalhau, eclético, culto, cosmopolita, poliglota. Guterres… o político.

 

 

O MITO DO PACTO SECRETO

 

 

Nos anos de contestação a Mário Soares, disponibiliza o sótão da sua casa, em Algés, para que o secretariado conspire contra o founding father. Destaca-se Vítor Constâncio, emerge Jorge Sampaio, Salgado Zenha não aguenta as noitadas e adormece na poltrona. O secretariado desautoriza o secretário-geral quando, contra sua vontade, decide pelo apoio à segunda candidatura presidencial de Ramalho Eanes, em 1980, já depois de Soares lho ter retirado. Soares suspende funções e só no congresso do ano seguinte retoma o partido e condena os proscritos a uma longa travessia do deserto. António Guterres recusará, em 1993, um lugarzinho na lista de candidatos por Braga, distrito que nem sequer conhece bem.

 

 

Um mito faz, entretanto, o seu caminho. Consta que, nos primórdios da democracia, reunidos num pacto secreto entre ativistas católicos, Guterres foi destacado para aderir ao PS, Marcelo ao PSD e Amaro da Costa ao CDS. Um deles, mais tarde ou mais cedo, tomaria o respetivo partido por dentro e chegaria ao poder. A história tem contornos pouco verosímeis: ninguém poderia adivinhar, em 1974, que o então PPD e o PS seriam os partidos alternantes no poder. Ou, muito menos, que o nóvel CDS, identificado com a direita, teria algum lugar de relevo no novo país a caminho do socialismo. A “peta” terá sido inventada por Marcelo, que a contou a Mário Soares. O pior é que o velho leão acreditou. E, durante uns tempos, tomou de ponta o desgraçado Guterres. Confrontado pelo socialista, o social-democrata desatou a rir às gargalhadas. Mas o mal estava feito. Uma traquinice mais elaborada do que os antigos toques à campainha da casa paterna de Guterres, protagonizados pelo atual PR, e seguidos de fuga, para desespero do pai Virgílio. A amigos, Marcelo conta que só tocava à campainha tão insistentemente para que o António, “um pouco preguiçoso”, levantasse “o rabo da cama”…

 

 

Quando, em 1991, Cavaco reforça a sua maioria, Jorge Sampaio, líder do PS demora a perceber que está acabado, como, antes dele, Vítor Constâncio. António Guterres lembra-lho estridentemente, aos microfones das televisões: “Estes resultados deixam-me em estado de choque”, profere, com a voz bem colocada. Para os sampaístas, era o beijo de Judas. Para os guterristas, a hora do “finalmente”. Chega ao Governo em 1995, acabando com dez anos de cavaquismo. Naturalmente.

 

 

Num jantar com os jornalistas que cobriram uma campanha virada para as pessoas, em que o publicitário brasileiro Edson Athaíde inventou o slogan “Razão e coração”, Guterres era premonitório: “Tenho muito gosto em despedir-me de vós, enquanto não começam a dizer mal de mim, nos jornais…”

 

 

QUANDO PERDE O COMBOIO

 

 

A boa imprensa nacional pode ter-lhe falhado, sobretudo no segundo governo. Mas a internacional nunca deixou de o exaltar. O prestígio do político português saiu reforçado quando liderou uma revolta dos países pequenos da União contra o diretório dos grandes. Foi antes da assinatura do Tratado de Nice, quando os franceses preconizavam uma hegemonia dos grandes nas votações decisivas na UE e Guterres bloqueou a decisão até ao fim. Um a um, conseguiu convencer outros países das suas razões e a Alemanha de Gerard Schroeder aquiesceu. A França, isolada, foi obrigada a negociar com Portugal, que ganhou o braço de ferro. Na presidência europeia, leva a bom porto a Agenda de Lisboa e mostra-se firme perante a emergência de um governo xenófobo na Áustria.

 

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Episódios que contribuíram para a surpresa de António Vitorino quando, em 1998, fez um périplo europeu, concitando apoios para a candidatura de Guterres à presidência da Internacional Socialista (cargo que viria mesmo a exercer). O Reino Unido e a Alemanha foram perentórios: “Presidente da IS? Ele dava era um excelente substituto de Jacques Santer, na presidência da Comissão Europeia!” O próprio Jacques Delors, já retirado, elegeu Guterres como o seu favorito.

 

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Num conselho europeu, realizado na Alemanha, os Quinze apoiam-no: é o homem ideal para conduzir a Europa na fase de abertura da União a Leste. Com eleições à porta, e convencido de que obteria maioria, viúvo recente com uma filha pequena em Lisboa, Guterres recusa. Perdeu o comboio, que não voltou a parar na mesma estação. E Durão Barroso apanhou-o no apeadeiro seguinte.

