Num documento escrito em árabe e traduzido num centro britânico antiterrorista, um militante do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) afirma que a Líbia é uma porta de entrada para o sul da Europa.
Expresso | 19 de fevereiro de 2015 – No passado domingo, a guarda costeira italiana resgatou, entre a ilha de Lampedusa e a costa da Líbia, 2164 migrantes vindos sobretudo da África subsariana / Alessandro Bianchi/Reuters
O autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) planeia utilizar a Líbia como ponto estratégico para atacar o sul da Europa. Como? Através da infiltração de jiadistas em barcos de migrantes provenientes do norte de África, revela um documento divulgado pelo jornal britânico “The Telegraph”.
Intitulado de “Líbia: a passagem estratégica para o Estado Islâmico” , o documento reúne cartas escritas em janeiro e em árabe por um alegado propagandista islâmico e foram traduzidas por Charlie Winter, um investigador da britânica Fundação Quilliam, pioneira no estudo sobre o extremismo.
O radical islâmico que escreveu as cartas afirma que a chegada ao califado no norte de África foi uma “expansão abençoada” por Alá. “Meus irmãos, a Líbia, com a permissão de Alá, é a chave para o Egito, Tunísia, Sudão, Mali, Argélia e também para a Nigéria. É a âncora para alcançar África”, pode ler-se no documento divulgado na terça-feira pelo “The Telegraph”. Mas, para que possam alcançar o continente africano, o Daesh tem que começar a movimentar-se “rapidamente”.
Alguns militantes do Daesh já falaram com migrantes sobre a facilidade de passar pelo controlo dos postos de fronteira marítima, sublinha ainda o propagandista, acrescentando que as viagens nestes barcos são muito numerosas e que a entrada no continente europeu estima-se que supere as 500 pessoas por dia.
À medida que aumenta a violência na Líbia, o número de migrantes que parte para a Itália e outros países do sul da Europa tem crescido significativamente. No passado domingo, a guarda costeira italiana intercetou e resgatou, entre a ilha de Lampedusa e a costa da Líbia, 2.164 migrantes vindos sobretudo da África subsariana.
Segundo o jornal britânico “The Telegraph”, o propagandista do Daesh é um importante recrutador do grupo jiadista. No referido documento, este homem salienta o “enorme potencial” da Líbia para o grupo extremista e lembra também que a guerra civil da Líbia muniu o Daesh de armas e munições. Se elas chegassem realmente ao sul da Europa causariam um “pandemónio”.
Na análise da Fundação Quilliam, “apesar de este documento não ser oficial, mostra a importância do país do califado para o Estado Islâmico”, sendo ainda defendido que os Estados europeus deviam aumentar a cooperação internacional para melhorar a segurança nos países próximos do norte de África.
Ministro italiano já se pronunciou
O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni, afirmou esta quarta-feira que existe um “grande risco” de os militantes do Daesh se aliarem a outros grupos radicais e estabelecerem, assim, uma âncora no Mediterrâneo.
Gentiloni adverte que “o tempo está a passar” para a comunidade internacional dar uma resposta “robusta” à crescente ameaça, que vem de um país situado apenas a 600 quilómetros a sul de Itália. Desde o ano passado, cerca de 170 mil migrantes conseguiram chegar de barco à costa italiana.
Em dezembro, os Estados Unidos já alertavam para o facto do Daesh estar a criar campos de recrutamento e treino no leste da Líbia .