 

 

AMEAÇAS A CLINTON

 

 

Um veículo das Nações Unidas prossegue aos solavancos pela picada ugandesa, a poucos quilómetros da fronteira com o Sudão e nas margens do alto Nilo. Para de repente, para sintonizar melhor o telefone satélite.

 

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O alto-comissário para os refugiados dá uma entrevista telefónica, em direto, à CNN. António Guterres faz a sua primeira deslocação ao terreno, em missão daquele organismo da ONU. Pouco antes, dormira numa tenda de campanha, igual às do seu pessoal no terreno. Mostra uma rusticidade insuspeita.

 

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Estes refugiados de guerra, acossados pelos terroristas do Exército de Resistência do Senhor, não são muito diferentes dos refugiados das cheias de 1967 em Lisboa: as mesmas carências, o mesmo medo, a mesma fome, a exposição a doenças similares.

 

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Em breve contará com a parceria de uma grande estrela internacional, Angelina Jolie, que mediatizará a causa.

 

 

O seu prestígio internacional cimentara-se desde a célebre reunião de Banguecoque, com que abrimos este texto. Mas essa não foi a única ocasião em que Guterres teve Timor como alavanca da sua qualidade de figura emergente nos palcos internacionais. Após o referendo de 1999, em que os timorenses optaram pela independência, veio o refluxo da desforra indonésia. As milícias pró-Jacarta espalham o terror.

 

 

O Presidente Jorge Sampaio intervém, na CNN, num inglês perfeito. Os portugueses saem à rua, vestidos de branco, em gigantescos cordões humanos. Todos remam para o mesmo lado. Guterres pede aos EUA que forcem a Indonésia a aceitar a presença de uma missão militar da ONU.

 

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Mas o secretário de Estado americano, William Cohen, faz declarações a defender a posição indonésia e Guterres joga uma cartada forte. Manda chamar o embaixador dos EUA em Lisboa e exorta a América a escolher entre a Indonésia e um velho aliado da NATO. Telefona de seguida a Clinton e adverte-o de que a presença de tropas portuguesas na Bósnia e no Kosovo pode ser revista. Convence o presidente americano a dar uma vista de olhos às gigantescas manifestações em Lisboa, que já começam a resvalar para o antiamericanismo. Pouco depois, numa declaração a partir da Casa Branca, Clinton diz, de forma eufemística, que a Indonésia “deve aceitar a ajuda internacional.”

 

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Madeleine Albright, secretária de Estado de Clinton, viria a ser uma das vozes mais entusiastas da nomeação de Guterres para o ACNUR: “É uma personalidade internacional brilhante!”, profere a americana, com a autoridade de representar o país principal financiador da agência. Bill Clinton trata-o como “um grande amigo” e empenha-se na nomeação. Guterres disputa o lugar com sete adversários muito mais fortes dos que enfrenta hoje, uma verdadeira tropa de elite da política internacional de então. A 25 de maio de 2005, Kofi Annan anuncia a decisão. Entre os atributos reconhecidos a Guterres, o secretário-geral destaca o seu papel na resolução do problema de Timor, uma pedra antiga no sapato da ONU.

 

 

António Guterres teve, como modelo político, o antigo primeiro-ministro social-democrata sueco, Olof Palme. Mas, para um crente como ele, é de outro sueco a frase que pode guiá-lo no provável desafio que se lhe depara. O 2º secretário-geral da ONU (1953-1961), Dag Hammasskjold, disse, um dia: “Este cargo não foi criado para levar a Humanidade ao paraíso, mas para a livrar do inferno”.

 

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Os timorenses, por exemplo, sabem o que isso é: ao proporcionar-lhes uma via para a independência, Guterres não lhes deu o céu, mas tê-los-á salvado do inferno da ocupação. Um dia, quando regressar ao seu Fundão, o provável sucessor de Ban Ki-moon poderá revisitar a sala da câmara local, onde depositou todas as ofertas institucionais que recebeu enquanto primeiro-ministro. Lá estará a bandeira portuguesa que um velho timorense enterrou no quintal da sua casa, em 1975, para lha entregar quando visitou o território, em abril de 2000. Naquela noite, em Banguecoque, Shuarto não respondeu ao repto do atrevido governante português. Agora, já é tarde.

 

 

TPT com: AFP//Denis Balibouse//Reuters//Luís Filipe//Editor Executivo//Visão//Filipe Fialho, Inês Rarazote e Sara Sá//Visão//Rui Pedro Antunes//Observador// 6 de Outubro de 2016

 

 

 

 

 

 

 

Prémio Nobel da Medicina 2016 vai para o japonês Yoshinori Ohsumi

O Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina de 2016 foi esta segunda-feira entregue ao japonês Yoshinori Ohsumi. A Assembleia do Nobel do Instituto Karolinska, incumbida por vontade de Alfred Nobel de entregar o Prémio, decidiu atribuir o prémio pelas “descobertas sobre os mecanismos da autofagia, o processo através do qual ocorre a degradação e reciclagem de componentes celulares.

 

 

Este ano, o Comité do Nobel decidiu laurear apenas um cientista (apesar do prémio poder ser atribuído a três pessoas), facto que deixou o próprio Ohsumi surpreendido: “Foi a minha verdadeira surpresa, porque há tantas pessoas a trabalhar na área da autofagia”.

 

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O premiado é um investigador da Universidade de Tóquio, nascido em 1945. Uma infância marcada pela pobreza e pela privação, no pós-Segunda Guerra, Yoshinori viria a ter na fome um dos principais elementos de estudo. Segundo uma entrevista feita pelo “The Journal of Cell Biology”, o investigador contribuiu de forma decisiva para avanços na compreensão de como as células conseguem sobreviver em períodos de fome ou infeção.

 

 

O conceito da autofagia, aplicado neste âmbito, diz respeito a um processo celular que dá origem à degradação de componentes da própria célula. Segundo o comunicado da atribuição do prémio, o conceito surgiu na década de 1960, quando cientistas descobriram que as células conseguiam destruir os seus conteúdos encerrando-os em membranas.

 

 

O processo resultava na formação de uma espécie de sacos, que são transferidos para compartimentos chamados lisossomas, onde são consumidos. A própria descoberta da existência dos lisossomas garantiu o Prémio Nobel da Medicina ao cientista belga Christian de Duve, em 1974. Mas para os lisossomas poderem degradar os componentes celulares, estes precisavam de ser selecionados e entregues. Essa função é desempenhada pelos autofagossomas – as vesículas que apresentam os componentes a degradar.

 

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Nos anos seguintes, anos 1970 e 1980, os avanços científicos foram feitos principalmente na área da degradação de proteínas em vesículas específicas para esse fim, os proteossomas – a descoberta da degradação de proteínas por mediação da ubiquitina garantiu o Prémio Nobel da Química 2004 a Aaron Ciechanover, Avram Hershko e Irwin Rose. Mas este mecanismo não explicava a degradação de conjuntos de proteínas mais complexos ou de outros componentes celulares.

 

 

Yoshinori Ohsumi também começou por estudar a degradação de proteínas, em 1988, usando leveduras (Saccharomyces cerevisae, usada na fermentação da cerveja, por exemplo) por serem um organismo fácil de manipular e um bom modelo do que acontece nas células humanas. No artigo científico publicado em 1992, o cientista demonstrou não só que a autofagia existia nas leveduras, como quais os genes envolvidos no processo.

 

 

A autofagia é uma resposta celular fundamental em caso de privação de alimento às células ou a outras situações de stress celular, mas não é a única função deste mecanismo. A capacidade de envolver numa vesícula e eliminar o conteúdo ajuda a combater bactérias e vírus que invadem a célula. Além disso, como tem a capacidade de degradar componentes celulares, os autofagossomas e lisossomas eliminam proteínas e organelos que estejam danificados e disponibilizam os “tijolos” que compõe estes compostos para que nova síntese seja realizada (reciclagem).

 

 

A importância da autofagia é tão importante para a regulação celular, que perturbações neste mecanismo, sobretudo com o envelhecimento, têm sido associadas a doenças como Parkinson, diabetes tipo 2 ou mesmo a alguns tipos de cancro.

 

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O último Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina, em 2015, tinha sido atribuído a três investigadores por duas descobertas na área da parasitologia. Uma metade foi dividida entre William Campbell, investigador na Universidade de Drew (Estados Unidos) e Satoshi Ōmura, investigador no Universidade de Kitasato (Japão), pela descoberta de uma nova terapia contra os parasitas que causam elefantíase e oncocercose (também chamada cegueira do rio). A outra metade para Youyou Tu, pertence à Academia Chinesa de Medicina Tradicional (China), pelas descobertas em novas terapias contra a malária.

 

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Yoshinori Ohsumi terminou o seu doutoramento na Universidade de Tóquio em 1974.

Após três anos na Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, regressou à Universidade de Tóquio, onde estabeleceu a sua equipa de investigação, em 1988.

Desde 2009, é professor no Instituto de Tecnologia de Tóquio.

Ao longo da semana serão ainda conhecidos o Nobel da Física (na terça-feira), o da Química (quarta-feira), e o da Paz (sexta-feira).

 

 

O Nobel da Economia será anunciado no dia 10, e o da Literatura será atribuído a 13 de outubro.

Os prémios Nobel, criados em 1895 pelo químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel (inventor da dinamite), foram atribuídos pela primeira vez em 1901.

O prémio Nobel corresponde a uma recompensa de oito milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de 834.000 euros.

 

 

TPT com: Reuters// Tokyo Tech News//AFP//Vera Novais//Edgar Caetano//Observador// 4 de Outubro de 2016